Ita Construtora – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com Mon, 29 Apr 2024 14:20:08 +0000 pt-BR hourly 1 //i0.wp.com/28ers.com/wp-content/uploads/2023/09/cropped-logo_.png?fit=32%2C32&ssl=1 Ita Construtora – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com 32 32 5128755 Ita Construtora – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2024/03/01/casa-dos-cajueiros/ //28ers.com/2024/03/01/casa-dos-cajueiros/#respond Fri, 01 Mar 2024 14:07:41 +0000 //28ers.com/?p=15486 Continue lendo ]]> Por Galeria + Terra Capobianco
9 minutos

Casa dos Cajueiros (texto fornecido pelos autores)

A Casa dos Cajueiros, na Praia Vermelha do Sul em Ubatuba, localiza-se em frente à faixa de marinha e sua implantação discreta não se revela de imediato aos banhistas. A frente do lote ?com 33 metros de largura e 80 metros de profundidade – é ocupada por troncos tortuosos e ramos irregulares, resguardando a casa entre a luz e a sombra das copas dos cajueiros.

Fotografia: Nelson Kon

A estratégia para ocupação do terreno foi tirar partido do intervalo entre as copas das árvores. A ocupação é térrea e estruturada a partir de um eixo claro de circulação que conecta a área social à íntima.

Plantas e Cortes

A residência está implantada em quatro cotas de níveis. A cota mais baixa e próxima à faixa de marinha concentra a área social, de lazer e serviço. Na mesma cota um volume anexado à casa foi cuidadosamente implantado próximo ao acesso da praia, abrigando a sauna e o depósito de pranchas.

Distribuídas ao longo de um corredor de 33 metros de comprimento, as seis suítes são implantadas permitindo um intervalo entre elas. As suítes ganham varandas que acessam pátios privativos. O desnível do terreno é vencido suavemente por degraus ao longo do corredor tornando a transição quase imperceptível.

Isométrica – Esquema de Implantação

Os pisos construídos sempre acima do nível do terreno natural previnem a possibilidade de umidade ascendente. Empenas de concreto pigmentado em tom rosado definem os módulos dos dormitórios. O limite entre o dentro e o fora se dá pela pele de veneziana em ripas verticais.

Fotografias: Nelson Kon

A estrutura da Casa dos Cajueiros, embora convencional em sua estrutura de base, com laje de piso armada, e pilares e empenas de concreto, ganha eficiência no sistema de montagem da cobertura. Foram necessários apenas 45 dias para montar 800 m2 de estrutura em madeira laminada colada de eucalipto. Além de reduzir o tempo de obra o sistema não gera resíduos, a estrutura vem pré-fabricada necessitando apenas de parafusos para sua montagem.

Isométrica – Esquema de Estrutura

Para os módulos dos dormitórios foi utilizada uma estrutura mista de vigas de madeira laminada colada e placas de painel wall.

Na área social, placas de 12 centímetros de espessura e 30 centímetros de largura vencem 7,30 metros de vão entre 2 apoios e permitem 2,10 metros de balanço. As placas são intertravadas formado uma grande laje fortemente caracterizada pelas múltiplas tonalidades de lâminas de eucalipto. Em seu outro sentido o resultado é um espaço contínuo de 19 metros livre de apoios.

Para proteger a estrutura de madeira das intempéries, o arremate da impermeabilização se dá com tábuas de sacrifício, preservando assim a linguagem dos planos de madeira projetados pela arquitetura.

Fotografias: Nelson Kon

Foram adotadas diversas estratégias de design passivo para garantir conforto ambiental aos usuários, a começar pela abundante presença de janelas piso teto que garantem renovação de ar constante e iluminação natural.

A área social se abre 180 graus para a paisagem do entorno e beirais generosos protegem os caixilhos além de promoverem sombreamento. Os ambientes anexados à área social, como cozinha e sala de TV, ganham ventilação cruzada, já os espaços mais isolados de serviço contam com ventilação noturna através das venezianas e banheiros com ventilação permanente por claraboias.

As suítes têm variações de insolação, as varandas privativas são face leste ou oeste e as janelas laterais norte ou sul. Para barrar a insolação na face norte dos dormitórios venezianas se abrem horizontalmente formando um beiral. Já as faces leste e oeste contam com as venezianas verticais que filtram a luz solar direta, resultando em efeito suave de luz e sombra.

Fotografias: Nelson Kon

A área de cobertura mais exposta ao sol recebeu manta de impermeabilização branca para refletir a radiação solar, e uma camada generosa de lã de rocha, além de proteção térmica, garante conforto acústico em todos os ambientes da residência.


