Constru莽茫o met谩lica – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com Tue, 07 May 2024 02:21:23 +0000 pt-BR hourly 1 //i0.wp.com/28ers.com/wp-content/uploads/2023/09/cropped-logo_.png?fit=32%2C32&ssl=1 Constru莽茫o met谩lica – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com 32 32 5128755 Constru莽茫o met谩lica – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2024/05/06/estudio-madalena/ //28ers.com/2024/05/06/estudio-madalena/#respond Tue, 07 May 2024 02:21:23 +0000 //28ers.com/?p=15488 Continue lendo ]]> Por Apiacás Arquitetos
13 minutos

Estúdio Madalena (texto fornecido pelos autores)

A intenção principal do projeto foi criar uma praça no térreo, conformada pela extensão do passeio público e preservando a vista para a paisagem existente: em um primeiro plano, composta por casas de até dois andares, e, ao fundo, prédios altos marcando a ocupação característica do bairro de Pinheiros. Tirando proveito da topografia original do terreno, essa praça-belvedere reafirma a vocação do bairro da Vila Madalena como “possuidora/provedora?de diversas situações de promenade, capazes de surpreender os pedestres que por ali circulam.

Fotografia: Leonardo Finotti

O programa que nos foi exigido pelo cliente contemplava dois programas completamente distintos: um espaço destinado à moradia e outro ao trabalho. Como não havia uma predefinição desses espaços, tivemos a oportunidade de nos apropriar do terreno em sua capacidade máxima permitida pela legislação. Portanto, o edifício se desenvolve em dois volumes independentes para baixo e para cima da praça, cada qual com funções totalmente distintas, e mantendo a cota da rua desimpedida, livre de quaisquer obstáculos.

Implantação metropolitana, Implantação local e Plantas por nível de projeto.

O terreno originalmente apresentava uma declividade acentuada e, a fim de permitir a integração de seu térreo com o passeio público, foi proposto um embasamento construído que reconfigura a topografia. Por estar abaixo do nível da rua, pode se ocupar o máximo da largura (perímetro) do lote, respeitando os recuos necessários. Esse embasamento se organiza em dois espaços em um mesmo nível, interligados por pátios que acompanham o desnível do terreno.

A circulação vertical está estrategicamente instalada em uma das laterais da edificação: um elemento capaz de transitar entre duas situações opostas sem obstruir o vazio externo ou os espaços construídos internamente. Suspenso por pilotis, o segundo volume é composto por dois pavimentos com plantas livres ?característica comum a todo o projeto ?provendo flexibilidade na apropriação pelos espaços aos usuários.

Fotografias: Leonardo Finotti e Cortes longitudinais e transversais

A construção teve o orçamento disponível como premissa principal. Para tanto, seguiu-se o método construtivo de uma obra anterior do escritório no mesmo bairro: o Bar Mundial foi construído em estrutura metálica e painéis de concreto pré-fabricados, o que acelerou o tempo de execução da obra. Esse sistema de pré-fabricação com elementos de concreto foi desenvolvido pelo escritório com o intuito de subverter o uso de um material largamente empregado no Brasil. Frequentemente utilizados para a concretagem de lajes maciças, os painéis são aqui utilizados na vedação do edifício, em duplas que dão forma a paredes ocas executadas em tiras de 25 cm de largura com altura variável.

Fotografias: Lauro Rocha

O embasamento foi feito em estrutura convencional de concreto, tornando-se um muro pré-condicionado a desempenhar a função de consolidação do terreno. Foram intercalados painéis de concreto maciço e painéis ocos, prevalecendo a primeira opção em situações de contato com o solo e nas lajes que conformam a praça de acesso.

O volume suspenso é estruturado em vigas e pilares metálicos, que conferem leveza em sua execução. O sistema de painéis ocos é utilizado não somente nas vedações, mas também desempenha a função de laje em virtude de sua enorme capacidade de resistência mecânica – a laje foi pensada como uma sequência de vigas treliças com banzos (superior e inferior) em concreto e em ferro na sua armação interna. A construção desse volume suspenso foi feita, portanto, com maior rapidez, já que não havia a necessidade de concretar o miolo da laje. Esse aspecto reduz a carga na estrutura metálica e o custo final da obra.

A princípio um limitante para este projeto, a condição orçamentária acabou nos motivando a investigações de novas alternativas construtivas. Seu êxito consiste na execução de um espaço que não exigiu grande investimento e sem desperdício de materiais.

