Leonardo Finotti – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com Wed, 14 Aug 2024 13:15:34 +0000 pt-BR hourly 1 //i0.wp.com/28ers.com/wp-content/uploads/2023/09/cropped-logo_.png?fit=32%2C32&ssl=1 Leonardo Finotti – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com 32 32 5128755 Leonardo Finotti – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2024/05/06/estudio-madalena/ //28ers.com/2024/05/06/estudio-madalena/#respond Tue, 07 May 2024 02:21:23 +0000 //28ers.com/?p=15488 Continue lendo ]]> Por Apiacás Arquitetos
13 minutos

Estúdio Madalena (texto fornecido pelos autores)

A intenção principal do projeto foi criar uma praça no térreo, conformada pela extensão do passeio público e preservando a vista para a paisagem existente: em um primeiro plano, composta por casas de até dois andares, e, ao fundo, prédios altos marcando a ocupação característica do bairro de Pinheiros. Tirando proveito da topografia original do terreno, essa praça-belvedere reafirma a vocação do bairro da Vila Madalena como “possuidora/provedora?de diversas situações de promenade, capazes de surpreender os pedestres que por ali circulam.

Fotografia: Leonardo Finotti

O programa que nos foi exigido pelo cliente contemplava dois programas completamente distintos: um espaço destinado à moradia e outro ao trabalho. Como não havia uma predefinição desses espaços, tivemos a oportunidade de nos apropriar do terreno em sua capacidade máxima permitida pela legislação. Portanto, o edifício se desenvolve em dois volumes independentes para baixo e para cima da praça, cada qual com funções totalmente distintas, e mantendo a cota da rua desimpedida, livre de quaisquer obstáculos.

Implantação metropolitana, Implantação local e Plantas por nível de projeto.

O terreno originalmente apresentava uma declividade acentuada e, a fim de permitir a integração de seu térreo com o passeio público, foi proposto um embasamento construído que reconfigura a topografia. Por estar abaixo do nível da rua, pode se ocupar o máximo da largura (perímetro) do lote, respeitando os recuos necessários. Esse embasamento se organiza em dois espaços em um mesmo nível, interligados por pátios que acompanham o desnível do terreno.

A circulação vertical está estrategicamente instalada em uma das laterais da edificação: um elemento capaz de transitar entre duas situações opostas sem obstruir o vazio externo ou os espaços construídos internamente. Suspenso por pilotis, o segundo volume é composto por dois pavimentos com plantas livres ?característica comum a todo o projeto ?provendo flexibilidade na apropriação pelos espaços aos usuários.

Fotografias: Leonardo Finotti e Cortes longitudinais e transversais

A construção teve o orçamento disponível como premissa principal. Para tanto, seguiu-se o método construtivo de uma obra anterior do escritório no mesmo bairro: o Bar Mundial foi construído em estrutura metálica e painéis de concreto pré-fabricados, o que acelerou o tempo de execução da obra. Esse sistema de pré-fabricação com elementos de concreto foi desenvolvido pelo escritório com o intuito de subverter o uso de um material largamente empregado no Brasil. Frequentemente utilizados para a concretagem de lajes maciças, os painéis são aqui utilizados na vedação do edifício, em duplas que dão forma a paredes ocas executadas em tiras de 25 cm de largura com altura variável.

Fotografias: Lauro Rocha

O embasamento foi feito em estrutura convencional de concreto, tornando-se um muro pré-condicionado a desempenhar a função de consolidação do terreno. Foram intercalados painéis de concreto maciço e painéis ocos, prevalecendo a primeira opção em situações de contato com o solo e nas lajes que conformam a praça de acesso.

O volume suspenso é estruturado em vigas e pilares metálicos, que conferem leveza em sua execução. O sistema de painéis ocos é utilizado não somente nas vedações, mas também desempenha a função de laje em virtude de sua enorme capacidade de resistência mecânica – a laje foi pensada como uma sequência de vigas treliças com banzos (superior e inferior) em concreto e em ferro na sua armação interna. A construção desse volume suspenso foi feita, portanto, com maior rapidez, já que não havia a necessidade de concretar o miolo da laje. Esse aspecto reduz a carga na estrutura metálica e o custo final da obra.

A princípio um limitante para este projeto, a condição orçamentária acabou nos motivando a investigações de novas alternativas construtivas. Seu êxito consiste na execução de um espaço que não exigiu grande investimento e sem desperdício de materiais.

Fotografias: Leonardo Finotti


Estúdio Madalena (Texto publicado no Catálogo de Prêmio de Arquitetura 2015 Instituto Tomie Ohtake Akzonobel), por Abílio Guerra

Opressiva, São Paulo é uma cidade sem profundidade ao rés-do-chão. O adensamento das construções sequestra a percepção sensorial da geografia da cidade, encastelada sobre morros. A movimentação intensa do território se apresenta de quando em quando ao olhar que se volta para o ponto de fuga do arruamento. Contudo, a visão frontal desobstruída é mais rara, caso do MASP na Avenida Paulista.

O Estúdio Madalena ?projeto de Anderson Freitas, Acácia Furuya e Pedro Barros, do Apiacás Arquitetos, e localizado em rua e bairro homônimos ao seu nome de batismo ?assemelha-se ao projeto de Lina Bo Bardi em sua estratégia de implantação. O que seria o térreo da edificação é uma extensão da calçada pública, que se transforma em recinto aberto e desobstruído, quase uma praça que se volta para a paisagem. O chão deste espaço é a parte superior da prótese incrustada no talude do terreno em queda, e que abriga o uso residencial na parte baixa do terreno. O volume suspenso, destinado a espaços de trabalho, se desenvolve em dois andares, que se equilibram sobre quatro pilares esguios de metal. Tal como no MASP ?mas neste caso, devido à escala modesta do projeto, apenas com escadas sobrepostas ? a circulação vertical se dá lateralmente, com pouca interferência no térreo.

