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9 minutos

Casa Vila Matilde (texto de Francesco Perrotta-Bosch | 2015)

É preciso avisar de antemão: este não é um projeto feito por caridade. Nem se encaixa a definição de habitação social. De fato, a história da casa na Vila Matilde restitui algo de elementar à arquitetura.

Fotografia: Terra e Tuma

Um então distante conhecido de Danilo Terra consultou o arquiteto sobre a possibilidade de reformar a casa onde sua mãe residia há 25 anos. Morava em um trecho do bairro de Vila Matilde, na zona Leste de São Paulo, oriundo de um antigo loteamento – uma vizinhança repleta de casas modestas, mas atendidas pelos serviços básicos de infraestrutura. Naquele ano de 2011, mãe e filho tinham dois cenários em mente: um projeto de reforma da casa ou sua venda para a compra de algum apartamento.

Situação

Danilo e Pedro Tuma, seu sócio no escritório, foram visitar a residência existente e constataram uma complicada situação: incontáveis rachaduras e infiltrações nas paredes; ampliações feitas ao longo dos anos sem qualquer ordenamento; faltavam janelas e aberturas que permitissem a entrada de ventilação e iluminação naturais nos ambientes internos. Era inviável o reaproveitamento da estrutura que lá havia. Embora insalubre, a senhora de 74 anos não fazia esforço para sair da velha casa. Por mais que o primogênito reconhecesse as condições ruins de moradia da matriarca, também percebia o quão negativo seria tirá-la da vizinhança onde há décadas estava estabelecida sua rotina.

Fotografias: Terra e Tuma

Assim, decidiram demolir a casa existente para edificar uma nova no mesmo terreno. As economias guardadas por esta senhora nas décadas de prestação de serviços domésticos eram na ordem de 100 mil reais. “Seria possível com este valor construir uma casa térrea para a mãe?”, questionava o filho aos arquitetos. “Tem que ser possível”, pensou a dupla do escritório Terra e Tuma. Ao apresentar seus projetos anteriores de residências, suas referências e sua ideia de arquitetura, eles esclareceram aos clientes que o limite para o orçamento era baixo, mas era viável.

Fotografia: Terra e Tuma

Nesse momento, é necessário se colocar na posição desta mãe e filho. Afinal, eles estavam prestes a pôr todo o dinheiro poupado em uma vida inteira à disposição de um projeto arquitetônico. Não é um ato muito comum para pessoas de uma classe social mais humilde no Brasil, país cujo senso comum põe o bom projeto de arquitetura como um benefício para quem tem dinheiro sobrando. Pondo-se no lugar dos arquitetos, gerenciar os escassos recursos de uma pessoa para materializá-los em sua nova moradia era uma responsabilidade grande.

Cabe também acrescentar que este não é um caso de fé à profissão. Provavelmente, dona Dalva não conhece Le Corbusier. Dona Dalva não sabe dos benefícios da planta livre, nem dos outros quatros pontos para a arquitetura moderna. Dona Dalva não deve estar ciente da importância
gregária do salão caramelo da FAUUSP. Pelo processo de construção, Dona Dalva não deu indícios de se importar com as condições operárias no canteiro de obras. Dona Dalva não se encanta com os hightechs, desconstrutivistas, metabolistas ou sustentáveis. Dona Dalva não aprendeu com Las Vegas. Ou seja, dona Dalva passa ao largo da intelligentsia arquitetônica, mas mesmo assim, por algum motivo, eles apostaram todas as fichas na arquitetura.

Fotografias: Terra e Tuma

Fez-se o contrato da mãe e filho com o escritório de arquitetura (também dirigido pela arquiteta Fernanda Sakano), de acordo com honorários compatíveis com o valor total possível e esclarecido desde a primeira conversa. Para viabilizar a edificação dentro desse recurso, os arquitetos auxiliaram na escolha e na elaboração de contratos com o empreiteiro, os complementares, os fornecedores.

A primeira proposta de projeto, feita ainda em 2011, era em estrutura metálica, revestimento externo em telha translúcida, divisórias internas em drywall. A referência explícita no powerpoint de apresentação é a Casa Latapie do escritório francês Lacaton & Vassal. A estratégia era de uma
construção seca com montadores específicos, apostando na rapidez e na minimização de erros de obra.

Chegou a ser feito o projeto executivo dessa versão. Esperou-se mais de um ano para a aprovação do desenho na prefeitura. Permaneceu em stand by por mais alguns meses até o dia de 2014 em que o filho constata que o forro do teto caíra em cima da cama da mãe. Com o risco iminente de ruir, o filho tira a mãe da casa antiga, que passa a morar de aluguel, e liga para os arquitetos informando que a obra tinha que começar.

No momento de executar, o escritório muda o projeto, optando pela segurança da pesquisa construtiva que se iniciara na Casa Maracanã e que se seguiu pela Casa com Estúdio e em mais duas edificações. “Pela responsabilidade da situação, tínhamos que acertar. Não teria quem
pagasse pelo erro”, afirmavam os arquitetos. Seguiram por um método construtivo que tinham domínio, lançando mão do bloco de concreto, sem revestimentos e com o mínimo uso de elementos facilmente encontrados em lojas de construção. Utilizam o essencial para a construção não por uma questão estética ou por qualquer demonstração de verdade do material, mas para dar pragmatismo de obra e reduzir custos.

Referência Casa Maracanã
Fotografia: Pedro Kok

Refizeram os desenhos gerais do projeto (em duas semanas) e iniciaram a demolição da velha casa, durante a qual surgiram os grandes desafios da execução. De um lado, o vizinho, que estava construindo seu segundo andar, escorava sua residência na precária edificação que estava sendo demolida. O muro da casa do outro lado assentava-se direto na terra, sem baldrame. Logo, as fundações eram executadas não somente para estruturar a casa da mãe e do filho, como também para manter em pé os sobrados ao redor. Soma-se a isso o fato do próprio lote não ser nivelado, de modo que foi necessário construir uma laje para estabelecer o piso térreo, vencendo as
irregularidades e cavidades no solo.