Fotografias: Leonardo Finotti


Estúdio Madalena (Texto publicado no Catálogo de Prêmio de Arquitetura 2015 Instituto Tomie Ohtake Akzonobel), por Abílio Guerra

Opressiva, São Paulo é uma cidade sem profundidade ao rés-do-chão. O adensamento das construções sequestra a percepção sensorial da geografia da cidade, encastelada sobre morros. A movimentação intensa do território se apresenta de quando em quando ao olhar que se volta para o ponto de fuga do arruamento. Contudo, a visão frontal desobstruída é mais rara, caso do MASP na Avenida Paulista.

O Estúdio Madalena ?projeto de Anderson Freitas, Acácia Furuya e Pedro Barros, do Apiacás Arquitetos, e localizado em rua e bairro homônimos ao seu nome de batismo ?assemelha-se ao projeto de Lina Bo Bardi em sua estratégia de implantação. O que seria o térreo da edificação é uma extensão da calçada pública, que se transforma em recinto aberto e desobstruído, quase uma praça que se volta para a paisagem. O chão deste espaço é a parte superior da prótese incrustada no talude do terreno em queda, e que abriga o uso residencial na parte baixa do terreno. O volume suspenso, destinado a espaços de trabalho, se desenvolve em dois andares, que se equilibram sobre quatro pilares esguios de metal. Tal como no MASP ?mas neste caso, devido à escala modesta do projeto, apenas com escadas sobrepostas ? a circulação vertical se dá lateralmente, com pouca interferência no térreo.

Devido às restrições econômicas do empreendimento, os arquitetos baratearam o custo e aumentaram os benefícios com o uso de materiais industrializados disponíveis no mercado, a edificação da maior área construída possível (500 m2 em um terreno de 250 m2) e a rápida execução da obra. Painéis pré-fabricados de concreto ?corriqueiramente usados como formas de concretagem, adaptados aqui à condição de paredes e lajes ?se articulam a uma estrutura metálica ortogonal, solução simples e barata para a parte suspensa do projeto. Os mesmos painéis e estrutura metálica são usados no embasamento, mas agora apoiados em estrutura convencional de concreto, que faz o contato direto com o solo.

A escala reduzida e o aporte restrito de recursos não inibem sua qualidade exemplar. Além de contemplar de forma adequada o programa de uso e o baixo orçamento, o projeto tem como principal atributo sua gentileza urbana. Não apenas moradores ou usuários dos seus espaços, mas todos aqueles que passam diante do Estúdio Madalena são agraciados com a maravilhosa vista que se descortina de forma surpreendente. Diante desta fresta urbana, o homem da cidade pode mirar a cidade ?este grande artifício humano ?como se fosse a paisagem natural.


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Anderson Freitas (A.F.)

MDC – Como você contextualiza essa obra no conjunto de toda a sua produção?

A.F. – Penso que esta obra resulta de experimentações construtivas que vínhamos buscando a partir de uma certa inquietude em relação aos métodos tradicionais de construção. Não estamos com isso afirmando que esta obra é resultado de uma pesquisa tecnológica avançada, mas, simplesmente, de pensar a construção se valendo de elementos existentes no mercado, de certa forma subvertendo sua utilização convencional com intenção primeira da materialidade que nos interessava e consequentemente resultasse numa obra ágil e econômica. Olhando para o conjunto, a nossa maneira de ver, sob o aspecto da espacialidade, acreditamos que ele mantém a postura que sempre tivemos em relação a todos os projetos que desenvolvemos em nosso escritório, ou seja, nunca submetemos a qualidade espacial que desejamos em detrimento de um sistema construtivo escolhido.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

A.F. – Este projeto foi resultado de um outro projeto já em fase de obra, de escala semelhante, no mesmo bairro da zona oeste de São Paulo, o bar Mundial. O cliente, que ainda não era, viu a obra e gostou muito do projeto, do sistema construtivo (similar ao do Estúdio Madalena). Enfim, ele acabou nos contratando para fazer o dele também. Quando estávamos iniciando o projeto descobrimos que ele já tinha um outro projeto já aprovado na prefeitura, mas desistiu de executar quando viu nossa obra.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Você destacaria algum momento significativo do processo?

A.F. – Como partimos de uma solicitação do cliente em relação ao programa, que desejava um lugar onde ele pudesse trabalhar e viver, essa questão nos provocou a pensar o projeto de forma pouco convencional em relação às conexões entre ambientes, digo em relação à necessidade de fazê-los conectados por espaços fechados, ou protegidos. Creio que essa condição foi fundamental para pensarmos o projeto com certa liberdade para sua volumetria: poder tirar partido desse jogo, de maneira a criar espaços de permanência abertos, como pequenas praças e, nesse sentido, poder estabelecer uma relação mais forte com o entorno. Daí a ideia do programa bi-partido com parte da volumetria fechada redesenhando o chão e outra elevada para liberar a visão da paisagem para quem caminha pela rua.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa do autor? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, pode comentar as mais importantes?

