Desenho do ch茫o – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com Mon, 14 Oct 2024 22:23:04 +0000 pt-BR hourly 1 //i0.wp.com/28ers.com/wp-content/uploads/2023/09/cropped-logo_.png?fit=32%2C32&ssl=1 Desenho do ch茫o – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com 32 32 5128755 Desenho do ch茫o – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2024/09/27/casa-em-cunha/ //28ers.com/2024/09/27/casa-em-cunha/#respond Fri, 27 Sep 2024 13:59:54 +0000 //28ers.com/?p=18077 Continue lendo ]]> Por Arquipélago Arquitetos
11 minutos

Casa em Cunha (texto fornecido pelos autores)

A casa está localizada no sertão de Cunha, interior de São Paulo, em uma região serrana conhecida tradicionalmente pela cultura em cerâmica.

Fotografia: Federico Cairoli

O partido da casa provém de sua implantação no alto do morro da paisagem, buscando as melhores vistas de todo o oblíquo terreno e da Serra, ao fundo.

Implantação, Planta Térreo e Cortes


Para proteger a casa dos ventos frios, foi feito um corte de 1 metro de terra a fim de semienterrá-la, até a altura das bancadas das áreas de serviços. Desse corte surgiu todo recurso construtivo para a execução das paredes da casa: a terra.

Esquemas construtivos

As paredes principais da casa são feitas em taipa, tecnologia antiga revisitada de forma contemporânea: foi proposto um sistema de fôrmas autêntico que evitasse perfurações com cabodás e desenvolvesse um canteiro de obras mais eficiente, de maneira que seus componentes modulados pudessem ser desmontados e remontados com facilidade.

Essa técnica construtiva nos proporcionou encontros interdisciplinares: física, química, geologia e geografia ampliaram o entendimento sobre a paisagem onde propusemos a casa.

Todas as características de dureza, inércia térmica, cor, brilho, tatilidade, são fatores decorrentes das características físicas e químicas daquele solo específico.

O restante das paredes é feito com tijolos cor palha, terra queimada, por uma olaria local que retira barro rico em alumínio das regiões de várzea de um riacho.

A casa possui quartos voltados para norte e uma sala a noroeste buscando esquentar seus ambientes de permanência no inverno rigoroso. Há na sala uma lareira e um fogão a lenha, também feitos em taipa e, ligado à varanda, no chão, um grande espaço circular para uma fogueira, feito em tijolos.

A estrutura da cobertura é uma grelha em madeira, compondo junto com o piso dois grandes planos horizontais em madeira que se distinguem dos planos verticais em terra.

Sequência Construtiva.

Buscou-se que o fato original dessa construção em um sítio isolado, selvagem, fosse um sinal máximo da chegada da presença humana na paisagem: linhas retas marcando a topografia suave.

Maquete Física.


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Luís Tavares (L.T.)

MDC – Como você contextualiza essa obra no conjunto de toda sua produção?

L.T. – A Casa em Cunha representa uma pesquisa importante no conjunto de obras do escritório. Entendemos cada projeto como uma pesquisa, na qual sempre elaboramos algumas perguntas e o percurso de desenvolvimento é, na verdade, a construção das respostas sobre cada um dos temas específicos de cada história. Em um horizonte maior, essas investigações vão formando um certo histórico, que nos permite conduzir cada processo de um modo mais contínuo, porém não linear. Na Casa em Cunha, trabalhamos pela primeira vez com tecnologias construtivas de terra e o processo de elaboração foi tão valioso e estimulante que acabamos utilizando na sequência em quatro outros projetos, pois encontrou-se o mesmo sentido da sua utilização, em diferentes contextos. Acredito que continuaremos cada vez a iniciar qualquer projeto nos perguntando sempre sobre a técnica construtiva ser em terra, a partir da Casa de Cunha.

Num contexto geográfico, esse projeto representa também o início do deslocamento das obras de Paraty para o Vale do Paraíba. Nossas obras iniciais foram quase todas em Paraty, em paisagens litorâneas, úmidas e de algum diálogo com a cidade histórica. A partir da Casa em Cunha, fomos também apresentados a uma perspectiva sobre o rural, seus modos de fazer, a serra e o vale, que nos conduziu a um novo repertório de pesquisa.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

