Arquitetura cearense – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com Wed, 14 Aug 2024 13:21:46 +0000 pt-BR hourly 1 //i0.wp.com/28ers.com/wp-content/uploads/2023/09/cropped-logo_.png?fit=32%2C32&ssl=1 Arquitetura cearense – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com 32 32 5128755 Arquitetura cearense – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2024/03/27/academia-escola-unileao/ //28ers.com/2024/03/27/academia-escola-unileao/#respond Wed, 27 Mar 2024 18:15:15 +0000 //28ers.com/?p=16115 Continue lendo ]]> por Lins Arquitetos Associados
9 minutos

Academia Escola Unileão (texto fornecido pelos autores)

A academia-escola da Unileão está situada na cidade de Juazeiro do Norte/CE, região do Cariri, no meio do sertão nordestino. Ela serve de apoio ao curso de Educação Física do Centro Universitário, atendendo aos alunos e funcionários da instituição.

Fotografia: Joana França

O edifício foi acomodado em um platô pré-existente que direcionou sua implantação no sentido Leste-Oeste, ou seja, com grandes fachadas expostas a uma maior incidência solar todos os dias do ano. Essa situação não é a ideal para o clima semiárido brasileiro, por isso foram aplicadas estratégias de conforto ambiental para diminuir a temperatura no interior da edificação.

Fotografia: Joana França

O conjunto é formado por cinco círculos de raio 7.80m, sendo 6.00m de área útil e 1.80m de jardins. Cada círculo funciona como uma célula de setorização das atividades na qual temos duas destinadas às práticas de musculação, uma para a recepção e cantina, uma para a prática de atividades aeróbicas e a última para áreas de serviço e administração, como banheiros, depósitos, coordenação e sala de avaliação. Cada célula se conecta diretamente com a outra formando um conjunto alongado de aproximadamente 64 metros de comprimento. Três varandas ajudam na conexão dessas células e servem ora para marcar o acesso principal da academia, ora para o apoio ao treinamento funcional.

Composição formal e plantas: térreo e cobertura

Como forma de minimizar a incidência de luz solar diretamente no interior da edificação todas as fachadas foram pensadas em três camadas. A primeira delas, mais externa, tem como função filtrar a luz solar e é composta por uma paginação de tijolos cerâmicos maciços espaçados uns dos outros. Essa paginação traz tridimensionalidade à fachada além de criar um efeito de luz e sombra bem interessante. A segunda camada é composta por um jardim interno, com espécies vegetais adaptadas ao clima da região e que contribuem para gerar um microclima agradável. Por fim, a terceira camada, um pano de esquadrias pivotantes de vidro incolor que permite refrigerar a academia caso seja necessário.

Fotografias: Joana França

A coberta é composta por telhas termo-acústicas protegendo o interior do edifício do calor excessivo. O concreto aparente e o tijolo cerâmico maciço na sua cor natural são os materiais que se destacam. O piso utilizado é o industrial e todas as instalações são aparentes trazendo um caráter fabril ao interior do ambiente.

Fotografias: Joana França

Em síntese, o edifício se propõe a racionalizar a distribuição espacial, promovendo uma leitura fácil da setorização, ao mesmo passo que explora os estímulos tátil e visual através dos materiais, dos efeitos de luz e sombra e da vegetação, contribuindo com o conforto e permanência dos usuários.

Além disso, o edifício foi todo construído com mão-de-obra e materiais locais, contribuindo para uma menor pegada de carbono e valorização da economia do lugar. Isso foi de fundamental importância para reduzir custos e, ao mesmo tempo, valorizar nossas técnicas construtivas e os nossos materiais, integrando o usuário ao edifício, e o edifício à paisagem.

Fotografias: Joana França + Cortes


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por George Lins (G.L.)

MDC – Como você contextualiza essa obra no conjunto de toda a sua produção?

G.L. – É sem sombra de dúvidas a obra mais conhecida do nosso escritório, a que teve o maior alcance e o maior número de publicações. Foi vencedora do prêmio IABSP/2019 e Tomie Ohtake Akzonobel/2020, além de ser indicada ao prêmio Oscar Niemeyer/2020. Por tudo isso, ela tem uma importância enorme para a gente. O fato é que ela faz parte e dialoga com uma série de outras obras que fizemos dentro do Campus da Unileão, em Juazeiro do Norte/CE. Ela, juntamente com o edifício do NPJ e do Juizado Especial, compartilha muitas similaridades, apesar de terem programas de necessidades bem diferentes.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

G.L. – O mecanismo foi a contratação direta. A Unileão é um centro universitário privado situado na região do Cariri cearense e fomos contratados por eles para elaborar esse projeto específico, além de outros para os diversos campi que eles possuem espalhados pela região.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Você destacaria algum momento significativo do processo?