Outra condicionante atípica e só verificável no canteiro: o vizinho que se apoiava na antiga casa também invadia o lote em cerca de 50 cm, quebrando a linearidade da lateral. Quando se descobriu isso, o projeto foi todo espelhado, deixando o muro irregular adjacente ao pátio central. Parte considerável dos nove meses de execução foi destinada a esse cuidadoso processo de demolição e de fundações.

Fotografias: Terra e Tuma

A obra foi tocada por um empreiteiro de confiança, do qual partiu a iniciativa de acordar o acompanhamento da construção pelos arquitetos uma ou duas vezes por semana. Em virtude desse modelo, foi possível uma simplificação dos desenhos. Muitas decisões projetuais eram feitas no canteiro, por meio do diálogo com os construtores ou fornecedores. De acordo com a demanda, os arquitetos fizeram as plantas dos dois pavimentos, cortes, fachadas, as ampliações do portão e da escada, definiram as características gerais dos caixilhos. Tudo em pouquíssimas pranchas, de modo a evitar desenhos com detalhamentos raramente lidos pela mão de obra nacional.
Além de otimizar o tempo, este pragmático modo de trabalho minimizava custos e esforços tanto para os arquitetos e empreiteiro quanto para os clientes.

Plantas Térreo, Primeiro Pavimento e Cobertura

Entreveros de obra à parte, o levantamento das paredes de blocos de concreto foi uma etapa rápida. Recuada em relação ao alinhamento frontal do lote, está a sala. A partir dela se segue para um corredor onde se alinham as áreas com instalações hidráulicas – lavabo, cozinha e área de serviço. Em paralelo, está o vazio central com jardim. A separação entre interior e exterior nesse trecho nuclear é feita por uma longa esquadria que permite ampla iluminação e ventilação natural – a antítese da ambiência da velha casa. Ao fundo estão as duas suítes: no térreo para a mãe e no pavimento superior para o filho. A laje de cobertura da sala permite uma ampliação
futura da casa.

Cortes Longitudinais e Transversais

Fotografias: Terra e Tuma

Não somente a residência tem a robustez suficiente para agregar mais cômodos, mas também admite outros tipos de reformas. O chão, que é hoje o concreto alisado da laje, pode receber outro piso. As paredes, que são de bloco aparente, podem vir a ser pintadas, rebocadas ou revestidas. A casa vai se transformar, de acordo com um natural processo de apropriação por dona Dalva, que vai imprimir gradativamente sua identidade a essa casa. Porém, é interessante notar que, posterior à entrega da chave, mãe e filho consultam com frequência os arquitetos para pedir orientação na
disposição do mobiliário, na cor das cortinas, na colocação de suas plantas. O canal de diálogo permanece, pois há um reconhecimento por parte dos moradores da melhora da qualidade de vida pela arquitetura.

Esta não é a casa dos sonhos de dona Dalva. Aqui o Terra e Tuma não trata o projeto arquitetônico como uma tentativa de dar forma aos desejos que ocupam o imaginário da proprietária. No desenho, não há incrementos subjetivos, pois se tem consciência de que a noção estética de cada pessoa é muito singular. Não diferente de qualquer outro caso, o valor afetivo que a matriarca tem com cada material diverge da qualificação concedida às matérias pelos arquitetos.

Portanto, nesta circunstância de grande limitação orçamentária, para que a construção fosse possível, demandava-se a simplificação dos desenhos, a otimização da execução, a materialização exclusiva do que é essencial para dona Dalva morar. Das economias de uma vida inteira, ergueu-se uma casa com um tamanho decente, ventilação, iluminação, sem riscos de o forro cair sobre a cama. Na singeleza da casa na Vila Matilde referendada pela admirável história, restitui-se a noção de arquitetura como produção de espaço que ambiciona eminentemente a dignidade do habitar.


projeto executivo


EXECUTIVO COMPLETO

7 formatos (pdf).
2,87mb


ficha técnica

Local: Vila Matilde – São Paulo, SP
Ano de projeto: 2011 – 2015
Ano de construção: 2015
Área: 95 m²
Arquitetura: Terra e Tuma Arquitetos Associados | Danilo Terra, Pedro Tuma, Fernanda Sakano, Bruna Hashimoto, Giulia Galante, Jéssica Zanini, Lucas Miilher, Zeno Muica.


Construção:
Valdionor Andrade de Carvalho e equipe
Estrutura: Megalos Engenharia
Paisagismo: Gabriella Ornaghi Arquitetura da Paisagem


Fotos: Pedro Kok, Terra e Tuma (fotos antigas / fotos de obra)


galeria


colaboração editorial

Renan Maia

deseja citar esse post?

TERRA, Danilo. TUMA, Pedro. SAKANO, Fernanda. PERROTTA-BOSCH, Francesco. “Casa Vila Matilde”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., out-2024. Disponível em //www.28ers.com/2024/10/28/casa-vila-matilde. Acesso em: [incluir data do acesso].


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5 minutos

Casa Mipibu (texto fornecido pelos autores)

Esta casa representa uma situação muito comum na cidade de São Paulo, um terreno comprido e estreito [5.6×30.0m] com apenas a elevação frontal livre de interferências das edificações em seu entorno.

Fotografias: Nelson Kon

Croqui e Planta de Localização

Considerando a inevitável verticalização de seus vizinhos, todos eles colados às divisas, o primeiro passo foi inverter as fachadas, pensar o projeto ?do avesso? como se retirássemos uma luva.

