Casa contempor芒nea – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com Sun, 03 Nov 2024 14:59:35 +0000 pt-BR hourly 1 //i0.wp.com/28ers.com/wp-content/uploads/2023/09/cropped-logo_.png?fit=32%2C32&ssl=1 Casa contempor芒nea – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com 32 32 5128755 Casa contempor芒nea – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2024/10/28/casa-vila-matilde/ //28ers.com/2024/10/28/casa-vila-matilde/#respond Mon, 28 Oct 2024 20:26:02 +0000 //28ers.com/?p=18668 Continue lendo ]]> Por Terra + Tuma
9 minutos

Casa Vila Matilde (texto de Francesco Perrotta-Bosch | 2015)

É preciso avisar de antemão: este não é um projeto feito por caridade. Nem se encaixa a definição de habitação social. De fato, a história da casa na Vila Matilde restitui algo de elementar à arquitetura.

Fotografia: Terra e Tuma

Um então distante conhecido de Danilo Terra consultou o arquiteto sobre a possibilidade de reformar a casa onde sua mãe residia há 25 anos. Morava em um trecho do bairro de Vila Matilde, na zona Leste de São Paulo, oriundo de um antigo loteamento – uma vizinhança repleta de casas modestas, mas atendidas pelos serviços básicos de infraestrutura. Naquele ano de 2011, mãe e filho tinham dois cenários em mente: um projeto de reforma da casa ou sua venda para a compra de algum apartamento.

Situação

Danilo e Pedro Tuma, seu sócio no escritório, foram visitar a residência existente e constataram uma complicada situação: incontáveis rachaduras e infiltrações nas paredes; ampliações feitas ao longo dos anos sem qualquer ordenamento; faltavam janelas e aberturas que permitissem a entrada de ventilação e iluminação naturais nos ambientes internos. Era inviável o reaproveitamento da estrutura que lá havia. Embora insalubre, a senhora de 74 anos não fazia esforço para sair da velha casa. Por mais que o primogênito reconhecesse as condições ruins de moradia da matriarca, também percebia o quão negativo seria tirá-la da vizinhança onde há décadas estava estabelecida sua rotina.

Fotografias: Terra e Tuma

Assim, decidiram demolir a casa existente para edificar uma nova no mesmo terreno. As economias guardadas por esta senhora nas décadas de prestação de serviços domésticos eram na ordem de 100 mil reais. “Seria possível com este valor construir uma casa térrea para a mãe?”, questionava o filho aos arquitetos. “Tem que ser possível”, pensou a dupla do escritório Terra e Tuma. Ao apresentar seus projetos anteriores de residências, suas referências e sua ideia de arquitetura, eles esclareceram aos clientes que o limite para o orçamento era baixo, mas era viável.

Fotografia: Terra e Tuma

Nesse momento, é necessário se colocar na posição desta mãe e filho. Afinal, eles estavam prestes a pôr todo o dinheiro poupado em uma vida inteira à disposição de um projeto arquitetônico. Não é um ato muito comum para pessoas de uma classe social mais humilde no Brasil, país cujo senso comum põe o bom projeto de arquitetura como um benefício para quem tem dinheiro sobrando. Pondo-se no lugar dos arquitetos, gerenciar os escassos recursos de uma pessoa para materializá-los em sua nova moradia era uma responsabilidade grande.

Cabe também acrescentar que este não é um caso de fé à profissão. Provavelmente, dona Dalva não conhece Le Corbusier. Dona Dalva não sabe dos benefícios da planta livre, nem dos outros quatros pontos para a arquitetura moderna. Dona Dalva não deve estar ciente da importância
gregária do salão caramelo da FAUUSP. Pelo processo de construção, Dona Dalva não deu indícios de se importar com as condições operárias no canteiro de obras. Dona Dalva não se encanta com os hightechs, desconstrutivistas, metabolistas ou sustentáveis. Dona Dalva não aprendeu com Las Vegas. Ou seja, dona Dalva passa ao largo da intelligentsia arquitetônica, mas mesmo assim, por algum motivo, eles apostaram todas as fichas na arquitetura.

Fotografias: Terra e Tuma

Fez-se o contrato da mãe e filho com o escritório de arquitetura (também dirigido pela arquiteta Fernanda Sakano), de acordo com honorários compatíveis com o valor total possível e esclarecido desde a primeira conversa. Para viabilizar a edificação dentro desse recurso, os arquitetos auxiliaram na escolha e na elaboração de contratos com o empreiteiro, os complementares, os fornecedores.

A primeira proposta de projeto, feita ainda em 2011, era em estrutura metálica, revestimento externo em telha translúcida, divisórias internas em drywall. A referência explícita no powerpoint de apresentação é a Casa Latapie do escritório francês Lacaton & Vassal. A estratégia era de uma
construção seca com montadores específicos, apostando na rapidez e na minimização de erros de obra.

Chegou a ser feito o projeto executivo dessa versão. Esperou-se mais de um ano para a aprovação do desenho na prefeitura. Permaneceu em stand by por mais alguns meses até o dia de 2014 em que o filho constata que o forro do teto caíra em cima da cama da mãe. Com o risco iminente de ruir, o filho tira a mãe da casa antiga, que passa a morar de aluguel, e liga para os arquitetos informando que a obra tinha que começar.

No momento de executar, o escritório muda o projeto, optando pela segurança da pesquisa construtiva que se iniciara na Casa Maracanã e que se seguiu pela Casa com Estúdio e em mais duas edificações. “Pela responsabilidade da situação, tínhamos que acertar. Não teria quem
pagasse pelo erro”, afirmavam os arquitetos. Seguiram por um método construtivo que tinham domínio, lançando mão do bloco de concreto, sem revestimentos e com o mínimo uso de elementos facilmente encontrados em lojas de construção. Utilizam o essencial para a construção não por uma questão estética ou por qualquer demonstração de verdade do material, mas para dar pragmatismo de obra e reduzir custos.

Referência Casa Maracanã
Fotografia: Pedro Kok

Refizeram os desenhos gerais do projeto (em duas semanas) e iniciaram a demolição da velha casa, durante a qual surgiram os grandes desafios da execução. De um lado, o vizinho, que estava construindo seu segundo andar, escorava sua residência na precária edificação que estava sendo demolida. O muro da casa do outro lado assentava-se direto na terra, sem baldrame. Logo, as fundações eram executadas não somente para estruturar a casa da mãe e do filho, como também para manter em pé os sobrados ao redor. Soma-se a isso o fato do próprio lote não ser nivelado, de modo que foi necessário construir uma laje para estabelecer o piso térreo, vencendo as
irregularidades e cavidades no solo.

Outra condicionante atípica e só verificável no canteiro: o vizinho que se apoiava na antiga casa também invadia o lote em cerca de 50 cm, quebrando a linearidade da lateral. Quando se descobriu isso, o projeto foi todo espelhado, deixando o muro irregular adjacente ao pátio central. Parte considerável dos nove meses de execução foi destinada a esse cuidadoso processo de demolição e de fundações.

Fotografias: Terra e Tuma

A obra foi tocada por um empreiteiro de confiança, do qual partiu a iniciativa de acordar o acompanhamento da construção pelos arquitetos uma ou duas vezes por semana. Em virtude desse modelo, foi possível uma simplificação dos desenhos. Muitas decisões projetuais eram feitas no canteiro, por meio do diálogo com os construtores ou fornecedores. De acordo com a demanda, os arquitetos fizeram as plantas dos dois pavimentos, cortes, fachadas, as ampliações do portão e da escada, definiram as características gerais dos caixilhos. Tudo em pouquíssimas pranchas, de modo a evitar desenhos com detalhamentos raramente lidos pela mão de obra nacional.
Além de otimizar o tempo, este pragmático modo de trabalho minimizava custos e esforços tanto para os arquitetos e empreiteiro quanto para os clientes.

Plantas Térreo, Primeiro Pavimento e Cobertura

Entreveros de obra à parte, o levantamento das paredes de blocos de concreto foi uma etapa rápida. Recuada em relação ao alinhamento frontal do lote, está a sala. A partir dela se segue para um corredor onde se alinham as áreas com instalações hidráulicas – lavabo, cozinha e área de serviço. Em paralelo, está o vazio central com jardim. A separação entre interior e exterior nesse trecho nuclear é feita por uma longa esquadria que permite ampla iluminação e ventilação natural – a antítese da ambiência da velha casa. Ao fundo estão as duas suítes: no térreo para a mãe e no pavimento superior para o filho. A laje de cobertura da sala permite uma ampliação
futura da casa.

Cortes Longitudinais e Transversais

Fotografias: Terra e Tuma

Não somente a residência tem a robustez suficiente para agregar mais cômodos, mas também admite outros tipos de reformas. O chão, que é hoje o concreto alisado da laje, pode receber outro piso. As paredes, que são de bloco aparente, podem vir a ser pintadas, rebocadas ou revestidas. A casa vai se transformar, de acordo com um natural processo de apropriação por dona Dalva, que vai imprimir gradativamente sua identidade a essa casa. Porém, é interessante notar que, posterior à entrega da chave, mãe e filho consultam com frequência os arquitetos para pedir orientação na
disposição do mobiliário, na cor das cortinas, na colocação de suas plantas. O canal de diálogo permanece, pois há um reconhecimento por parte dos moradores da melhora da qualidade de vida pela arquitetura.

Esta não é a casa dos sonhos de dona Dalva. Aqui o Terra e Tuma não trata o projeto arquitetônico como uma tentativa de dar forma aos desejos que ocupam o imaginário da proprietária. No desenho, não há incrementos subjetivos, pois se tem consciência de que a noção estética de cada pessoa é muito singular. Não diferente de qualquer outro caso, o valor afetivo que a matriarca tem com cada material diverge da qualificação concedida às matérias pelos arquitetos.

Portanto, nesta circunstância de grande limitação orçamentária, para que a construção fosse possível, demandava-se a simplificação dos desenhos, a otimização da execução, a materialização exclusiva do que é essencial para dona Dalva morar. Das economias de uma vida inteira, ergueu-se uma casa com um tamanho decente, ventilação, iluminação, sem riscos de o forro cair sobre a cama. Na singeleza da casa na Vila Matilde referendada pela admirável história, restitui-se a noção de arquitetura como produção de espaço que ambiciona eminentemente a dignidade do habitar.


projeto executivo


EXECUTIVO COMPLETO

7 formatos (pdf).
2,87mb


ficha técnica

Local: Vila Matilde – São Paulo, SP
Ano de projeto: 2011 – 2015
Ano de construção: 2015
Área: 95 m²
Arquitetura: Terra e Tuma Arquitetos Associados | Danilo Terra, Pedro Tuma, Fernanda Sakano, Bruna Hashimoto, Giulia Galante, Jéssica Zanini, Lucas Miilher, Zeno Muica.


Construção:
Valdionor Andrade de Carvalho e equipe
Estrutura: Megalos Engenharia
Paisagismo: Gabriella Ornaghi Arquitetura da Paisagem


Fotos: Pedro Kok, Terra e Tuma (fotos antigas / fotos de obra)


galeria


colaboração editorial

Renan Maia

deseja citar esse post?

TERRA, Danilo. TUMA, Pedro. SAKANO, Fernanda. PERROTTA-BOSCH, Francesco. “Casa Vila Matilde”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., out-2024. Disponível em //www.28ers.com/2024/10/28/casa-vila-matilde. Acesso em: [incluir data do acesso].


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5 minutos

Casa Mipibu (texto fornecido pelos autores)

Esta casa representa uma situação muito comum na cidade de São Paulo, um terreno comprido e estreito [5.6×30.0m] com apenas a elevação frontal livre de interferências das edificações em seu entorno.

Fotografias: Nelson Kon

Croqui e Planta de Localização

Considerando a inevitável verticalização de seus vizinhos, todos eles colados às divisas, o primeiro passo foi inverter as fachadas, pensar o projeto ?do avesso? como se retirássemos uma luva.

Planta Térreo, Planta Pavimento Superior e Planta Cobertura

Fotografias: Nelson Kon

Quando trouxemos os caixilhos para dentro, pudemos usá-los à exaustão, tornando o interior extremamente aberto, em oposição ao perímetro externo completamente fechado.

Cortes AA, BB, CC e Elevação Frontal

Fotografias: Nelson Kon

Posicionamos dois pátios internos, funcionando como as áreas externas da casa. E eles, assim como em outros projetos do escritório, a organizam. Além de proporcionar luz e ventilação necessárias para salubridade e qualidade espacial, articulam os ambientes.

Simulações de Chuva, Sol e Som no Corte AA

Outra decisão inesperada para o cliente foi o posicionamento dos dormitórios no pavimento térreo, normalmente destinado aos ambientes sociais, e assim subimos o “térreo?para o pavimento superior.

Fotografias: Nelson Kon

Esta medida proporcionou para o pavimento íntimo, dos dormitórios, maior privacidade e silêncio. Para o pavimento social proporcionou a integração com a laje de cobertura, usada como área de lazer, e assim portanto, não ocorrendo a interrupção pelo pavimento íntimo. Tornou também as áreas sociais melhor iluminadas e ventiladas.

Fotografias: Equipe Terra e Tuma (processos da obra)

Por solicitação do cliente um destes pátios tornou-se um espelho d`água, e com ele, outro fator importante foi a concepção simultânea do projeto de paisagismo.