A.F. – Houve uma certa luta com o engenheiro de estruturas que insistia em fazer os pilares metálicos muito pesados, aumentados em relação à real necessidade de carga que ele receberia, já que desenvolvemos especificamente para esta obra, não somente as paredes mas também as lajes ocas, fazendo o piso, ao invés de ser em concreto maciço, funcionar como um conjunto de vigotas com os banzos em concreto unidos pela ferragem de armação. Uma vez que o convencemos a partir do cálculo de cada laje comparada a uma laje maciça, ele aceitou. Porém, voltou com outro problema, dizendo que os esforços de vento fariam essa estrutura, que trabalha como uma mesa, com quatro pernas, deformar etc. Aí contra argumentei que a caixa de escada metálica, anexada ao volume suspenso, atuaria como um arco botante e naturalmente iria funcionar como um travamento suficiente para este problema, já que estaria toda contraventada. Enfim, depois de muitas idas e vindas o engenheiro acabou por aceitar os argumentos. Penso que se tivéssemos cedido aos questionamentos esse projeto não teria a mesma expressividade.

MDC – O autor do projeto teve participação no processo de construção/implementação da obra? Se sim, quais os momentos decisivos dessa participação?

A.F. – Tivemos total participação no processo de construção, já que fomos os responsáveis pela obra. Temos convicção que essa condição nos devolve a possibilidade de experimentarmos métodos e sistemas construtivos não convencionais que em outra situação não poderíamos.

Outra questão interessante que se desdobrou em nossa atuação profissional por conta de assumirmos a administração e gerenciamento dessas obras é que acabamos por nos ver “forçados?a consolidar uma empresa voltada para essa operação, que inicialmente se misturava ao Apiacás Arquitetos. Agora se trata de outra empresa, dos mesmos sócios, chamada Aimberê Construções. O interessante é que a equipe de arquitetos que trabalha conosco acaba por vivenciar experiências no campo do projeto e também no canteiro de obra. E isso faz diferença pois a autonomia das decisões acaba sendo nossa, que é um pouco limitante quando essa responsabilidade não está em suas decisões, problema recorrente no Brasil quando se pensa a questão do arquiteto no canteiro de obras.

MDC – Você destacaria algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

A.F. – Este projeto era de fato para ser utilizado pelo cliente que contratou a obra, mas ele acabou recebendo uma oferta tentadora de aluguel do estúdio assim que ficou pronto. Como ele tinha outros imóveis no mesmo bairro, ele acabou alugando e não ocupou a nova edificação. Ficamos receosos se daria certo para o novo inquilino, uma empresa de publicidade, se eles manteriam o vazio etc, mas no fim preservaram (o que achamos importante), mas, infelizmente, acabaram por fazer um fechamento em relação à rua, abrindo somente quando fazem eventos. De certa maneira achamos que tudo bem, faz parte da vida rsrs.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, faria algo diferente?

A.F. – Olha, penso que o tempo pode mudar sua maneira de pensar em relação às coisas, então não posso afirmar que faria igual, exatamente igual. Acho que talvez não seja essa a questão. Talvez a questão seja se você se arrepende de um determinado projeto, se entende que errou em tomar aquela decisão. Nesse sentido, posso afirmar que não, pois quanto mais o tempo passa, mais gosto deste projeto, mesmo não podendo afirmar se faria a mesma solução hoje.

MDC – Como você contextualiza essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

A.F. – Penso que ela se encaixa no contexto onde há busca por facilitação do processo construtivo, para evitar desperdícios, que representa leveza para soluções estruturais e consequentemente econômicas. O fato de termos colaborado com o Lelé (João Filgueiras Lima) em alguns projetos inevitavelmente plantou essa semente. Isso do ponto de vista da construção. Do ponto de vista da espacialidade, ela se enquadra nessa constante luta por desenhar a cidade de maneira mais gentil, onde cada oportunidade, não importando se vem de uma demanda pública ou privada, é um motivo para desenhar essa cidade que desejamos. Lembro sempre daquilo que o arquiteto e professor Abrahão Sanovicz sentenciava aos seus alunos dizendo – “façam obras com gentileza urbana!

MDC – Há algo relativo ao projeto e ao processo que gostaria de acrescentar e que não foi contemplado pelas perguntas anteriores? Agradecemos imensamente a sua contribuição.