Planta Térreo, Planta Pavimento Superior e Planta Cobertura

Fotografias: Nelson Kon

Quando trouxemos os caixilhos para dentro, pudemos usá-los à exaustão, tornando o interior extremamente aberto, em oposição ao perímetro externo completamente fechado.

Cortes AA, BB, CC e Elevação Frontal

Fotografias: Nelson Kon

Posicionamos dois pátios internos, funcionando como as áreas externas da casa. E eles, assim como em outros projetos do escritório, a organizam. Além de proporcionar luz e ventilação necessárias para salubridade e qualidade espacial, articulam os ambientes.

Simulações de Chuva, Sol e Som no Corte AA

Outra decisão inesperada para o cliente foi o posicionamento dos dormitórios no pavimento térreo, normalmente destinado aos ambientes sociais, e assim subimos o “térreo?para o pavimento superior.

Fotografias: Nelson Kon

Esta medida proporcionou para o pavimento íntimo, dos dormitórios, maior privacidade e silêncio. Para o pavimento social proporcionou a integração com a laje de cobertura, usada como área de lazer, e assim portanto, não ocorrendo a interrupção pelo pavimento íntimo. Tornou também as áreas sociais melhor iluminadas e ventiladas.

Fotografias: Equipe Terra e Tuma (processos da obra)

Por solicitação do cliente um destes pátios tornou-se um espelho d`água, e com ele, outro fator importante foi a concepção simultânea do projeto de paisagismo.

Fotografias: Nelson Kon

Desta forma foi possível prever uma estrutura adequada para receber tanto uma árvore de grande porte no pavimento superior, na varanda externa contígua a sala, quanto a laje que suportaria o peso das bandejas com plantas que caem sobre o espelho d ́água.

Fotografias: Nelson Kon

As soluções para este projeto são resultado de uma estreita e bem sucedida relação entre arquitetura, paisagismo e estrutura.

Fotografias: Nelson Kon


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Danilo Terra, Fernanda Sakano, Juliana Terra e Pedro Tuma (T.T.)

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no conjunto de toda a sua produção?

T.T. – Ela consolida o processo projetual iniciado pela Casa Maracanã e posteriormente Casa
Estúdio, e avança ainda mais em reflexões sobre a organização espacial e construtiva.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

T.T. – Contratação direta.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Vocês destacariam algum momento significativo do processo?

T.T. – A decisão de inverter a lógica comum de posicionar a área social no nível de acesso e
íntima no pavimento superior trouxe diversos benefícios. Primeiro tirando carga de um
pavimento repleto de paredes e móveis e fazendo com que este sim, de forma muito mais
adequada suporte um pavimento mais leve e aberto. Permitiu trabalhar com pé direito
diferente e maior no pavimento superior, social, sem acarretar em esforços estruturais
excessivos. Os ruídos externos são amenizados no pavimento íntimo, inferior. A ligação do
pavimento social é direta com a laje de cobertura, que funciona também como área de lazer,
e assim evita a transição e passagem por outros pavimentos.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, podem comentar as mais importantes?

T.T. – Sim, neste caso decorrente da atuação dos projetistas de paisagismo ainda na fase de
estudo preliminar. O trabalho em conjunto possibilitou a proposição de soluções que
somente poderiam estar presentes se adotados nesta fase. Destacam-se as bandejas que
fazem pender plantas sobre o espelho d’água do pátio frontal, foi necessário considerar
certo reforço estrutural nesta laje. Na varanda frontal do pavimento superior propusemos o
plantio de uma árvore de grande porte, para isso foi necessário projetar e calcular uma
“caixa?vertical de concreto armado que conecta o solo do pavimento térreo a este primeiro
pavimento.

MDC – Os autores do projeto tiveram participação no processo de construção/implementação da obra?

T.T. – Este foi um dos poucos projetos em que o escritório também gerenciou a obra.

MDC – Vocês destacariam algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

T.T. – A relação espacial entre áreas externas e internas é propositadamente gradativa e difusa.
Assim como em outros projetos, além dos fatores estruturais e espaciais, o conforto
ambiental é outro fator de relevância para as soluções propostas.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, fariam algo diferente?

T.T. – Com relação à arquitetura, acreditamos que não. Já em relação às infraestruturas de
hidráulica/elétrica e alguns detalhes estruturais, sim.

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

T.T. – Ela é parte de um conjunto de obras contemporâneas de nosso escritório que traduzem
muito bem o amadurecimento de nosso processo projetual. Além das já citadas, esta casa
tinha como sua contemporânea de construção a casa da Vila Matilde.

MDC – Há algo relativo ao projeto e ao processo que gostariam de acrescentar e que não foi contemplado pelas perguntas anteriores?

T.T. – Agradecemos imensamente a sua contribuição. Um abraço!


projeto executivo


PROJETO EXECUTIVO
COMPLETO

7 pranchas (pdf).
4,56mb


ficha técnica

Local: Bairro da Lapa – São Paulo, SP
Ano de projeto: 2014
Ano de construção: 2014 – 2015
Área: 170 m²
Arquitetura: Terra e Tuma Arquitetos Associados | Danilo Terra, Pedro Tuma e Fernanda Sakano
Colaboradores: Bianca Antunes, Cassio Oba Osanai e Eugênio Amodio Conte


Estrutura:
Megalos Engenharia
Elétrica | Hidráulica:
DCHE
Paisagismo: Gabriella Ornaghi Arquitetura da Paisagem
Serralheria: Terral Serralheria
Impermeabilização: Kenzo Harada | Vedação Tecnologia em Construção
Esquadrias de Alumínio: Metaltec Esquadrias


Fotos: Nelson Kon e Equipe Terra e Tuma
Contato: contato@terraetuma.com.br

Prémios e Exposições:
Exposição “Casas Paulistas 2000-2017” – São Paulo (2019)
Mostra Itinerante “Continuità Brasiliana” – Matera (2019)


galeria


colaboração editorial

Ana Júlia Freire

deseja citar esse post?

