Uma explicação necessária

Sobre o projeto da Praça da Soberania.

Oscar Niemeyer

Os amigos do Correio Braziliense insistem para eu escrever qualquer coisa sobre essa celeuma que esta ocupando este jornal, uns contra a praça que projetei para Brasília, outros apoiando-me, dizendo que ela em nada perturba o Plano Piloto, e que é bonita e monumental, como afirmou o nosso amigo Lelé, um dos mais importantes arquitetos do país.

E, como hoje estou de bom humor e mais disposto a comentar o assunto, reconheço que a briga está boa. Cada um defendendo o seu ponto de vista  – alguns merecendo resposta, pela maneira inteligente e elegante com que discutem os problemas, outros mais petulantes a tratarem as questões de arquitetura e urbanismo com uma audácia que a falta de informação deveria deter.

Confesso que durante esses dias tive o prazer de ler Lelé a exaltar o valor da minha arquitetura ou Glauco Campello num texto muito bem escrito, justificando a integração do meu projeto em Brasília . E isso sem falar do artigo de Ítalo Campofiorito, que com muito brilho elogia e aprova a adoção do meu projeto no Plano Piloto.

Graças ao apoio de nossa amiga Vera Brant, até um grupo dos mais importantes advogados de Brasília veio a público, declarando que juridicamente nada impede a minha intervenção ao propor uma nova praça para esta cidade.

Mas não é apenas o Correio Braziliense que insiste em divulgar minhas novas declarações sobre o assunto, mas também os amigos que me cercam, dizendo que eu não posso ficar calado sem querer criticar o Plano Piloto, enquanto os outros combatem o meu projeto com tanta virulência:

Oscar, você não deve se recusar a falar sobre o  Plano Piloto. Por que você, por exemplo, não diz que o Plano Piloto está dividido entre pobres e ricos. Os primeiros em seus apartamentos confortáveis ligados às escolas, ao comércio local, como convém; os outros, mais de três milhões de brasileiros, esquecidos pelas cidades-satélites sem escolas, postos de saúdes e as áreas de recreio indispensáveis. Uma questão que preocupa muito o atual Governador, interessado em resolvê-la.

Se você falar sobre isso, não está criticando o Plano Piloto. Você está defendendo esses princípios de igualdade e fraternidade que uma cidade como Brasília deveria levar em conta.

Você, Oscar, poderia recordar que a praça que propõe vai criar um estacionamento para três mil carros indispensável para se responder a esses problemas de tráfico que afligem o povo desta metrópole. Você precisa compreender que a sua arquitetura foi muito importante para a nova capital, e que hoje está difundida em todo o mundo – Portugal, Espanha, Itália, França, Argentina, Chile, Argélia e até no Cazaquistão -, como o álbum que você nos mostrou revela. Você, Oscar, está contribuindo, mais que qualquer outro, para a divulgação da nossa arquitetura no exterior.

E fiquei a ouvi-los, lembrando a audácia do atual presidente do IPHAN a se manifestar contra a minha arquitetura.

Hoje telefonei, como de costume, para o meu amigo Silvestre Gorgulho, e com ele conversei sobre o que está saindo nos jornais com relação ao meu projeto, eu a lhe dizer: “Silvestre, a luta está boa. De toda a parte, é gente que me escreve, querendo participar desta contenda que já está durando demais.”

Digo aos amigos que podem me mandar os textos, que estamos na nossa trincheira, o projeto na prancheta pronto para ser enviado ao Governador, mas que o inicio das obras só dele depende. E comentei com meu amigo Silvestre uma idéia que começa a me ocupar: em vez de continuar participando dessa polêmica tão desgastante, eu propor ao Governador criar uma comissão de arquitetos da melhor categoria que se incumbisse dos problemas da arquitetura e do urbanismo desta cidade, encaminhando as soluções que lhes pareçam mais justas e necessárias. Pois esta celeuma começa a me aborrecer em razão dos atritos que surgem, embora compreenda, sem rancor, que as diferenças de opinião são inevitáveis, e que infelizmente fazem parte deste mundo difícil de viver.

Oscar Niemeyer
Arquiteto

Texto enviado pelo autor, e também publicado em 30/01/2009 no .

Leia mais sobre a Praça da Soberania em mdc.

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3 respostas para Uma explicação necessária

  1. Pingback: Praça da Soberania: crônica de uma polêmica « mdc . revista de arquitetura e urbanismo

  2. disse:

    É a palavra que modifica o sentido do verbo (maioria), do adjetivo e do próprio advérbio (intensidade para essas duas classes). Denota em si mesma uma circunstância que determina sua classificação:

    * lugar: longe, junto, acima, ali, lá, atrás, alhures;
    * tempo: breve, cedo, já, agora, outrora, imediatamente, ainda;
    * modo: bem, mal, melhor, pior, devagar, a maioria dos adv. com sufixo -mente;
    * negação: não, qual nada, tampouco, absolutamente;
    * dúvida: quiçá, talvez, provavelmente, porventura, possivelmente;
    * intensidade: muito, pouco, bastante, mais, meio, quão, demais, tão;
    * afirmação: sim, certamente, deveras, com efeito, realmente, efetivamente.

    As palavras onde (de lugar), como (de modo), porque (de causa), quanto (classificação variável) e quando (de tempo), usadas em frases interrogativas diretas ou indiretas, são classificadas como advérbios interrogativos (queria saber onde todos dormirão / quando se realizou o concurso).

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