A.F. – Sim, penso que pelo fato de estarmos muito envolvidos com obras, acabamos inevitavelmente sendo contaminados constantemente pela questão do orçamento previsto, para evitar que o custo saia do controle. Creio que essa demanda surja pra gente antes do estudo. Mas não penso nisso como um problema, mas sim como uma contribuição para aumentar nosso senso de responsabilidade para o projeto, que neste sentido extrapola a questão espacial, mas não a torna menos importante, apenas uma luta constante para manter o equilíbrio.

Eu que agradeço. Ficamos muito honrados com o convite.


estudo preliminar


ESTUDO PRELIMINAR


9 pranchas (pdf).
3,91mb


projeto executivo


PARTE 1:
DIAGRAMA DE ÁREAS + PLANTAS E CORTES

13 formatos (pdf).
2,27mb


PARTE 2:
MURO DE ARRIMO + ESCADA DE CONCRETO

7 pranchas (pdf).
517kb


PARTE 3:
CAIXILHOS + GUARDA-CORPOS + GRADIS

17 pranchas (pdf).
1,01mb


PARTE 4:
ESCADAS METÁLICAS

26 pranchas (pdf).
3,23mb


PARTE 5:
HIDRÁULICA E ELÉTRICA

14 pranchas (pdf).
1,19mb


ficha técnica

Local: Vila Madalena, São Paulo- SP, Brasil
Ano de projeto: 2014
Ano de conclusão: 2014
Área do terreno: 500 m²
Área construída: 250 m²
Autores: Anderson Freitas, Acácia Furuya e Pedro Barros
Colaboradores: Bárbara Francelin, Marcelo Otsuka, Daniela Andrade, Maria Wolf, Ana Julia Chiozza, Leonor Vaz Pinto, Felipe Zorlini, Adriana Domingues, Matheus D’Almeida, Gabriela de Moura Campos, Lorran Siqueira, Vitor Costa, Francisco Veloso, Renato Kannebley e Accácio Mello


Projeto estrutural:
CCT Engenharia
Projeto de fundação:
VWF Fundações



Fotos: Lauro Rocha e Leonardo Finotti


galeria


colaboração editorial

Isabela Gomide

deseja citar esse post?

FREITAS, Anderson. FURUYA, Acácia. BARROS, Pedro. “Estúdio Madalena”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., mai-2024. Disponível em //www.28ers.com/2024/05/08/estudio-madalena. Acesso em: [incluir data do acesso].


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//28ers.com/2024/05/06/estudio-madalena/feed/ 0 15488
Constru莽茫o met谩lica – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2023/08/25/sede-sebrae-nacional/ //28ers.com/2023/08/25/sede-sebrae-nacional/#respond Fri, 25 Aug 2023 15:13:50 +0000 //28ers.com/?p=12283 Continue lendo ]]> por gruposp + Luciano Margotto
15 minutos

Sede SEBRAE Nacional (memorial do concurso 2008)

“Pátio, céu canalizado.
O pátio é o declive pelo qual se derrama o céu na casa.?br>Jorge Luis Borges


O partido adotado no projeto responde a um só tempo às condicionantes urbanísticas de Brasília – incluindo as características topográficas do terreno – e ao caráter da arquitetura que se pretende para a nova sede do SEBRAE NACIONAL. O que se propõe não é um edifício, mas um conjunto arquitetônico com: 1) ênfase na espacialidade interna, objetivando a integração dos usuários assim como da paisagem construída e natural; 2) máxima flexibilidade para a organização dos escritórios; 3) preocupação em se obter ótimo desempenho ambiental e econômico.

Fotografia: Nelson Kon

o pátio

Todo o conjunto se desenvolve a partir de uma espacialidade interior. Desenvolvido em planta, o vazio adquire grande presença no interior do conjunto, na forma de pátio onde se localizam as atividades mais públicas. Ao redor desta praça interna, no térreo inferior encontra-se o espaço de formação e treinamento, salas multiuso, auditório, biblioteca e a cafeteria, enquanto no térreo superior estão os principais acessos do conjunto, com varandas abertas à cidade e ao lago.

Plantas (1) térreo inferior; (2) térreo superior

Fotografia: Pedro Kok

A TOPOGRAFIA E O SENTIDO ESPACIAL: O TÉRREO MULTIPLICADO

São dois os térreos. Optou-se por abrir um plano construído abaixo do nível da soleira, integrando-o verticalmente ao nível dos acessos, como térreos multiplicados, iluminados e ventilados pelo espaço livre que os circunscreve, o que lhes concede expressão arquitetônica. O chão do edifício, público, é construído, portanto, distinto do terreno natural que o circunda, destinado às áreas verdes permeáveis.