L.T. – Contratação direta, a partir de uma publicação da Casa ML na antiga revista Arquitetura & Construção. A Casa ML é um projeto de uma casa leve, em madeira, suspensa do chão posicionada em uma clareira úmida e quente, no meio da Mata Atlântica e de difícil acesso, em Paraty. Propusemos, por isso, uma arquitetura montada a partir de peças leves de madeira e telhas termo-acústicas que coubessem na caminhonete do cliente. Apesar dos clientes da Casa de Cunha terem nos procurado pelo interesse na Casa ML, formalmente o resultado, a resposta, é bastante diferente. No entanto, as questões são similares entre os dois projetos: A Casa de Cunha também era de difícil acesso e também tínhamos que lidar com o fator climático, nesse caso o frio. A arquitetura, então, fez-se dos recursos do próprio terreno, sua terra, resultante da concepção de semienterrar o projeto, para melhorar a relação com o frio.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Você destacaria algum momento significativo do processo?

L.T. – Como jovens arquitetos lidando com demandas, recorremos por vezes à referências externas, ou seja obras já construídas de outros arquitetos que nos interessam. Em 2017, quando iniciamos o processo de projeto, de modo quase involuntário reproduzimos uma estratégia de arranjo arquitetônico de uma residência entre duas empenas cegas. Acredito que a grande inflexão, quando a casa ganhou mais autonomia como pesquisa, ocorreu quando dissolvemos uma das empenas e expandimos a casa para a paisagem, gerando novas complexidades espaciais e relacionais. O projeto nunca foi construído até o fim, pois além da casa em si, interiorizada entre empenas de taipa em diferentes orientações, havíamos projetado duas grandes empenas de 20 metros soltas na paisagem, que conduziam um percurso até a casa, controlando eixos visuais. A casa era formada pela intervenção no morro, na escala da paisagem, tudo era casa: o acesso, o percurso, o jardim, o caminho de terra batida, a sala de estar, etc.

De modo que a grande inflexão foi deixar de projetar um objeto arquitetônico contido em si mesmo, para pensar a intervenção como um gesto na paisagem.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, pode comentar as mais importantes?

L.T. – Sim, naturalmente o projeto executivo é formado por um time, que trabalha em parceria para um resultado comum. Participamos sempre ativamente no intuito de trocar experiências e conhecimento, pois sempre aprendemos muito em cada processo. O arquiteto precisa ser uma pessoa curiosa, com vontade de aprender e reaprender, continuamente.  A troca não se restringiu aos engenheiros, mas sobretudo com o excelente mestre de obras local, Carlinhos, com o qual tivemos grandes lições. A obra foi executada sem energia elétrica e sem rede de celular e, por isso, foi nossa obra mais eficiente e bem executada.

MDC – Os autores do projeto tiveram participação no processo de construção/implementação da obra? Se sim, quais os momentos decisivos dessa participação?

L.T. – O projeto executivo da Casa em Cunha nunca foi de fato entregue finalizado aos clientes antes da obra; entregamos quase tudo, mas grande parte foi “sendo entregue?durante o processo da obra, cada uma a seu tempo e com seu amadurecimento, num horizonte profissional que de modo natural buscava do próprio canteiro de obras e o contato com a cidade de Cunha, seus agentes e materialidades, a cada visita, material para informar as decisões. Foi um processo feito com bastante proximidade e cuidado, talvez no tempo certo do fazer da arquitetura.

Para as paredes de taipa de pilão, ao invés de contratar uma construtora especializada externa, conduzimos um processo de workshop formativo no canteiro de obras, que acreditamos ter um valor sobre as questões da consciência do trabalho de quem executa. Contratamos os parceiros do Materia Base, escritório carioca, para desenvolver a consultoria das taipas e a formação da equipe local. Participamos todos, inclusive os clientes, dessa formação inicial, para a montagem da primeira fôrma, os primeiros testes de traços e a primeira taipa. Foi uma experiência muito interessante, um tanto universitária, sob o ponto de vista do grupo, do aprendizado e do exercício imersivo de uma “viagem de campo? A partir dessa formação de uma semana, a equipe local desenvolveu autonomia e executou o restante da obra praticamente sozinha, recorrendo ao Materia Base apenas em momentos mais delicados, como a taipa do volume da lareira e fogão à lenha.

A frequência das visitas à obra era na ordem de uma ou duas vezes por mês e ela durou quase dois anos para ser finalizada.