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Ana Terra (A.T.)

MDC – Como você contextualiza essa obra no conjunto de toda a sua produção?

A.T. – A Casa dos Cajueiros foi o projeto inaugural do meu escritório, o primeiro projeto autoral construído do zero onde pude pôr em prática os anos dedicados à minha formação como arquiteta, tanto na Escola da Cidade quanto no mestrado em eficiência energética e sustentabilidade que fiz em Londres, na Architectural Association.

A Casa dos Cajueiros também foi o primeiro projeto realizado em coautoria entre os escritórios Terra Capobianco e Galeria arquitetos, uma parceria bem-sucedida que rendeu muito outros projetos.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

A.T. – A contratação para o projeto, por se tratar de uma residência unifamiliar, ocorreu de forma direta.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Você destacaria algum momento significativo do processo?

A.T. – A concepção do projeto aconteceu a partir de uma leitura cuidadosa das condições originais do terreno. Já na primeira visita entendemos que a implantação deveria acontecer em diferentes níveis e de forma longitudinal aproveitando o exuberante entorno repleto de arvores e, principalmente, chegando o mais perto possível da faixa da marinha, marcada pela presença da areia e dos troncos tortuosos dos cajueiros.

Quando recebemos o levantamento planialtimétrico, confirmamos a hipótese da implantação no intervalo entre as copas das árvores e projetamos uma casa distribuída no terreno a partir de um eixo claro de circulação, onde cada suíte pudesse ter um pátio privativo com jardim para contemplar. A área social por sua vez, ao contrário do aspecto mais intimista das suítes, é ampla e envidraçada, integrada com os cajueiros e com o Jundu, vegetação nativa de grande importância para a preservação da praia.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa das autoras? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, pode comentar as mais importantes?

A.T. – A participação das autoras foi ativa em todas as etapas do projeto, principalmente ao elaborar o partido construtivo que contou com a colaboração do [engenheiro] Hélio Olga. Juntos, chegamos à conclusão que executar uma laje de madeira seria uma solução inovadora e alcançaríamos o resultado estético que quereríamos: uma cobertura plana, de estrutura aparente e sem revestimentos, sem dúvida a expressão mais marcante do projeto arquitetônico.

Por seu custo elevado, optamos em trabalhar com a laje de madeira apenas na área social, para vencer os vãos maiores. Nos outros ambientes, trabalhamos com o sistema mais comum de vigamento em MLC apoiando placas painel wall, assim pudemos viabilizar a estrutura de cobertura da residência.

MDC – As autoras do projeto tiveram participação no processo de construção/implementação da obra?

A.T. – O acompanhamento de obra foi quinzenal e determinante para a boa execução do projeto. Embora o projeto tenha ido muito bem detalhado para a obra, é no diálogo constante com os fornecedores, construtores e clientes que algumas decisões são tomadas mudando o resultado da concepção original.

Um exemplo foi a testeira de madeira que originalmente seria revestida de Trespa – material holandês de alta durabilidade usado na fabricação das venezianas. A Trespa teria a função de proteger a madeira da ação do tempo. Quando a estrutura da cobertura estava toda montada, a testeira apareceu de forma expressiva, marcante demais para ser recoberta, a solução foi revestir com uma tábua de sacrifício fabricada em MLC para garantir a permanência do material tão importante para o resultado estético da cobertura da Casa dos Cajueiros.

MDC – Você destacaria algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

A.T. – A Casa dos Cajueiros está localizada na Praia Vermelha do Sul, também conhecida como Praia dos Arquitetos, num contexto exclusivamente residencial. O condomínio é tido como ecológico pois mantém um código de ética urbanística nas construções sem muros e na preservação do Jundu; graças a preservação da mata nativa a praia, vista do mar, parece desabitada.

Dentro desse contexto, a Casa dos Cajueiros foi implantada para ser discreta, é térrea e se desenvolve acompanhando a topografia original do terreno, característica que consideramos assertiva em meio a costeiras arborizadas, onde o que deve se destacar é a mata preservada e não a arquitetura das residências.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, faria algo diferente?

A.T. – Acredito que cada oportunidade é única e que devemos aproveitar a experiencia como um aprendizado; faremos diferente em um próximo projeto.