Cortes transversais e longitudinais

Fotografia: Pedro Kok

A DISTRIBUIÇÃO DO PROGRAMA

O arranjo do programa está diretamente ligado com a disposição das peças edificadas no terreno. Na base do conjunto (térreo inferior e térreo superior) encontram-se as funções coletivas, as atividades que por vezes recebem colaboradores ou público externo. Estes espaços estão organizados e articulados pela Praça de Estar, marcada ainda pela presença do auditório. As funções administrativas e o corpo diretivo estão concentrados nos pavimentos superiores. Nos pavimentos inferiores está localizada a garagem e as atividades administrativas relacionadas à serviços e manutenção predial.

Plantas (1) subsolo 1; (2) subsolo 2; térreo inferior (3); térreo superior (4); pav. tipo 1 (5); pav. tipo 2 (6).

OS ESCRITÓRIOS: MODULARIDADE E FLEXIBILIDADE

O projeto dos espaços de trabalho admite alterações de arranjos, tanto para os espaços, quanto para os componentes de instalações prediais e de infraestrutura ?piso elevado, forro e ausência de pilares no meio dos pavimentos. A área disponível para os escritórios é, realmente, livre.

ARTICULAÇÃO, CIRCULAÇÃO E INFRAESTRUTURA

Para conectar todos os setores, criou-se uma estrutura periférica dupla – dois castelos de circulação vertical, infraestruturas e apoios diversos – com múltiplas possibilidades de ligação: escadas, varandas e elevadores coletivos ou privativos promovem a comunicação entre os diversos espaços. A circulação incorpora no desenho do percurso cotidiano o vazio central, acentuando sua presença. Todas as redes de infraestrutura se distribuem para o conjunto a partir de lajes com instalações (forros e pisos elevados) e dutos verticais especializados (shafts).

ACABAMENTO E EXPRESSÃO ARQUITETÔNICA

A expressão arquitetônica do conjunto arquitetônico proposto está estreitamente vinculada às decisões de projeto que concorrem no sentido de proporcionar uma obra organizada e eficiente com redução estratégica das ações construtivas. As estruturas serão tratadas e permanecerão aparentes, evidenciando-se a plasticidade do aço e concreto. Os painéis metálicos quebra-sóis garantem a integridade do conjunto. Em linhas gerais o edifício contrastará a cor natural dos materiais utilizados, o branco da estrutura metálica, o azul do céu e o verde da paisagem envoltória.

Fotografia: Nelson Kon

O conjunto edificado, com o térreo aberto permitirá visuais alongadas, sublinhando a possibilidade de extensão do chão público sem comprometer o gabarito que resguarda o céu de Brasília e que estará presente no grande espaço central conformado. Finalmente, a delicada curva do castelo de serviços na face norte, além de ceder parte do terreno para cidade marca a singularidade desta construção, nem pretensamente palácio nem isolada, mas superfície convergente e multiplicadora da urbe, sua história, sua vida.

Fotografias: Pedro Kok


Brasília 60 anos (Texto escrito para o site do CAU BR, 2020), por Alvaro Puntoni

Voltei a Brasília depois de quase 25 anos sem ir1, em 2007, a convite de um seminário na UnB. Me lembro que no primeiro dia após jantarmos, resolvemos caminhar pelo meio das superquadras desfrutando destes espaços intermediários entre as lâminas habitacionais suspensas do chão. A ideia de estar na “cidade rodoviária?e estar ouvindo o trilar contínuo dos grilos e o silêncio sentido era uma sensação realmente encantadora. Pensamos, num momento de insanidade, de irmos assim caminhando nestes bosques urbanos sucessivos até o hotel que ficava no setor hoteleiro, mas resolvemos depois de algum tempo caminhando livremente pelos térreos abertos, ruas e jardins, pegar um táxi.

Esta ideia de um chão público, a “superfície diferenciada?da nova capital, conforme descrição do próprio Lucio Costa, já havíamos sublinhado em um concurso para a sede do IPHAN em 2006, quando propusemos um edifício que pairava sobre este chão do Cerrado. A este primeiro ensaio de uma arquitetura possível em Brasília seguiram outros, todos frutos de concursos públicos promovidos pelo IAB.2

Nos parecia um sonho impossível e distante, como arquitetos de São Paulo, termos a possibilidade de fazer um edifício em Brasília e participar do diálogo, a coexistência de diferentes lógicas. Poder contribuir com uma frase a mais no livro que é esta cidade que nos encanta.