TERRA, Danilo. TUMA, Pedro. SAKANO, Fernanda. “Casa Mipibu”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., out-2024. Disponível em //www.28ers.com/2024/10/28/casa-mipibu/. Acesso em: [incluir data do acesso].


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//28ers.com/2024/10/28/casa-mipibu/feed/ 0 18748
Jardim – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2024/10/28/casa-maracana/ //28ers.com/2024/10/28/casa-maracana/#respond Mon, 28 Oct 2024 20:22:27 +0000 //28ers.com/?p=18595 Continue lendo ]]> Por Terra + Tuma
5 minutos

Casa Maracanã (texto fornecido pelos autores)

A casa está localizada na Lapa, bairro predominantemente residencial da zona oeste de São Paulo, em terreno conciso e com topografia em declive.

Croqui de Corte Longitudinal e vista geral do ambiente social da residência: Pedro Kok

Ela se desenvolve em três pavimentos, abaixo e acima da cota de acesso, na qual estão implantados a garagem e o hall de distribuição da circulação vertical. Ocupando toda a largura do lote, as empenas laterais desempenham também o papel de muros de divisa e, estruturais, são feitas com bloco de concreto autoportante.

Assim, os oito metros de largura do ambiente social ficam livres da interferência de outros elementos estruturais e a residência ganha um aparente espaço extra, qualificado pelo pé-direito duplo e pelo confortável aporte da iluminação natural.

Fotografias: Pedro Kok e Cortes Longitudinais e Transversais

Há jardins na frente e nos fundos ladeando a sala de estar da cota inferior, dela separados por caixilhos de altura total que tornam indistintos os limites entre o edificado e os espaços livres.

Fotografias: Pedro Kok

Em contrapartida, o mezanino transversal, no nível intermediário, sinaliza a passagem do setor social para o de serviços e o estúdio, situados lado a lado na porção frontal e rebaixada do terreno.

Fotografias: Pedro Kok

A extrema simplicidade dos materiais – blocos de concreto autoportantes ou de vedação, sem revestimento – faz par com a exposição das tubulações, piso e escadas de concreto, todos aparentes. O cuidado na seleção dos fornecedores, por exemplo, garantiu a proximidade entre seus tons de cinza, tão claros quanto possível.

Fotografias: Pedro Kok

No andar superior, os dormitórios (três no total) dividem uma faixa de pouco mais de três metros de largura por oito de comprimento, compartilhando o banheiro que, sobressalente na fachada frontal, tem revestimento externo decorativo. O padrão de traços e círculos, nas cores branca, preta e vermelha, foi concebido pelo artista plástico Alexandre Mancini.

Plantas dos três pavimentos + Planta de Cobertura


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Danilo Terra, Fernanda Sakano, Juliana Terra e Pedro Tuma (T.T.)

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no conjunto de toda a sua produção?

T.T. – Seminal. Por ela o escritório encontrou um processo de reflexão e desenvolvimento de
projeto próprio, e como consequência uma linguagem identitária.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

T.T. – A casa pertence aos sócios Danilo e Juliana.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Vocês destacariam algum momento significativo do processo?

T.T. – Parâmetros de projeto extremamente limitantes em contraste com a liberdade de projetar
para si próprio tornaram o processo projetual em um laboratório destinado a encontrar
soluções pragmáticas, e que atendessem à família funcionalmente com a maior flexibilidade
espacial possível.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, podem comentar as mais importantes?

T.T. – Sim. Intensa participação. E as consequências foram determinantes para o resultado final. A
que mais se destaca é o sistema construtivo adotado. Um sistema misto de alvenaria
estrutural com concreto armado tradicional.

MDC – Os autores do projeto tiveram participação no processo de construção/implementação da obra?

T.T. – Sim, e também intensa, durante toda a obra. O canteiro também determinou a adoção de
certas soluções, como a alvenaria estrutural, viabilizando a construção no alinhamento do
terreno.

MDC – Vocês destacariam algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

T.T. – Foram incontáveis momentos da vida familiar, e até mesmo profissional, aos quais esta casa
atendeu muito bem. Sua estrutura comporta além do mais importante e trivial uso cotidiano,
até eventos e locações para fotos e filmagens.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, fariam algo diferente?

T.T. – Sim, foi um processo de muito aprendizado e consequente amadurecimento em projetos e
obras posteriores.

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

T.T. – Acreditamos que ela trata de resgatar uma linguagem projetual que não foi inventada por
nós, mas estava latente e muito pertinente ao contexto da produção arquitetônica
contemporânea.

MDC – Há algo relativo ao projeto e ao processo que gostariam de acrescentar e que não foi contemplado pelas perguntas anteriores?

T.T. – Agradecemos imensamente a sua contribuição. Um abraço!


projeto executivo


PARTE 1:
ARQUITETURA

4 pranchas (pdf).
5,02mb


PARTE 2:
DETALHES

6 pranchas (pdf).
2,6mb


PARTE 3:
ESQUADRIAS

5 pranchas (pdf).
2,1mb


PARTE 4:
ELÉTRICA

2 pranchas (pdf).
903kb


ficha técnica

Local: Bairro da Lapa – São Paulo, SP
Ano de projeto: 2008
Ano de conclusão: 2009
Área: 185 m²
Arquitetura: Terra e Tuma Arquitetos Associados | Danilo Terra, Pedro Tuma e Juliana Assali


Construção:
RKF | Rafael Alves
Elétrica | Hidráulica:
Minuano Engenharia | Cibele Báez Neme e Roberto Abou Assali
Esquadrias de Alumínio: Metaltec Esquadrias | Alexandre Hornink Mora e Fabio Cappeli
Estrutura: AVS | Carolina Ayres e Tomas Vieira
Impermeabilização: Kenzo Harada | Vedação Tecnologia em Construção
Marcenaria: Alceu Terra
Painel: Alexandre Mancini
Paisagismo: Gabriella Ornaghi Arquitetura e Paisagismo
Serralheria: Edison Shigueno


Fotos: Pedro Kok e Arturo Arrieta (Maquete)


galeria


colaboração editorial

Isabela Gomide

deseja citar esse post?