MDC – Você destacaria algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

L.T. – Projetar uma residência privada sempre nos distancia um pouco da vida da edificação, a gente projeta imaginando uma vida, mas fica na nossa imagem, sonho, do que é para ser. Profissão cruel. Tivemos o prazer de conseguir passar uma noite na casa, quando fomos fazer as fotos e filmagem com o amigo Federico Cairoli. Foi quase como viver um sonho, nesse sentido da experiência real. Não temos, como arquitetos, muitas oportunidades de habitar nossos projetos residenciais: do mais banal ato de escovar os dentes, até operar um fogão a lenha e finalmente dormir e acordar com a primeira luz da manhã. Nosso sonho para esse projeto era que ele conectasse seu habitante com a natureza e o mundo real. Para entender a vibração dos materiais verdadeiros e toda a sua transformação durante a passagem do sol. Para cozinhar em um fogão a lenha no meio da sua sala de estar.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, fariam algo diferente?

L.T. – Sim, apesar de gostarmos bastante o projeto, não faz sentido cair numa rotina de repetições, do ponto de vista existencial. Nossos projetos são bastante diferentes entre si, não queremos construir uma espécie de “marca? monótona, muito pelo contrário, faz parte da nossa ciência a imaginação, e procuramos sempre buscar relações que dialoguem com cada universo de projeto, de maneira estimulante e diversa, gerando resultados específicos para cada situação espacial e temporal. Precisamos ser continuamente ativos, amadurecemos, mudamos de ideia também ao longo do percurso, reavaliamos, expandimos imaginários, estamos sempre em busca da “Ilha Desconhecida?de Saramago.

MDC – Como você contextualiza essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

L.T. – Difícil o papel de categorizar. Acreditamos que é necessário mais distanciamento temporal para entender algum tipo de panorama de uma produção nacional. Atualmente existem tantas expressões arquitetônicas interessantes e o país de dimensões continentais, acho que nunca teremos, ou até deveríamos ter um panorama circunscrito sobre a produção nacional, pois muita gente boa ficaria de fora; deveríamos ter certos horizontes comuns a serem perseguidos, por exemplo, nesse caso, obras ambientalmente menos poluentes, que acreditamos ter algo de significativo sendo proposto por parte da produção contemporânea brasileira, sobretudo nas novas gerações. 

MDC – Há algo relativo ao projeto e ao processo que gostaria de acrescentar e que não foi contemplado pelas perguntas anteriores?

L.T. – Somente torcer para que mais arquitetos se entusiasmem com técnicas construtivas com terra como matéria e que vejamos cada vez mais obras contemporâneas nesse sentido. Foi realmente uma porta de entrada para um universo muito fértil que cada vez mais faz sentido sobre pontos de vista técnico e cultural.


projeto executivo


PARTE 01:
PLANTAS

6 pranchas (pdf).
2,10mb


PARTE 2:
DETALHES E AMPLIAÇÕES

6 pranchas (pdf).
1,35mb


PARTE 3:
CORTES E ELEVAÇÕES

4 pranchas (pdf).
1,16mb


PARTE 4:
CAIXILHOS

6 pranchas (pdf).
1,53mb


PARTE 5:
MARCENARIA

17 pranchas (pdf).
3,93mb


PARTE 6:
VIGAS

2 pranchas (pdf).
0,28mb


ficha técnica

Local: Cunha, SP, Brasil
Ano de início de projeto: 2017
Ano de conclusão da obra: 2019
Área do projeto: 140 m²
Arquitetura: Luís Tavares e Marinho Velloso


Estrutura madeira:
Alan Dias – Carpinteria Estruturas
Obra:
Carlinhos


Fornecedores

Madeira: Mato Dentro
Manta TPO: Soludimper


Premiações:
2024 ?Projeto selecionado para o Mies Crown Hall Americas Prize 2024 – cycle 5, organizado pelo IIT – Illinois Institute Of Technology. Chicago.
2020 ?Projeto selecionado para a exposição AAA ?Antologia Arte Arquitetura. Galeria Fortes D’aloia & Gabriel. São Paulo.
2019 ?Projeto selecionado para a exposição 12° Bienal de Arquitetura de São Paulo.
2019 ?Projeto selecionado pelo comitê nacional ?panorama de obras da XI Bienal Iberoamericana de Arquitectura y Urbanismo. Assunção, Paraguai.
2018 ?Projeto selecionado para o VII Congresso de Arquitetura e Construção com Terra no Brasil -Território e trabalho: a produção da arquitetura com terra no Brasil. Rio de Janeiro.
2018 ?1° lugar categoria projeto residencial no prêmio IAB-SP 75 anos.


Fotos: Federico Cairoli
Contato: contato@arquipelago.co


galeria


colaboração editorial

Ana Júlia Freire

deseja citar esse post?