Fotografias: Nelson Kon

Desta forma foi possível prever uma estrutura adequada para receber tanto uma árvore de grande porte no pavimento superior, na varanda externa contígua a sala, quanto a laje que suportaria o peso das bandejas com plantas que caem sobre o espelho d ́água.

Fotografias: Nelson Kon

As soluções para este projeto são resultado de uma estreita e bem sucedida relação entre arquitetura, paisagismo e estrutura.

Fotografias: Nelson Kon


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Danilo Terra, Fernanda Sakano, Juliana Terra e Pedro Tuma (T.T.)

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no conjunto de toda a sua produção?

T.T. – Ela consolida o processo projetual iniciado pela Casa Maracanã e posteriormente Casa
Estúdio, e avança ainda mais em reflexões sobre a organização espacial e construtiva.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

T.T. – Contratação direta.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Vocês destacariam algum momento significativo do processo?

T.T. – A decisão de inverter a lógica comum de posicionar a área social no nível de acesso e
íntima no pavimento superior trouxe diversos benefícios. Primeiro tirando carga de um
pavimento repleto de paredes e móveis e fazendo com que este sim, de forma muito mais
adequada suporte um pavimento mais leve e aberto. Permitiu trabalhar com pé direito
diferente e maior no pavimento superior, social, sem acarretar em esforços estruturais
excessivos. Os ruídos externos são amenizados no pavimento íntimo, inferior. A ligação do
pavimento social é direta com a laje de cobertura, que funciona também como área de lazer,
e assim evita a transição e passagem por outros pavimentos.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, podem comentar as mais importantes?

T.T. – Sim, neste caso decorrente da atuação dos projetistas de paisagismo ainda na fase de
estudo preliminar. O trabalho em conjunto possibilitou a proposição de soluções que
somente poderiam estar presentes se adotados nesta fase. Destacam-se as bandejas que
fazem pender plantas sobre o espelho d’água do pátio frontal, foi necessário considerar
certo reforço estrutural nesta laje. Na varanda frontal do pavimento superior propusemos o
plantio de uma árvore de grande porte, para isso foi necessário projetar e calcular uma
“caixa?vertical de concreto armado que conecta o solo do pavimento térreo a este primeiro
pavimento.

MDC – Os autores do projeto tiveram participação no processo de construção/implementação da obra?

T.T. – Este foi um dos poucos projetos em que o escritório também gerenciou a obra.

MDC – Vocês destacariam algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

T.T. – A relação espacial entre áreas externas e internas é propositadamente gradativa e difusa.
Assim como em outros projetos, além dos fatores estruturais e espaciais, o conforto
ambiental é outro fator de relevância para as soluções propostas.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, fariam algo diferente?

T.T. – Com relação à arquitetura, acreditamos que não. Já em relação às infraestruturas de
hidráulica/elétrica e alguns detalhes estruturais, sim.

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

T.T. – Ela é parte de um conjunto de obras contemporâneas de nosso escritório que traduzem
muito bem o amadurecimento de nosso processo projetual. Além das já citadas, esta casa
tinha como sua contemporânea de construção a casa da Vila Matilde.

MDC – Há algo relativo ao projeto e ao processo que gostariam de acrescentar e que não foi contemplado pelas perguntas anteriores?

T.T. – Agradecemos imensamente a sua contribuição. Um abraço!


projeto executivo


PROJETO EXECUTIVO
COMPLETO

7 pranchas (pdf).
4,56mb


ficha técnica

Local: Bairro da Lapa – São Paulo, SP
Ano de projeto: 2014
Ano de construção: 2014 – 2015
Área: 170 m²
Arquitetura: Terra e Tuma Arquitetos Associados | Danilo Terra, Pedro Tuma e Fernanda Sakano
Colaboradores: Bianca Antunes, Cassio Oba Osanai e Eugênio Amodio Conte


Estrutura:
Megalos Engenharia
Elétrica | Hidráulica:
DCHE
Paisagismo: Gabriella Ornaghi Arquitetura da Paisagem
Serralheria: Terral Serralheria
Impermeabilização: Kenzo Harada | Vedação Tecnologia em Construção
Esquadrias de Alumínio: Metaltec Esquadrias


Fotos: Nelson Kon e Equipe Terra e Tuma
Contato: contato@terraetuma.com.br

Prémios e Exposições:
Exposição “Casas Paulistas 2000-2017” – São Paulo (2019)
Mostra Itinerante “Continuità Brasiliana” – Matera (2019)


galeria


colaboração editorial

Ana Júlia Freire

deseja citar esse post?

TERRA, Danilo. TUMA, Pedro. SAKANO, Fernanda. “Casa Mipibu”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., out-2024. Disponível em //www.28ers.com/2024/10/28/casa-mipibu/. Acesso em: [incluir data do acesso].


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//28ers.com/2024/10/28/casa-mipibu/feed/ 0 18748
Casa contempor芒nea – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2024/10/28/casa-maracana/ //28ers.com/2024/10/28/casa-maracana/#respond Mon, 28 Oct 2024 20:22:27 +0000 //28ers.com/?p=18595 Continue lendo ]]> Por Terra + Tuma
5 minutos

Casa Maracanã (texto fornecido pelos autores)

A casa está localizada na Lapa, bairro predominantemente residencial da zona oeste de São Paulo, em terreno conciso e com topografia em declive.

Croqui de Corte Longitudinal e vista geral do ambiente social da residência: Pedro Kok

Ela se desenvolve em três pavimentos, abaixo e acima da cota de acesso, na qual estão implantados a garagem e o hall de distribuição da circulação vertical. Ocupando toda a largura do lote, as empenas laterais desempenham também o papel de muros de divisa e, estruturais, são feitas com bloco de concreto autoportante.

Assim, os oito metros de largura do ambiente social ficam livres da interferência de outros elementos estruturais e a residência ganha um aparente espaço extra, qualificado pelo pé-direito duplo e pelo confortável aporte da iluminação natural.

Fotografias: Pedro Kok e Cortes Longitudinais e Transversais

Há jardins na frente e nos fundos ladeando a sala de estar da cota inferior, dela separados por caixilhos de altura total que tornam indistintos os limites entre o edificado e os espaços livres.

Fotografias: Pedro Kok

Em contrapartida, o mezanino transversal, no nível intermediário, sinaliza a passagem do setor social para o de serviços e o estúdio, situados lado a lado na porção frontal e rebaixada do terreno.

Fotografias: Pedro Kok

A extrema simplicidade dos materiais – blocos de concreto autoportantes ou de vedação, sem revestimento – faz par com a exposição das tubulações, piso e escadas de concreto, todos aparentes. O cuidado na seleção dos fornecedores, por exemplo, garantiu a proximidade entre seus tons de cinza, tão claros quanto possível.

Fotografias: Pedro Kok

No andar superior, os dormitórios (três no total) dividem uma faixa de pouco mais de três metros de largura por oito de comprimento, compartilhando o banheiro que, sobressalente na fachada frontal, tem revestimento externo decorativo. O padrão de traços e círculos, nas cores branca, preta e vermelha, foi concebido pelo artista plástico Alexandre Mancini.

Plantas dos três pavimentos + Planta de Cobertura


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Danilo Terra, Fernanda Sakano, Juliana Terra e Pedro Tuma (T.T.)

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no conjunto de toda a sua produção?

T.T. – Seminal. Por ela o escritório encontrou um processo de reflexão e desenvolvimento de
projeto próprio, e como consequência uma linguagem identitária.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

T.T. – A casa pertence aos sócios Danilo e Juliana.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Vocês destacariam algum momento significativo do processo?

T.T. – Parâmetros de projeto extremamente limitantes em contraste com a liberdade de projetar
para si próprio tornaram o processo projetual em um laboratório destinado a encontrar
soluções pragmáticas, e que atendessem à família funcionalmente com a maior flexibilidade
espacial possível.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, podem comentar as mais importantes?

T.T. – Sim. Intensa participação. E as consequências foram determinantes para o resultado final. A
que mais se destaca é o sistema construtivo adotado. Um sistema misto de alvenaria
estrutural com concreto armado tradicional.

MDC – Os autores do projeto tiveram participação no processo de construção/implementação da obra?

T.T. – Sim, e também intensa, durante toda a obra. O canteiro também determinou a adoção de
certas soluções, como a alvenaria estrutural, viabilizando a construção no alinhamento do
terreno.

MDC – Vocês destacariam algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

T.T. – Foram incontáveis momentos da vida familiar, e até mesmo profissional, aos quais esta casa
atendeu muito bem. Sua estrutura comporta além do mais importante e trivial uso cotidiano,
até eventos e locações para fotos e filmagens.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, fariam algo diferente?

T.T. – Sim, foi um processo de muito aprendizado e consequente amadurecimento em projetos e
obras posteriores.

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

T.T. – Acreditamos que ela trata de resgatar uma linguagem projetual que não foi inventada por
nós, mas estava latente e muito pertinente ao contexto da produção arquitetônica
contemporânea.

MDC – Há algo relativo ao projeto e ao processo que gostariam de acrescentar e que não foi contemplado pelas perguntas anteriores?

T.T. – Agradecemos imensamente a sua contribuição. Um abraço!


projeto executivo


PARTE 1:
ARQUITETURA

4 pranchas (pdf).
5,02mb


PARTE 2:
DETALHES

6 pranchas (pdf).
2,6mb


PARTE 3:
ESQUADRIAS

5 pranchas (pdf).
2,1mb


PARTE 4:
ELÉTRICA

2 pranchas (pdf).
903kb


ficha técnica

Local: Bairro da Lapa – São Paulo, SP
Ano de projeto: 2008
Ano de conclusão: 2009
Área: 185 m²
Arquitetura: Terra e Tuma Arquitetos Associados | Danilo Terra, Pedro Tuma e Juliana Assali


Construção:
RKF | Rafael Alves
Elétrica | Hidráulica:
Minuano Engenharia | Cibele Báez Neme e Roberto Abou Assali
Esquadrias de Alumínio: Metaltec Esquadrias | Alexandre Hornink Mora e Fabio Cappeli
Estrutura: AVS | Carolina Ayres e Tomas Vieira
Impermeabilização: Kenzo Harada | Vedação Tecnologia em Construção
Marcenaria: Alceu Terra
Painel: Alexandre Mancini
Paisagismo: Gabriella Ornaghi Arquitetura e Paisagismo
Serralheria: Edison Shigueno


Fotos: Pedro Kok e Arturo Arrieta (Maquete)


galeria


colaboração editorial

Isabela Gomide

deseja citar esse post?

ASSALI, Juliana. TERRA, Danilo. TUMA, Pedro. “Casa Maracanã”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., out-2024. Disponível em //www.28ers.com/2024/10/28/casa-maracana. Acesso em: [incluir data do acesso].


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//28ers.com/2024/10/28/casa-maracana/feed/ 0 18595
Casa contempor芒nea – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2024/03/12/casa-saracura/ //28ers.com/2024/03/12/casa-saracura/#respond Tue, 12 Mar 2024 23:28:22 +0000 //28ers.com/?p=15917 Continue lendo ]]> Por [entre escalas]
8 minutos

Casa Saracura (texto fornecido pelos autores)

A Casa Saracura faz parte de um conjunto de sobrados geminados construídos na década de 1940 no bairro do Bexiga, São Paulo. Em resistência à atual especulação imobiliária no bairro, a renovação do sobrado busca preservar a memória deste bairro tradicional mantendo a fachada original e a configuração do pátio existente.

Fotografia: Pedro Kok

Como partido de projeto, a estrutura original da casa é revelada, assim como o muro de arrimo histórico, típico da topografia existente do Bexiga que aparece como elemento visível a partir de diversos ambientes da casa. Manter a relação visual com o muro de arrimo existente é uma das premissas do projeto.

Fotografia: Pedro Kok

O córrego Saracura, normalmente invisível aos olhos, passa bem atrás do terreno deixando o muro de arrimo constantemente úmido, onde a vegetação brota espontaneamente. Diante desta singular condição, a fonte entra como o principal elemento simbólico do projeto. Um tanque e um caminho d’água foram propostos, captando as águas do Saracura, e trazendo as águas para dentro do pátio, à vista de todos.

Fotografia: Pedro Kok

O volume da casa se manteve inalterado, porém uma única abertura no assoalho do primeiro pavimento abre um vazio que busca uma maior entrada de luz natural e relações visuais entre os dois níveis da casa ao mesmo tempo que incorpora uma nova dimensão no andar inferior.

Fotografia: Pedro Kok

No pavimento superior, as alvenarias do dormitório central foram removidas configurando o escritório como um espaço aberto, entre os dormitórios, que se abre para este vazio. Assim, a bancada de trabalho do mezanino mantém relações visuais com o pátio e com o muro de arrimo ao fundo do lote, além de ter a função de proteção ao vazio.

Planta Térreo Superior + Primeiro Pavimento + Cobertura

Novas aberturas foram propostas para a maior entrada de luz e ventilação natural nos ambientes internos, desenhadas em serralheria. O reboco das paredes laterais foi removido, expondo a técnica construtiva histórica da casa de alvenaria estrutural de tijolos. A remoção do forro existente de estuque revela a estrutura de madeira, tanto no térreo superior e no primeiro pavimento, expondo a estrutura original de madeira do piso de assoalho e do telhado, além de oferecer amplitude aos ambientes internos.