ASSALI, Juliana. TERRA, Danilo. TUMA, Pedro. “Casa Maracanã”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., out-2024. Disponível em //www.28ers.com/2024/10/28/casa-maracana. Acesso em: [incluir data do acesso].


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//28ers.com/2024/10/28/casa-maracana/feed/ 0 18595
Jardim – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2024/03/01/casa-dos-cajueiros/ //28ers.com/2024/03/01/casa-dos-cajueiros/#respond Fri, 01 Mar 2024 14:07:41 +0000 //28ers.com/?p=15486 Continue lendo ]]> Por Galeria + Terra Capobianco
9 minutos

Casa dos Cajueiros (texto fornecido pelos autores)

A Casa dos Cajueiros, na Praia Vermelha do Sul em Ubatuba, localiza-se em frente à faixa de marinha e sua implantação discreta não se revela de imediato aos banhistas. A frente do lote ?com 33 metros de largura e 80 metros de profundidade – é ocupada por troncos tortuosos e ramos irregulares, resguardando a casa entre a luz e a sombra das copas dos cajueiros.

Fotografia: Nelson Kon

A estratégia para ocupação do terreno foi tirar partido do intervalo entre as copas das árvores. A ocupação é térrea e estruturada a partir de um eixo claro de circulação que conecta a área social à íntima.

Plantas e Cortes

A residência está implantada em quatro cotas de níveis. A cota mais baixa e próxima à faixa de marinha concentra a área social, de lazer e serviço. Na mesma cota um volume anexado à casa foi cuidadosamente implantado próximo ao acesso da praia, abrigando a sauna e o depósito de pranchas.

Distribuídas ao longo de um corredor de 33 metros de comprimento, as seis suítes são implantadas permitindo um intervalo entre elas. As suítes ganham varandas que acessam pátios privativos. O desnível do terreno é vencido suavemente por degraus ao longo do corredor tornando a transição quase imperceptível.

Isométrica – Esquema de Implantação

Os pisos construídos sempre acima do nível do terreno natural previnem a possibilidade de umidade ascendente. Empenas de concreto pigmentado em tom rosado definem os módulos dos dormitórios. O limite entre o dentro e o fora se dá pela pele de veneziana em ripas verticais.

Fotografias: Nelson Kon

A estrutura da Casa dos Cajueiros, embora convencional em sua estrutura de base, com laje de piso armada, e pilares e empenas de concreto, ganha eficiência no sistema de montagem da cobertura. Foram necessários apenas 45 dias para montar 800 m2 de estrutura em madeira laminada colada de eucalipto. Além de reduzir o tempo de obra o sistema não gera resíduos, a estrutura vem pré-fabricada necessitando apenas de parafusos para sua montagem.

Isométrica – Esquema de Estrutura

Para os módulos dos dormitórios foi utilizada uma estrutura mista de vigas de madeira laminada colada e placas de painel wall.

Na área social, placas de 12 centímetros de espessura e 30 centímetros de largura vencem 7,30 metros de vão entre 2 apoios e permitem 2,10 metros de balanço. As placas são intertravadas formado uma grande laje fortemente caracterizada pelas múltiplas tonalidades de lâminas de eucalipto. Em seu outro sentido o resultado é um espaço contínuo de 19 metros livre de apoios.

Para proteger a estrutura de madeira das intempéries, o arremate da impermeabilização se dá com tábuas de sacrifício, preservando assim a linguagem dos planos de madeira projetados pela arquitetura.

Fotografias: Nelson Kon

Foram adotadas diversas estratégias de design passivo para garantir conforto ambiental aos usuários, a começar pela abundante presença de janelas piso teto que garantem renovação de ar constante e iluminação natural.

A área social se abre 180 graus para a paisagem do entorno e beirais generosos protegem os caixilhos além de promoverem sombreamento. Os ambientes anexados à área social, como cozinha e sala de TV, ganham ventilação cruzada, já os espaços mais isolados de serviço contam com ventilação noturna através das venezianas e banheiros com ventilação permanente por claraboias.

As suítes têm variações de insolação, as varandas privativas são face leste ou oeste e as janelas laterais norte ou sul. Para barrar a insolação na face norte dos dormitórios venezianas se abrem horizontalmente formando um beiral. Já as faces leste e oeste contam com as venezianas verticais que filtram a luz solar direta, resultando em efeito suave de luz e sombra.

Fotografias: Nelson Kon

A área de cobertura mais exposta ao sol recebeu manta de impermeabilização branca para refletir a radiação solar, e uma camada generosa de lã de rocha, além de proteção térmica, garante conforto acústico em todos os ambientes da residência.


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Ana Terra (A.T.)

MDC – Como você contextualiza essa obra no conjunto de toda a sua produção?

A.T. – A Casa dos Cajueiros foi o projeto inaugural do meu escritório, o primeiro projeto autoral construído do zero onde pude pôr em prática os anos dedicados à minha formação como arquiteta, tanto na Escola da Cidade quanto no mestrado em eficiência energética e sustentabilidade que fiz em Londres, na Architectural Association.

A Casa dos Cajueiros também foi o primeiro projeto realizado em coautoria entre os escritórios Terra Capobianco e Galeria arquitetos, uma parceria bem-sucedida que rendeu muito outros projetos.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

A.T. – A contratação para o projeto, por se tratar de uma residência unifamiliar, ocorreu de forma direta.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Você destacaria algum momento significativo do processo?

