Casas geminadas – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com Wed, 14 Aug 2024 13:16:41 +0000 pt-BR hourly 1 //i0.wp.com/28ers.com/wp-content/uploads/2023/09/cropped-logo_.png?fit=32%2C32&ssl=1 Casas geminadas – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com 32 32 5128755 Casas geminadas – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2023/12/24/casas-e-edificio-misto-em-sobral/ //28ers.com/2023/12/24/casas-e-edificio-misto-em-sobral/#respond Sun, 24 Dec 2023 16:28:00 +0000 //28ers.com/?p=14638 Continue lendo ]]> Por REDE Arquitetos
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Casas e Edifício Misto em Sobral (texto fornecido pelos autores)

A demanda inicial para o projeto era a construção de um conjunto de casas unifamiliares geminadas em loteamento na área de expansão da cidade de Sobral, localizada no semiárido cearense. Ao se analisar os 25 lotes do projeto, percebeu-se que sua diversidade ?11 lotes de 175,00m2, 13 lotes de 210m2 e 01 lote de 275,00m2 ?possibilitava variação nas soluções. Assim, a proposta resultou em dois projetos: o conjunto de residências Casas MBV2 e o Edifício Misto MBV2.

Fotografia: Igor Ribeiro

As Casas MBV2 lidaram com dois âmbitos distintos: privado, referente à solução da residência em si, e público, uma vez que o conjunto adquire uma escala de conjunto urbano. 

Na primeira, foram propostos dois tamanhos de unidades, de dois e três quartos (87,50 m² e 104,00 m², respectivamente). A partir do volume possível de construção, foi executada uma série de operações de extração para criação dos espaços internos, como se vê nas esquadrias recuadas e nos pátios internos, individualizados para cada ambiente da casa, que aproveitam os recuos laterais, além de contarem com pergolados que filtram a luz, marcam a passagem do tempo mesmo sem que se veja o exterior, e ainda garantem a segurança do interior. Estas estratégias funcionam tanto para ampliar os espaços internos, que possuem área mais restrita devido às medidas do lote, quanto para melhor performance climática, permitindo ventilação cruzada e iluminação indireta, adequadas ao clima local. 

Diagramas Casas MBV2 + Fotografias: Igor Ribeiro

No aspecto urbano do conjunto, por se tratar de uma série de casas, pensou-se em criar diversidade e permeabilidade nas frentes ?perceptível nos desenhos das calçadas, muros e gradis ?no sentido de criar uma urbanidade interessante ao conjunto e seu entorno. Além disso, a percepção de conjunto e da tipologia da casa geminada acontece pelo compartilhamento dos pátios e das caixas d’água, neste último, inclusive concentrando as instalações a cada duas unidades.

Fotografias: Igor Ribeiro

[1] Implantação do conjunto; [2] planta baixa das Casas MBV2; [3] corte transversal e longitudinal das Casas MBV2.

O Edifício Misto MBV2 surgiu da percepção de que no lote da esquina, de maiores dimensões, seria possível inserir um pequeno edifício ao invés de mais uma unidade de residência unifamiliar, potencializando o retorno financeiro do empreendimento. Foram propostas 04 unidades comerciais no térreo e dois pavimentos com duas unidades residenciais em cada. O arranjo interno se organiza em torno da circulação vertical centralizada, a partir da qual se inverte a posição entre as frentes dos usos comercial e residencial, voltando as lojas para a maior frente e as unidades para as menores, espelhadas pelo eixo vertical e compatibilizadas por uma estrutura quadrada de concreto. As aberturas nas maiores fachadas são estreitas e pontuais, protegendo o interior do excesso de insolação, além da presença de cobogós nas áreas comuns de circulação.

Fotografias: Igor Ribeiro

O edifício compõe o conjunto construído das Casas MBV2 complementando-as funcionalmente através da diversidade de usos, dinamizando a área e criando frente ativa com os comércios, mas também destacando-se formalmente, com o térreo de cor mais escura, atuando com um negativo do padrão criado pelas frentes das casas, o que é reforçado pela presença das vigas que intensificam sua verticalização e sobreposição de unidades, em contraponto à horizontalidade do conjunto de casas.

Fotografias: Igor Ribeiro

[1] Planta térreo; [2] pavimento tipo; [3] corte longitudinal e [4] transversal do Edifício MBV2


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Bruno Braga, Bruno Perdigão, Igor Ribeiro e Luiz Cattony (REDE)

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no conjunto de toda a sua produção?

REDE – Essa foi a primeira obra construída de maior porte que fizemos sem estarmos associados a outro escritório. Nesse sentido, ela permitiu, por um lado, um grande aprendizado por termos tido mais participação em todas as etapas do processo, inclusive no acompanhamento da obra, como também permitiu que tivéssemos mais autonomia para desenvolver e experimentar algumas ideias e princípios que vínhamos testando em projetos anteriores.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

REDE – Fomos contratados diretamente pelo construtor e investidor, que era dono dos lotes. Tínhamos acabado de fazer o projeto da casa dele, a Casa Planos. Ele ficou satisfeito com a nossa forma de trabalhar e acabou nos contratando para outros projetos.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Vocês destacariam algum momento significativo do processo?