Fotografia: Pedro Kok

Uma das premissas do projeto foi a recuperação de elementos originais de valor arquitetônico. A escada e guarda-corpo de madeira, cobertos de tinta em situação existente, foram restaurados, e o piso de madeira existente do pavimento superior foi recuperado. O convite da escada integra-se ao banco de concreto, mobiliário fixo das salas.

Fotografia: Pedro Kok e Marina Panzoldo Canhadas (obra)

Novos elementos de concreto armado foram propostos: a parede do lavabo, o banco e prateleira na sala, a mesa na cozinha que avança no pátio e a bancada do banho da suíte. A mesa da cozinha, assim como a nova abertura de acesso ao pátio pela sala, estabelece novas relações entre os espaços internos e externos da casa. Um jardim em toda a extensão do pátio também foi proposto, trazendo o verde para dentro da casa.

Fotografia: Pedro Kok


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Entre Escalas (E.E.)

MDC – Como você contextualiza essa obra no conjunto de toda a sua produção?

E.E. – O projeto da Casa Saracura surgiu após a realização de outra obra em 2015 também no Bexiga, a Casa na Rua Rocha. Tratava-se também da recuperação de um sobrado geminado da década de 1940, bem perto da Casa Saracura.

Por coincidência, no mesmo ano de desenvolvimento do projeto da Casa Saracura, também estávamos realizando o projeto da Casa Apiacás, que também tratava da recuperação de um sobrado geminado em Perdizes.

Estas três obras, Casa Rua Rocha (2015-2016), Casa Apiacás (2020-2021) e Casa Saracura (2020-2022) representam de certo modo uma trilogia de intervenção em sobrados existentes, e a Casa Saracura, talvez por ser a última, consegue condensar ideias que ganharam certa liberdade a partir de questões trabalhadas e aprendidas nas outras.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

E.E. – Contratação direta, os clientes me encontraram através de publicações da Casa Rua Rocha realizada também no Bexiga em 2015-2016.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Você destacaria algum momento significativo do processo?

E.E. – Nas recuperações de sobrados geminados antigos, é sempre importante considerar quais elementos arquitetônicos devem ser preservados / recuperados. Assim como garantir uma melhor entrada de luz e ventilação natural, por conta da configuração dos lotes: estreitos e compridos. A Casa Saracura já havia passado por algumas reformas anteriores, e os caixilhos já não eram originais. O pátio também havia sido transformado, incluindo a construção de uma escada externa de acesso a um quartinho no primeiro pavimento. Dada esta situação existente, outra estratégia de projeto importante é a de estabelecer novas relações entre as áreas internas e externas da casa, fazendo com que o pátio, por exemplo, típico das casas geminadas do Bexiga, tenha relação contínua com os espaços internos. Desse modo, novas espacialidades são criadas. O momento importante foi a descoberta do córrego Saracura passando atrás do lote. Esta condição singular do terreno, fez com que a fonte se tornasse um elemento simbólico importante do projeto. Junto com o tanque e o caminho d´água ao longo do pátio, tornando visível as águas do córrego Saracura.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa do autor? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, pode comentar as mais importantes?

E.E. – Todo o processo de desenvolvimento do projeto contou com a participação ativa da autora. Foram feitas diversas reuniões entre ambas partes. O Projeto de Arquitetura já contemplava o reforço estrutural, então o projeto de estrutura seguiu a Arquitetura, com devido dimensionamento do reforço estrutural metálico. O que mudamos na obra foi a construção de novas lajes de concreto aparente moldadas in loco na lavanderia e no banho principal, pois a laje existente na lavanderia estava abaixo do nível do piso superior e deteriorada pela umidade. E a cobertura do banho superior (o que anteriormente era um pequeno dormitório de serviços), também estava deteriorada, então ao invés de realizarmos novo vigamento de madeira, fizemos também laje de concreto aparente, marcando e destacando a intervenção neste trecho da casa.

MDC – O autor do projeto teve participação no processo de construção/implementação da obra? Se sim, quais os momentos decisivos dessa participação?

E.E. – Sim, ao longo de todo o processo da obra foram realizadas duas visitas semanais. Todas as definições e eventuais alterações de projeto foram validas in loco com a participação de todos os envolvidos, inclusive os clientes. O que ajudou muito na dinâmica e ritmo da obra. Foi uma obra realizada com horário restrito durante a pandemia, o que somou mais um desafio para todos.

MDC – Você destacaria algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

E.E. – Sem dúvida, a relação com o pátio. Como comentado anteriormente, a relação entre os espaços internos e externos da casa se fez de forma contínua, propondo novas espacialidades e materialidades. Além de fazer com que o muro de arrimo existente, típico pela topografia do bairro, ganhasse presença e visibilidade a partir de diversos ambientes da casa. E também a relação com o córrego Saracura, pois numa cidade onde a maioria dos córregos são canalizados, a fonte e o caminho d´água propostos não são apenas elementos poéticos, mas tratam também da memória do bairro, da cidade.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, faria algo diferente?

E.E. – Acreditamos que cada projeto apresenta questões específicas, embora seja possível prever estratégias de projeto neste tipo de situação existente.  E também com o passar do tempo, experiências vividas e pesquisas realizadas vão somando às novas propostas e novas ideias.

MDC – Como você contextualiza essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

E.E. – É uma obra de pequena escala, de uso residencial, mas que faz parte de uma demanda bem comum de trabalho da minha geração.

MDC – Há algo relativo ao projeto e ao processo que gostaria de acrescentar e que não foi contemplado pelas perguntas anteriores?

E.E. – A Casa Saracura foi selecionada para participar do 9º Prêmio de Arquitetura Akzonobel em 2023 ao lado de outros 9 projetos, para minha grande surpresa. Projetos de pequena escala raramente são contemplados em premiações / exposições de Arquitetura, e esta participação, sem dúvida, fez com que o projeto ganhasse importância no panorama nacional da produção contemporânea. Além da participação da exposição, algumas atividades foram realizadas, como a própria visita à casa com público externo e a publicação do projeto no catálogo desta edição do prêmio.


projeto executivo


SÉRIE 100:
DESENHOS GERAIS

16 formatos (pdf).
5,38mb


SÉRIE 200:
PISO, FORRO E ELÉTRICA

9 pranchas (pdf).
3,05mb


SÉRIE 300:
AMPLIAÇÃO ÁREAS MOLHADAS

4 pranchas (pdf).
1,17mb


SÉRIE 400:
AMPLIAÇÃO CAIXILHOS

5 pranchas (pdf).
0,57mb


ficha técnica

Local: São Paulo, SP
Ano de projeto: 2020
Ano de conclusão: 2022
Período de execução: Maio 2021- Março 2022
Área do terreno: 105 m²
Área do projeto: 143 m²
Arquitetura: Marina Panzoldo Canhadas
Colaboradores: Joaquin Gak, André Nunes e Andrei Silva


Reforço Estrutural:
Eduardo Orellana
Construtor:
Eduardo Napchan


Fotos: Pedro Kok e Marina Panzoldo Canhadas (obra)


galeria


colaboração editorial

Renan Maia

deseja citar esse post?

CANHADAS, Marina Panzoldo. “Casa Saracura”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., mar-2024. Disponível em //www.28ers.com/2024/03/12/casa-saracura. Acesso em: [incluir data do acesso].


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//28ers.com/2024/03/12/casa-saracura/feed/ 0 15917
Casa contempor芒nea – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2024/03/01/casa-dos-cajueiros/ //28ers.com/2024/03/01/casa-dos-cajueiros/#respond Fri, 01 Mar 2024 14:07:41 +0000 //28ers.com/?p=15486 Continue lendo ]]> Por Galeria + Terra Capobianco
9 minutos

Casa dos Cajueiros (texto fornecido pelos autores)

A Casa dos Cajueiros, na Praia Vermelha do Sul em Ubatuba, localiza-se em frente à faixa de marinha e sua implantação discreta não se revela de imediato aos banhistas. A frente do lote ?com 33 metros de largura e 80 metros de profundidade – é ocupada por troncos tortuosos e ramos irregulares, resguardando a casa entre a luz e a sombra das copas dos cajueiros.

Fotografia: Nelson Kon

A estratégia para ocupação do terreno foi tirar partido do intervalo entre as copas das árvores. A ocupação é térrea e estruturada a partir de um eixo claro de circulação que conecta a área social à íntima.

Plantas e Cortes

A residência está implantada em quatro cotas de níveis. A cota mais baixa e próxima à faixa de marinha concentra a área social, de lazer e serviço. Na mesma cota um volume anexado à casa foi cuidadosamente implantado próximo ao acesso da praia, abrigando a sauna e o depósito de pranchas.

Distribuídas ao longo de um corredor de 33 metros de comprimento, as seis suítes são implantadas permitindo um intervalo entre elas. As suítes ganham varandas que acessam pátios privativos. O desnível do terreno é vencido suavemente por degraus ao longo do corredor tornando a transição quase imperceptível.

Isométrica – Esquema de Implantação

Os pisos construídos sempre acima do nível do terreno natural previnem a possibilidade de umidade ascendente. Empenas de concreto pigmentado em tom rosado definem os módulos dos dormitórios. O limite entre o dentro e o fora se dá pela pele de veneziana em ripas verticais.

Fotografias: Nelson Kon

A estrutura da Casa dos Cajueiros, embora convencional em sua estrutura de base, com laje de piso armada, e pilares e empenas de concreto, ganha eficiência no sistema de montagem da cobertura. Foram necessários apenas 45 dias para montar 800 m2 de estrutura em madeira laminada colada de eucalipto. Além de reduzir o tempo de obra o sistema não gera resíduos, a estrutura vem pré-fabricada necessitando apenas de parafusos para sua montagem.

Isométrica – Esquema de Estrutura

Para os módulos dos dormitórios foi utilizada uma estrutura mista de vigas de madeira laminada colada e placas de painel wall.

Na área social, placas de 12 centímetros de espessura e 30 centímetros de largura vencem 7,30 metros de vão entre 2 apoios e permitem 2,10 metros de balanço. As placas são intertravadas formado uma grande laje fortemente caracterizada pelas múltiplas tonalidades de lâminas de eucalipto. Em seu outro sentido o resultado é um espaço contínuo de 19 metros livre de apoios.

Para proteger a estrutura de madeira das intempéries, o arremate da impermeabilização se dá com tábuas de sacrifício, preservando assim a linguagem dos planos de madeira projetados pela arquitetura.

Fotografias: Nelson Kon

Foram adotadas diversas estratégias de design passivo para garantir conforto ambiental aos usuários, a começar pela abundante presença de janelas piso teto que garantem renovação de ar constante e iluminação natural.

A área social se abre 180 graus para a paisagem do entorno e beirais generosos protegem os caixilhos além de promoverem sombreamento. Os ambientes anexados à área social, como cozinha e sala de TV, ganham ventilação cruzada, já os espaços mais isolados de serviço contam com ventilação noturna através das venezianas e banheiros com ventilação permanente por claraboias.

As suítes têm variações de insolação, as varandas privativas são face leste ou oeste e as janelas laterais norte ou sul. Para barrar a insolação na face norte dos dormitórios venezianas se abrem horizontalmente formando um beiral. Já as faces leste e oeste contam com as venezianas verticais que filtram a luz solar direta, resultando em efeito suave de luz e sombra.

Fotografias: Nelson Kon

A área de cobertura mais exposta ao sol recebeu manta de impermeabilização branca para refletir a radiação solar, e uma camada generosa de lã de rocha, além de proteção térmica, garante conforto acústico em todos os ambientes da residência.


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Ana Terra (A.T.)

MDC – Como você contextualiza essa obra no conjunto de toda a sua produção?

A.T. – A Casa dos Cajueiros foi o projeto inaugural do meu escritório, o primeiro projeto autoral construído do zero onde pude pôr em prática os anos dedicados à minha formação como arquiteta, tanto na Escola da Cidade quanto no mestrado em eficiência energética e sustentabilidade que fiz em Londres, na Architectural Association.

A Casa dos Cajueiros também foi o primeiro projeto realizado em coautoria entre os escritórios Terra Capobianco e Galeria arquitetos, uma parceria bem-sucedida que rendeu muito outros projetos.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

A.T. – A contratação para o projeto, por se tratar de uma residência unifamiliar, ocorreu de forma direta.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Você destacaria algum momento significativo do processo?

A.T. – A concepção do projeto aconteceu a partir de uma leitura cuidadosa das condições originais do terreno. Já na primeira visita entendemos que a implantação deveria acontecer em diferentes níveis e de forma longitudinal aproveitando o exuberante entorno repleto de arvores e, principalmente, chegando o mais perto possível da faixa da marinha, marcada pela presença da areia e dos troncos tortuosos dos cajueiros.

Quando recebemos o levantamento planialtimétrico, confirmamos a hipótese da implantação no intervalo entre as copas das árvores e projetamos uma casa distribuída no terreno a partir de um eixo claro de circulação, onde cada suíte pudesse ter um pátio privativo com jardim para contemplar. A área social por sua vez, ao contrário do aspecto mais intimista das suítes, é ampla e envidraçada, integrada com os cajueiros e com o Jundu, vegetação nativa de grande importância para a preservação da praia.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa das autoras? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, pode comentar as mais importantes?