G.L. – O projeto nasceu com um programa maior e em um outro terreno. Após a apresentação do estudo ao cliente, este decidiu “enxugar” um pouco o programa de necessidades e mudar o terreno, deixando-a mais próxima de outros dois edifícios já existentes no Campus (NPJ e Juizado Especial). Após este fato, abandonamos totalmente o primeiro estudo e nos concentramos em setorizar ao máximo o programa de necessidades, gerando “células?de atividades. Essas células nasceram inicialmente em uma forma hexagonal onde as suas faces se conectavam umas às outras, como uma colmeia. Cada célula de atividade era um hexágono ao invés de um círculo. O edifício foi desenvolvido todo dessa maneira, porém, ao final do processo, vimos que a mudança do hexágono para o círculo não iria trazer prejuízos para o funcionamento das atividades propostas, além de trazer uma composição formal muito mais interessante, mais orgânica. Por fim, optamos por refazer as células, agora no formato circular, e reapresentar a nova proposta ao cliente, que aprovou de imediato e pudemos seguir em frente.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, pode comentar as mais importantes?

G.L. – Sempre dialogamos com os profissionais que elaboram os projetos complementares, desde a etapa do estudo preliminar. Propusemos soluções, discutimos com eles, sempre com o intuito de simplificar ao máximo as soluções construtivas em geral. Arquitetura, estrutura e instalações andam juntas. A partir disso, podemos antecipar problemas e incompatibilidades que surgem naturalmente, o que nos dá mais tempo para pensarmos juntos e propor a melhor solução. Nesse projeto, especificamente, não houve nenhuma modificação na solução original apresentada por nós a esses autores, apenas alguns ajustes de dimensionamento. O conceito, entretanto, permaneceu. O caminho foi bem linear.

MDC – Os autores dos projetos tiveram participação no processo de construção/implementação da obra? Se sim, quais os momentos decisivos dessa participação?

G.L. – Sim. Estivemos presentes e participamos do processo de construção da obra desde o início, apesar de não sermos os responsáveis diretos pela obra (essa responsabilidade ficou a cargo da Ampla Engenharia). Entretanto, assumimos o papel de fiscalização e pudemos acompanhar todo o processo, desde o início até a entrega final. Isso é de suma importância, uma vez que mudanças e adaptações são necessárias no decorrer da obra e o fato de estar acompanhando o processo nos permite participar ativamente das decisões, contribuindo para que a obra seja executada sem grandes modificações. Destaco a paginação da pele em tijolos cerâmicos como um ponto fundamental de decisão na obra. Ela foi testada e adaptada após conversas com os engenheiros e pedreiros locais para que a sua execução fosse a mais assertiva possível.

MDC – Você destacaria algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

G.L. – Logo após a inauguração do edifício, as varandas voltadas ao leste, que antes haviam sido fechadas com vidro, tiveram que ser abertas para acomodar um programa maior, voltado ao treinamento funcional, e que demandava uma maior integração interior x exterior. Após sermos chamados, rapidamente propusemos a exclusão da cortina de vidro e integração com o jardim externo, permitindo assim o desenvolvimento das atividades propostas. Outro fato interessante foi a constatação do edifício poder regular a sua temperatura interna apenas através das aberturas das esquadrias e promoção da ventilação cruzada. Isso faz com que o edifício não necessite de ar-condicionado durante boa parte do dia, mesmo estando em um clima semiárido.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, faria algo diferente?

G.L. – Provavelmente sim. A nossa produção depende diretamente das nossas vivências e experiências ao longo dos anos, além é claro do que estamos consumindo de referências no momento em que projetamos. Apesar desse fato, nosso escritório possui diretrizes bem consolidadas, o que faz com que a gente siga uma linha projetual bem definida ao longo desses anos, desde a nossa fundação. O respeito ao local onde a obra está inserida, adaptando-a ao clima, ao bioma, à cultura local e absorvendo mão-de-obra e materiais locais é algo que faz parte da nossa essência e aplicamos em todos os nossos projetos. O partido, entretanto, é natural que sofra adaptações ao longo do tempo.