Devido às restrições econômicas do empreendimento, os arquitetos baratearam o custo e aumentaram os benefícios com o uso de materiais industrializados disponíveis no mercado, a edificação da maior área construída possível (500 m2 em um terreno de 250 m2) e a rápida execução da obra. Painéis pré-fabricados de concreto ?corriqueiramente usados como formas de concretagem, adaptados aqui à condição de paredes e lajes ?se articulam a uma estrutura metálica ortogonal, solução simples e barata para a parte suspensa do projeto. Os mesmos painéis e estrutura metálica são usados no embasamento, mas agora apoiados em estrutura convencional de concreto, que faz o contato direto com o solo.

A escala reduzida e o aporte restrito de recursos não inibem sua qualidade exemplar. Além de contemplar de forma adequada o programa de uso e o baixo orçamento, o projeto tem como principal atributo sua gentileza urbana. Não apenas moradores ou usuários dos seus espaços, mas todos aqueles que passam diante do Estúdio Madalena são agraciados com a maravilhosa vista que se descortina de forma surpreendente. Diante desta fresta urbana, o homem da cidade pode mirar a cidade ?este grande artifício humano ?como se fosse a paisagem natural.


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Anderson Freitas (A.F.)

MDC – Como você contextualiza essa obra no conjunto de toda a sua produção?

A.F. – Penso que esta obra resulta de experimentações construtivas que vínhamos buscando a partir de uma certa inquietude em relação aos métodos tradicionais de construção. Não estamos com isso afirmando que esta obra é resultado de uma pesquisa tecnológica avançada, mas, simplesmente, de pensar a construção se valendo de elementos existentes no mercado, de certa forma subvertendo sua utilização convencional com intenção primeira da materialidade que nos interessava e consequentemente resultasse numa obra ágil e econômica. Olhando para o conjunto, a nossa maneira de ver, sob o aspecto da espacialidade, acreditamos que ele mantém a postura que sempre tivemos em relação a todos os projetos que desenvolvemos em nosso escritório, ou seja, nunca submetemos a qualidade espacial que desejamos em detrimento de um sistema construtivo escolhido.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

A.F. – Este projeto foi resultado de um outro projeto já em fase de obra, de escala semelhante, no mesmo bairro da zona oeste de São Paulo, o bar Mundial. O cliente, que ainda não era, viu a obra e gostou muito do projeto, do sistema construtivo (similar ao do Estúdio Madalena). Enfim, ele acabou nos contratando para fazer o dele também. Quando estávamos iniciando o projeto descobrimos que ele já tinha um outro projeto já aprovado na prefeitura, mas desistiu de executar quando viu nossa obra.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Você destacaria algum momento significativo do processo?

A.F. – Como partimos de uma solicitação do cliente em relação ao programa, que desejava um lugar onde ele pudesse trabalhar e viver, essa questão nos provocou a pensar o projeto de forma pouco convencional em relação às conexões entre ambientes, digo em relação à necessidade de fazê-los conectados por espaços fechados, ou protegidos. Creio que essa condição foi fundamental para pensarmos o projeto com certa liberdade para sua volumetria: poder tirar partido desse jogo, de maneira a criar espaços de permanência abertos, como pequenas praças e, nesse sentido, poder estabelecer uma relação mais forte com o entorno. Daí a ideia do programa bi-partido com parte da volumetria fechada redesenhando o chão e outra elevada para liberar a visão da paisagem para quem caminha pela rua.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa do autor? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, pode comentar as mais importantes?

A.F. – Houve uma certa luta com o engenheiro de estruturas que insistia em fazer os pilares metálicos muito pesados, aumentados em relação à real necessidade de carga que ele receberia, já que desenvolvemos especificamente para esta obra, não somente as paredes mas também as lajes ocas, fazendo o piso, ao invés de ser em concreto maciço, funcionar como um conjunto de vigotas com os banzos em concreto unidos pela ferragem de armação. Uma vez que o convencemos a partir do cálculo de cada laje comparada a uma laje maciça, ele aceitou. Porém, voltou com outro problema, dizendo que os esforços de vento fariam essa estrutura, que trabalha como uma mesa, com quatro pernas, deformar etc. Aí contra argumentei que a caixa de escada metálica, anexada ao volume suspenso, atuaria como um arco botante e naturalmente iria funcionar como um travamento suficiente para este problema, já que estaria toda contraventada. Enfim, depois de muitas idas e vindas o engenheiro acabou por aceitar os argumentos. Penso que se tivéssemos cedido aos questionamentos esse projeto não teria a mesma expressividade.

MDC – O autor do projeto teve participação no processo de construção/implementação da obra? Se sim, quais os momentos decisivos dessa participação?

A.F. – Tivemos total participação no processo de construção, já que fomos os responsáveis pela obra. Temos convicção que essa condição nos devolve a possibilidade de experimentarmos métodos e sistemas construtivos não convencionais que em outra situação não poderíamos.

Outra questão interessante que se desdobrou em nossa atuação profissional por conta de assumirmos a administração e gerenciamento dessas obras é que acabamos por nos ver “forçados?a consolidar uma empresa voltada para essa operação, que inicialmente se misturava ao Apiacás Arquitetos. Agora se trata de outra empresa, dos mesmos sócios, chamada Aimberê Construções. O interessante é que a equipe de arquitetos que trabalha conosco acaba por vivenciar experiências no campo do projeto e também no canteiro de obra. E isso faz diferença pois a autonomia das decisões acaba sendo nossa, que é um pouco limitante quando essa responsabilidade não está em suas decisões, problema recorrente no Brasil quando se pensa a questão do arquiteto no canteiro de obras.