REDE – Inicialmente, o cliente chegou com a demanda de fazer 25 casas duplex nos lotes que ele possuía, dentro de um padrão que já vinha fazendo. Assim, um aspecto muito importante na concepção foi termos podido construir junto com ele uma alternativa que acreditávamos ser mais interessante, que era pensar em diferentes tipologias, uma vez que os terrenos tinham dimensões diferentes e também no diferencial de como lidar com o recuo lateral (era permitido encostar em uma das laterais e na outra era exigido recuo de 1,50m). Dessa forma, chegamos a uma proposta de 24 casas térreas de 2 e 3 quartos, além de um edifício de uso misto. Entendemos que isso foi importante por dar maior diversidade ao conjunto, uma vez que pela escala ele já tinha uma dimensão urbana, além de ter permitido uma obra mais barata e ter possibilitado mais retorno para o cliente com a criação do edifício misto. A partir dessa definição inicial, pensamos em desenvolver um sistema comum que permitisse essas variações, de forma a simplificar o processo de projeto e obra e conferir identidade ao conjunto.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, podem comentar as mais importantes?

REDE – Durante o projeto executivo trabalhamos com um colega arquiteto, Francisco Navarrete. Ele deu importantes contribuições nas definições finais, em especial no pré-lançamento da estrutura, que está presente no nosso projeto executivo. Como o cliente era o construtor e morava em outra cidade, ele já tinha sua equipe de projetistas complementares e obra, então essas definições no projeto executivo de arquitetura foram muito importantes.

MDC – Os autores dos projetos tiveram participação no processo de construção/implementação da obra?

REDE – Tivemos um acompanhamento em momentos pontuais da obra. Mesmo não tendo sido algo sistemático, foi importante para percebermos algumas questões que estavam dando certo e corrigir alguns pontos na obra que não estavam seguindo exatamente o projeto. Um exemplo foi sobre os pergolados das casas, que, por estarem espelhadas, tiveram que ter as peças alternadas para não coincidirem na parede de divisão. Isso foi algo visto e decidido em obra.

MDC – Vocês destacariam algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

REDE – Pensamos as casas e o edifício misto como suportes capazes de se adaptar a diversos usos e apropriações. Dessa forma, procuramos fixar os elementos mais rígidos, em especial as estruturas e infraestruturas, de modo a gerar espaços mais livres e flexíveis, além de uma certa neutralidade da materialidade que permitisse uma apropriação posterior de cada usuário. Ao visitarmos a obra depois da conclusão, descobrimos ocupações imprevistas, como algumas casas sendo transformadas em espaços de serviços e escritórios, além da adaptação dos muros com cores e elementos de identificação tanto nas casas como no edifício. Para nós isso foi positivo, pois demonstrou essa qualidade de adaptação do projeto para além do programa pensado inicialmente.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, fariam algo diferente?

REDE – Algo que percebemos nas visitas após a conclusão da obra foi que talvez tivesse sido importante ter uma maior estanqueidade dos espaços, pois os períodos de chuva, embora escassos, são bastante intensos. Então talvez os pergolados das casas pudessem contar com alguma parte coberta, ou pudéssemos ter previsto maior proteção nos pavimentos superiores do edifício de uso misto.

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

REDE – Entendemos essa obra como um exemplar de uma arquitetura que busca transformar limitações de recursos em motor para o processo criativo. Entendemos que todo o processo, desde as definições iniciais junto ao cliente, até as decisões de obra para reduzir custos, constroem um projeto cujo processo induz muito a uma visão do papel do arquiteto no contexto contemporâneo. Acreditamos, também, que é uma obra cujos principais atributos estão não necessariamente em artifícios formais, mas em estratégias de aproveitamento da luz e dos espaços vazios. Além disso, ela se insere num momento em que algumas obras do Nordeste começam a ganhar mais repercussão no contexto nacional, ainda muito centrado no eixo sudeste. Nesse sentido, acreditamos que possa trazer contribuições sobre formas de atuar em contextos distintos, pois é uma obra bastante austera e direta, feita com materiais e recursos muito simples. Construída em Sobral, no semiárido cearense, lugar ainda pouco conhecido por grande parte das pessoas do país, pode também contribuir para termos um panorama mais diverso e rico da produção contemporânea brasileira.


projeto executivo

PARTE 1:
EXECUTIVO CASAS 2 QUARTOS

7 pranchas (pdf).
2,5mb

PARTE 2:
EXECUTIVO CASAS 3 QUARTOS

7 pranchas (pdf).
2,89mb

PARTE 3:
EXECUTIVO EDIFÍCIO MISTO

7 pranchas (pdf).
6,63mb


ficha técnica do projeto

Local: Sobral – CE
Ano de projeto: 2017
Ano de conclusão: 2020
Área: 2671 m²
Autores: Rede Arquitetos: Bruno Braga, Bruno Perdigão, Igor Ribeiro, Luiz Cattony
Colaboração: Francisco Navarrete (arquiteto)


Fabricantes: Cerbrás, Fortcolor Tintas, Metalúrgica Massapeense, Sobral Madeiras


Fotos: Igor Ribeiro
Contato: contato@redearquitetos.com


Premiações:
2021 – Projeto selecionado para a exposição Arquiteturas em Português: Diálogos Emergentes, promovida pelo Conselho Internacional dos Arquitectos de Língua Portuguesa – CIALP;
2022 – Projeto menção honrosa COR no 8º Prêmio de Arquitetura Instituto Tomie Ohtake Akzonobel.


galeria


colaboração editorial

Isabela Gomide

deseja citar esse post?

BRAGA, Bruno. PERDIGÃO, Bruno. RIBEIRO, Igor. CATTONY, Luiz. “Casas e Edifício Misto em Sobral”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., dez-2023. Disponível em //www.28ers.com/2023/12/24/casas-e-edificio-misto-em-sobral. Acesso em: [incluir data do acesso].


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