MDC – Como você contextualiza essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

A.T. – Essa obra se contextualiza no panorama das construções projetadas em madeira laminada colada no Brasil, um sistema construtivo que vem ocupando um espaço cada vez maior principalmente por suas características de sustentabilidade, por ser um material renovável e de baixo consumo energético, baixa emissão de carbono no seu processo de produção, dentre tantas outras vantagens, como a agilidade e precisão em seu sistema de montagem, otimizando o tempo de obra e gerando menos resíduos no canteiro.


projeto executivo


PARTE 1:
PLANTAS E CORTES

8 pranchas (pdf).
5,70mb


PARTE 2:
LUMINOTÉCNICO + PLANTA DE FORRO + DETALHE PISO

7 pranchas (pdf).
6,64mb


PARTE 3:
DETALHAMENTO E AMPLIAÇÃO DE ÁREAS MOLHADAS

12 pranchas (pdf).
13,00mb


PARTE 4:
CAIXILHOS + PORTAS

18 pranchas (pdf).
12,40mb


PARTE 5:
RELAÇÃO DE FOLHAS + MEMORIAL DESCRITIVO

27 pranchas (pdf).
0,59mb


ficha técnica

Local: Praia Vermelha do Sul, Ubatuba, SP
Ano de projeto: 2016
Ano de conclusão: 2019
Área do terreno: 2.538,80 m²
Área construída: 792 m²
Arquitetura: Ana Terra Capobianco e Fernanda Neiva
Colaboradores: Liliane Nambu


Construtora:
Pitta Arquitetura e Engenharia
Paisagismo: Giardino Planejamento de exteriores
Cálculo estrutural em concreto:
Leão e Associados
Consultoria em concreto: Gabriel Regino
Estrutura em madeira: Ita Construtora
Projeto de Instalações: Ramoska e Castelani
Projeto de ar condicionado: Thermoplan
Projeto de luminotécnica: Lux Projetos


Fornecedores
Estrutura de Madeira ?Ita Construtora
Caixilhos ?Tecnosystem
Piso de concreto ?Concresteel
Tratamento de concreto ?Topseal
Impermeabilização ?Omnitrade
Revestimento de fachada ?Trespa
Lareira e coifas ?Construflama
Sauna ?Nordic
Pastilhas ?Jatobá
Revestimento de pedra (banheiros) – Palimanan
Marcenaria ?Marcenaria GM ?móveis e esquadrias
Ar condicionado – Reclima
Luminárias: Reka Iluminação, Lumini, Itens
Mobiliário ?Dpot, Taúna, Carlos Motta, Etel, Nani Chinellato


Fotos: Nelson Kon
Contato: contato@terracapobianco.28ers.com | contato@galeria.28ers.com


Premiações:
Vencedor 1º Lugar da Categoria Residencial (Edificação) do 7º Prêmio Saint-Gobain de Arquitetura-Habitat Sustentável;
Indicação ao prêmio MCHAP ?Mies Crown Hall Americas Prize ?New Architecture in a New World;
Indicação ao Building of the Year 2020 – Archidaily;
Indicação ao International Prize for Sustainable Architecture Fassa Bortolo;
Indicação pelo IAB para ser 1 dos representantes brasileiros na Bienal Panamericana de Arquitectura de Quito;
Indicação ao 3º Prêmio Oscar Niemeyer de Arquitetura Latino-Americana, On Prize;
Exposição Na Prática na Escola da Cidade;
Exposição 1×1 na Escola da Cidade;
Exposição 1×1 na Universtà Iuav di Venezia.


galeria


colaboração editorial

Renan Maia

deseja citar esse post?

NEIVA, Fernanda. CAPOBIANCO, Ana Terra. “Casa dos Cajueiros”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., mar-2024. Disponível em //www.28ers.com/2024/03/01/casa-dos-cajueiros. Acesso em: [incluir data do acesso].


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//28ers.com/2024/03/01/casa-dos-cajueiros/feed/ 0 15486
Ita Construtora – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2023/10/26/casa-dos-terracos-circulares/ //28ers.com/2023/10/26/casa-dos-terracos-circulares/#respond Thu, 26 Oct 2023 12:07:51 +0000 //28ers.com/?p=14242 Continue lendo ]]> Por Denis Joelsons
8 minutos

Casa dos Terraços Circulares (texto fornecido pelos autores)

A casa dos terraços circulares é parte de um jardim projetado para o desfrute do bosque de mata atlântica.

Fotografia: Pedro Kok

Seu terreno, situado em um fundo de vale, não oferece um horizonte marcante. Nele, a paisagem é o grande espaço delineado pela copa das árvores. Confrontando a pendente natural do lote com as clareiras existentes, estabelecemos patamares em meio-nível.

Croqui do autor e Planta de cobertura

A casa se organiza nestes platôs, através de seu corte longitudinal, com usos coletivos mais próximos à rua e usos privativos mais próximos da divisa.