MDC – Você destacaria algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

A.F. – Este projeto era de fato para ser utilizado pelo cliente que contratou a obra, mas ele acabou recebendo uma oferta tentadora de aluguel do estúdio assim que ficou pronto. Como ele tinha outros imóveis no mesmo bairro, ele acabou alugando e não ocupou a nova edificação. Ficamos receosos se daria certo para o novo inquilino, uma empresa de publicidade, se eles manteriam o vazio etc, mas no fim preservaram (o que achamos importante), mas, infelizmente, acabaram por fazer um fechamento em relação à rua, abrindo somente quando fazem eventos. De certa maneira achamos que tudo bem, faz parte da vida rsrs.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, faria algo diferente?

A.F. – Olha, penso que o tempo pode mudar sua maneira de pensar em relação às coisas, então não posso afirmar que faria igual, exatamente igual. Acho que talvez não seja essa a questão. Talvez a questão seja se você se arrepende de um determinado projeto, se entende que errou em tomar aquela decisão. Nesse sentido, posso afirmar que não, pois quanto mais o tempo passa, mais gosto deste projeto, mesmo não podendo afirmar se faria a mesma solução hoje.

MDC – Como você contextualiza essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

A.F. – Penso que ela se encaixa no contexto onde há busca por facilitação do processo construtivo, para evitar desperdícios, que representa leveza para soluções estruturais e consequentemente econômicas. O fato de termos colaborado com o Lelé (João Filgueiras Lima) em alguns projetos inevitavelmente plantou essa semente. Isso do ponto de vista da construção. Do ponto de vista da espacialidade, ela se enquadra nessa constante luta por desenhar a cidade de maneira mais gentil, onde cada oportunidade, não importando se vem de uma demanda pública ou privada, é um motivo para desenhar essa cidade que desejamos. Lembro sempre daquilo que o arquiteto e professor Abrahão Sanovicz sentenciava aos seus alunos dizendo – “façam obras com gentileza urbana!

MDC – Há algo relativo ao projeto e ao processo que gostaria de acrescentar e que não foi contemplado pelas perguntas anteriores? Agradecemos imensamente a sua contribuição.

A.F. – Sim, penso que pelo fato de estarmos muito envolvidos com obras, acabamos inevitavelmente sendo contaminados constantemente pela questão do orçamento previsto, para evitar que o custo saia do controle. Creio que essa demanda surja pra gente antes do estudo. Mas não penso nisso como um problema, mas sim como uma contribuição para aumentar nosso senso de responsabilidade para o projeto, que neste sentido extrapola a questão espacial, mas não a torna menos importante, apenas uma luta constante para manter o equilíbrio.

Eu que agradeço. Ficamos muito honrados com o convite.


estudo preliminar


ESTUDO PRELIMINAR


9 pranchas (pdf).
3,91mb


projeto executivo


PARTE 1:
DIAGRAMA DE ÁREAS + PLANTAS E CORTES

13 formatos (pdf).
2,27mb


PARTE 2:
MURO DE ARRIMO + ESCADA DE CONCRETO

7 pranchas (pdf).
517kb


PARTE 3:
CAIXILHOS + GUARDA-CORPOS + GRADIS

17 pranchas (pdf).
1,01mb


PARTE 4:
ESCADAS METÁLICAS

26 pranchas (pdf).
3,23mb


PARTE 5:
HIDRÁULICA E ELÉTRICA

14 pranchas (pdf).
1,19mb


ficha técnica

Local: Vila Madalena, São Paulo- SP, Brasil
Ano de projeto: 2014
Ano de conclusão: 2014
Área do terreno: 500 m²
Área construída: 250 m²
Autores: Anderson Freitas, Acácia Furuya e Pedro Barros
Colaboradores: Bárbara Francelin, Marcelo Otsuka, Daniela Andrade, Maria Wolf, Ana Julia Chiozza, Leonor Vaz Pinto, Felipe Zorlini, Adriana Domingues, Matheus D’Almeida, Gabriela de Moura Campos, Lorran Siqueira, Vitor Costa, Francisco Veloso, Renato Kannebley e Accácio Mello


Projeto estrutural:
CCT Engenharia
Projeto de fundação:
VWF Fundações



Fotos: Lauro Rocha e Leonardo Finotti


galeria


colaboração editorial

Isabela Gomide

deseja citar esse post?

FREITAS, Anderson. FURUYA, Acácia. BARROS, Pedro. “Estúdio Madalena”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., mai-2024. Disponível em //www.28ers.com/2024/05/08/estudio-madalena. Acesso em: [incluir data do acesso].


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//28ers.com/2024/05/06/estudio-madalena/feed/ 0 15488
Leonardo Finotti – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2024/04/10/sede-da-confederacao-nacional-de-municipios-cnm/ //28ers.com/2024/04/10/sede-da-confederacao-nacional-de-municipios-cnm/#respond Wed, 10 Apr 2024 19:25:27 +0000 //28ers.com/?p=16298 Continue lendo ]]> Por Mira Arquitetos
7 minutos

Sede da Confederação Nacional de Municípios ?CNM (texto fornecido pelos autores)

O partido adotado determina a criação de um espaço metropolitano em consonância com o contexto urbanístico da cidade como condição principal para projeto do novo equipamento. O plano de ação para a implantação da nova sede da CNM partiu de alguns pressupostos fundamentais:

– formulação de um modelo de ocupação do solo com ênfase na integração dos usuários com a paisagem construída;
– estruturação/hierarquização do térreo deve reforçar sua vocação como principal local de convergência;
– escolha de um sistema construtivo claro e racional, garantindo rapidez e economia na execução;
– adoção de estratégias que permitam o bom desempenho ambiental do edifício.

