Sobre o projeto da Praça da Soberania, de Oscar Niemeyer.
Igor Campos
Caro mestre,
Queremos saudá-lo, inicialmente, em nome dos arquitetos de Brasília que temos a honra de representar. É também em nome deles que lhe dirigimos a presente correspondência, inspirada na admiração que todos lhe devotamos, no afeto que lhe temos, no respeito e apreço que lhe dedicamos. O senhor é uma figura humana de virtudes sobejas, exemplo de engajamento com as causas mais nobres da nossa nação, o mestre que elevou a arquitetura brasileira à dimensão referencial que nos orgulha a todos.
Fomos distinguidos pela generosidade dos colegas do Distrito Federal para presidir o IAB/DF em Brasília, cidade síntese de sua genialidade, patrimônio arquitetônico e urbanístico grandioso que marcou época, projetou sonhos, reuniu originalidades e se inscreveu entre os projetos que a humanidade quer ver preservados. Desfrutamos a regalia de uma rica experiência que o senhor, por força de circunstâncias de vida, não conhece. Vivemos todos o privilégio de habitar a mais portentosa criação de seu talento. Somos moradores de Brasília, e Brasília é parte de nossa vida. Convivemos com os muitos que ali fazem existência. Interagimos com os tantos que defendem a integridade de um projeto sem paralelo na nossa história.
Tomamos conhecimento de sua recente intenção de acrescentar, à Esplanada dos Ministérios, a Praça da Soberania e a Praça de Eventos. Vimos, pelos meios de comunicação, as imagens dos respectivos componentes arquitetônicos que o senhor concebeu para dar forma e conteúdo à ideia. Expressam o pensamento inconfundível de um estilo leve e inovador que iluminou o Planalto Central do país.
No exercício da liberdade que se identifica com seu pensamento universal, permitimo-nos expressar nossa opinião quanto à iniciativa proposta para o lugar que se tornou símbolo da capital da República. A Esplanada dos Ministérios nasceu com a amplitude de um sonho coletivo que se concretiza, de uma aspiração insaciável de cidadania que se consolida. Nasceu com o ideal de espaço pleno, limpidez ilimitada, visão alargada, luminosidade extensa, os nobres requisitos para divisar as edificações dos poderes em cuja legitimidade se exerce a soberania nacional, tendo o céu por limite e o horizonte por linha de referência.
A Esplanada dos Ministérios já é a Praça da Soberania Nacional. Exprime a vocação imanente dos conjuntos arquitetônicos, desenhados pelas mãos do mestre para configurá-la sem reduzi-la. Para dar-lhe encanto sem delimitar recantos. Para garantir-lhe o valor cívico pétreo capaz de manter inteira a nacionalidade que emerge exuberante do coração do povo brasileiro.
Aprendemos com o senhor que espaços como o da Esplanada dos Ministérios não comportam mudanças que os desfigurem. Que lhe roubem a forte simbologia conquistada. Que lhe acrescentem elementos de que não carecem para cumprir a finalidade com que foram projetados, ou monumentos que lhes retirem a clareza original. A soberania nacional brota daquela esplanada radiosa com a espontaneidade dos melhores sentimentos do cidadão brasileiro. Preservar a Esplanada dos Ministérios é preservar a soberania nacional no que já possui de mais emblemático.
Por todas essas razões, sentimo-nos no dever de manifestar-lhe nossa preocupação quanto à ideia de sediar, naquele nobre local, os projetos dos novos monumentos que a sua incessante inspiração produziu. Há de haver, no Plano Piloto, área em que possam ser erguidos sem ferir os princípios já consubstanciados na Esplanada dos Ministérios.
Por isso, ousamos pedir ao ilustre mestre que analise, com a sabedoria da humildade que esbanja, os argumentos aqui expostos, no intuito de rever a localização dos projetos em causa para que a Esplanada dos Ministérios sobreviva intacta como o maior monumento da soberania nacional.
Queremos antecipar nosso agradecimento pela atenção dispensada à presente mensagem, ao tempo em que registramos nossa especial estima e colocamos o IAB/DF à sua inteira disposição.
Igor Campos
Arquiteto e urbanista, é presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento do Distrito Federal (IAB/DF)
Texto publicado com a autorização do autor, conforme publicado em 24/01/2009 no
Leia mais sobre a Praça da Soberania em mdc.
Tenho por dever me dirigir ao ilustre arquiteto Oscar Niemeyer no sentido de deixar, aqui, e como antigo brasiliense, meu protesto contra a esdrúxula praça da soberania. Em vez de engrandecer o nosso património já tombado pela unesco, o que irá acarretar, fatalmente, é sua desfiguração. Peço ao ilustre arquiteto, me juntando aos demais brasiliense, que se abdique de propor mais monumentos para Brasília. Ela não mais carece dessas obras monumentais.
Por isso, ousamos pedir ao ilustre mestre que analise, com a sabedoria da humildade que esbanja, os argumentos aqui expostos […].
Igor Campos
Parabéns Igor Campos. Para lidar com esse assunto, só com fina ironia.
qual era os nomes dos arquitetos de brasilia??
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