MDC – Como você contextualiza essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

G.L. – Penso que essa obra contribui muito para o debate acerca da arquitetura contemporânea brasileira, uma vez que foi produzida em uma realidade periférica. O Brasil é um país continental, com uma rica diversidade cultural e condições climáticas bem distintas. O que produzimos fora da capital, no interior do Ceará, na região Nordeste, é bem diferente do que é produzido no eixo Rio-São Paulo ou na região Sul, por exemplo. Enfrentamos um clima mais hostil, com uma certa escassez de recursos e um orçamento limitado, o que não nos impede de produzir uma arquitetura contemporânea, mais adaptada à nossa realidade, a nossa gente. Penso que essa arquitetura produzida no Nordeste brasileiro, não só esse exemplo da Academia Escola Unileão, mas várias outras que estão sendo produzidas, seja no interior ou no litoral, tem muito a contribuir (e acrescentar) para a arquitetura contemporânea brasileira como um todo.


projeto executivo


PLANTAS, CORTES E FACHADA

7 pranchas (pdf).
5,59mb


INTERIORES

10 pranchas (pdf).
3,16mb


DETALHES

4 pranchas (pdf).
15mb


ficha técnica do projeto


Local: Juazeiro do Norte, CE, Brasil
Ano de projeto: 2017
Ano de execução e conclusão da obra: 2018
Área: 965 m²
Autor: Cintia Lins e George Lins
Colaboração: Gabriela Brasileiro, Camila Tavares, Hanna dos Santos, Samuel Melo, Alice Teles e Paula Thiers

Arquitetura: Lins Arquitetos Associados
Construção: Ampla Engenharia

Fotos: Joana França
Contato: contato@linsarquitetos.com.br

galeria


colaboração editorial

Isabela Gomide

deseja citar esse post?

LINS, Cintia. LINS, George. “Academia Escola Unileão”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., mar-2024. Disponível em //www.28ers.com/2024/04/27/academia-escola-unileao/. Acesso em: [incluir data do acesso].


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Arquitetura cearense – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2023/12/24/casas-e-edificio-misto-em-sobral/ //28ers.com/2023/12/24/casas-e-edificio-misto-em-sobral/#respond Sun, 24 Dec 2023 16:28:00 +0000 //28ers.com/?p=14638 Continue lendo ]]> Por REDE Arquitetos
9 minutos

Casas e Edifício Misto em Sobral (texto fornecido pelos autores)

A demanda inicial para o projeto era a construção de um conjunto de casas unifamiliares geminadas em loteamento na área de expansão da cidade de Sobral, localizada no semiárido cearense. Ao se analisar os 25 lotes do projeto, percebeu-se que sua diversidade ?11 lotes de 175,00m2, 13 lotes de 210m2 e 01 lote de 275,00m2 ?possibilitava variação nas soluções. Assim, a proposta resultou em dois projetos: o conjunto de residências Casas MBV2 e o Edifício Misto MBV2.

Fotografia: Igor Ribeiro

As Casas MBV2 lidaram com dois âmbitos distintos: privado, referente à solução da residência em si, e público, uma vez que o conjunto adquire uma escala de conjunto urbano. 

Na primeira, foram propostos dois tamanhos de unidades, de dois e três quartos (87,50 m² e 104,00 m², respectivamente). A partir do volume possível de construção, foi executada uma série de operações de extração para criação dos espaços internos, como se vê nas esquadrias recuadas e nos pátios internos, individualizados para cada ambiente da casa, que aproveitam os recuos laterais, além de contarem com pergolados que filtram a luz, marcam a passagem do tempo mesmo sem que se veja o exterior, e ainda garantem a segurança do interior. Estas estratégias funcionam tanto para ampliar os espaços internos, que possuem área mais restrita devido às medidas do lote, quanto para melhor performance climática, permitindo ventilação cruzada e iluminação indireta, adequadas ao clima local. 

Diagramas Casas MBV2 + Fotografias: Igor Ribeiro

No aspecto urbano do conjunto, por se tratar de uma série de casas, pensou-se em criar diversidade e permeabilidade nas frentes ?perceptível nos desenhos das calçadas, muros e gradis ?no sentido de criar uma urbanidade interessante ao conjunto e seu entorno. Além disso, a percepção de conjunto e da tipologia da casa geminada acontece pelo compartilhamento dos pátios e das caixas d’água, neste último, inclusive concentrando as instalações a cada duas unidades.