Fotografia: Leonardo Finotti

O eixo de evolução do projeto se materializa em sua extensão máxima na forma de um prisma metálico branco que flutua delicadamente sobre o embasamento de concreto. O posicionamento da lâmina busca transferir para dentro do corpo construído os visuais da paisagem, incorporando a presença do entorno ao seu uso cotidiano. A disposição dos elementos construídos é uma resposta direta à distribuição do programa no lote:

– a base abriga todas as funções coletivas, espaços destinados a acolher o público externo (salão nobre, foyer, salas de apoio), assim como espaços de estar (café);
– na lâmina metálica encontram-se as áreas de trabalho administrativo, salas de reunião e corpo diretivo;
– na cobertura, salas de reunião;
– por fim, no subsolo, garagens (2º e 3º subsolos) e um anexo destinado ao restaurante e áreas técnicas (1º subsolo).

Maquete física do CNM

O desenho do chão foi o fio condutor da proposta. Criou-se uma praça, levemente rebaixada em relação a cota média do terreno, que se desdobra em dois níveis, resultando em uma nova topografia para o lote. Na cota 1042.70 o espelho d’água orienta o percurso do pedestre rumo à recepção, configurando o acesso às áreas administrativas. Na cota inferior, inscrita na volumetria da base, encontra-se a praça cívica por onde é possível acessar o complexo do auditório. Uma escadaria conecta os dois planos, permitindo a realização de eventos de forma autônoma, sem prejudicar a rotina de trabalho administrativo.

Fotografias: Leonardo Finotti

O sistema construtivo adotado buscou conciliar necessidades de redução de custos, rapidez de execução e flexibilidade máxima para os planos de trabalho. Para tanto, toda a estrutura, forros e elementos de vedação foram rigorosamente modulados a partir de múltiplos de 1,25m. O embasamento de concreto obedece a criteriosa disposição de pilares, potencializando a disposição de vagas de estacionamento e dos demais espaços internos. A estrutura periférica da caixa metálica elimina completamente a interferência de pilares dos planos de trabalho, permitindo futuras atualizações de layout e prolongando assim a vida útil da edificação. As redes de infraestrutura e lógica distribuem-se por forros, pisos e shafts. Uma prumada central de elevadores e escadas faz a integração vertical do edifício dividindo os planos de trabalho em dois grandes planos livres.

Plantas, Cortes e Elevações

A instituição exige um edifício exemplar no que diz respeito à gestão dos recursos naturais. Nesse sentido, a estratégia de gestão ambiental foi pensada de forma a oferecer respostas abrangendo as principais esferas da sustentabilidade.

Na esfera ambiental:
– aumento do desempenho térmico da edificação, reduzindo o ganho de calor através do uso de lâminas de água nas coberturas e de cores com alto coeficiente de reflexão;
– uso de brise protegendo os planos de trabalho de incidência direta dos raios solares;
– camada de ar ventilada nas fachadas;
– ventilação cruzada em todos os ambientes, permitindo a redução do uso de ar condicionado;
– águas pluviais captadas pelos espelhos d’água, direcionadas para cisternas de armazenamento e reutilizadas posteriormente na irrigação e em vasos sanitários;
– amplo uso de iluminação natural indireta;
– no paisagismo, a escolha das espécies arbóreas nativas do cerrado, bioma onde está inserido o projeto.

Diagrama de Estratégia Ambiental

Na esfera social:
– acessibilidade universal;
– atendimento às necessidades básicas de ergonomia.
– espaços integradores viabilizando interrelações entre usuários e visitantes.

Na esfera econômica:
– modulação e uso de componentes industrializados, racionalizando a obra e reduzindo
o desperdício de materiais;
– escolha de materiais de acordo com seu ciclo de vida e facilidade de manutenção.

Fotografias: Leonardo Finotti


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Maria Cristina Motta e Luís Eduardo Loiola (Mira)

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no conjunto de toda a sua produção?

Mira – Éramos, Cris e eu, arquitetos com poucos anos de formados. O projeto da CNM reuniu um conjunto de ideias que alimentávamos desde a faculdade e é síntese desse início de percurso. Consideramos nossa obra inaugural.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

Mira – O projeto foi selecionado via concurso público de anteprojetos, organizado pelo IAB DF.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Vocês destacariam algum momento significativo do processo?

Mira – O desenho do térreo, buscando trazer para dentro do lote a dimensão pública do chão de Brasília, foi um momento importante. Pensamos em uma nova topografia, organizando as funções previstas em níveis distintos. O espaço resultante é um percurso que aos poucos revela escalas ocultas, invisíveis para quem vê o prédio da rua. Um trajeto onde as alturas se alternam e os vazios se sucedem até o interior do edifício.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros autores que modificaram as soluções originais? Se sim, pode comentar as mais importantes?

Mira – Fomos responsáveis por todo o desenvolvimento, coordenação e compatibilização do projeto de arquitetura e engenharias complementares. As modificações mais importantes surgiram logo no início do processo de desenvolvimento onde incorporamos observações da Comissão Julgadora, desejos da Instituição e ajustes para atender à legislação. As dimensões do edifício foram aumentadas para melhor acomodar as áreas de trabalho. O corte do embasamento em concreto armado foi reorganizado, tornando-o mais simples e flexível.

Como o partido estrutural e de infraestrutura fizeram parte da concepção arquitetônica desde o princípio, as engenharias complementares pouco impactaram o desenvolvimento.

MDC – Os autores dos projetos tiveram participação no processo de construção/implementação da obra? Se sim, quais os momentos decisivos dessa participação?

Mira – Fomos contratados para o acompanhamento de obra e tivemos participação ativa na implementação do edifício. Consideramos nossa participação decisiva quanto ao cuidado com o controle das especificações e em particular com a execução e tratamento para acabamento e proteção do concreto aparente.