Cortes Longitudinais

Fotografias: Pedro Kok

O movimento estabelecido pelo desenho do chão garante o caráter espacial dos diferentes ambientes da casa, com seus pés-direitos variando em relação à cobertura horizontal.

Fotografias: Rodrigo Fonseca (com drone, no centro) e Pedro Kok

Uma varanda suspensa cobre a garagem e espelha a cota dos dormitórios – disposição onde a arquitetura ecoa a geografia do vale.

Fotografias: Pedro Kok

A geometria da casa é ortogonal, compatível com sua estrutura pré-fabricada em madeira. A geometria do jardim é estabelecida por curvas, buscando a melhor forma estrutural para os muros de arrimo e o encaixe adequado entre as árvores. Todos os ambientes possuem pelo menos dois acessos, reafirmando a ideia de percurso circular.

Plantas Térreo e Pavimento Superior

A contenção formal da casa contrasta com o perfil movimentado dos terraços circulares, sugerindo uma inversão da relação tradicional de subserviência entre embasamento e edificação. Neste caso, a regularidade da cobertura é o que suporta a variedade do desenho do chão.

Cortes Longitudinais

Cortes Transversais


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Denis Joelsons (D..J.)

MDC – Como você contextualiza essa obra no conjunto de toda a sua produção?

D.J. – A casa dos terraços circulares é a materialização mais importante de minha trajetória até então. Ela incorpora reflexões de outros projetos e tem uma dimensão que me permitiu explorar espacialmente o percurso através da variação sucessiva nas proporções de diferentes ambientes. Este trabalho também marca um momento em minha produção em que tive segurança para propor elementos que não se justificam pelo critério estreito de sua funcionalidade ou de sua necessidade prática. É o caso da fachada translúcida que delimita a varanda e também dos muros de pedra que compõem os terraços circulares. Assumi critérios plásticos e argumentos mais subjetivos.

Penso que esta casa compõe uma trilogia com a casa da meia encosta (2013) e com a casa diorama (não construída, 2022). São casas onde o partido arquitetônico está diretamente atrelado a uma concepção paisagística. Uma abordagem muito semelhante em contextos completamente distintos pode ser vista nos três projetos.

A casa da meia encosta lida com a paisagem monumental da Mantiqueira, tem uma condição de mirante. A implantação tira proveito de um terrapleno preexistente e o desenho da cobertura inclinada enquadra um segmento específico da paisagem e está referenciado nessa geografia. O corte transversal é a síntese desse projeto.

A casa dos terraços circulares está na baixada de um vale, em um condomínio de casas. A paisagem foi construída através de platôs. A variação dos níveis engendra na escala da casa a confluência espacial característica do vale. A ordenação dos ambientes está estruturada no corte longitudinal.

A casa diorama se assenta em uma planície um tanto descampada. É uma casa pátio, onde a porção contida da paisagem oferece um contraponto de escala para um trio de grandes árvores que balizou o desenho do muro e de suas aberturas. Aqui a noção de percurso e a graça na sucessão dos espaços depende sobretudo do desenho da planta.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

D.J. – Foi por contratação direta, inicialmente o cliente planejou uma concorrência entre três estudos preliminares. Preparei a primeira apresentação de forma bem persuasiva. Até onde sei, fui o primeiro a apresentar e com o início da pandemia anunciado, decidiram seguir comigo antes da contratação dos estudos concorrentes.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Você destacaria algum momento significativo do processo?

D.J. – Depois de visitar o terreno, com o levantamento topográfico e arbóreo em mãos, especulei um pouco sobre a implantação da casa. A implantação é sempre a decisão mais importante. Logo cheguei à conclusão de que a posição da casa não deveria ser condicionada pelas clareiras existentes. A casa precisava ocupar o limite legal do fundo do lote, a porção mais alta do terreno, para incorporar o espaço delimitado pelas copas das árvores e aproveitar entrada de luz da maior clareira. Essa decisão orientou todas as outras.

O projeto passou por dois ajustes que não implicaram em nenhuma mudança de partido. O cliente pediu uma sala um pouco maior, que foi atendida com o acréscimo de 120cm no comprimento da casa. O ajuste mais trabalhoso foi fruto de um erro grande no levantamento topográfico. O jardim teve de ser inteiramente redesenhado e duas árvores acabaram ficando dentro da área dos terraços. O ajuste de cota das raízes foi feito através de um banco em um caso e de um fosso com grade em outro.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa do autor? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, pode comentar as mais importantes?