TAVARES, Luís. VELLOSO, Marino. “Casa em Cunha”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., set-2024. Disponível em: //www.28ers.com/2024/09/27/casa-em-cunha/. Acesso em: [incluir data do acesso].


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7 minutos

Sede da Confederação Nacional de Municípios ?CNM (texto fornecido pelos autores)

O partido adotado determina a criação de um espaço metropolitano em consonância com o contexto urbanístico da cidade como condição principal para projeto do novo equipamento. O plano de ação para a implantação da nova sede da CNM partiu de alguns pressupostos fundamentais:

– formulação de um modelo de ocupação do solo com ênfase na integração dos usuários com a paisagem construída;
– estruturação/hierarquização do térreo deve reforçar sua vocação como principal local de convergência;
– escolha de um sistema construtivo claro e racional, garantindo rapidez e economia na execução;
– adoção de estratégias que permitam o bom desempenho ambiental do edifício.

Fotografia: Leonardo Finotti

O eixo de evolução do projeto se materializa em sua extensão máxima na forma de um prisma metálico branco que flutua delicadamente sobre o embasamento de concreto. O posicionamento da lâmina busca transferir para dentro do corpo construído os visuais da paisagem, incorporando a presença do entorno ao seu uso cotidiano. A disposição dos elementos construídos é uma resposta direta à distribuição do programa no lote:

– a base abriga todas as funções coletivas, espaços destinados a acolher o público externo (salão nobre, foyer, salas de apoio), assim como espaços de estar (café);
– na lâmina metálica encontram-se as áreas de trabalho administrativo, salas de reunião e corpo diretivo;
– na cobertura, salas de reunião;
– por fim, no subsolo, garagens (2º e 3º subsolos) e um anexo destinado ao restaurante e áreas técnicas (1º subsolo).

Maquete física do CNM

O desenho do chão foi o fio condutor da proposta. Criou-se uma praça, levemente rebaixada em relação a cota média do terreno, que se desdobra em dois níveis, resultando em uma nova topografia para o lote. Na cota 1042.70 o espelho d’água orienta o percurso do pedestre rumo à recepção, configurando o acesso às áreas administrativas. Na cota inferior, inscrita na volumetria da base, encontra-se a praça cívica por onde é possível acessar o complexo do auditório. Uma escadaria conecta os dois planos, permitindo a realização de eventos de forma autônoma, sem prejudicar a rotina de trabalho administrativo.

Fotografias: Leonardo Finotti

O sistema construtivo adotado buscou conciliar necessidades de redução de custos, rapidez de execução e flexibilidade máxima para os planos de trabalho. Para tanto, toda a estrutura, forros e elementos de vedação foram rigorosamente modulados a partir de múltiplos de 1,25m. O embasamento de concreto obedece a criteriosa disposição de pilares, potencializando a disposição de vagas de estacionamento e dos demais espaços internos. A estrutura periférica da caixa metálica elimina completamente a interferência de pilares dos planos de trabalho, permitindo futuras atualizações de layout e prolongando assim a vida útil da edificação. As redes de infraestrutura e lógica distribuem-se por forros, pisos e shafts. Uma prumada central de elevadores e escadas faz a integração vertical do edifício dividindo os planos de trabalho em dois grandes planos livres.

Plantas, Cortes e Elevações

A instituição exige um edifício exemplar no que diz respeito à gestão dos recursos naturais. Nesse sentido, a estratégia de gestão ambiental foi pensada de forma a oferecer respostas abrangendo as principais esferas da sustentabilidade.

Na esfera ambiental:
– aumento do desempenho térmico da edificação, reduzindo o ganho de calor através do uso de lâminas de água nas coberturas e de cores com alto coeficiente de reflexão;
– uso de brise protegendo os planos de trabalho de incidência direta dos raios solares;
– camada de ar ventilada nas fachadas;
– ventilação cruzada em todos os ambientes, permitindo a redução do uso de ar condicionado;
– águas pluviais captadas pelos espelhos d’água, direcionadas para cisternas de armazenamento e reutilizadas posteriormente na irrigação e em vasos sanitários;
– amplo uso de iluminação natural indireta;
– no paisagismo, a escolha das espécies arbóreas nativas do cerrado, bioma onde está inserido o projeto.

Diagrama de Estratégia Ambiental

Na esfera social:
– acessibilidade universal;
– atendimento às necessidades básicas de ergonomia.
– espaços integradores viabilizando interrelações entre usuários e visitantes.