MDC – Vocês destacariam algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

Mira – A simplicidade da solução arquitetônica resultou em um edifício sóbrio. Apesar das diversas alterações posteriores, é surpreendente como os princípios essenciais dessa arquitetura perduram no tempo.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, fariam algo diferente?

Mira – Consideramos que a resposta foi adequada ao problema e programa colocado.

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

Mira – O edifício da CNM é um dos poucos construídos no país, nos últimos 20 anos, cuja escolha do projeto se deu por meio de um concurso público de arquitetura. Consideramos todo o processo um exemplo positivo no panorama nacional, reforçando a importância dos concursos como modalidade mais democrática de licitação para a escolha de projetos públicos.


projeto executivo


EXECUTIVO SÉRIE A:
PLANTAS E CORTES

21 pranchas (pdf).
40,56mb


EXECUTIVO SÉRIE F:
AMPLIAÇÃO – BRISES

2 pranchas (pdf).
1,35mb


ficha técnica

Local: Brasília, DF
Data do projeto: dezembro de 2010
Conclusão da obra: junho de 2016
Área do terreno: 5.040 m²
Área construída: 10.488 m²
Arquitetura: Mira Arquitetos (Luís Eduardo Loiola e Maria Cristina Motta)
Colaboradores: Ana Carolina Sumares, Luís Felipe da Conceição, Marcelo Ribas, Luisa Leme Simoni, Gabriela Lira Dalsecco



Estrutura:
Kurkdjian e Fruchtengarten Engenheiros Associados
Fundações:
Mag Solos Engenheiros Associados
Instalações prediais: MHA Engenharia Ltda
Luminotécnica: Lux projetos
Caixilhos: Dinafex
Paisagismo: Gabriela Ornaghi
Construtora: Soltec Engenharia



Fotos: Leonardo Finotti
Contato: mira@miraarquitetos.com.br



Concurso Nacional de Projetos: 1º Lugar


galeria


colaboração editorial

Isabela Gomide

deseja citar esse post?

LOIOLA, Luís Eduardo. MOTTA, Maria Cristina. “Sede da Confederação Nacional de Municípios – CNM”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., abr-2024. Disponível em //www.28ers.com/2024/04/10/sede-da-confederacao-nacional-de-municipios-cnm. Acesso em: [incluir data do acesso].


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//28ers.com/2024/04/10/sede-da-confederacao-nacional-de-municipios-cnm/feed/ 0 16298
Leonardo Finotti – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2023/11/26/estacao-antartica-comandante-ferraz/ //28ers.com/2023/11/26/estacao-antartica-comandante-ferraz/#respond Sun, 26 Nov 2023 20:24:16 +0000 //28ers.com/?p=13193 Continue lendo ]]> Por Estudio 41
9 minutos

Projetar e construir para o Brasil na Antártica (texto fornecido pelos autores)

Em certos lugares do planeta a natureza por vezes cria condições adversas para o corpo humano. Nestes locais, pensar um edifício é quase como construir uma vestimenta, um artefato que protege e conforta. Trata-se de um problema de desempenho tecnológico, mas que deve estar aliado à estética. Fazer o ser humano sentir-se bem é mais que trabalhar as noções de conforto e segurança, é também trabalhar os espaços nas suas dimensões simbólicas e perceptivas.

Fotografia: Leonardo Finotti

Um abrigo, um lugar seguro. A nova casa do Brasil na Antártica. Um lugar de proteção e reunião das pessoas para a produção do conhecimento científico.

Assim é encarada a tarefa de projetar a nova Estação Antártica Comandante Ferraz.

Fotografias: Eron Costin

O vazio deixado pelo incêndio ocorrido em 2012 carrega de simbolismo a importância dessa nova construção; ela representa a presença brasileira na Antártica como possibilidade de contribuição científica em conjunto com a comunidade internacional. Representa também uma oportunidade de desenvolvimento tecnológico para a arquitetura brasileira e para a indústria nacional.

Fotografias: Leonardo Finotti (sem neve) e Eron Costin (com neve)

De outro lado, o processo de projeto nos leva a entender aos poucos a fragilidade da vida humana e como se deve agir para resolver problemas construtivos, funcionais e sensoriais. Nesse sentido, as decisões são tomadas de modo cuidadoso, pois é preciso respeitar a natureza e entender que há desafios a serem superados antes de se chegar ao edifício construído.

Fotografias: Eron Costin

A presente proposta para a Estação Ferraz parte da interpretação do território e das condições geográficas da região. Sendo assim, a implantação dos edifícios propostos leva em consideração a topografia da Península Keller e as necessidades de preservação das áreas de vida animal e vegetal do entorno, entre outros fatores. Diversas condições previstas pelo Zoneamento Ambiental de Uso são respeitadas de modo a minimizar os impactos na natureza.

Situação e Implantação

Os setores funcionais estão organizados em blocos que distribuem os usos. O bloco superior, no nível +9,10, abriga os camarotes, áreas de serviço e o jantar/estar. Ao bloco inferior, no nível +5,95, foram incorporados os laboratórios e as áreas de operação e manutenção. Este mesmo bloco abriga as garagens e o paiol central, localizados no nível +2,50.

Planta Bloco Superior +9,10

Planta Bloco Inferior +5,95

Um bloco transversal, também no nível +5,95, reúne os usos social e de convívio. Neste trecho estão posicionados a sala de vídeo/auditório, a lan house, a sala de reuniões/videoconferência, a biblioteca, e o estar.

Fotografias: Leonardo Finotti

Elevações

Cortes

A implantação é completada com as plantas de painéis fotovoltaicos, ao norte, e de turbinas eólicas VAWT a sudoeste.