Fotografias: Igor Ribeiro

[1] Implantação do conjunto; [2] planta baixa das Casas MBV2; [3] corte transversal e longitudinal das Casas MBV2.

O Edifício Misto MBV2 surgiu da percepção de que no lote da esquina, de maiores dimensões, seria possível inserir um pequeno edifício ao invés de mais uma unidade de residência unifamiliar, potencializando o retorno financeiro do empreendimento. Foram propostas 04 unidades comerciais no térreo e dois pavimentos com duas unidades residenciais em cada. O arranjo interno se organiza em torno da circulação vertical centralizada, a partir da qual se inverte a posição entre as frentes dos usos comercial e residencial, voltando as lojas para a maior frente e as unidades para as menores, espelhadas pelo eixo vertical e compatibilizadas por uma estrutura quadrada de concreto. As aberturas nas maiores fachadas são estreitas e pontuais, protegendo o interior do excesso de insolação, além da presença de cobogós nas áreas comuns de circulação.

Fotografias: Igor Ribeiro

O edifício compõe o conjunto construído das Casas MBV2 complementando-as funcionalmente através da diversidade de usos, dinamizando a área e criando frente ativa com os comércios, mas também destacando-se formalmente, com o térreo de cor mais escura, atuando com um negativo do padrão criado pelas frentes das casas, o que é reforçado pela presença das vigas que intensificam sua verticalização e sobreposição de unidades, em contraponto à horizontalidade do conjunto de casas.

Fotografias: Igor Ribeiro

[1] Planta térreo; [2] pavimento tipo; [3] corte longitudinal e [4] transversal do Edifício MBV2


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Bruno Braga, Bruno Perdigão, Igor Ribeiro e Luiz Cattony (REDE)

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no conjunto de toda a sua produção?

REDE – Essa foi a primeira obra construída de maior porte que fizemos sem estarmos associados a outro escritório. Nesse sentido, ela permitiu, por um lado, um grande aprendizado por termos tido mais participação em todas as etapas do processo, inclusive no acompanhamento da obra, como também permitiu que tivéssemos mais autonomia para desenvolver e experimentar algumas ideias e princípios que vínhamos testando em projetos anteriores.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

REDE – Fomos contratados diretamente pelo construtor e investidor, que era dono dos lotes. Tínhamos acabado de fazer o projeto da casa dele, a Casa Planos. Ele ficou satisfeito com a nossa forma de trabalhar e acabou nos contratando para outros projetos.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Vocês destacariam algum momento significativo do processo?

REDE – Inicialmente, o cliente chegou com a demanda de fazer 25 casas duplex nos lotes que ele possuía, dentro de um padrão que já vinha fazendo. Assim, um aspecto muito importante na concepção foi termos podido construir junto com ele uma alternativa que acreditávamos ser mais interessante, que era pensar em diferentes tipologias, uma vez que os terrenos tinham dimensões diferentes e também no diferencial de como lidar com o recuo lateral (era permitido encostar em uma das laterais e na outra era exigido recuo de 1,50m). Dessa forma, chegamos a uma proposta de 24 casas térreas de 2 e 3 quartos, além de um edifício de uso misto. Entendemos que isso foi importante por dar maior diversidade ao conjunto, uma vez que pela escala ele já tinha uma dimensão urbana, além de ter permitido uma obra mais barata e ter possibilitado mais retorno para o cliente com a criação do edifício misto. A partir dessa definição inicial, pensamos em desenvolver um sistema comum que permitisse essas variações, de forma a simplificar o processo de projeto e obra e conferir identidade ao conjunto.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, podem comentar as mais importantes?

REDE – Durante o projeto executivo trabalhamos com um colega arquiteto, Francisco Navarrete. Ele deu importantes contribuições nas definições finais, em especial no pré-lançamento da estrutura, que está presente no nosso projeto executivo. Como o cliente era o construtor e morava em outra cidade, ele já tinha sua equipe de projetistas complementares e obra, então essas definições no projeto executivo de arquitetura foram muito importantes.

MDC – Os autores dos projetos tiveram participação no processo de construção/implementação da obra?

