Fruto de concurso público de arquitetura, realizado em 2003, o Anexo II da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre [UFCSPA] foi concluído em junho de 2011, e atende hoje a demanda da instituição por novos cursos, criados a partir da conversão da antiga Faculdade Católica de Medicina em Universidade Federal de Ciências da Saúde.
A concepção do Projeto para a edificação reflete a contemporaneidade da arquitetura com base na realidade brasileira, atendendo à crescente necessidade de pensar a saúde de forma global: prevenção, cuidados com o corpo, nutrição. A simbiose com a educação amplia seu leque de ação, valorizando o papel da universidade como instrumento essencial para manutenção do bem-estar social. O extenso e complexo programa funcional exigiu uma organização espacial que traduzisse esta diversidade sem abrir mão da unidade e imponência que a nova edificação deveria exibir.
Como reflexo adota-se a estratégia compositiva de volumes diferenciados encaixados a uma estrutura modular, perfeitamente adaptada à diversidade funcional da edificação. Um plano diagonal articula os alinhamentos sugeridos pelo entorno, estabelecendo uma direcional marcante e revelando externamente a estrutura. É neste plano que reflete-se a organização espacial, uma vez que a ele conectam-se os outros volumes: o bloco principal e base de estacionamentos, o auditório com tratamento específico para sua função, e o volume do acesso, este em escala mais apropriada, valorizando a estreita interface de acessos disponível no terreno.
A idéia central da proposta foi gerar movimento através da justaposição das direcionais marcantes, definidas a partir do plano rotacionado, distinguindo e organizando os acessos através de níveis e semi-níveis, provendo assim um pavimento padrão que atendesse às necessidades específicas da área médica: ensino, atendimento e prevenção em saúde. Dessa forma, estabeleceu-se o diálogo claro entre partes distintas do programa [tipos de público, usos específicos], a edificação e seu entorno.
O programa de necessidades apresentado pelo cliente era complexo e diferenciado, e a necessidade de flexibilidade funcional instruiu a criação de um pavimento tipo de planta livre, que abrigou as funções diferenciadas, gerando movimento na fachada através da diferenciação das aberturas. A esta fenestração adicionou-se a grelha modular de brises metálicos, que atenuam a insolação e conferem movimento e unidade às elevações leste e oeste.
No térreo encontra-se o hall principal de acesso e controle, e o setor de consultórios de atendimento ao público, complementado pelo laboratório de análises clínicas situado no segundo piso. A porção central da edificação abriga, em seu terceiro e quarto pavimentos, os setores de integração acadêmica e pública, através das áreas de eventos e auditório, este posicionado em volumetria distinta. A partir do quinto pavimento, distribuem-se as funções vinculadas ao ensino e pesquisa, com salas de aula, laboratórios e consultórios, cozinha experimental e centro de gastronomia, fisioterapia e setores administrativos. Finalmente, o nono e último pavimento abriga um restaurante com vista panorâmica para o do centro de Porto Alegre.
O plano compositivo diagonal, em pele de vidro, atende aos pavimentos que se relacionam mais abertamente com o exterior [eventos, saguões e restaurante panorâmico], conferindo-lhes maior permeabilidade visual diurna e transparência noturna. Nas salas aulas, integra-se à fachada oeste um sistema de venezianas moveis de madeira, dando um destaque intencional ao pavimento. Os volumes lateralizados do hall de acesso e auditório receberam revestimento em placas de alumínio, conferindo-lhes a neutralidade necessária para garantir o equilíbrio com a composição dos volumes principais.
Verticalmente os pavimentos são servidos por uma escada pressurizada e três elevadores. Além destes, a partir dos pavimentos de eventos foi criado um sistema de rampas que promovem a ligação entre estes, o auditório e as salas de aula. Tal configuração permite isolar, caso desejável, as áreas de eventos sem impedir o acesso ao auditório, ou ainda promover a ligação direta entre o pavimento de aulas e a área de eventos em dias de congressos e simpósios. Além de flexibilizar a circulação, este sistema de rampas traduz tanto na fachada permeável como no interior a idéia de flexibilidade espacial e integração programática, propícias à convivência acadêmica.
Por fim destaca-se a saudável iniciativa da Instituição em promover o concurso público de arquitetura, o que possibilitou a escolha da proposta de forma democrática, abrindo o canal para idéias contemporâneas e garantindo a fidelidade ao projeto original, já que previa o acompanhamento e fiscalização da execução pela equipe de projeto. O produto final atende plenamente as necessidades de ampliação da instituição, no campo da nutrição e biomedicina, incorporando uma arquitetura viável, que direcionou estrategicamente os investimentos sem ostentação. A complexidade programática foi distribuída com clareza nos volumes projetados, dentro de uma estrutura racional de composição, mas liberta diagonalmente através do movimento gerado pela geometria dos planos rotados, estabelecendo um diálogo aberto com o entorno. Criando ambientes ricos pelo seu repertório arquitetônico [rampas, vazios e brises], valoriza-se a história da Instituição através da arquitetura, revigorando o papel da Universidade como referência para a sociedade.
[texto fornecido pelos autores do projeto]
projeto executivo
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Local: Rua Sarmento Leite, 245, Porto Alegre, Rio Grande do Sul – Brasil Ano do projeto: 2003 Execução: 2004 a 2011 Área construída: 7.832 m², distribuídos em 10 pavimentos, 108 vagas de estacionamento. Projeto Arquitetônico, gerenciamento e acompanhamento [2004 a 2011]: Patrícia Gubert Neuhaus, Rodrigo Allgayer, Gabriel Menna Barreto , Marcelo Kiefer Equipe do Concurso Público [2003]: Patrícia Gubert Neuhaus, Rodrigo Allgayer, Gabriel Menna Barreto, Fabrício Siqueira, Marcelo Kiefer, Thais Wright Estruturas: Padoin & Sachs Engenharia Instalações elétricas e hidráulicas: Filippon Engenharia Projeto de climatização: Albert Luminotécnico: Cristina Maluf Construção: Portonovo Fotos: Alex Carvalho Brino, Rodrigo Allgayer, Marcelo Kiefer. |
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Colaboração editorial: Luciana Jobim