A.T. – A participação das autoras foi ativa em todas as etapas do projeto, principalmente ao elaborar o partido construtivo que contou com a colaboração do [engenheiro] Hélio Olga. Juntos, chegamos à conclusão que executar uma laje de madeira seria uma solução inovadora e alcançaríamos o resultado estético que quereríamos: uma cobertura plana, de estrutura aparente e sem revestimentos, sem dúvida a expressão mais marcante do projeto arquitetônico.

Por seu custo elevado, optamos em trabalhar com a laje de madeira apenas na área social, para vencer os vãos maiores. Nos outros ambientes, trabalhamos com o sistema mais comum de vigamento em MLC apoiando placas painel wall, assim pudemos viabilizar a estrutura de cobertura da residência.

MDC – As autoras do projeto tiveram participação no processo de construção/implementação da obra?

A.T. – O acompanhamento de obra foi quinzenal e determinante para a boa execução do projeto. Embora o projeto tenha ido muito bem detalhado para a obra, é no diálogo constante com os fornecedores, construtores e clientes que algumas decisões são tomadas mudando o resultado da concepção original.

Um exemplo foi a testeira de madeira que originalmente seria revestida de Trespa – material holandês de alta durabilidade usado na fabricação das venezianas. A Trespa teria a função de proteger a madeira da ação do tempo. Quando a estrutura da cobertura estava toda montada, a testeira apareceu de forma expressiva, marcante demais para ser recoberta, a solução foi revestir com uma tábua de sacrifício fabricada em MLC para garantir a permanência do material tão importante para o resultado estético da cobertura da Casa dos Cajueiros.

MDC – Você destacaria algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

A.T. – A Casa dos Cajueiros está localizada na Praia Vermelha do Sul, também conhecida como Praia dos Arquitetos, num contexto exclusivamente residencial. O condomínio é tido como ecológico pois mantém um código de ética urbanística nas construções sem muros e na preservação do Jundu; graças a preservação da mata nativa a praia, vista do mar, parece desabitada.

Dentro desse contexto, a Casa dos Cajueiros foi implantada para ser discreta, é térrea e se desenvolve acompanhando a topografia original do terreno, característica que consideramos assertiva em meio a costeiras arborizadas, onde o que deve se destacar é a mata preservada e não a arquitetura das residências.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, faria algo diferente?

A.T. – Acredito que cada oportunidade é única e que devemos aproveitar a experiencia como um aprendizado; faremos diferente em um próximo projeto.

MDC – Como você contextualiza essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

A.T. – Essa obra se contextualiza no panorama das construções projetadas em madeira laminada colada no Brasil, um sistema construtivo que vem ocupando um espaço cada vez maior principalmente por suas características de sustentabilidade, por ser um material renovável e de baixo consumo energético, baixa emissão de carbono no seu processo de produção, dentre tantas outras vantagens, como a agilidade e precisão em seu sistema de montagem, otimizando o tempo de obra e gerando menos resíduos no canteiro.


projeto executivo


PARTE 1:
PLANTAS E CORTES

8 pranchas (pdf).
5,70mb


PARTE 2:
LUMINOTÉCNICO + PLANTA DE FORRO + DETALHE PISO

7 pranchas (pdf).
6,64mb


PARTE 3:
DETALHAMENTO E AMPLIAÇÃO DE ÁREAS MOLHADAS

12 pranchas (pdf).
13,00mb


PARTE 4:
CAIXILHOS + PORTAS

18 pranchas (pdf).
12,40mb


PARTE 5:
RELAÇÃO DE FOLHAS + MEMORIAL DESCRITIVO

27 pranchas (pdf).
0,59mb


ficha técnica

Local: Praia Vermelha do Sul, Ubatuba, SP
Ano de projeto: 2016
Ano de conclusão: 2019
Área do terreno: 2.538,80 m²
Área construída: 792 m²
Arquitetura: Ana Terra Capobianco e Fernanda Neiva
Colaboradores: Liliane Nambu


Construtora:
Pitta Arquitetura e Engenharia
Paisagismo: Giardino Planejamento de exteriores
Cálculo estrutural em concreto:
Leão e Associados
Consultoria em concreto: Gabriel Regino
Estrutura em madeira: Ita Construtora
Projeto de Instalações: Ramoska e Castelani
Projeto de ar condicionado: Thermoplan
Projeto de luminotécnica: Lux Projetos


Fornecedores
Estrutura de Madeira ?Ita Construtora
Caixilhos ?Tecnosystem
Piso de concreto ?Concresteel
Tratamento de concreto ?Topseal
Impermeabilização ?Omnitrade
Revestimento de fachada ?Trespa
Lareira e coifas ?Construflama
Sauna ?Nordic
Pastilhas ?Jatobá
Revestimento de pedra (banheiros) – Palimanan
Marcenaria ?Marcenaria GM ?móveis e esquadrias
Ar condicionado – Reclima
Luminárias: Reka Iluminação, Lumini, Itens
Mobiliário ?Dpot, Taúna, Carlos Motta, Etel, Nani Chinellato


Fotos: Nelson Kon
Contato: contato@terracapobianco.28ers.com | contato@galeria.28ers.com


Premiações:
Vencedor 1º Lugar da Categoria Residencial (Edificação) do 7º Prêmio Saint-Gobain de Arquitetura-Habitat Sustentável;
Indicação ao prêmio MCHAP ?Mies Crown Hall Americas Prize ?New Architecture in a New World;
Indicação ao Building of the Year 2020 – Archidaily;
Indicação ao International Prize for Sustainable Architecture Fassa Bortolo;
Indicação pelo IAB para ser 1 dos representantes brasileiros na Bienal Panamericana de Arquitectura de Quito;
Indicação ao 3º Prêmio Oscar Niemeyer de Arquitetura Latino-Americana, On Prize;
Exposição Na Prática na Escola da Cidade;
Exposição 1×1 na Escola da Cidade;
Exposição 1×1 na Universtà Iuav di Venezia.


galeria


colaboração editorial

Renan Maia

deseja citar esse post?

NEIVA, Fernanda. CAPOBIANCO, Ana Terra. “Casa dos Cajueiros”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., mar-2024. Disponível em //www.28ers.com/2024/03/01/casa-dos-cajueiros. Acesso em: [incluir data do acesso].


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//28ers.com/2024/03/01/casa-dos-cajueiros/feed/ 0 15486
Casa contempor芒nea – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2023/12/24/casas-e-edificio-misto-em-sobral/ //28ers.com/2023/12/24/casas-e-edificio-misto-em-sobral/#respond Sun, 24 Dec 2023 16:28:00 +0000 //28ers.com/?p=14638 Continue lendo ]]> Por REDE Arquitetos
9 minutos

Casas e Edifício Misto em Sobral (texto fornecido pelos autores)

A demanda inicial para o projeto era a construção de um conjunto de casas unifamiliares geminadas em loteamento na área de expansão da cidade de Sobral, localizada no semiárido cearense. Ao se analisar os 25 lotes do projeto, percebeu-se que sua diversidade ?11 lotes de 175,00m2, 13 lotes de 210m2 e 01 lote de 275,00m2 ?possibilitava variação nas soluções. Assim, a proposta resultou em dois projetos: o conjunto de residências Casas MBV2 e o Edifício Misto MBV2.

Fotografia: Igor Ribeiro

As Casas MBV2 lidaram com dois âmbitos distintos: privado, referente à solução da residência em si, e público, uma vez que o conjunto adquire uma escala de conjunto urbano. 

Na primeira, foram propostos dois tamanhos de unidades, de dois e três quartos (87,50 m² e 104,00 m², respectivamente). A partir do volume possível de construção, foi executada uma série de operações de extração para criação dos espaços internos, como se vê nas esquadrias recuadas e nos pátios internos, individualizados para cada ambiente da casa, que aproveitam os recuos laterais, além de contarem com pergolados que filtram a luz, marcam a passagem do tempo mesmo sem que se veja o exterior, e ainda garantem a segurança do interior. Estas estratégias funcionam tanto para ampliar os espaços internos, que possuem área mais restrita devido às medidas do lote, quanto para melhor performance climática, permitindo ventilação cruzada e iluminação indireta, adequadas ao clima local. 

Diagramas Casas MBV2 + Fotografias: Igor Ribeiro

No aspecto urbano do conjunto, por se tratar de uma série de casas, pensou-se em criar diversidade e permeabilidade nas frentes ?perceptível nos desenhos das calçadas, muros e gradis ?no sentido de criar uma urbanidade interessante ao conjunto e seu entorno. Além disso, a percepção de conjunto e da tipologia da casa geminada acontece pelo compartilhamento dos pátios e das caixas d’água, neste último, inclusive concentrando as instalações a cada duas unidades.

Fotografias: Igor Ribeiro

[1] Implantação do conjunto; [2] planta baixa das Casas MBV2; [3] corte transversal e longitudinal das Casas MBV2.

O Edifício Misto MBV2 surgiu da percepção de que no lote da esquina, de maiores dimensões, seria possível inserir um pequeno edifício ao invés de mais uma unidade de residência unifamiliar, potencializando o retorno financeiro do empreendimento. Foram propostas 04 unidades comerciais no térreo e dois pavimentos com duas unidades residenciais em cada. O arranjo interno se organiza em torno da circulação vertical centralizada, a partir da qual se inverte a posição entre as frentes dos usos comercial e residencial, voltando as lojas para a maior frente e as unidades para as menores, espelhadas pelo eixo vertical e compatibilizadas por uma estrutura quadrada de concreto. As aberturas nas maiores fachadas são estreitas e pontuais, protegendo o interior do excesso de insolação, além da presença de cobogós nas áreas comuns de circulação.

Fotografias: Igor Ribeiro

O edifício compõe o conjunto construído das Casas MBV2 complementando-as funcionalmente através da diversidade de usos, dinamizando a área e criando frente ativa com os comércios, mas também destacando-se formalmente, com o térreo de cor mais escura, atuando com um negativo do padrão criado pelas frentes das casas, o que é reforçado pela presença das vigas que intensificam sua verticalização e sobreposição de unidades, em contraponto à horizontalidade do conjunto de casas.

Fotografias: Igor Ribeiro

[1] Planta térreo; [2] pavimento tipo; [3] corte longitudinal e [4] transversal do Edifício MBV2


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Bruno Braga, Bruno Perdigão, Igor Ribeiro e Luiz Cattony (REDE)

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no conjunto de toda a sua produção?

REDE – Essa foi a primeira obra construída de maior porte que fizemos sem estarmos associados a outro escritório. Nesse sentido, ela permitiu, por um lado, um grande aprendizado por termos tido mais participação em todas as etapas do processo, inclusive no acompanhamento da obra, como também permitiu que tivéssemos mais autonomia para desenvolver e experimentar algumas ideias e princípios que vínhamos testando em projetos anteriores.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

REDE – Fomos contratados diretamente pelo construtor e investidor, que era dono dos lotes. Tínhamos acabado de fazer o projeto da casa dele, a Casa Planos. Ele ficou satisfeito com a nossa forma de trabalhar e acabou nos contratando para outros projetos.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Vocês destacariam algum momento significativo do processo?

REDE – Inicialmente, o cliente chegou com a demanda de fazer 25 casas duplex nos lotes que ele possuía, dentro de um padrão que já vinha fazendo. Assim, um aspecto muito importante na concepção foi termos podido construir junto com ele uma alternativa que acreditávamos ser mais interessante, que era pensar em diferentes tipologias, uma vez que os terrenos tinham dimensões diferentes e também no diferencial de como lidar com o recuo lateral (era permitido encostar em uma das laterais e na outra era exigido recuo de 1,50m). Dessa forma, chegamos a uma proposta de 24 casas térreas de 2 e 3 quartos, além de um edifício de uso misto. Entendemos que isso foi importante por dar maior diversidade ao conjunto, uma vez que pela escala ele já tinha uma dimensão urbana, além de ter permitido uma obra mais barata e ter possibilitado mais retorno para o cliente com a criação do edifício misto. A partir dessa definição inicial, pensamos em desenvolver um sistema comum que permitisse essas variações, de forma a simplificar o processo de projeto e obra e conferir identidade ao conjunto.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, podem comentar as mais importantes?

REDE – Durante o projeto executivo trabalhamos com um colega arquiteto, Francisco Navarrete. Ele deu importantes contribuições nas definições finais, em especial no pré-lançamento da estrutura, que está presente no nosso projeto executivo. Como o cliente era o construtor e morava em outra cidade, ele já tinha sua equipe de projetistas complementares e obra, então essas definições no projeto executivo de arquitetura foram muito importantes.

MDC – Os autores dos projetos tiveram participação no processo de construção/implementação da obra?

REDE – Tivemos um acompanhamento em momentos pontuais da obra. Mesmo não tendo sido algo sistemático, foi importante para percebermos algumas questões que estavam dando certo e corrigir alguns pontos na obra que não estavam seguindo exatamente o projeto. Um exemplo foi sobre os pergolados das casas, que, por estarem espelhadas, tiveram que ter as peças alternadas para não coincidirem na parede de divisão. Isso foi algo visto e decidido em obra.

MDC – Vocês destacariam algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

REDE – Pensamos as casas e o edifício misto como suportes capazes de se adaptar a diversos usos e apropriações. Dessa forma, procuramos fixar os elementos mais rígidos, em especial as estruturas e infraestruturas, de modo a gerar espaços mais livres e flexíveis, além de uma certa neutralidade da materialidade que permitisse uma apropriação posterior de cada usuário. Ao visitarmos a obra depois da conclusão, descobrimos ocupações imprevistas, como algumas casas sendo transformadas em espaços de serviços e escritórios, além da adaptação dos muros com cores e elementos de identificação tanto nas casas como no edifício. Para nós isso foi positivo, pois demonstrou essa qualidade de adaptação do projeto para além do programa pensado inicialmente.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, fariam algo diferente?