Na esfera econômica:
– modulação e uso de componentes industrializados, racionalizando a obra e reduzindo
o desperdício de materiais;
– escolha de materiais de acordo com seu ciclo de vida e facilidade de manutenção.

Fotografias: Leonardo Finotti


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Maria Cristina Motta e Luís Eduardo Loiola (Mira)

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no conjunto de toda a sua produção?

Mira – Éramos, Cris e eu, arquitetos com poucos anos de formados. O projeto da CNM reuniu um conjunto de ideias que alimentávamos desde a faculdade e é síntese desse início de percurso. Consideramos nossa obra inaugural.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

Mira – O projeto foi selecionado via concurso público de anteprojetos, organizado pelo IAB DF.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Vocês destacariam algum momento significativo do processo?

Mira – O desenho do térreo, buscando trazer para dentro do lote a dimensão pública do chão de Brasília, foi um momento importante. Pensamos em uma nova topografia, organizando as funções previstas em níveis distintos. O espaço resultante é um percurso que aos poucos revela escalas ocultas, invisíveis para quem vê o prédio da rua. Um trajeto onde as alturas se alternam e os vazios se sucedem até o interior do edifício.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros autores que modificaram as soluções originais? Se sim, pode comentar as mais importantes?

Mira – Fomos responsáveis por todo o desenvolvimento, coordenação e compatibilização do projeto de arquitetura e engenharias complementares. As modificações mais importantes surgiram logo no início do processo de desenvolvimento onde incorporamos observações da Comissão Julgadora, desejos da Instituição e ajustes para atender à legislação. As dimensões do edifício foram aumentadas para melhor acomodar as áreas de trabalho. O corte do embasamento em concreto armado foi reorganizado, tornando-o mais simples e flexível.

Como o partido estrutural e de infraestrutura fizeram parte da concepção arquitetônica desde o princípio, as engenharias complementares pouco impactaram o desenvolvimento.

MDC – Os autores dos projetos tiveram participação no processo de construção/implementação da obra? Se sim, quais os momentos decisivos dessa participação?

Mira – Fomos contratados para o acompanhamento de obra e tivemos participação ativa na implementação do edifício. Consideramos nossa participação decisiva quanto ao cuidado com o controle das especificações e em particular com a execução e tratamento para acabamento e proteção do concreto aparente.

MDC – Vocês destacariam algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

Mira – A simplicidade da solução arquitetônica resultou em um edifício sóbrio. Apesar das diversas alterações posteriores, é surpreendente como os princípios essenciais dessa arquitetura perduram no tempo.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, fariam algo diferente?

Mira – Consideramos que a resposta foi adequada ao problema e programa colocado.

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

Mira – O edifício da CNM é um dos poucos construídos no país, nos últimos 20 anos, cuja escolha do projeto se deu por meio de um concurso público de arquitetura. Consideramos todo o processo um exemplo positivo no panorama nacional, reforçando a importância dos concursos como modalidade mais democrática de licitação para a escolha de projetos públicos.


projeto executivo


EXECUTIVO SÉRIE A:
PLANTAS E CORTES

21 pranchas (pdf).
40,56mb


EXECUTIVO SÉRIE F:
AMPLIAÇÃO – BRISES

2 pranchas (pdf).
1,35mb


ficha técnica

Local: Brasília, DF
Data do projeto: dezembro de 2010
Conclusão da obra: junho de 2016
Área do terreno: 5.040 m²
Área construída: 10.488 m²
Arquitetura: Mira Arquitetos (Luís Eduardo Loiola e Maria Cristina Motta)
Colaboradores: Ana Carolina Sumares, Luís Felipe da Conceição, Marcelo Ribas, Luisa Leme Simoni, Gabriela Lira Dalsecco



Estrutura:
Kurkdjian e Fruchtengarten Engenheiros Associados
Fundações:
Mag Solos Engenheiros Associados
Instalações prediais: MHA Engenharia Ltda
Luminotécnica: Lux projetos
Caixilhos: Dinafex
Paisagismo: Gabriela Ornaghi
Construtora: Soltec Engenharia



Fotos: Leonardo Finotti
Contato: mira@miraarquitetos.com.br



Concurso Nacional de Projetos: 1º Lugar


galeria


colaboração editorial

Isabela Gomide

deseja citar esse post?

LOIOLA, Luís Eduardo. MOTTA, Maria Cristina. “Sede da Confederação Nacional de Municípios – CNM”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., abr-2024. Disponível em //www.28ers.com/2024/04/10/sede-da-confederacao-nacional-de-municipios-cnm. Acesso em: [incluir data do acesso].


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