D.J. – Houve a colaboração do Hélio Olga e do Vinicius Barreto, da Ita construtora. Um ajuste na emenda da viga longitudinal permitiu a remoção de um pilar que eu havia previsto entre os ambientes de estar e jantar. A Ita também exigiu que a varanda externa fosse coberta, para garantir a durabilidade da madeira. No estudo preliminar eu havia pensado apenas em um pergolado.

MDC – O autor do projeto teve participação no processo de construção/implementação da obra?

D.J. – Durante a obra realizei visitas semanais, ocasionalmente duas vezes na mesma semana. Ajustes pontuais atenderam às contingências da obra. Adequando os desenhos através do diálogo com a mão de obra.

MDC – Você destacaria algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

D.J. – Inicialmente a casa foi pensada como uma casa de veraneio, logo após a sua conclusão os clientes decidiram mudar-se definitivamente para lá e alugaram o apartamento em que moravam em São Paulo. Um dos clientes é fotografo e a casa e o jardim também têm sido muito utilizados em locações publicitárias. Curiosamente o catering é montado no espaço da garagem. Algumas das filmagens que vi utilizam o espaço do jardim, da varanda e da cozinha.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, faria algo diferente?

D.J. – Enfrentando a mesma demanda e as mesmas condicionantes não, mas quando me deparei com a casa diorama, que tem uma dimensão parecida, pensei em outras soluções para as esquadrias e adotei o módulo de 125cm ao invés do de 60cm. Sem as restrições impostas pela legislação, um pequeno acréscimo na largura dos quartos seria possível e bem-vindo.

MDC – Como você contextualiza essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

D.J. – Em primeiro lugar, atualmente a arquitetura brasileira já é uma produção de exceção e muito pequena no cenário da construção civil. Neste recorte ainda estamos tratando de uma residência privada. No contexto da nossa arquitetura contemporânea eu penso que a casa dialoga com outras práticas atentas aos processos construtivos no canteiro de obras e anteriores a ele. Obras mais leves e grosso modo menos artesanais, preocupadas em dirimir de algum modo o impacto ambiental da construção civil.

Neste cenário é comum que o desenho da estrutura assuma protagonismo e por vezes incorpore peripécias técnicas de caráter demonstrativo. Muitas obras em estrutura pré-fabricada em madeira ou aço são concebidas como objetos autorreferentes, resolvidos internamente. Acredito que o mérito da casa dos terraços circulares está mais ligado à interpretação propositiva das características do local e de suas qualidades espaciais do que a questões de sua materialidade ou construção. Gosto de pensar que é impossível apresentar a casa dissociada de seu contexto, como objeto ela não se sustenta. Também penso que a reaproximação entre arquitetura e paisagem (inclusive urbana), sem que haja subserviência de uma disciplina à outra, é algo desejável para a nossa prática hoje.

MDC – Há algo relativo ao projeto e ao processo que gostaria de acrescentar e que não foi contemplado pelas perguntas anteriores?

D.J. – Acredito que cobrimos bem o processo de concepção da casa.


projeto executivo


PARTE 1:
PLANTAS E CORTES + DECK TERRAÇO E COBERTURA

10 pranchas (pdf).
8,50mb


PARTE 2:
MARCENARIA + ESQUADRIAS + PORTAS + BANHEIROS

21 pranchas (pdf).
13,40mb


PARTE 3:
DETALHAMENTO ZENITAIS + LAREIRA + ESCADAS

5 pranchas (pdf).
3,02mb


PARTE 4:
ELÉTRICA

4 pranchas (pdf).
4,04mb


ficha técnica

Local: Cotia, SP
Ano de projeto: 2020
Ano de conclusão: 2022
Área do terreno: 1.334 m²
Área construída: 253 m²
Arquitetura: Denis Joelsons
Colaboradores: João Marujo e Gabriela da Silva Pinto


Construção (obra civil):
Caio Martinez
Projeto de instalações:
Renan de Sousa
Estrutura de Madeira: Ita Construtora
Execução dos muros de pedra: Bizarri Pedras
Piso cerâmico: Gail
Execução das esquadrias de madeira e deck: Zé Madeiras
Venezianas de vidro: Persolly
Luminárias: Reka


Fotos: Pedro Kok e Rodrigo Fonseca (Drone)


galeria


colaboração editorial

Renan Maia

deseja citar esse post?

JOELSONS, Denis. “Casa dos Terraços Circulares”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., out-2023. Disponível em //www.28ers.com/2023/10/26/casa-dos-terracos-circulares. Acesso em: [incluir data do acesso].


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