Texto: Carlos Henrique Magalhães
O que diz mais sobre a construção desta residência é sua posição na paisagem, a posição que ocupa e aproxima o ilimitado corpo da natureza ao convívio familiar do construído.
Estas relações datam do gesto inicial de concepção da proposta: situar a primeira etapa de construção na porção posterior do lote, onde o declive é mais acentuado. Tal opção poderia parecer contra-senso para muitos, não fosse o conjunto de relações que assim passa a estabelecer com o extenso território do cerrado.
A casa está implantada em duas alas que se conjugam a um deck na altura da copa da vegetação circundante. Os módulos de 4,40×4,40 metros obedecem a uma dupla conveniência: guardam uma proporção áurea entre vãos e altura e estão em conformidade com as cargas que suportam. Toda a superestrutura é feita por pilares e vigas de madeira. Nas fachadas sudeste e nordeste o corpo da casa se abre em amplos panos de vidro, enquanto que nas fachadas opostas, a abertura é dada por um detalhe no assentamento dos tijolos, medida que se dá também, por questões bio-climáticas. Já há tanto que observamos o bom funcionamento dessas soluções, onde as fachadas do poente (noroeste/sudoeste) criam uma área de baixa pressão atmosférica e aperfeiçoa o mecanismo de ventilação cruzada.
A inusitada combinação entre materiais, tradicionalmente não conjugados dessa forma, cria aqui um ponto alto: pode-se dizer que eles ganham quase uma oportunidade de se mostrarem assim em tal relação, revelando uma série inumerável de forças e relações plásticas.
Cabe dizer que a escolha do nome [“Cocoruto”] é antes de mais nada informal e coletiva em ocasião da inauguração da cobertura, a chamada festa da cumeeira. Ora, não havia razão para manter esta denominação, assim, criou-se o nome tão singelo e popular: cocoruto. Graças à abóbada de arco pleno, que, em duas alas, cobre toda a extensão da casa. Sua estrutura é feita em tijolo, e conta com o aço para combater os empuxos laterais, tanto na malha que a recobre garantindo a aderência da camada de concreto, quanto nos tirantes metálicos presos aos pilares.
Esta cobertura é o elemento de articulação que permite maior riqueza de relações espaciais. No espaço externo, aberto ao convívio comum, a abóbada se mostra como um objeto capaz de medir as relações com o entorno, o próprio tamanho das coisas. Aqui, a escala de sua presença é capaz de deslocá-la de tudo que a cerca; manifestação de cultura em meio ao amplo domínio da paisagem.
O interior, por sua vez, possui a devida ambiência de refúgio e distância. Aqui, a paisagem toma o contorno de proximidade: ela se avizinha. Assim, nesses sucessivos movimentos de distância e proximidade, a natureza é colocada em par com os objetos da cultura, e se torna, assim como o indivíduo, razão primeira desta obra.
Galeria
_
Local: Brasília, DF Autores: Thiago de Andrade, Luiz Otávio Chaves Texto: Carlos Henrique Magalhães Data do Projeto: 2002 Data de conclusão da obra: 2007 Construtores: Thiago de Andrade e Luiz Otávio Chaves Fotos: Joana França Premiação: Concurso Nova Arquitetura de Brasília, 2007 – Prêmio Nauro Esteves. 1º Lugar Geral. Contato: thiago.andrade@uol.com.br | |
_