REDE – Algo que percebemos nas visitas após a conclusão da obra foi que talvez tivesse sido importante ter uma maior estanqueidade dos espaços, pois os períodos de chuva, embora escassos, são bastante intensos. Então talvez os pergolados das casas pudessem contar com alguma parte coberta, ou pudéssemos ter previsto maior proteção nos pavimentos superiores do edifício de uso misto.

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

REDE – Entendemos essa obra como um exemplar de uma arquitetura que busca transformar limitações de recursos em motor para o processo criativo. Entendemos que todo o processo, desde as definições iniciais junto ao cliente, até as decisões de obra para reduzir custos, constroem um projeto cujo processo induz muito a uma visão do papel do arquiteto no contexto contemporâneo. Acreditamos, também, que é uma obra cujos principais atributos estão não necessariamente em artifícios formais, mas em estratégias de aproveitamento da luz e dos espaços vazios. Além disso, ela se insere num momento em que algumas obras do Nordeste começam a ganhar mais repercussão no contexto nacional, ainda muito centrado no eixo sudeste. Nesse sentido, acreditamos que possa trazer contribuições sobre formas de atuar em contextos distintos, pois é uma obra bastante austera e direta, feita com materiais e recursos muito simples. Construída em Sobral, no semiárido cearense, lugar ainda pouco conhecido por grande parte das pessoas do país, pode também contribuir para termos um panorama mais diverso e rico da produção contemporânea brasileira.


projeto executivo

PARTE 1:
EXECUTIVO CASAS 2 QUARTOS

7 pranchas (pdf).
2,5mb

PARTE 2:
EXECUTIVO CASAS 3 QUARTOS

7 pranchas (pdf).
2,89mb

PARTE 3:
EXECUTIVO EDIFÍCIO MISTO

7 pranchas (pdf).
6,63mb


ficha técnica do projeto

Local: Sobral – CE
Ano de projeto: 2017
Ano de conclusão: 2020
Área: 2671 m²
Autores: Rede Arquitetos: Bruno Braga, Bruno Perdigão, Igor Ribeiro, Luiz Cattony
Colaboração: Francisco Navarrete (arquiteto)


Fabricantes: Cerbrás, Fortcolor Tintas, Metalúrgica Massapeense, Sobral Madeiras


Fotos: Igor Ribeiro
Contato: contato@redearquitetos.com


Premiações:
2021 – Projeto selecionado para a exposição Arquiteturas em Português: Diálogos Emergentes, promovida pelo Conselho Internacional dos Arquitectos de Língua Portuguesa – CIALP;
2022 – Projeto menção honrosa COR no 8º Prêmio de Arquitetura Instituto Tomie Ohtake Akzonobel.


galeria


colaboração editorial

Isabela Gomide

deseja citar esse post?

BRAGA, Bruno. PERDIGÃO, Bruno. RIBEIRO, Igor. CATTONY, Luiz. “Casas e Edifício Misto em Sobral”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., dez-2023. Disponível em //www.28ers.com/2023/12/24/casas-e-edificio-misto-em-sobral. Acesso em: [incluir data do acesso].


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//28ers.com/2023/12/24/casas-e-edificio-misto-em-sobral/feed/ 0 14638
Casa contempor芒nea – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2023/10/26/casa-dos-terracos-circulares/ //28ers.com/2023/10/26/casa-dos-terracos-circulares/#respond Thu, 26 Oct 2023 12:07:51 +0000 //28ers.com/?p=14242 Continue lendo ]]> Por Denis Joelsons
8 minutos

Casa dos Terraços Circulares (texto fornecido pelos autores)

A casa dos terraços circulares é parte de um jardim projetado para o desfrute do bosque de mata atlântica.

Fotografia: Pedro Kok

Seu terreno, situado em um fundo de vale, não oferece um horizonte marcante. Nele, a paisagem é o grande espaço delineado pela copa das árvores. Confrontando a pendente natural do lote com as clareiras existentes, estabelecemos patamares em meio-nível.

Croqui do autor e Planta de cobertura

A casa se organiza nestes platôs, através de seu corte longitudinal, com usos coletivos mais próximos à rua e usos privativos mais próximos da divisa.

Cortes Longitudinais

Fotografias: Pedro Kok

O movimento estabelecido pelo desenho do chão garante o caráter espacial dos diferentes ambientes da casa, com seus pés-direitos variando em relação à cobertura horizontal.

Fotografias: Rodrigo Fonseca (com drone, no centro) e Pedro Kok

Uma varanda suspensa cobre a garagem e espelha a cota dos dormitórios – disposição onde a arquitetura ecoa a geografia do vale.

Fotografias: Pedro Kok

A geometria da casa é ortogonal, compatível com sua estrutura pré-fabricada em madeira. A geometria do jardim é estabelecida por curvas, buscando a melhor forma estrutural para os muros de arrimo e o encaixe adequado entre as árvores. Todos os ambientes possuem pelo menos dois acessos, reafirmando a ideia de percurso circular.

Plantas Térreo e Pavimento Superior

A contenção formal da casa contrasta com o perfil movimentado dos terraços circulares, sugerindo uma inversão da relação tradicional de subserviência entre embasamento e edificação. Neste caso, a regularidade da cobertura é o que suporta a variedade do desenho do chão.

Cortes Longitudinais

Cortes Transversais


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Denis Joelsons (D..J.)

MDC – Como você contextualiza essa obra no conjunto de toda a sua produção?

D.J. – A casa dos terraços circulares é a materialização mais importante de minha trajetória até então. Ela incorpora reflexões de outros projetos e tem uma dimensão que me permitiu explorar espacialmente o percurso através da variação sucessiva nas proporções de diferentes ambientes. Este trabalho também marca um momento em minha produção em que tive segurança para propor elementos que não se justificam pelo critério estreito de sua funcionalidade ou de sua necessidade prática. É o caso da fachada translúcida que delimita a varanda e também dos muros de pedra que compõem os terraços circulares. Assumi critérios plásticos e argumentos mais subjetivos.

Penso que esta casa compõe uma trilogia com a casa da meia encosta (2013) e com a casa diorama (não construída, 2022). São casas onde o partido arquitetônico está diretamente atrelado a uma concepção paisagística. Uma abordagem muito semelhante em contextos completamente distintos pode ser vista nos três projetos.

A casa da meia encosta lida com a paisagem monumental da Mantiqueira, tem uma condição de mirante. A implantação tira proveito de um terrapleno preexistente e o desenho da cobertura inclinada enquadra um segmento específico da paisagem e está referenciado nessa geografia. O corte transversal é a síntese desse projeto.

A casa dos terraços circulares está na baixada de um vale, em um condomínio de casas. A paisagem foi construída através de platôs. A variação dos níveis engendra na escala da casa a confluência espacial característica do vale. A ordenação dos ambientes está estruturada no corte longitudinal.

A casa diorama se assenta em uma planície um tanto descampada. É uma casa pátio, onde a porção contida da paisagem oferece um contraponto de escala para um trio de grandes árvores que balizou o desenho do muro e de suas aberturas. Aqui a noção de percurso e a graça na sucessão dos espaços depende sobretudo do desenho da planta.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

D.J. – Foi por contratação direta, inicialmente o cliente planejou uma concorrência entre três estudos preliminares. Preparei a primeira apresentação de forma bem persuasiva. Até onde sei, fui o primeiro a apresentar e com o início da pandemia anunciado, decidiram seguir comigo antes da contratação dos estudos concorrentes.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Você destacaria algum momento significativo do processo?

D.J. – Depois de visitar o terreno, com o levantamento topográfico e arbóreo em mãos, especulei um pouco sobre a implantação da casa. A implantação é sempre a decisão mais importante. Logo cheguei à conclusão de que a posição da casa não deveria ser condicionada pelas clareiras existentes. A casa precisava ocupar o limite legal do fundo do lote, a porção mais alta do terreno, para incorporar o espaço delimitado pelas copas das árvores e aproveitar entrada de luz da maior clareira. Essa decisão orientou todas as outras.

O projeto passou por dois ajustes que não implicaram em nenhuma mudança de partido. O cliente pediu uma sala um pouco maior, que foi atendida com o acréscimo de 120cm no comprimento da casa. O ajuste mais trabalhoso foi fruto de um erro grande no levantamento topográfico. O jardim teve de ser inteiramente redesenhado e duas árvores acabaram ficando dentro da área dos terraços. O ajuste de cota das raízes foi feito através de um banco em um caso e de um fosso com grade em outro.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa do autor? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, pode comentar as mais importantes?

D.J. – Houve a colaboração do Hélio Olga e do Vinicius Barreto, da Ita construtora. Um ajuste na emenda da viga longitudinal permitiu a remoção de um pilar que eu havia previsto entre os ambientes de estar e jantar. A Ita também exigiu que a varanda externa fosse coberta, para garantir a durabilidade da madeira. No estudo preliminar eu havia pensado apenas em um pergolado.

MDC – O autor do projeto teve participação no processo de construção/implementação da obra?

D.J. – Durante a obra realizei visitas semanais, ocasionalmente duas vezes na mesma semana. Ajustes pontuais atenderam às contingências da obra. Adequando os desenhos através do diálogo com a mão de obra.

MDC – Você destacaria algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

D.J. – Inicialmente a casa foi pensada como uma casa de veraneio, logo após a sua conclusão os clientes decidiram mudar-se definitivamente para lá e alugaram o apartamento em que moravam em São Paulo. Um dos clientes é fotografo e a casa e o jardim também têm sido muito utilizados em locações publicitárias. Curiosamente o catering é montado no espaço da garagem. Algumas das filmagens que vi utilizam o espaço do jardim, da varanda e da cozinha.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, faria algo diferente?

D.J. – Enfrentando a mesma demanda e as mesmas condicionantes não, mas quando me deparei com a casa diorama, que tem uma dimensão parecida, pensei em outras soluções para as esquadrias e adotei o módulo de 125cm ao invés do de 60cm. Sem as restrições impostas pela legislação, um pequeno acréscimo na largura dos quartos seria possível e bem-vindo.

MDC – Como você contextualiza essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

D.J. – Em primeiro lugar, atualmente a arquitetura brasileira já é uma produção de exceção e muito pequena no cenário da construção civil. Neste recorte ainda estamos tratando de uma residência privada. No contexto da nossa arquitetura contemporânea eu penso que a casa dialoga com outras práticas atentas aos processos construtivos no canteiro de obras e anteriores a ele. Obras mais leves e grosso modo menos artesanais, preocupadas em dirimir de algum modo o impacto ambiental da construção civil.

Neste cenário é comum que o desenho da estrutura assuma protagonismo e por vezes incorpore peripécias técnicas de caráter demonstrativo. Muitas obras em estrutura pré-fabricada em madeira ou aço são concebidas como objetos autorreferentes, resolvidos internamente. Acredito que o mérito da casa dos terraços circulares está mais ligado à interpretação propositiva das características do local e de suas qualidades espaciais do que a questões de sua materialidade ou construção. Gosto de pensar que é impossível apresentar a casa dissociada de seu contexto, como objeto ela não se sustenta. Também penso que a reaproximação entre arquitetura e paisagem (inclusive urbana), sem que haja subserviência de uma disciplina à outra, é algo desejável para a nossa prática hoje.

MDC – Há algo relativo ao projeto e ao processo que gostaria de acrescentar e que não foi contemplado pelas perguntas anteriores?

D.J. – Acredito que cobrimos bem o processo de concepção da casa.


projeto executivo


PARTE 1:
PLANTAS E CORTES + DECK TERRAÇO E COBERTURA

10 pranchas (pdf).
8,50mb


PARTE 2:
MARCENARIA + ESQUADRIAS + PORTAS + BANHEIROS

21 pranchas (pdf).
13,40mb


PARTE 3:
DETALHAMENTO ZENITAIS + LAREIRA + ESCADAS

5 pranchas (pdf).
3,02mb


PARTE 4:
ELÉTRICA

4 pranchas (pdf).
4,04mb


ficha técnica

Local: Cotia, SP
Ano de projeto: 2020
Ano de conclusão: 2022
Área do terreno: 1.334 m²
Área construída: 253 m²
Arquitetura: Denis Joelsons
Colaboradores: João Marujo e Gabriela da Silva Pinto


Construção (obra civil):
Caio Martinez
Projeto de instalações:
Renan de Sousa
Estrutura de Madeira: Ita Construtora
Execução dos muros de pedra: Bizarri Pedras
Piso cerâmico: Gail
Execução das esquadrias de madeira e deck: Zé Madeiras
Venezianas de vidro: Persolly
Luminárias: Reka


Fotos: Pedro Kok e Rodrigo Fonseca (Drone)


galeria


colaboração editorial

Renan Maia

deseja citar esse post?

JOELSONS, Denis. “Casa dos Terraços Circulares”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., out-2023. Disponível em //www.28ers.com/2023/10/26/casa-dos-terracos-circulares. Acesso em: [incluir data do acesso].