A.T. – A concepção do projeto aconteceu a partir de uma leitura cuidadosa das condições originais do terreno. Já na primeira visita entendemos que a implantação deveria acontecer em diferentes níveis e de forma longitudinal aproveitando o exuberante entorno repleto de arvores e, principalmente, chegando o mais perto possível da faixa da marinha, marcada pela presença da areia e dos troncos tortuosos dos cajueiros.

Quando recebemos o levantamento planialtimétrico, confirmamos a hipótese da implantação no intervalo entre as copas das árvores e projetamos uma casa distribuída no terreno a partir de um eixo claro de circulação, onde cada suíte pudesse ter um pátio privativo com jardim para contemplar. A área social por sua vez, ao contrário do aspecto mais intimista das suítes, é ampla e envidraçada, integrada com os cajueiros e com o Jundu, vegetação nativa de grande importância para a preservação da praia.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa das autoras? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, pode comentar as mais importantes?

A.T. – A participação das autoras foi ativa em todas as etapas do projeto, principalmente ao elaborar o partido construtivo que contou com a colaboração do [engenheiro] Hélio Olga. Juntos, chegamos à conclusão que executar uma laje de madeira seria uma solução inovadora e alcançaríamos o resultado estético que quereríamos: uma cobertura plana, de estrutura aparente e sem revestimentos, sem dúvida a expressão mais marcante do projeto arquitetônico.

Por seu custo elevado, optamos em trabalhar com a laje de madeira apenas na área social, para vencer os vãos maiores. Nos outros ambientes, trabalhamos com o sistema mais comum de vigamento em MLC apoiando placas painel wall, assim pudemos viabilizar a estrutura de cobertura da residência.

MDC – As autoras do projeto tiveram participação no processo de construção/implementação da obra?

A.T. – O acompanhamento de obra foi quinzenal e determinante para a boa execução do projeto. Embora o projeto tenha ido muito bem detalhado para a obra, é no diálogo constante com os fornecedores, construtores e clientes que algumas decisões são tomadas mudando o resultado da concepção original.

Um exemplo foi a testeira de madeira que originalmente seria revestida de Trespa – material holandês de alta durabilidade usado na fabricação das venezianas. A Trespa teria a função de proteger a madeira da ação do tempo. Quando a estrutura da cobertura estava toda montada, a testeira apareceu de forma expressiva, marcante demais para ser recoberta, a solução foi revestir com uma tábua de sacrifício fabricada em MLC para garantir a permanência do material tão importante para o resultado estético da cobertura da Casa dos Cajueiros.

MDC – Você destacaria algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

A.T. – A Casa dos Cajueiros está localizada na Praia Vermelha do Sul, também conhecida como Praia dos Arquitetos, num contexto exclusivamente residencial. O condomínio é tido como ecológico pois mantém um código de ética urbanística nas construções sem muros e na preservação do Jundu; graças a preservação da mata nativa a praia, vista do mar, parece desabitada.

Dentro desse contexto, a Casa dos Cajueiros foi implantada para ser discreta, é térrea e se desenvolve acompanhando a topografia original do terreno, característica que consideramos assertiva em meio a costeiras arborizadas, onde o que deve se destacar é a mata preservada e não a arquitetura das residências.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, faria algo diferente?

A.T. – Acredito que cada oportunidade é única e que devemos aproveitar a experiencia como um aprendizado; faremos diferente em um próximo projeto.

MDC – Como você contextualiza essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

A.T. – Essa obra se contextualiza no panorama das construções projetadas em madeira laminada colada no Brasil, um sistema construtivo que vem ocupando um espaço cada vez maior principalmente por suas características de sustentabilidade, por ser um material renovável e de baixo consumo energético, baixa emissão de carbono no seu processo de produção, dentre tantas outras vantagens, como a agilidade e precisão em seu sistema de montagem, otimizando o tempo de obra e gerando menos resíduos no canteiro.


projeto executivo


PARTE 1:
PLANTAS E CORTES

8 pranchas (pdf).
5,70mb


PARTE 2:
LUMINOTÉCNICO + PLANTA DE FORRO + DETALHE PISO

7 pranchas (pdf).
6,64mb


PARTE 3:
DETALHAMENTO E AMPLIAÇÃO DE ÁREAS MOLHADAS

12 pranchas (pdf).
13,00mb


PARTE 4:
CAIXILHOS + PORTAS

18 pranchas (pdf).
12,40mb


PARTE 5:
RELAÇÃO DE FOLHAS + MEMORIAL DESCRITIVO

27 pranchas (pdf).
0,59mb


ficha técnica

Local: Praia Vermelha do Sul, Ubatuba, SP
Ano de projeto: 2016
Ano de conclusão: 2019
Área do terreno: 2.538,80 m²
Área construída: 792 m²
Arquitetura: Ana Terra Capobianco e Fernanda Neiva
Colaboradores: Liliane Nambu


Construtora:
Pitta Arquitetura e Engenharia
Paisagismo: Giardino Planejamento de exteriores
Cálculo estrutural em concreto:
Leão e Associados
Consultoria em concreto: Gabriel Regino
Estrutura em madeira: Ita Construtora
Projeto de Instalações: Ramoska e Castelani
Projeto de ar condicionado: Thermoplan
Projeto de luminotécnica: Lux Projetos