Em 2007 nosso desenho para a sede da CAPES3 continha esta mesma visão de um chão liberado com serviços instalados em estruturas laterais de concreto que suportavam as estruturas metálicas passantes dos espaços de trabalho. O mesmo conceito que utilizamos em 2008 no concurso (promovido pelo IAB DF) para o SEBRAE.

A sede do SEBRAE Nacional foi uma experiência incrível para todos nós. Primeiro por representar a realização deste sonho de construir em Brasília. Depois pela oportunidade que tivemos durante a obra de visitar por 52 vezes o canteiro e, consequentemente, estarmos em Brasília neste período de 18 meses e poder conhecer melhor a cidade e seus habitantes.

Procuramos neste projeto fazer uma arquitetura que se ajustasse e se conciliasse ao máximo com Brasília em todos os seus aspectos históricos, ambientais, culturais e urbanos. Apesar de todas as dificuldades que tivemos no processo do projeto à obra, de convencimento (dos clientes, empreiteira e, até mesmo, o poder público) e, depois, na apropriação da obra, sentimos que mesmo com todos os desaforos e magoas o prédio vai resistindo ao tempo, passados agora 10 anos da sua inauguração. Desta experiência ficam os amigos que fizemos e um prédio austero inserido na paisagem e conciliado com a urbe “costiana?

Despois ainda tivemos a oportunidade de participar de outros concursos: a sede do CAU IAB4 em 2016, quando retomamos as ideias ensaiadas na sede do IPHAN 10 anos atrás, o Centro Educacional Crixá-DF em 20185 e a Arena Brasília em 20196.

Mas, destes projetos recentes, destacamos o Concurso Internacional para a Orla Livre do Paranoá7. Nesta participação fizemos como uma declaração de amor por esta cidade tão querida para nossa arquitetura e cara para nossa existência como brasileiros. Além dos 80 faróis que balizavam a Orla a cada quilometro, lembrando da sua existência durante a noite, gostávamos da proposta de um banco, um equipamento urbano, pensado como um edifício, que teria 80 km de extensão, que submergia e voltava a aparecer, organizando a ciclovia e o passeio de pedestre, além de ser a luminária horizontal deste plano de mobilidade ativa que circunvalaria a lago. Neste banco estariam impressos aleatoriamente páginas de livros, como por exemplo o do Lucio Costa, e um usuário poderia ir assim, caminhando e sentando, descobrindo e desfrutando partes destes livros, que fariam do estar urbano uma descoberta cotidiana.

Como devem ser as cidades históricas: uma descoberta nova a cada dia.

Como penso ser Brasília agora.

1 – Minha última ida a Brasília havia sido em 1991 por ocasião da premiação do Concurso do Pavilhão de Sevilha no Itamaraty.
2 – Na realidade nosso primeiro concurso em Brasília foi para a sede do CONFEA em 1996, em associação com Ângelo Bucci.
3 – Realizado em parceria com Luciano Margotto. Neste concurso obtivemos uma menção honrosa.
4 – Neste concurso obtivemos o quinto lugar.
5 – Neste concurso obtivemos o terceiro lugar.
6 – Em associação com MRGB arquitetos;
7 – Realizado em 2018, associado aos escritórios Burgos&Garrido (Espanha), Arquipélago, Eduardo Gianni e Ornaghi Paisagismo, quando obtivemos uma menção honrosa.


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por gruposp (gSP)

MDC – Como você contextualiza essa obra no conjunto de toda a sua produção?

gSP – Sem dúvida é uma das nossas obras mais importantes. Por sua escala, por seu programa institucional e público e por estar em Brasília, o que é um sonho para nós arquitetos: ter uma obra em Brasília.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

gSP – Foi por meio de um concurso público organizado pelo IAB-DF em 2008. O concurso foi realizado em duas etapas. Na primeira etapa eram entregues 6 pranchas A3, todas previamente diagramadas pelo termo de referência do concurso, o que é interessante por equalizar as propostas e facilitar a comparação. A segunda fase teve três participantes e cada proposta deveria ser apresentada em 8 pranchas A0 com um modelo. O coordenador deste concurso foi o arquiteto Haroldo Pinheiro que organizou de forma precisa e rigorosa.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Você destacaria algum momento significativo do processo?

gSP – Este projeto – realizado pelo gruposp arquitetos em associação com o arquiteto Luciano Margotto –culmina uma genealogia de projetos iniciada em 2004 com o Museu do Ouro em Sabará, passando pela Casa do Querosene, pela Nova Sede do IPHAN em Brasília, além do projeto para Sede da CAPES em Brasília, Habitação Social em Manaus e os primeiros estudos para o Edifício Simpatia.