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//28ers.com/2023/10/26/casa-dos-terracos-circulares/feed/ 0 14242
Casa contempor芒nea – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2023/09/06/abrigo-alto-abrigo-baixo-e-pavilhao/ //28ers.com/2023/09/06/abrigo-alto-abrigo-baixo-e-pavilhao/#respond Wed, 06 Sep 2023 14:55:37 +0000 //28ers.com/?p=12776 Continue lendo ]]> Por Gru.a
8 minutos

Abrigos do Vale (texto fornecido pelos autores)

Os Abrigos do Vale fazem parte de um conjunto de 3 edificações projetadas para um sítio no Vale das Videiras, região serrana do Rio de Janeiro: “Pavilhão?(primeiro a ser construído, em 2016), “Abrigo Alto?e “Abrigo Baixo?projetados em 2019 e finalizados em 2022. Cada um, com 30m2 de área interna, tem espaço reservado para dormir – fechado por uma leve cortina -, uma sala ligada a um deck frontal, uma pequena copa e um banheiro completo.

Pavilhão, Abrigo Alto e Abrigo Baixo, respectivamente.
Fotografias: Rafael Salim e Federico Cairoli (Pavilhão) / Rafael Salim (Abrigos)

Os Abrigos do Vale seguem o mesmo sistema construtivo e módulos espaciais: vãos de 3m e 5m com apoios que variam de pilares em madeira a muros de alvenaria cerâmica. O vigamento de madeira maciça sustenta a cobertura em painéis de telha trapezoidal termoacústica, que se debruçam formando beirais de até 1,75m.

Fotografia: Rafael Salim

Nos ambientes mais controlados (quarto e banheiros) uma fina laje em concreto armado funciona como forro, criando uma dupla camada de isolamento em relação ao exterior.

Abrigo Alto: Planta de piso inferior, térreo e cobertura + cortes

Abrigo Baixo: Planta de piso inferior, térreo e cobertura + cortes

No trecho que se debruça sobre a vista do vale, o “Abrigo Baixo?tem como fechamento um pano de painéis em compensado sarrafeado que se abre em duas alturas diferentes, remetendo ao sistema tradicional de portas de fazenda. Enquanto o “Abrigo Alto?tem como fechamento um pano de vidro em toda sua extensão, que, somado ao fechamento superior, conforma uma caixa translúcida e reflexiva.

Fechamentos Abrigo Baixo e Alto, respectivamente
Fotografias: Rafael Salim

Pavilhão das Videiras

O projeto para o pavilhão anexo a uma residência no Vale das Videiras, Rio de Janeiro, parte da premissa de disponibilizar um espaço aberto e, ao mesmo tempo, protegido do forte sol e chuva que incidem sobre a região. Localizada num platô pré-existente, a edificação foi pensada em função de sua relação com a casa situada no terreno, ativando o espaço intermediário entre as duas edificações.

Implantação

O grande plano de cobertura se inclina suavemente em direção ao vale, trazendo para o espaço interior a presença da encosta que se ergue paralelamente à nova construção.

Fotografia: Rafael Salim e Federico Cairoli

Abaixo da grande cobertura foram projetados uma cozinha, associada a um espaço para refeições, uma sauna e um espaço de 30m² de área coberta em que o solo vegetal se manteve intacto.

Pavilhão: Planta + corte

A associação de diferentes sistemas estruturais se dá de maneira a explorar as características de cada um deles: fundações em concreto moldado in-loco, pilares e vigas em madeira maciça, muros em alvenaria estrutural e lajotas em concreto pré-fabricado e ligações em aço.

Fotografia: Rafael Salim e Federico Cairoli


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Pedro Varella (P.V.) e Caio Calafate (C.C.)

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no conjunto de toda a sua produção?

P.V. / C.C. – As obras que estamos apresentando nesta publicação têm um lugar importante no conjunto da nossa obra, pois atravessam seis anos da produção do escritório. O Pavilhão e os Abrigos do Vale da Videiras foram construídos dentro de um mesmo sítio, entre 2016 e 2022, um arco de tempo bastante amplo. Antes deles, algumas questões já vinham sendo exploradas em obras que acabaram não sendo construídas, e, por sua vez, a sua realização vem mobilizando temas que tocam as obras que as sucederam, inclusive dentro do próprio sítio, como a Academia, já construída, e a Lavanderia, em obras.

O Pavilhão, primeira obra realizada dentre as três, foi uma espécie de exercício inaugural tectônico/construtivo de todo o conjunto, e, porque não, da produção de pequenas arquiteturas desenhadas no escritório. Nesta obra, a primeira que arrancamos do chão ao teto, pudemos operar algumas ideias que já vínhamos debatendo no escritório desde sua fundação, em 2013, como a relação da arquitetura com o solo, as questões relacionadas aos encaixes dos diferentes materiais, a serialidade/modularidade, a poética das coberturas e sua relação com o céu e, no limite, com o cosmos. Nos abrigos, que vieram cerca de dois/três anos depois, demos continuidade a essas pesquisas, adicionando outras temáticas que se impuseram pelas contingências geográficas/topográficas do trecho do sítio onde vieram a se implantar, e também pelo programa (abrigo), que exigiu a criação do hermetismo demandado pelo uso, condição distinta daquela exigida pelo Pavilhão. Assim sendo, o problema das vedações se impôs como uma novidade. No caso do Abrigo Alto, assim chamado por situar-se no trecho alto do terreno, desenhamos (como mediação com a paisagem) uma caixa de vidro que permite ampliar as visuais em direção ao horizonte. No caso do Abrigo Baixo, situado no trecho baixo do terreno, mais próximo à estrada de acesso, projetamos as fenestrações frontais com lâminas de compensado, guardando privacidade ao mesmo.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

P.V. / C.C. – Estas obras tiveram contratação direta por cliente particular.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Vocês destacariam algum momento significativo do processo?

P.V. / C.C. – Um dado particular deste projeto foi o trabalho de investigação das tecnologias construtivas tradicionais e passíveis de construção com equipe locais, de onde a utilização das fundações e lajes em concreto armado e o trabalho de alvenaria estrutural se apresentaram como boas opções. Junto a isso, trouxemos repertórios não tão convencionais na área, embora razoavelmente simples do ponto de vista executivo, como o telhado em telha termoacústica e junções metálicas. A concepção das três obras obedeceu a premissas que propusemos ao cliente, que desde o início, aprovou as escolhas. Em todas as três obras dedicamos muito tempo preliminar em visitas de observação e exploração das questões geográficas do terreno, algo que vemos como fundamental não apenas nestas, mas em todas as demais obras da nossa produção.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, podem comentar as mais importantes?

P.V. / C.C. – Tivemos sempre um diálogo profícuo tanto com os projetistas de engenharia quanto com a equipe de obra. As três obras são relativamente simples do ponto de vista construtivo e programático, o que indica um processo com participação de poucos projetistas. Além dos arquitetos da nossa equipe, tivemos apenas a participação de um engenheiro calculista, o que foi essencial para que chegássemos a um bom dimensionamento das peças estruturais. No caso dos abrigos, o diálogo com os construtores locais – prévio ao desenvolvimento dos projetos – foi fundamental para que fossem elaboradas soluções condizentes com sua cultura construtiva.

MDC – Os autores dos projetos tiveram participação no processo de construção/implementação da obra?

P.V. / C.C. – Como a obra foi construída em local distante, fora da cidade em que atuamos, o trabalho exigiu comunicação intensa e atenta com o construtor, tanto nas fases preliminares quanto nos acabamentos finais. Foram realizadas visitas pontuais ao canteiro de obras. Esses momentos foram essenciais para a adequação de detalhes construtivos às possibilidades dos fornecedores. Isso se deu de forma mais intensa com os elementos fabricados em serralheria e marcenaria. 

MDC – Vocês destacariam algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

P.V. / C.C. – Sim. Tem algo bonito que já se apresenta no Pavilhão. Uma vegetação toma hoje os pilares de madeira, ensejando algum entrosamento entre a construção e os elementos naturais.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, fariam algo diferente?

P.V. / C.C. – Certamente. A despeito de gostarmos muito das obras, em todos os casos teríamos considerações a fazer, seja pelo simples desejo de fazer diferente, pela necessidade de antecipar problemas não previstos, mas, sobretudo, para dedicar mais tempo ao desenvolvimento de detalhes que gostaríamos de aperfeiçoar.

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

P.V. / C.C. – Vemos como uma pequena contribuição a pesquisa e produção de arquitetas e arquitetos cuja obra admiramos e esperamos poder dialogar.


projeto executivo

PARTE 1:
ABRIGO ALTO

11 pranchas (pdf).
1,51mb

PARTE 2:
ABRIGO BAIXO

13 pranchas (pdf).
1,79mb

PARTE 3:
PAVILHÃO

9 pranchas (pdf).
1,07mb


ficha técnica – Abrigo Baixo e Abrigo Alto

Local: Vale das Videiras, Rio de Janeiro ?RJ
Ano de projeto: 2019
Ano de conclusão: 2022
Autores: Pedro Varella, Caio Calafate, André Cavendish, Ingrid Colares, Antonio Machado
Área construída: 70m²


Cálculo estrutural:
Rodrigo Affonso
Projeto de Iluminação:
Maneco Quinderé
Construção: Alexandre M.

Fotos: Rafael Salim

ficha técnica – Pavilhão Videiras

Local: Vale das Videiras, Rio de Janeiro ?RJ
Ano de projeto e conclusão: 2016
Autores: Pedro Varella, Caio Calafate, Sergio Garcia-Gasco, André Cavendish
Área construída: 150m²


Cálculo estrutural:
Rodrigo Affonso
Projeto de Iluminação:
Maneco Quinderé
Construção: Aleandro Souza da Silva

Fotos: Federico Cairoli e Rafael Salim
Fotos de obra: Gru.a
Contato: info@gruaarquitetos.com


galeria


colaboração editorial

Renan Maia

deseja citar esse post?

VARELLA, Pedro. CALAFATE, Caio. CAVENDISH, André. COLARES, Ingrid. MACHADO, Antonio. GARCIA-GASCO, Sergio. “Abrigo Alto, Abrigo Baixo e Pavilhão”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., set-2023. Disponível em //www.28ers.com/2023/09/06/abrigo-alto-abrigo-baixo-e-pavilhao. Acesso em: [incluir data do acesso].


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//28ers.com/2023/09/06/abrigo-alto-abrigo-baixo-e-pavilhao/feed/ 0 12776
Casa contempor芒nea – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2023/08/01/ampliacao-da-casa-boacava/ //28ers.com/2023/08/01/ampliacao-da-casa-boacava/#respond Tue, 01 Aug 2023 14:32:06 +0000 //28ers.com/?p=12077 Continue lendo ]]> Por UNA arquitetos / UNA MUNIZVIEGAS
24 minutos

Ampliação da Casa Boaçava (texto fornecido pelos autores)

O problema aqui era construir a ampliação de uma casa feita há 10 anos. A Casa Boaçava foi projetada em 2009 e inaugurada em 2012.


Fotografias (fase 1): Leonardo Finotti

Com os anos, alguns usos se intensificaram, outros se modificaram. As crianças cresceram. Surgiu a necessidade de um espaço para atividades relacionadas a oficinas de artes corporais, assim como parte da rotina de escritório dos moradores passou a ser realizada em casa.

Isométricas Casa Boaçava – fase 1 e 2

Em resposta a essas demandas, surgiu a oportunidade de compra do terreno vizinho. O projeto é a construção de uma praça que passa a ser o centro do conjunto, que articula novos usos aos existentes.

O volume que ocupava praticamente todo o lote, respeitando os recuos obrigatórios, ganhou um contraponto com o vazio exterior. São três frentes para essa praça, definidas pelas construções: a casa original com o bloco de concreto pigmentado e as duas alas do anexo. Novamente estabelece continuidade com a rua.

Plantas [1] térreo; [2] subsolo; [3] primeiro pavimento; [4] cobertura

Cortes longitudinais e transversais

O piso de madeira existente se estendeu para todos os espaços exteriores interligando também o jardim ao fundo, de onde se descortina a vista do vale do Pinheiros. A praça se completa com o horizonte. Habita-se a geografia se esquecendo do lote.


Fotografias: Leonardo Finotti

Em continuidade, no tempo, o novo volume é todo construído em planos de concreto aparente. Conexões e proteções são metálicas. A ideia é condensar os dois tempos da obra sem diferenciá-los, como se estivessem à espera de um novo complemento. Ao final, não saberemos o que foi feito antes, a casa, ou seu anexo. Poderiam ainda surgir mais intervenções, solução aberta.


Fotografias: Leonardo Finotti

A forma é de cidadela, um vilarejo, com torres, pontes, jardins suspensos, pátios rebaixados e praças cobertas.


A cidadela1 (por Carlos Alberto Maciel)

Diz-se que uma das principais contribuições de Vilanova Artigas à arquitetura brasileira teria sido a introdução da ideia de cidade no desenho da casa paulistana moderna. Daniele Pisani, em seu livro “A cidade é uma casa. A casa é uma cidade. Vilanova Artigas na história de um topos?sup>2, desvenda as possíveis origens dessa ideia que antecede Artigas, nos oferecendo um passeio de dois mil anos que passa por Leon Battista Alberti e Andrea Palladio, recua à Espanha dos Séculos VI e VII através do teólogo e arcebispo Isidoro de Sevilha, passa por autores do Século XIX como Ildefons Cerdà, retorna à modernidade europeia à época do Team X com Aldo van Eyck e outros e, em algum momento, identifica a presença do tema no Memorial para o concurso de Professor Titular na FAU-USP elaborado por Paulo Mendes da Rocha em 1998. Chegamos aqui a uma circunstância da história desse topos que nos interessa: a sua entrada no Século XXI. Contida na genealogia daquela máxima está outra, de menor extensão temporal, que conecta Artigas a Mendes da Rocha, e ambos a uma geração prolífica da arquitetura contemporânea que faz continuar aquilo que se conhece como Escola Paulista. Fazem parte dessa geração os arquitetos Cristiane Muniz e Fernando Viégas, formados na FAUUSP na década de 90 do Século passado. A Casa Boaçava em São Paulo foi projetada desde 2009 pelo Una Arquitetos sob sua coordenação3.