REDE – Tivemos um acompanhamento em momentos pontuais da obra. Mesmo não tendo sido algo sistemático, foi importante para percebermos algumas questões que estavam dando certo e corrigir alguns pontos na obra que não estavam seguindo exatamente o projeto. Um exemplo foi sobre os pergolados das casas, que, por estarem espelhadas, tiveram que ter as peças alternadas para não coincidirem na parede de divisão. Isso foi algo visto e decidido em obra.

MDC – Vocês destacariam algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

REDE – Pensamos as casas e o edifício misto como suportes capazes de se adaptar a diversos usos e apropriações. Dessa forma, procuramos fixar os elementos mais rígidos, em especial as estruturas e infraestruturas, de modo a gerar espaços mais livres e flexíveis, além de uma certa neutralidade da materialidade que permitisse uma apropriação posterior de cada usuário. Ao visitarmos a obra depois da conclusão, descobrimos ocupações imprevistas, como algumas casas sendo transformadas em espaços de serviços e escritórios, além da adaptação dos muros com cores e elementos de identificação tanto nas casas como no edifício. Para nós isso foi positivo, pois demonstrou essa qualidade de adaptação do projeto para além do programa pensado inicialmente.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, fariam algo diferente?

REDE – Algo que percebemos nas visitas após a conclusão da obra foi que talvez tivesse sido importante ter uma maior estanqueidade dos espaços, pois os períodos de chuva, embora escassos, são bastante intensos. Então talvez os pergolados das casas pudessem contar com alguma parte coberta, ou pudéssemos ter previsto maior proteção nos pavimentos superiores do edifício de uso misto.

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

REDE – Entendemos essa obra como um exemplar de uma arquitetura que busca transformar limitações de recursos em motor para o processo criativo. Entendemos que todo o processo, desde as definições iniciais junto ao cliente, até as decisões de obra para reduzir custos, constroem um projeto cujo processo induz muito a uma visão do papel do arquiteto no contexto contemporâneo. Acreditamos, também, que é uma obra cujos principais atributos estão não necessariamente em artifícios formais, mas em estratégias de aproveitamento da luz e dos espaços vazios. Além disso, ela se insere num momento em que algumas obras do Nordeste começam a ganhar mais repercussão no contexto nacional, ainda muito centrado no eixo sudeste. Nesse sentido, acreditamos que possa trazer contribuições sobre formas de atuar em contextos distintos, pois é uma obra bastante austera e direta, feita com materiais e recursos muito simples. Construída em Sobral, no semiárido cearense, lugar ainda pouco conhecido por grande parte das pessoas do país, pode também contribuir para termos um panorama mais diverso e rico da produção contemporânea brasileira.


projeto executivo

PARTE 1:
EXECUTIVO CASAS 2 QUARTOS

7 pranchas (pdf).
2,5mb

PARTE 2:
EXECUTIVO CASAS 3 QUARTOS

7 pranchas (pdf).
2,89mb

PARTE 3:
EXECUTIVO EDIFÍCIO MISTO

7 pranchas (pdf).
6,63mb


ficha técnica do projeto

Local: Sobral – CE
Ano de projeto: 2017
Ano de conclusão: 2020
Área: 2671 m²
Autores: Rede Arquitetos: Bruno Braga, Bruno Perdigão, Igor Ribeiro, Luiz Cattony
Colaboração: Francisco Navarrete (arquiteto)


Fabricantes: Cerbrás, Fortcolor Tintas, Metalúrgica Massapeense, Sobral Madeiras


Fotos: Igor Ribeiro
Contato: contato@redearquitetos.com


Premiações:
2021 – Projeto selecionado para a exposição Arquiteturas em Português: Diálogos Emergentes, promovida pelo Conselho Internacional dos Arquitectos de Língua Portuguesa – CIALP;
2022 – Projeto menção honrosa COR no 8º Prêmio de Arquitetura Instituto Tomie Ohtake Akzonobel.


galeria


colaboração editorial

Isabela Gomide

deseja citar esse post?

BRAGA, Bruno. PERDIGÃO, Bruno. RIBEIRO, Igor. CATTONY, Luiz. “Casas e Edifício Misto em Sobral”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., dez-2023. Disponível em //www.28ers.com/2023/12/24/casas-e-edificio-misto-em-sobral. Acesso em: [incluir data do acesso].


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