Casa Henrique Cunha e Casa Elevada: Parte 2

por Venta Arquitetos
7 minutos

Casa Elevada (texto fornecido pelos autores)

Implantação da Casa Elevada em relação à Casa Henrique Cunha

Concebido como um refúgio do arquiteto, procurou-se com este projeto, desde esta condição, realizar algumas experiências construtivas, com o objetivo de conciliar diferentes desejos: de reduzir o custo de obra; de preservar a topografia existente; de elevar a construção do solo; e por fim, estabelecer uma relação espacial singular entre o interior e o entorno imediato.

A área disponível para a construção compreende uma topografia que define uma espécie de recinto semifechado, contido por taludes preexistentes que formam uma concavidade aberta a leste. Sobre o eixo leste-oeste, no centro deste “recinto”, implanta-se a construção a 2,40 metros acima do nível de acesso ao terreno. Para isso, lança-se mão de uma estrutura mista: um par de fundações, colunas e vigas em concreto, constituindo uma base sobre a qual nasce um esqueleto leve em estrutura metálica, com perfis laminados e tubulares.

Fotografia: Federico Cairoli + Plantas: pilotis e pavimento elevado

Para a construção dos pisos utilizou-se chapas de painel compensado de madeira e pré-moldados de concreto. Internamente, os painéis compensados constituem caixas enrijecidas e bi-apoiadas, com vão livre de 1,60 metro.

Em relação à cobertura, um viga metálica em perfil “I” deitado constitui ao calha central e, ao mesmo tempo, tem por objetivo tensionar uma série de barras chatas em aço sobre as quais se apoiam as telhas termo-acústicas.

Fotografia: Federico Cairoli

As fachadas laterais, voltadas para o norte e para o sul, são integralmente em vidro mediadas por varandas e uma delicada tela em aço, de modo que o interior se abre para os taludes próximos recobertos por vegetação espontânea. O vidro aqui permite que a interioridade do refúgio se expanda até os taludes e a vegetação próxima, como a tomar posse deste espaço. Deste modo, há um envolvimento entre interior e exterior que de diversas maneiras é sentido na experiência cotidiana da casa.

Fotografias: Federico Cairoli + Cortes e Elevações


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Gregório Rosenbusch (G.R.)

MDC – Como você contextualiza essa obra no conjunto de toda a sua produção?

G.R. – Este projeto iniciou-se em novembro de 2015, naquela altura, e após a experiência de projeto e acompanhamento de obra de duas casas geminadas (2012) e da casa Henrique Cunha (2014), ansiava por uma construção que realizasse a menor intervenção possível no terreno, com um mínimo trabalho de solo, é dizer, cortes, aterros e contenções, tanto pelo aspecto econômico, mas também pelo impacto na configuração local conforme encontrada e pelo sentido dramático com que muitas vezes estas operações de manejo de terra se dão.

Uma vez que o sítio de construção possui topografia de perfil inclinado e acidentado, a saída seria aderir a um partido de construção elevada, de modo a encontrar um espaço aéreo no qual o volume pudesse se desenvolver. Neste sentido, esta obra configura uma espécie de passagem entre uma construção afeita ao solo (casas geminadas), para uma semi-projetada ao espaço aéreo (casa Henrique Cunha), e uma liberação total, por assim dizer, do solo, na casa Elevada. Esta liberação não significa que a construção aérea não seja determinada, em certa medida, pelas contingências do solo sobre o qual paira, mas que deseja a maior autonomia possível em relação ao mesmo.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

G.R. – Esta pequena casa foi feita para o próprio arquiteto.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Você destacaria algum momento significativo do processo?

G.R. – O processo de projeto e de obra se deu de modo heterodoxo, já que com pouco desenvolvimento de projeto logo iniciamos a execução das fundações e dos fustes de colunas. Havia naquele momento uma ideia quiçá ingênua e romântica de que o projeto se faria com a obra ou na obra, em outras palavras, dentro do processo produtivo da arquitetura, com a experiência em canteiro contribuindo constantemente para a definição e atualização das decisões. Hoje compreendo que havia também uma grande ansiedade mesclada com um desejo de experimentação.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, pode comentar as mais importantes?