Para compreendermos melhor essa obra é preciso antes reconhecer os tempos de sua realização. A primeira Casa Boaçava foi projetada em 2009; sua ampliação, em 20184. O intervalo entre ambos informa a mudança: nas necessidades dos seus moradores; nos princípios que fundamentam as decisões dos arquitetos.

A casa de 2009 pode ser lida como herdeira direta do repertório teórico e projetual da Escola Paulista: eleva-se sobre poucos apoios promovendo uma integração radical entre interior e exterior e uma continuidade entre rua, jardim frontal, áreas de convivência e jardim com espaços de lazer; promove uma clara diferenciação entre espaços servidos e servidores, que orienta a própria imagem e ambiência dos espaços principais através do plano-volume que a um só tempo organiza linearmente os serviços, conforma parte da estrutura portante e conduz o olhar que atravessa o vazio dos espaços de convivência; oferece uma sombra qualificada, apenas delicadamente protegida pelas vidraças, que interpreta alguns dos melhores momentos da arquitetura paulista dos anos 60 e 70; por último, estabelece uma oposição entre o volume elevado, que se apresenta como uma construção geométrica e construtivamente precisa, e o desenho do chão, que reforça um sentido de urbanidade, editando sutilmente a topografia original para criar planos de uso que qualificam os diversos recintos de modo contínuo, o que retoma um tema central da obra de Vilanova Artigas5. Um belo desenho que evidencia essa estratégia é a terceira planta da casa que, embora tendo apenas dois pavimentos, os arquitetos fazem representar para revelar a variada geometria das contenções em meia altura que viabilizam o trecho rebaixado da área social que se estende para o jardim.

Como toda boa interpretação sempre acrescenta mais uma camada àquela matriz que lhe inspira, a casa Boaçava desloca a exploração da oposição dialética entre o desenho do chão e o da construção da espacialidade à matéria: o concreto aparente dos elementos que organizam os espaços ao nível do chão é pigmentado com óxido de ferro enquanto o concreto do volume elevado ?a construção ?tem pigmentação natural. Metaforicamente o solo se eleva e é reconfigurado, não apenas na sua topografia, mas como matéria que media usos e promove os fechamentos necessários às áreas de serviço. É verdade que o próprio Artigas usou artifício semelhante, como nas bases em pedra da Garagem de Barcos Santa Paula. Entretanto, nas explorações anteriores há uma mudança radical da materialidade entre embasamento e construção, algo presente na arquitetura há séculos. Aqui a exploração é mais sutil e incide sobre uma mesma técnica e uma mesma matéria, que resulta diversa devido à intervenção no processo construtivo. A alteração cromática modifica a ambiência e confere àquele material já amplamente usado na arquitetura uma nova camada de significado que o desloca da industrialização em direção a uma certa artesania, a rememorar técnicas vernáculas6. Nesse aspecto, a Casa Boaçava poderia ser entendida para além da modernidade que informa as suas principais estratégias projetuais.

Falamos do chão. Passemos à construção. Os volumes elevados da arquitetura paulista eram em sua maioria caixas com aberturas predominantemente unidirecionais e empenas cegas7. Definiam uma diferenciação entre um domínio público, que se estendia sob a sombra da casa, e um espaço de intimidade e introspecção, acolhido pelo artefato construído. Na casa Boaçava, a oposição se dá na organização programática da própria casa: espaços coletivos no chão; espaços individuais acima. O coletivo retorna no terraço superior, aberto ao sol. Entretanto, o que mais interessa aqui é o modo como os espaços individuais se dispõem. Ao contrário de uma certa abstração da usual abertura frente-fundos e da repetição modular que caracterizam grande parte da organização dos espaços íntimos das casas modernas, a disposição dos dormitórios da Casa Boaçava os pulveriza em uma estrutura ambiental que autonomiza as unidades ao separá-las por intervalos abertos não funcionalizados. É como se cada célula pudesse exercer sua singularidade e identidade, com privacidade e introspecção, e também usufruir de diferentes visadas do exterior e da experiência de espaços abertos ao se articularem aos intervalos que as separam. Essa ordem, aqui limitada a um conjunto de quatro dormitórios e um escritório, poderia perfeitamente ser ampliada para uma organização de um tecido urbano variado e diverso, em que espaços fechados se alternam a passagens e aberturas. Tais intervalos assumem o comando da lógica formal operando subtrações no volume principal em que a massa prevalece sobre a abertura, ao contrário da matriz formal moderna que privilegiava o vazio, a abertura e a transparência. Uma vez mais, a matéria adquire um protagonismo e inverte a expectativa daquela matriz dominante da Escola Paulista. A oposição entre a massa esculpida e a transparência do térreo acentua a radical distinção entre abertura e reclusão, coletivo e individual. Por outro lado, aquela estrutura ambiental parece informar o que estaria por vir.

Avancemos então quase uma década. Chegamos à ampliação da Casa Boaçava. Como nos ensina Paulo Mendes da Rocha, a beleza de um anexo está no modo como se coloca em relação àquele elemento principal que motivou sua realização. Nesse caso entretanto não se trata de um anexo no sentido usual, em que duas edificações de tempos distintos se organizam com certa diferenciação hierárquica8. Trata-se aqui de um desenvolvimento, uma transformação que introduz novas espacialidades, novas formas e novas relações entre as partes, redefinindo o todo e configurando uma nova unidade: uma cidadela9. Cidadela não como forte ou lugar de proteção, mas como um conjunto de edificações que a um só tempo preservam certa autonomia e constituem um todo. Este todo apresenta-se como uma micro estrutura urbana ao sobrepor à estrutura urbana de fato uma segunda camada que passa a organizar a vida doméstica para além dos seus espaços interiores, mas em uma rede variada de construções e espaços livres que, ao contrário das fortalezas fechadas que usualmente caracterizam as cidadelas medievais, amplia as possibilidades de integração com a paisagem e com a cidade10. A opção pela fragmentação programática e pela variedade volumétrica evita a mera repetição das soluções existentes na primeira casa, que passa a ser uma das partes do todo. À oposição entre a concentração da casa original e a dispersão das novas construções se soma outra oposição: aquela entre a ênfase no desenho do volume e o cuidado na qualificação dos vazios. O apuro na elaboração dos vazios “entre?e “através?dos novos elementos amplifica o sentido da casa não como um objeto contra o fundo do terreno, mas como um redesenho da totalidade do lote, reforçando o uso e a importância dos espaços livres, cuja forma e ambiência os fazem tão relevantes quanto os espaços abrigados11. Se na casa original os vazios são os elementos atípicos e de pequena escala que esculpiam o volume, aqui eles adquirem uma escala em que passam a conformar alguns espaços de sociabilidade e encontro entre os recintos interiores, como no grande deck que se desenvolve desde a rua, tem um momento de sombra sob a nova construção, continua na mesma cota para usufruir da sombra da futura árvore, e desce uma ampla escadaria para conectar a cota inferior do jardim da casa matriz e abrigar uma hidromassagem. Por sua centralidade e escala, transforma-se no protagonista do conjunto: o lugar gregário12. Outro espaço articulador ocorre sobre laje, no segundo pavimento: neste caso, um terraço jardim amplo oferece uma conexão ao ar livre entre o escritório ?a “torre?principal da cidadela ?e o estar no pavimento superior do novo pavilhão lateral. Aqui se dá uma inversão que modifica a experiência predominante dos espaços: a vista a distância a sudeste, que orienta a maioria das aberturas e a própria implantação que abre a praça naquela direção, deixa de ser referência para a orientação da sala de estar elevada, que se volta, ao contrário, para noroeste, estabelecendo uma abertura visual de menor extensão e portanto com maior intimidade, além de se transbordar para o mencionado terraço jardim. Esse, por sua vez, adquire também maior intimidade e fechamento em relação à paisagem dominante devido à presença do volume edificado do estar superior e ao paisagismo mais denso, oferecendo uma outra experiência ao ar livre, diferente daquela do grande deck-praça.

Se o térreo da nova construção constitui um segundo espaço de convivência, exterior, análogo e complementar à sequência espacial interna e abrigada do térreo da casa original, é na elaboração volumétrica do segundo pavimento que se dá a maior diferenciação em relação à construção pré-existente: os dois volumes quadrados, idênticos, com 6 por 6 metros, constituem duas identidades que se colocam em complemento ao volume original, evitando tanto a unidade da forma simples como a mera repetição do volume original, e produzindo assim um skyline variado. Num contexto diferente, quando chamado a projetar a residência de sua irmã em lote vizinho à sua, Paulo Mendes da Rocha replicou o desenho de sua casa com mínimas variações. Tratava-se ali de um discurso sobre o caráter prototípico da habitação, muito coerente com o ideário moderno da industrialização pautado pela estandardização. Aqui, o caminho é outro, que se afasta do genérico e da repetição, do industrial e do padronizado, para reconhecer o específico e o complementar, o artesanal e o singular.

Aqui o destacamento parcial entre os espaços íntimos autonomizados do segundo pavimento da casa matriz se radicaliza para conceber volumes e espaços independentes, formal e programaticamente. Essa autonomia poderia resultar em um conjunto de elementos desconectados. Entretanto, os arquitetos sabidamente os articulam em uma variedade de conexões que transforma a organização original da casa ?linear em baixo, radial em cima, mas com um único elemento articulador definido pela escada central ?em uma rede que cria atalhos e pontes, alterna dentro e fora, térreo e pavimento superior, e multiplica as alternativas de acesso entre os pavimentos pela introdução de duas novas escadas. Em outras palavras, a topologia da casa original, linear e funcional, se transforma em uma rede, dispersa e análoga à urbana, não funcionalizada. Essa transformação resulta em uma experiência mais rica e variada do espaço, que é reforçada pelo cuidado na qualificação dos novos recintos em termos de luz, sombra, penumbra, transparência, opacidade e translucidez, intimidade e extroversão. Surgem mais tonalidades entre o aberto e o fechado, o transparente e o opaco, revelando a maturidade de um olhar projetual que não se seduz com a abertura fácil para a paisagem, mas preza a introspecção, a intimidade e o mistério. Tudo isso se revela especialmente no ambiente do escritório ?a “torre?– cuja localização no conjunto o transforma em um articulador potente, com múltiplos acessos – desde o segundo pavimento da casa original através da ponte-atalho que se conecta a um dos intervalos abertos; desde a rua e a sombra da praça pela nova escada aberta; desde o terraço e o novo estar. Este destino, protagonista no conjunto, tem o pé-direito elevado a 3,80 metros, o que o singulariza em relação à altura do pavimento convencional em torno de 2,50 metros, predominante nos demais recintos da casa. Associada a essa escala vertical ampliada, a vidraça voltada para a praça e para a paisagem é predominantemente translúcida, gerando uma atmosfera de introspecção que, entretanto, permite a visão da paisagem por um recorte estrategicamente disposto à altura do olhar, redefinindo a relação da vista como um quadro. Essa mesma estratégia de enquadramento de vistas, para a paisagem da cidade e para diferentes paisagens da própria cidadela, comparece ao longo de outros percursos e recintos em pequenas janelas que resguardam o interior ao mesmo tempo em que ampliam o domínio visual que constitui a base do sentido de privacidade e segurança, oferecendo miradas imprevistas em ângulos menos usuais, como na chegada da escada ao estar do segundo pavimento ou o pequeno rasgo no escritório, voltado para a rua.

A “torre?é também um sinal da transformação do repertório que originalmente informou a realização da primeira casa: em lugar da horizontalidade e da transparência características da arquitetura moderna paulista13, predomina o acento vertical e a demarcação mais sutil dos limites entre interior e exterior. Essa verticalidade ultrapassa em altura o volume original, bem como redesenha o chão com mais vigor, não apenas reconhecendo a variação topográfica original, mas criando um pavimento escavado de serviços análogo aos que fazem Artigas na casa Taques Bittencourt ou Paulo Mendes da Rocha na casa Fernando Millan. Nessa operação os arquitetos retomam a mesma distinção entre espaços servidos e servidores, agora em termos espaciais, da disposição espacial visível em corte. As escadas sobrepostas que conectam tanto escritório como serviços à praça reforçam a experiência do deslocamento vertical, e abrem espaço para uma analogia às imagens poéticas do sótão e do porão presentes na Poética do Espaço de Gaston Bachelard.