Nestes projetos a ideia principal foi de concentrar todos os serviços em faixas infraestruturais de modo a permitir a liberação de vazios amparados para a vivência. Estas faixas são simultaneamente os componentes estruturais que se constituem em características expressivas e protagonistas da arquitetura proposta.

Outro aspecto relevante é a manutenção da leitura do sítio original a partir de uma implantação que não obstrua a possibilidade de situar-se no território, permitindo a visualização da cidade a partir dos espaços internos.

O terreno situa-se junto ao eixo rodoviário-habitacional, próximo à área das embaixadas no lado sul da cidade de Brasília, na continuidade do eixo comercial da superquadra, apresentando esta declividade típica de Brasília, situada junto ao vale que se lança em direção ao Lago Paranoá. O conceito do projeto era manter livre o chão de Brasília como uma continuidade deste solo público, a partir das superquadras habitacionais. Teríamos dois térreos: um superior e outro inferior onde situam-se os programas mais coletivos e abertos ao público externo do SEBRAE.

No térreo superior temos apenas os espaços de acolhimento e acessos. Dois espelhos d’água garantem um microclima interno mais agradável, importante em uma cidade como Brasília. Importante destacar a questão climática. Como se sabe temos um clima que permite pensar e fazer uma arquitetura mais aberta. No caso do SEBRAE os elevadores e escadas estão sempre relacionados com os espaços externos, reforçando aspectos característicos da arquitetura brasileira.

Finalmente nos dois últimos pavimentos – uma estrutura aérea metálica que paira sobre este chão e conforma um pátio interno central – estão os escritórios, ocupando planos abertos e flexíveis, conformado pela estrutura metálica que se vincula com os castelos infraestruturais de concreto.

Nos cortes é possível compreender a relação do edifício com a topografia que permite a organização do programa. Além disto destacamos alguns elementos estruturais: as varandas são lajes atirantadas em vigas que vencem o vão de 36 metros. Isto foi realizado para evitar colunas que interferissem nos programas do térreo inferior, como o auditório, por exemplo. Outro elemento importante é o que chamamos de “nuvem? uma estrutura de aço e vidro que abriga a circulação de pedestres no térreo do edifício.

Outra ideia a ser destacada é a concepção da sequência construtiva. Temos uma estrutura de concreto até o nível dos escritórios e depois uma construção por montagem a partir deste nível quando começa a estrutura de aço. Imaginou-se uma sequência construtiva desta forma: primeiro todos os elementos de concreto, em seguida a estrutura metálica e as lajes, e, finalmente, os fechamentos metálicos e vidros.

Apesar de claramente possível, em função do tempo de 18 meses para execução, ela foi feita de maneira simultânea. A obra foi bem realizada apesar dos percalços de um processo que levou três anos entre o concurso e a conclusão da obra.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, pode comentar as mais importantes?

gSP – Os projetos de arquitetura são marcados pela interlocução entre as múltiplas disciplinas que, no final, viabilizam a realização do projeto e a execução da obra. Nesse sentido, claro que ocorreram ajustes ao longo do processo, desde aspectos legais relacionado a aprovação do projeto pelo GDF (Governo do Distrito Federal) até questões específicas de instalações gerais. Mas é o projeto estrutural que mais solicitou ajustes, apesar de termos trabalhados com os engenheiros (Zaven & Fruchtengarten) desde a concepção do projeto na primeira e segunda etapas do concurso. Mas é interessante destacar que a obra mantém muita semelhança em relação ao projeto apresentado na segunda etapa do concurso.

MDC – Os autores dos projetos tiveram participação no processo de construção/implementação da obra? Se sim, quais os momentos decisivos dessa participação?

gSP – Por solicitação do SEBRAE prestamos um serviço de acompanhamento da obra (não se tratou de uma fiscalização, para a qual foi contratado um engenheiro, mas uma assessoria técnica à realização da obra). Realizamos 52 visitas à obra (que compreende o período de março de 2009 até novembro de 2010). As visitas eram quase que quinzenais e organizadas por pautas previamente estabelecidas a partir dos relatórios elaborados pela arquitetura e a partir de demandas da fiscalização ou da própria construtora.

MDC – Você destacaria algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

gSP – Os relatos (e agradecimentos) dos usuários nas visitas realizadas após a ocupação do edifício sempre foram o que mais nos emocionou. Por exemplo, a possibilidade de funcionários que antes não se encontravam ou se viam, agora podiam ter esta experiência, promovida pela arquitetura.