G.R. – O processo de projeto contou com a interlocução com alguns profissionais. Como exemplo, no piso das varandas utilizamos painéis pré-moldados de concreto, usualmente fabricados para a execução de lajes recobertas com concreto. O que imaginamos foi inverter a posição do painel, de tal modo a ter a ferragem exposta da treliça voltada para baixo, a fim de objetivar um melhor aproveitamento do aço nos esforços de tração e assim dar conta de um vão de 1,60m. Na empresa local (Plainco) fabricante de painéis pré-moldados de concreto, foi possível realizar uma prova de carga, com a sobreposição de sacos de cimento empilhados um a um sobre um painel levemente suspenso do chão, apoiado em calços. A observação empírica surpreendeu, do ponto de vista da resistência do painel, o próprio engenheiro fabricante, que havia calculado as ferragens do painel para um propósito distinto daquele testado.

Em relação à montagem da gaiola metálica, foi necessário acompanhar o processo para entender a necessidade de reforços que surgiram de deformações não previstas, num processo de análise e interlocução muito próxima com a equipe de serralheria.

O piso interno, por sua vez, constituído por caixas enrijecidas de compensado, teve a sua resistência testada a partir de um primeiro protótipo na oficina de marcenaria. Suficientemente rígido, foi então reproduzido.

Em suma, houve uma rica interlocução especialmente com prestadores de serviços e alguns fornecedores.

MDC – Os autores dos projetos tiveram participação no processo de construção/implementação da obra? Se sim, quais os momentos decisivos dessa participação?

G.R. – Nesta obra realizamos toda a gestão e coordenação da obra, alguns momentos decisivos foram pontuados acima.

MDC – Você destacaria algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

G.R. – Um fato relevante ocorreu logo após a conclusão da montagem da estrutura metálica, do piso e dos fechamentos, quando então constatamos um significativo movimento e balanço da estrutura, principalmente sob efeito de carga acidental, com o deslocamento dos corpos no espaço. Essa característica logo se tornou bem-vinda, animada pela ideia do habitat sujeito a uma condição de estabilidade delicada e da explicitação da elasticidade dos materiais.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, faria algo diferente?

G.R. - A experiência com essa estrutura elástica logo se converteu na compreensão, a partir da observação empírica, da necessidade de travamentos diagonais para o contraventamento de estruturas metálicas, algo bastante óbvio e corrente no ensino da arquitetura. Hoje, em nossos projetos atuais, estamos muito interessados em conformar planos e volumes em aço o mais triangulados possíveis, no sentido de obter o menor peso em aço e maior resistência e estabilidade. 

MDC – Como você contextualiza essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

G.R. – A meu ver, esta obra reflete, especialmente nos pilotis, uma admiração e interesse pelo trabalho de Angelo Bucci, no que diz respeito a estruturas centrais (clínica de psicologia e casa em Carapicuíba). De outro lado, há também na articulação dos pilotis com a estrutura em aço o resultado de uma observação das estrutura de viadutos de vias expressas e estradas de rodagem. Mas fundamentalmente penso que esta obra se situa no conjunto de trabalhos de uma geração baseada no Rio de Janeiro e que, de algum modo, passou pelos ateliês ou pelos escritórios de Diego Portas e Carla Juaçaba.


projeto executivo


EXECUTIVO

3 pranchas (pdf).
591kb


MOBILIÁRIO

3 pranchas (pdf).
118kb


ficha técnica do projeto

Local: Petrópolis, RJ
Ano de projeto: 2016
Ano de execução e conclusão da obra: 2017
Área: 60 m²
Autor: Gregório Rosenbuch
Responsável pela obra: Gregório Rosenbuch

Arquitetura: Venta Arquitetos
Estrutura: Ricardo Barelli (Teto Engenharia)
Estrutura metálica: Joafer Serralheria (José Antônio)
Compensado: Antônio Schneider

Fotos: Federico Cairoli
Ilustrações: Nicolás Castagnola
Contato: contato@venta.28ers.com


galeria


colaboração editorial

Isabela Gomide

deseja citar esse post?

ROSENBUSCH, Gregório. “Casa Elevada”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., jan2024. Disponível em //www.28ers.com/2024/01/21/casa-henrique-cunha-e-casa-elevada-parte-2/. Acesso em: [incluir data do acesso].


Esta entrada foi publicada em Projetos e obras e marcada com a tag , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , . Adicione o link permanente aos seus favoritos.

Deixe uma resposta