O deslocamento do objeto funcional em direção à rede articulada de espaços não funcionalizados aponta outra transformação no olhar dos arquitetos: um amolecimento no trato das questões funcionais ao desenhar os novos espaços com uma certa qualidade específica que se realiza na sua materialidade e na conectividade com os espaços adjacentes, ou seja, a partir da ênfase no desenho dos elementos permanentes, e menos condicionados por qualquer aspecto programático, mais circunstancial e impermanente. Isso permitiria imaginar a troca dos usos entre os diversos espaços ou mesmo que possam vir a acomodar no futuro outros usos para além do que se planejou. Sua intencional indeterminação permite pensar o conjunto como uma casa, com os usos propostos nas legendas do projeto, mas como um conjunto de múltiplas habitações, que convivem ao redor dos variados espaços abertos, realizando de fato a ideia da cidadela.

A Cidadela da casa Boaçava parece introduzir uma nova interpretação para aquele topos milenar que conecta casa e cidade em uma relação dialética. Como a cidade, pode ser lida como uma construção que se faz no tempo, sempre inconclusa14. Se ampliarmos essa compreensão, poderíamos dizer que pode vir a ser intergeracional e não autoral, ou resultado de múltiplas contribuições. Isso permite imaginar o seu devir: pensá-la como uma infraestrutura, que será permanentemente completada e ressignificada por seus diferentes usuários, transformada pelas mãos de outros, em outras circunstâncias. Aí talvez resida sua maior beleza.


Carlos Alberto Maciel é arquiteto e doutor em teoria e prática de projeto pela Escola de Arquitetura da UFMG, onde é professor. É sócio do escritório Arquitetos Associados e autor dos livros Arquitetura como Infraestrutura ?3 volumes e Territórios da Universidade. Permanências e Transformação. É editor de MDC.

1 – Este ensaio foi escrito a partir de um encontro fortuito: Fernando mostrou fotos da casa em fase final de construção. Ao vê-las, mencionei que lembrava uma cidadela. Essa impressão convergiu para o que motivou a realização da obra. Algum tempo depois, veio o convite para escrevê-lo, acompanhado de um belo ensaio fotográfico por Leonardo Finotti e pelos impecáveis desenhos do projeto executivo da ampliação da casa. Seu título remete àquele momento. Ele foi originalmente publicado, em espanhol, na revista PLOT – MACIEL, Carlos A. B.. La Ciudadela. PLOT, v. DIC 2021, p. 119-123, 2021 – e em português na revista Projeto em 12 de abril de 2021 – //revistaprojeto.com.br/acervo/a-cidadela-por-carlos-alberto-maciel/.

2 – PISANI, Daniele. “A cidade é uma casa. A casa é uma cidade? Vilanova Artigas na história de um topos. Tradução de Maurício Santana Dias. São Paulo: Ecidade, 2019.

3 – Projetada por UNA Arquitetos: Cristiane Muniz, Fábio Valentim, Fernanda Barbara, Fernando Viégas. Colaboradores: Ana Paula de Castro, Bruno Gondo, Eduardo Martorelli, Enk Te Winkel, Igor Cortinove, Marta Onofre, Miguel Muralha, Roberto Galvão Jr., Sílio Almeida.

4 – Projetada por UNA Arquitetos: Cristiane Muniz, Fábio Valentim, Fernanda Barbara, Fernando Viégas. Colaboradores: Joaquin Gak, Júlia Jabur, Laís Labate, Larissa Urbano, Manuela Raitelli, Marie Lartigue, Matheus Pardal.

5 – Shundi Iwamizu faz extensa leitura dessa estratégia na obra de Artigas, partindo da análise da Rodoviária de Jaú e percorrendo inúmeros outras obras em que a exploração da oposição dialética entre desenho do chão e da construção está na base da poética do arquiteto. Cf. IWAMIZU, Cesar Shundi. A estação rodoviária de Jaú e a dimensão urbana da arquitetura. São Paulo: FAUUSP, 2008. Dissertação de Mestrado.

6 – Como sugerido pelos próprios arquitetos no memorial do projeto de 2009: “O muro de concreto apóia a construção e divide o sítio longitudinalmente, dando independência às áreas de serviço. Essa base foi pigmentada com óxido de ferro. A presença deste material, que lembra a taipa, faz a transição das áreas externas às internas.?(grifo meu). Cabe aqui uma observação de caráter metodológico: este ensaio foi elaborado a partir da análise das fotografias e dos desenhos do projeto executivo da ampliação da casa, antes da leitura dos memoriais descritivos elaborados pelos arquitetos. Depois de escrito, foi confrontado com os memoriais. As notas relativas a esse “encontro?entre intenções e leituras se apresentam ao longo do texto. As diversas coincidências entre leitura e memorial revelam a consistência entre as intenções projetuais e a obra construída.

7 – Esta definição rápida é obviamente plena de exceções. Entretanto é possível relacionar, sem a pretensão de esgotar o tema, algumas residências que reeditaram este princípio e lhe deram essa mesma formalização, com variações: de Artigas são mais conhecidas a Casa Olga Baeta (1957) com aberturas laterais e empenas na frente e no fundo; a Casa José Mario Taques Bittencourt (1959), que introduz o pátio central e a articulação em meios níveis com rampa que também redesenha o chão, e apresenta empenas laterais que descem para encontrar o solo, antecipando a estratégia da diluição da parede presente na FAUUSP; a Casa Mendes André (1968) com pavilhão longilíneo aberto para a rua e para o fundo do terreno; de Joaquim Guedes, a Residência Cunha Lima (1958) que, além da predominante abertura frente-fundo, introduz por questões geomorfológicas, os famosos quatro pontos de apoio que vieram posteriormente a caracterizar parte da arquitetura paulista; de Carlos Millan, as casas Roberto Millan (1960) e Antônio D’Elboux (1962), ambas de forte inspiração na arquitetura de Le Corbusier; de Paulo Mendes da Rocha, a sua própria casa (a partir de 1964), a Casa Mário Masetti (1967-70), a Casa James King (1972) e a Casa Fernando Milan (a partir de 1970) são as mais conhecidas de uma família de casas brutalistas elevadas sobre poucos apoios gerando uma sombra habitada sob a qual se desenvolvem os jardins ou se prolonga a esfera urbana. Dentre essas, a última, parcialmente cravada na topografia, diferencia os planos social e íntimo entre térreo e pavimento superior e, de modo radical, leva o asfalto da rua para o piso da sala de estar como forma de enfatizar a continuidade entre casa e cidade. Para aprofundar o tema, ver: ACAYABA, Marlene Milan. Residências em São Paulo. 1947-1975. São Paulo: Projeto, 1986. COTRIM, Marcio. Vilanova Artigas. Casas Paulistas. 1967-1981. São Paulo: Romano Guerra Editora, 2017. MAHFUZ, Edson. Transparência e sombra: O plano horizontal na arquitetura paulista. Arquitextos, São Paulo, ano 07, n. 079.01, Vitruvius, dez. 2006 <//vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.079/284&gt;. PISANI, Daniele. Paulo Mendes da Rocha. Obra Completa. São Paulo: Gustavo Gilli, 2013.

8 – Confirma essa leitura a memória descritiva dos autores: “Em continuidade, no tempo, o novo volume é todo construído em planos de concreto aparente. Conexões e proteções são metálicas. A ideia é condensar os dois tempos da obra sem diferenciá-los, como se estivessem à espera de um novo complemento. Ao final, não saberemos o que foi feito antes, a casa, ou seu anexo.?br>
9 – Da memória descritiva dos autores: “A forma é de cidadela, um vilarejo, com torres, pontes, jardins suspensos, pátios rebaixados e praças cobertas.?br>
10 – Da memória descritiva dos autores: “O piso de madeira existente se estendeu para todos os espaços exteriores interligando também o jardim ao fundo, de onde se descortina a vista do vale do Pinheiros. A praça se completa com o horizonte. Habita-se a geografia se esquecendo do lote.?br>
11 – Da memória descritiva dos autores: “O volume que ocupava praticamente todo o lote, respeitando os recuos obrigatórios, ganhou um contraponto com o vazio exterior. São três frentes para essa praça, definidas pelas construções: a casa original com o bloco de concreto pigmentado e as duas alas do anexo. Novamente estabelece continuidade com a rua.?br>
12 – Da memória descritiva dos autores: “O projeto é a construção de uma praça que passa a ser o centro do conjunto, que articula novos usos aos existentes.?br>
13 – Ver MAHFUZ, Edson. Transparência e sombra: O plano horizontal na arquitetura paulista. Arquitextos, São Paulo, ano 07, n. 079.01, Vitruvius, dez. 2006 <//vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.079/284&gt;.

14 – Da memória dos autores: “Poderiam ainda surgir mais intervenções, solução aberta.?/p>


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Cristiane Muniz (C.M.) e Fernando Viégas (F.V.)

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no conjunto de toda a sua produção?

C.M. / F.V. – Ao mesmo tempo em que é continuidade de uma obra nossa, acreditamos que seja um trabalho que abriu novas perspectivas de investigação. Partimos de discussões evidentemente conceituais para tomar as decisões formais e construtivas. Alguns projetos posteriores a esse estabelecem desdobramentos de certas questões experimentadas aqui. As casas são modelos para escalas maiores urbanas, como é o caso do Quarteirão da Educação em Diadema.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

C.M. / F.V. – A contratação foi direta. Havíamos construído a primeira casa em 2009 e os moradores nos convidaram para ampliarmos a casa em 2019, após a aquisição do terreno vizinho.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Vocês destacariam algum momento significativo do processo?

C.M. / F.V. – A principal decisão de projeto foi estabelecer uma continuidade em relação à construção original. Optamos por utilizar os mesmos materiais e os mesmos construtores. Nossa intenção foi diluir os limites do novo e velho, a ponto de não ser possível identificar quem veio antes, ou depois. O que era volume construído, em contraponto, virou uma praça, quase em negativo.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, podem comentar as mais importantes?

C.M. / F.V. – A casa original teve um trabalho técnico de calculo estrutural e sistema construtivo muito sofisticado. Paredes de concreto com 17 cm se dobram para formar o volume superior apoiado em dois pilares e uma parede, realizando grandes balanços. A ampliação segue a lógica de planos de concreto verticais e horizontais, sem vigas internas. O maior esforço foi acomodar um grande jardim na cobertura, incluindo algumas pitangueiras. Tecnicamente, o mais complexo foi executar o sistema de condicionamento de ar como um pleno, evitando os dutos.

MDC – Os autores dos projetos tiveram participação no processo de construção/implementação da obra?

C.M. / F.V. – Sim, os arquitetos autores acompanharam toda a execução das obras. A parceria antiga com a construtora facilitou muito o desenvolvimento dos detalhes. Incorporamos, sempre, muitas sugestões dos construtores. Algumas decisões de serralheria, como o portão de vão total, foram feitas diretamente a partir de ensaios de carga na própria obra.

MDC – Vocês destacariam algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

C.M. / F.V. – O desenho da praça central absorvia um desnível com relação ao fundo do lote. Foi proposta uma arquibancada de contemplação da paisagem da várzea do Rio Pinheiros. Ao longo do projeto conversamos muito com os moradores sobre possíveis usos dessa praça, que formava, de certo modo, o desenho de um anfiteatro aberto. Após a construção, um dos usos imaginados se tornou frequente: espaço para música. Regularmente músicos são convidados para tocar para convidados que se acomodam na arquibancada e configuram um auditório ao ar livre. Emocionante.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, fariam algo diferente?

C.M. / F.V. – Faríamos tudo exatamente igual. Quase todos os projetos que realizamos, após certo tempo, imaginamos alguns reparos, mas nesse caso não mudaríamos nada, nenhum detalhe.

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

C.M. / F.V. – Como tudo o que fazemos, acreditamos que seja parte de uma construção cultural coletiva. Tentamos fazer pequenas contribuições ao conhecimento com nossas pesquisas projetuais.

MDC – Há algo relativo ao projeto e ao processo que gostariam de acrescentar e que não foi contemplado pelas perguntas anteriores?

C.M. / F.V. – Um projeto como esse necessita que o processo com os clientes seja de total confiança e de que a relação com os trabalhadores da construção seja de parceria.


projeto executivo

PARTE 1:
PLANTAS, CORTES E ELEVAÇÕES

13 pranchas (pdf).
15,96mb

PARTE 2:
AMPLIAÇÕES

13 pranchas (pdf).
20,97mb

PARTE 3:
DETALHES E MOBILIÁRIO

6 pranchas (pdf).
4,57mb


ficha técnica do projeto

Local: São Paulo – SP
Ano de projeto: 2018
Ano de conclusão: 2020
Área: 640 m²
Autores: UNA arquitetos: Cristiane Muniz, Fabio Valentim, Fernanda Barbara, Fernando Viégas
Colaboração: Joaquin Gak, Júlia Jabur, Laís Labate, Larissa Urbano, Manuela Raitelli, Marie Lartigue, Matheus Pardal


Construção: F2 Engenharia
Estrutura:
Companhia de Projeto
Estrutura de concreto:
Breno Rodrigues
Instalações:
Zomaro
Iluminação:
Foco
Sistemas:
Oguri
Paisagismo:
Soma
Irrigação: Regatec
Ar Condicionado: Drawing
Impermeabilização: Proassp

Fotos: Leonardo Finotti
Contato: contato@unamunizviegas.com.br


galeria


colaboração editorial

Renan Maia

deseja citar esse post?

MUNIZ, Cristiane. VALENTIM, Fabio. BARBARA, Fernanda. VIÉGAS, Fernando. “Ampliação da Casa Boaçava”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., ago-2023. Disponível em //www.28ers.com/2023/08/01/ampliacao-da-casa-boacava. Acesso em: [incluir data do acesso].


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