Outra história legal é que o interesse de visitação do edifício, sobretudo por parte de arquitetos e estudantes de arquitetura, fez com que o SEBRAE criasse um programa de visita guiada, com uma publicação e criação e uma vaga de trabalho para esta finalidade.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, faria algo diferente?

gSP – Provavelmente sim, afinal de contas como nos lembra Heráclito, não somos os mesmos arquitetos depois de 15 anos. Na realidade, esta questão do tempo da obra – os tempos da arquitetura – faz os arquitetos continuamente repensarem o que estão fazendo. Afinal de contas, quando fica pronta a obra, diz respeito a uma ideia de outro momento passado, como uma espécie de cápsula do tempo. Se não temos esta noção, dificilmente podemos fazer as revisões críticas necessárias para seguirmos adiante, contribuindo para o avanço disciplinar de nossa atividade.

MDC – Como você contextualiza essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

gSP – É uma obra representativa por advir de um concurso público bem-sucedido. Houve também algumas premiações, mas estas são consequências de um trabalho bem realizado.


projeto executivo


PARTE 1:
CONCURSO ETAPAS 1 E 2

25 pranchas (pdf).
40,27mb


PARTE 2:
ANTEPROJETO

12 pranchas (pdf).
10,67mb


PARTE 3:
PROJETO LEGAL

12 pranchas (pdf).
9,47mb


PARTE 4.1:
PROJETO EXECUTIVO – 01
PLANTAS E IMPLANTAÇÃO + CORTES E ELEVAÇÕES

71 pranchas (pdf).
61,48mb


PARTE 4.2:
PROJETO EXECUTIVO – 02
PISO, FORRO E ELÉTRICA + DETALHES

23 pranchas (pdf).
35,05mb


PARTE 4.3:
PROJETO EXECUTIVO – 03
ÁREAS MOLHADAS, AMPLIAÇÕES,
ESQUADRIAS, AUDITÓRIO E OUTROS


96 pranchas (pdf).
83,89mb


PARTE 5:
COMUNICAÇÃO VISUAL

37 pranchas (pdf).
27,61mb


localização e ficha técnica do projeto

Local: Brasília, DF
Ano de projeto: 2008
Ano de execução e conclusão da obra: 2009 e 2010
Área do Terreno: 10.000,00 m²
Área Construção: 25.000,00 m²
Concurso Nacional: 1º Prêmio
Arquitetura, Comunicação Visual, Ambientação e Mobiliário: Alvaro Puntoni, João Sodré, Jonathan Davies, Luciano Margotto.
Colaboração: Amanda Spadotto, Cristina Tosta, Camila Obniski, Daniela Pochetto, Fabiana Cyon, Flavio Castro, João Carlos Yamamoto, José Paulo Gouvêa, Juliana Braga, Luis Cláudio Dias, Roberta Cevada, André Nunes, Julia Valiengo, Julia Caio, Isabel Nassif, Rafael Murolo, Rafael Neves, Raphael Souza


Estrutura: Jorge Zaven Kurkdjian, Julio Fruchtengarten
Paisagismo: Fernando Magalhães Chacel, Sidney Linhares
Luminotécnico: Ricardo Heder
Hidráulica / Elétrica: Wang Mou Suong, Ulisses Tavano, Roberto Chendes
Climatização: Eizo Kosai, Thermoplan Engenharia Térmica Ltda.
Eco-eficiência: Luis Carlos Chichierchio, Juliette Haase de Azevedo
Automação / Segurança predial / Áudio e Vídeo: Roberto Luigi Bettoni, Aires Craveiro, Victor Vainer
Transporte Vertical: Moacyr Motta
Impermeabilização: Virginia Pezzolo
Contenções: Engedat Consultoria e Projeto Ltda
Caixilhos: Andre Mehes, Dinaflex Ltda.
Orçamento: Mauro Zaidan, Nova Engenharia Ltda.
Painel Artístico: Ralph Gehre
Maquete: Gaú Manzi, Fabio Gionco, José Paulo Gouvêa
Construção: Termoeste SA Construções e Instalações

Fotos: Nelson Kon e Pedro Kok
Contato: contato@gruposp.28ers.com


galeria


colaboração editorial

Renan Maia

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PUNTONI, Alvaro. SODRÉ, João. DAVIES, Jonathan. MARGOTTO, Luciano. “Sede SEBRAE NACIONAL”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., ago-2023. Disponível em //www.28ers.com/2023/08/25/sede-sebrae-nacional/ . Acesso em: [incluir data do acesso].


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