Fotografia: Leonardo Finotti (sem neve) e Eron Costin (com neve)


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Emerson Vidigal (E.V.)

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no conjunto de toda a sua produção?

E.V. – Provavelmente é a obra mais relevante dos meus primeiros 20 anos de formação. O contexto geográfico singular e a importância estratégica para a pesquisa científica no país são aspectos inegáveis. Poucos trabalhos de projeto nos colocam diante de desafios como esse, em termos de pesquisa, e de intensidade no trabalho.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

E.V. – Foi um concurso internacional de arquitetura ocorrido em 2013, organizado pelo IAB-RJ, e promovido pela Marinha do Brasil.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Vocês destacariam algum momento significativo do processo?

E.V. – Talvez tenha sido, entre as nossas participações em concurso de arquitetura, a definição de implantação e volumetria geral mais rápida. Em poucas reuniões, depois de algumas semanas de pesquisa e a definição do corte transversal – compreendido através da pesquisa – chegamos nesse partido. A questão é que, a partir disso, havia bastante trabalho com as engenharias e reuniões com os consultores, antes de conseguir finalizar um produto mais consistente para a entrega do concurso. Eu diria que o entendimento das condições geográficas e a questão da logística de montagem nos ajudaram a traçar desde a estratégia de implantação até os sistemas de envoltória possíveis naquelas condições. Com isso mais claro, pudemos trabalhar detalhando um pouco a proposta, num nível suficiente para a competição. Depois foi o trabalho do júri.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, podem comentar as mais importantes?

E.V. – Sim. No ano de 2013, foram seis meses intensos para chegarmos às primeiras versões do Projeto Executivo. Entre 2014 e 2016, ocorreram as etapas de licitação da obra para a escolha da empresa construtora. Durante todo esse processo a interlocução constante e o profissionalismo da equipe de engenharia (AFAconsult) foram fundamentais para dar conta de um trabalho dessa magnitude em um curto espaço de tempo.

A solução de fundações, por exemplo, complexa num terreno em que o solo sofre congelamento, passou de fundação direta (hipótese do concurso) para fundação com microestacas (ideal para a equipe de engenharia). No final, acabou sendo escolhida a hipótese de fundação direta prevista inicialmente, mas com detalhamentos bem distintos do desenho inicial.

Outro aspecto importante foi o diálogo com as equipes de cientistas que utilizam o edifício nos verões antárticos. Com a ajuda deles conseguimos detalhar muito mais o programa de necessidades. Isso teve impacto no desenho da ala de laboratórios.

No geral, as estratégias iniciais elaboradas na etapa do concurso resistiram bem às novas informações incorporadas ao longo do Projeto Executivo.

MDC – Os autores dos projetos tiveram participação no processo de construção/implementação da obra? Se sim, quais os momentos decisivos dessa participação?

E.V. – Na etapa de fabricação, em Shanghai, na China, nossa participação ocorreu somente como observadores. Nosso contrato previa que o escopo do Estúdio 41 se encerraria quando da escolha da empresa construtora. Após isso, a Marinha do Brasil assumiria a fiscalização e acompanhamento da obra. O pessoal da AFAconsult acabou sendo contratado para acompanhar os trabalhos na China, mas a legislação brasileira criou alguns empecilhos para que pudéssemos ser contratados também. Na China, alguns sistemas de revestimento e acabamentos internos foram substituídos. Mas, no geral, o detalhamento de fabricação da CEIEC (empresa construtora) seguiu bem as orientações do Projeto Executivo de Arquitetura.

MDC – Vocês destacariam algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

E.V. – Visitamos a Estação Ferraz em novembro de 2019, quando 90% da obra estavam concluídos. Dois meses depois foi a inauguração. No entanto, já em novembro as equipes de cientistas começavam a chegar para ocupar os novos laboratórios. Isso foi importante: perceber que a ciência brasileira começava a tomar conta dos espaços.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, fariam algo diferente?

E.V.– Sim. Certamente. Acredito que os espaços internos poderiam ter um tratamento menos pragmático. Com a correria toda para entregar o Projeto Executivo em cinco meses, muita coisa ficou aquém do desejado. Hoje solicitaríamos mais tempo para desenvolver essa espacialidade e os mobiliários internos.

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

E.V. – Acho que é um projeto que representa bem a necessidade da construção de bons espaços para a ciência brasileira. Nossas instituições aqui não têm tantos espaços de qualidade, pensados especificamente para a produção científica. Por outro lado, vivemos num país tropical, aqui no Brasil não faz tanto frio, a não ser em poucas regiões mais ao sul. Nesse sentido, o projeto funciona como um experimento que permite o aprendizado de novas tecnologias, de novas formas de imaginar o espaço, diferentes do que sempre vemos na arquitetura brasileira contemporânea, aquela que vemos publicada e que se torna referência para os arquitetos mais jovens, feita para os climas tropicais. Esse projeto, de certa forma, abre novos horizontes para a produção nacional.

MDC – Há algo relativo ao projeto e ao processo que gostariam de acrescentar e que não foi contemplado pelas perguntas anteriores?