Fornecedores
Estrutura de Madeira ?Ita Construtora
Caixilhos ?Tecnosystem
Piso de concreto ?Concresteel
Tratamento de concreto ?Topseal
Impermeabilização ?Omnitrade
Revestimento de fachada ?Trespa
Lareira e coifas ?Construflama
Sauna ?Nordic
Pastilhas ?Jatobá
Revestimento de pedra (banheiros) – Palimanan
Marcenaria ?Marcenaria GM ?móveis e esquadrias
Ar condicionado – Reclima
Luminárias: Reka Iluminação, Lumini, Itens
Mobiliário ?Dpot, Taúna, Carlos Motta, Etel, Nani Chinellato


Fotos: Nelson Kon
Contato: contato@terracapobianco.28ers.com | contato@galeria.28ers.com


Premiações:
Vencedor 1º Lugar da Categoria Residencial (Edificação) do 7º Prêmio Saint-Gobain de Arquitetura-Habitat Sustentável;
Indicação ao prêmio MCHAP ?Mies Crown Hall Americas Prize ?New Architecture in a New World;
Indicação ao Building of the Year 2020 – Archidaily;
Indicação ao International Prize for Sustainable Architecture Fassa Bortolo;
Indicação pelo IAB para ser 1 dos representantes brasileiros na Bienal Panamericana de Arquitectura de Quito;
Indicação ao 3º Prêmio Oscar Niemeyer de Arquitetura Latino-Americana, On Prize;
Exposição Na Prática na Escola da Cidade;
Exposição 1×1 na Escola da Cidade;
Exposição 1×1 na Universtà Iuav di Venezia.


galeria


colaboração editorial

Renan Maia

deseja citar esse post?

NEIVA, Fernanda. CAPOBIANCO, Ana Terra. “Casa dos Cajueiros”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., mar-2024. Disponível em //www.28ers.com/2024/03/01/casa-dos-cajueiros. Acesso em: [incluir data do acesso].


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Jardim – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2023/10/26/casa-dos-terracos-circulares/ //28ers.com/2023/10/26/casa-dos-terracos-circulares/#respond Thu, 26 Oct 2023 12:07:51 +0000 //28ers.com/?p=14242 Continue lendo ]]> Por Denis Joelsons
8 minutos

Casa dos Terraços Circulares (texto fornecido pelos autores)

A casa dos terraços circulares é parte de um jardim projetado para o desfrute do bosque de mata atlântica.

Fotografia: Pedro Kok

Seu terreno, situado em um fundo de vale, não oferece um horizonte marcante. Nele, a paisagem é o grande espaço delineado pela copa das árvores. Confrontando a pendente natural do lote com as clareiras existentes, estabelecemos patamares em meio-nível.

Croqui do autor e Planta de cobertura

A casa se organiza nestes platôs, através de seu corte longitudinal, com usos coletivos mais próximos à rua e usos privativos mais próximos da divisa.

Cortes Longitudinais

Fotografias: Pedro Kok

O movimento estabelecido pelo desenho do chão garante o caráter espacial dos diferentes ambientes da casa, com seus pés-direitos variando em relação à cobertura horizontal.

Fotografias: Rodrigo Fonseca (com drone, no centro) e Pedro Kok

Uma varanda suspensa cobre a garagem e espelha a cota dos dormitórios – disposição onde a arquitetura ecoa a geografia do vale.

Fotografias: Pedro Kok

A geometria da casa é ortogonal, compatível com sua estrutura pré-fabricada em madeira. A geometria do jardim é estabelecida por curvas, buscando a melhor forma estrutural para os muros de arrimo e o encaixe adequado entre as árvores. Todos os ambientes possuem pelo menos dois acessos, reafirmando a ideia de percurso circular.

Plantas Térreo e Pavimento Superior

A contenção formal da casa contrasta com o perfil movimentado dos terraços circulares, sugerindo uma inversão da relação tradicional de subserviência entre embasamento e edificação. Neste caso, a regularidade da cobertura é o que suporta a variedade do desenho do chão.

Cortes Longitudinais

Cortes Transversais


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Denis Joelsons (D..J.)

MDC – Como você contextualiza essa obra no conjunto de toda a sua produção?

D.J. – A casa dos terraços circulares é a materialização mais importante de minha trajetória até então. Ela incorpora reflexões de outros projetos e tem uma dimensão que me permitiu explorar espacialmente o percurso através da variação sucessiva nas proporções de diferentes ambientes. Este trabalho também marca um momento em minha produção em que tive segurança para propor elementos que não se justificam pelo critério estreito de sua funcionalidade ou de sua necessidade prática. É o caso da fachada translúcida que delimita a varanda e também dos muros de pedra que compõem os terraços circulares. Assumi critérios plásticos e argumentos mais subjetivos.

Penso que esta casa compõe uma trilogia com a casa da meia encosta (2013) e com a casa diorama (não construída, 2022). São casas onde o partido arquitetônico está diretamente atrelado a uma concepção paisagística. Uma abordagem muito semelhante em contextos completamente distintos pode ser vista nos três projetos.

A casa da meia encosta lida com a paisagem monumental da Mantiqueira, tem uma condição de mirante. A implantação tira proveito de um terrapleno preexistente e o desenho da cobertura inclinada enquadra um segmento específico da paisagem e está referenciado nessa geografia. O corte transversal é a síntese desse projeto.

A casa dos terraços circulares está na baixada de um vale, em um condomínio de casas. A paisagem foi construída através de platôs. A variação dos níveis engendra na escala da casa a confluência espacial característica do vale. A ordenação dos ambientes está estruturada no corte longitudinal.

A casa diorama se assenta em uma planície um tanto descampada. É uma casa pátio, onde a porção contida da paisagem oferece um contraponto de escala para um trio de grandes árvores que balizou o desenho do muro e de suas aberturas. Aqui a noção de percurso e a graça na sucessão dos espaços depende sobretudo do desenho da planta.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

D.J. – Foi por contratação direta, inicialmente o cliente planejou uma concorrência entre três estudos preliminares. Preparei a primeira apresentação de forma bem persuasiva. Até onde sei, fui o primeiro a apresentar e com o início da pandemia anunciado, decidiram seguir comigo antes da contratação dos estudos concorrentes.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Você destacaria algum momento significativo do processo?