E.V. – Estamos curiosos para saber como o projeto estará daqui a 20 anos, por exemplo, o quanto ele será resiliente às transformações tecnológicas e como as pessoas vão se sentir usando no futuro. Acho importante, como arquiteto, entender essa pós-ocupação no longo prazo, até para podermos aprender com os erros que ficam claros na passagem do tempo.


projeto executivo


PARTE 1:
ARQUITETURA, DETALHES DE CIRCULAÇÃO
VERTICAL E ESQUADRIAS

31 pranchas (pdf).
32,47mb


PARTE 2:
EQUIPAMENTO COZINHA E MOBILIÁRIO

42 pranchas (pdf).
3,30mb


PARTE 3:
CAMAROTES, ÁREAS LABORATORIAIS E UNIDADES ISOLADAS

83 pranchas (pdf).
49,84mb


PARTE 4:
DETALHES DE FORROS, PAREDES, CORREDOR TÉCNICO
ENVOLTÓRIA, COMUNICAÇÃO VISAUAL
E IMPERMEABILIZAÇÃO

62 pranchas (pdf).
63,41mb


PARTE 5:
DETALHE ÁREAS GERAIS, TÉCNICAS E DE SERVIÇOS

60 pranchas (pdf).
66,31mb


localização e ficha técnica do projeto

Local: Ilha do Rei George, Península de Keller
Ano de projeto: 2013
Período de obra: 2016 a 2020
Área: 4916 m²
Arquitetura: Dario Durce, Emerson Vidigal, Eron Costin, Fabio Faria, João Gabriel Rosa
Colaboradores: Martin Goic, Moacir Zancopé Jr., Fernando Moleta, Felipe Santos, Alexandre Kenji, Rafael Fischer


Projetos Complementares: AFA CONSULT
Construtora: CEIEC- China
Estrutura:
Rui Furtado, Filipe Arteiro
Geotecnia:
Rui Furtado, Filipe Arteiro, Filipe Afonso
Instalações Elétricas e Telecomunicações:
Raul Serafim, Luis Oliveira
Instalações hidrossanitárias: Paulo Silva, Alexandra Vicente
Sistemas Mecânicos: Marco Carvalho, Isabel Sarmento, Tiago Teixeira
Segurança contra Incêndio: Maria da Luz Santiago
Resíduos Sólidos: João Oliveira
Projeto de Acústica: Octávio Inácio
Consultores: Envoltória: Stephan Heinlein; Geotecnia: Pedro Huergo, Eng. Josiele Patias; Instalações, Conforto e Energia: Eng. Eduardo Ribeiro; Segurança e Prevenção Contra Incêndio: Arq. Carlos Garmatter; Estruturas: Eng. Ricardo Dias; Conforto e Energia: (PETINELLI)


Fotos:  Eron Costin e Leonardo Finotti
Contato: estudio@estudio41.com.br


galeria


colaboração editorial

Renan Maia

deseja citar esse post?

DURCE, Dario. VIDIGAL, Emerson. COSTIN, Eron. FARIA, Fabio. ROSA, João Gabriel. “Estação Antártica Comandante Ferraz”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., out-2023. Disponível em //www.28ers.com/2023/11/26/estaçao-antartica-comandante-ferraz. Acesso em: [incluir data do acesso].


]]>
//28ers.com/2023/11/26/estacao-antartica-comandante-ferraz/feed/ 0 13193
Leonardo Finotti – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2023/11/26/sede-da-fecomercio-sesc-e-senac-rs/ //28ers.com/2023/11/26/sede-da-fecomercio-sesc-e-senac-rs/#respond Sun, 26 Nov 2023 20:11:32 +0000 //28ers.com/?p=13906 Continue lendo ]]> Por Estudio 41
7 minutos

Sede da Fecomércio, Sesc e Senac RS (texto fornecido pelos autores)

O projeto foi vencedor do Concurso Público Nacional para a Nova Sede da Fecomércio,
Sesc e Senac do Rio Grande do Sul, organizado pelo IAB-RS em 2011.

Memorial

O homem transforma o meio ambiente, interfere na natureza de modo a produzir espaços que abriguem suas atividades cotidianas. Nesse processo, provoca mudanças, constrói objetos, pensa em artifícios inseridos no ambiente natural. A presente intervenção sugere uma reflexão sobre a relação entre natureza e artifício. Propõe assim, edifícios que sejam ao mesmo tempo: artefato e paisagem, cobertura e relevo, abrigo e área aberta.

Fotografias: Eron Costin

Natureza e artifício

O projeto da nova sede administrativa da Fecomércio, Sesc e Senac do Rio Grande do Sul se insere em um terreno de 15ha ao norte de Porto Alegre. Trata-se de uma região limítrofe da malha urbana, onde o município de Porto Alegre encontra com sua região metropolitana.

Fotografias: Eron Costin / Isométrica geral

Partindo dessa realidade, o presente projeto coloca-se como um modo de interpretar essa relação entre o meio ambiente e a cidade, entre natureza e artifício. De fato, uma intervenção do porte do Sistema Fecomércio tem o poder de renovar, induzir e qualificar seu entorno imediato. Entendendo a força dessa ideia, propõe-se que boa parte dos espaços projetados possa ser utilizada, além dos usuários e colaboradores, pela comunidade local.

Fotografias: Eron Costin

Tornou-se necessário então agir em duas frentes:

– Interpretando o programa de necessidades como a possibilidade de invenção de um lugar ?a Fecomércio ?com forte identidade para a cidade e a comunidade local, fortalecendo assim a ideia da instituição como espaço de congregação, convívio e socialização de seus usuários e colaboradores, independentemente de quantos edifícios ou nomes de instituições estão a ele conectados;

Fotografias: Leonardo Finotti

– Propondo que os espaços de permanência de usuários, colaboradores e comunidade local estejam protegidos em uma cota mais elevada, preservando a ideia de segurança institucional mesmo habitando um terreno com fragilidades ambientais.

Fotografias: Eron Costin

Cortes A, B e C

Sugeriu-se então a criação de um edifício garagem horizontalizado, na cota +3,00m, conformado como um “podium? sobre o qual se apoiam os edifícios principais. Esse embasamento, além de abrigar os veículos, comporta também as áreas técnicas e de serviços do complexo, permitindo que os usos de longa permanência desfrutem de visuais generosas da paisagem da região e dos espaços abertos propostos.