D.J. – Depois de visitar o terreno, com o levantamento topográfico e arbóreo em mãos, especulei um pouco sobre a implantação da casa. A implantação é sempre a decisão mais importante. Logo cheguei à conclusão de que a posição da casa não deveria ser condicionada pelas clareiras existentes. A casa precisava ocupar o limite legal do fundo do lote, a porção mais alta do terreno, para incorporar o espaço delimitado pelas copas das árvores e aproveitar entrada de luz da maior clareira. Essa decisão orientou todas as outras.

O projeto passou por dois ajustes que não implicaram em nenhuma mudança de partido. O cliente pediu uma sala um pouco maior, que foi atendida com o acréscimo de 120cm no comprimento da casa. O ajuste mais trabalhoso foi fruto de um erro grande no levantamento topográfico. O jardim teve de ser inteiramente redesenhado e duas árvores acabaram ficando dentro da área dos terraços. O ajuste de cota das raízes foi feito através de um banco em um caso e de um fosso com grade em outro.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa do autor? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, pode comentar as mais importantes?

D.J. – Houve a colaboração do Hélio Olga e do Vinicius Barreto, da Ita construtora. Um ajuste na emenda da viga longitudinal permitiu a remoção de um pilar que eu havia previsto entre os ambientes de estar e jantar. A Ita também exigiu que a varanda externa fosse coberta, para garantir a durabilidade da madeira. No estudo preliminar eu havia pensado apenas em um pergolado.

MDC – O autor do projeto teve participação no processo de construção/implementação da obra?

D.J. – Durante a obra realizei visitas semanais, ocasionalmente duas vezes na mesma semana. Ajustes pontuais atenderam às contingências da obra. Adequando os desenhos através do diálogo com a mão de obra.

MDC – Você destacaria algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

D.J. – Inicialmente a casa foi pensada como uma casa de veraneio, logo após a sua conclusão os clientes decidiram mudar-se definitivamente para lá e alugaram o apartamento em que moravam em São Paulo. Um dos clientes é fotografo e a casa e o jardim também têm sido muito utilizados em locações publicitárias. Curiosamente o catering é montado no espaço da garagem. Algumas das filmagens que vi utilizam o espaço do jardim, da varanda e da cozinha.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, faria algo diferente?

D.J. – Enfrentando a mesma demanda e as mesmas condicionantes não, mas quando me deparei com a casa diorama, que tem uma dimensão parecida, pensei em outras soluções para as esquadrias e adotei o módulo de 125cm ao invés do de 60cm. Sem as restrições impostas pela legislação, um pequeno acréscimo na largura dos quartos seria possível e bem-vindo.

MDC – Como você contextualiza essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

D.J. – Em primeiro lugar, atualmente a arquitetura brasileira já é uma produção de exceção e muito pequena no cenário da construção civil. Neste recorte ainda estamos tratando de uma residência privada. No contexto da nossa arquitetura contemporânea eu penso que a casa dialoga com outras práticas atentas aos processos construtivos no canteiro de obras e anteriores a ele. Obras mais leves e grosso modo menos artesanais, preocupadas em dirimir de algum modo o impacto ambiental da construção civil.

Neste cenário é comum que o desenho da estrutura assuma protagonismo e por vezes incorpore peripécias técnicas de caráter demonstrativo. Muitas obras em estrutura pré-fabricada em madeira ou aço são concebidas como objetos autorreferentes, resolvidos internamente. Acredito que o mérito da casa dos terraços circulares está mais ligado à interpretação propositiva das características do local e de suas qualidades espaciais do que a questões de sua materialidade ou construção. Gosto de pensar que é impossível apresentar a casa dissociada de seu contexto, como objeto ela não se sustenta. Também penso que a reaproximação entre arquitetura e paisagem (inclusive urbana), sem que haja subserviência de uma disciplina à outra, é algo desejável para a nossa prática hoje.

MDC – Há algo relativo ao projeto e ao processo que gostaria de acrescentar e que não foi contemplado pelas perguntas anteriores?

D.J. – Acredito que cobrimos bem o processo de concepção da casa.


projeto executivo


PARTE 1:
PLANTAS E CORTES + DECK TERRAÇO E COBERTURA

10 pranchas (pdf).
8,50mb


PARTE 2:
MARCENARIA + ESQUADRIAS + PORTAS + BANHEIROS

21 pranchas (pdf).
13,40mb


PARTE 3:
DETALHAMENTO ZENITAIS + LAREIRA + ESCADAS

5 pranchas (pdf).
3,02mb


PARTE 4:
ELÉTRICA

4 pranchas (pdf).
4,04mb


ficha técnica

Local: Cotia, SP
Ano de projeto: 2020
Ano de conclusão: 2022
Área do terreno: 1.334 m²
Área construída: 253 m²
Arquitetura: Denis Joelsons
Colaboradores: João Marujo e Gabriela da Silva Pinto


Construção (obra civil):
Caio Martinez
Projeto de instalações:
Renan de Sousa
Estrutura de Madeira: Ita Construtora
Execução dos muros de pedra: Bizarri Pedras
Piso cerâmico: Gail
Execução das esquadrias de madeira e deck: Zé Madeiras
Venezianas de vidro: Persolly
Luminárias: Reka


Fotos: Pedro Kok e Rodrigo Fonseca (Drone)


galeria


colaboração editorial

Renan Maia

deseja citar esse post?

JOELSONS, Denis. “Casa dos Terraços Circulares”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., out-2023. Disponível em //www.28ers.com/2023/10/26/casa-dos-terracos-circulares. Acesso em: [incluir data do acesso].


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