Fotografia: Leonardo Finotti

Planta nível +3,00

A cobertura dessa construção recebe tratamento paisagístico, prolongando-se até o parque proposto na porção Leste do terreno. Trata-se da invenção de uma nova topografia ?um relevo artificial.

Fotografias: Eron Costin

O Centro de Convivência proposto, na cota +8,00m, age como elemento conector do conjunto edificado. Possuindo a característica de espaço público aberto, esse grande eixo funciona como antessala dos saguões de cada edifício: do Edifício Administrativo já edificado; e do Centro Educacional e do Centro de Eventos que serão futuramente construídos. Na porção Norte, o balanço de sua estrutura marca o acesso principal.

Planta nível +8,00

A torre administrativa é onde as atividades de trabalho se desenvolvem em pavimentos de planta aberta. Possui uma grande escada, junto à fachada sul, que proporciona visuais interessantes a cada pavimento que acessa, além de priorizar a circulação peatonal vertical através do edifício.

Plantas níveis +12,55 e +39,85, respectivamente

Fotografias: Leonardo Finotti


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Eron Costin (E.C.)

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no conjunto de toda a sua produção?

E.C. – Trata-se de um projeto de extrema importância para nosso escritório. Foi através da vitória neste concurso público de arquitetura que o Estúdio 41 se consolidou e é um projeto que trouxe muita visibilidade para nossa produção.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

E.C. – Foi através de um concurso público nacional de arquitetura, com a participação de 33 projetos.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Vocês destacariam algum momento significativo do processo?

E.C. – Após sermos contratados os relatórios de impacto ambiental indicaram que parte do terreno não poderia ser usada, e seria justamente a parte onde se encontrava a primeira fase do projeto. Desta forma precisamos rever todo o plano diretor e espelhar o projeto. Contudo o conceito macro do partido permaneceu mesmo após esta mudança drástica.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, podem comentar as mais importantes?

E.C. – Sim, participamos de todo o processo de projeto e compatibilização com os complementares. A principal alteração projetual foi no sistema estrutural, que era inteiramente em estrutura metálica e por conta dos custos houve alteração para estrutura pré-moldada em concreto. Contudo não houve alterações substanciais no aspecto geral do projeto.

MDC – Os autores dos projetos tiveram participação no processo de construção/implementação da obra?Se sim, quais os momentos decisivos dessa participação?

E.C. – Sim, participamos também no processo de acompanhamento da obra que durou três anos. Tivemos a sorte de sermos consultados constantemente e pudemos colaborar para solucionar os inúmeros problemas de obra inerentes a um projeto desta magnitude, uma vez que trata-se de 36 mil metros quadrados de projeto.

MDC – Vocês destacariam algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

E.C. – Pelo seu porte e localização é um projeto que acabou ficando muito conhecido e constantemente pessoas comentam que passaram em frente ou foram visitar, frequentemente impactados pela escala com comentários de que não imaginavam que era um edifício tão grande.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, fariam algo diferente?

E.C.– Passados doze anos da concepção do projeto com certeza faríamos coisas diferentes, pois evoluímos enquanto pessoas e arquitetos, embora a solução macro ainda nos pareça acertada e os relatos da pós ocupação, pelos funcionários e visitantes, têm sido muito positivos.

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

E.C. – Os materiais são utilizados de forma muito honesta e o sistema estrutural é exposto de forma a enaltecer sua função. Assim, trata-se de um edifício de arquitetura contemporânea, que reflete as técnicas construtivas de sua época e não está atrelada a nenhuma pré-determinação estilística.

MDC – Há algo relativo ao projeto e ao processo que gostariam de acrescentar e que não foi contemplado pelas perguntas anteriores?

E.C. – Acho interessante ressaltar que o edifício possui certificação ambiental Aqua, que contemplou desde a etapa de projeto até o monitoramento pós ocupação. Uma usina solar foi implantada e é capaz de suprir em torno de 30% da demanda por energia elétrica do complexo. A pré-fabricação e industrialização possibilitaram uma obra muito limpa e rápida, e tudo isso depende de um projeto muito mais detalhado e planejado do que os processos tradicionais de construção de nosso país. Ao final de tudo, ficamos muito contentes com o resultado final deste projeto e obra.


projeto executivo e documentos escritos


PARTE 1:
PROJETO ARQUITETÔNICO, PISO, FORRO E COBERTURA

97 pranchas (pdf).
76,29mb


PARTE 2:
DETALHES FACHADAS, DIVISÓRIAS, ESQUADRIAS E G.C.

44 pranchas (pdf).
37,53mb


PARTE 3:
DETALHES COPA, COZINHA, DML E I.S.

36 pranchas (pdf).
6,74mb


PARTE 4:
DETALHE AUDITÓRIO, CIRCULAÇÃO VERTICAL,
GUARITA MEDIÇÃO E HELIPONTO

37 pranchas (pdf).
41,36mb


PARTE 5:
MOBILIÁRIO FIXO E SINALIZAÇÃO

97 pranchas (pdf).
59,37mb


PARTE 6:
DETALHES CONSTRUTIVOS, EXECUTIVOS
ESPECÍFICOS E GENÉRICOS

15 pranchas (pdf).
12,95mb


PARTE 7:
PLANO DIRETOR E ARRAZOADO

61 formatos (pdf).
6,07mb


PARTE 8:
MEMORIAL DESCRITIVO

163 formatos (pdf).
0,47mb


PARTE 9:
ORÇAMENTOS DE CUSTOS

61 formatos (pdf).
1,96mb


localização e ficha técnica do projeto

Local: Porto Alegre, RS
Ano de projeto: 2013
Período de obra: 2017 a 2020
Arquitetura: Dario Corrêa Durce, Emerson Vidigal, Eron Costin, Fabio Henrique Faria, João Gabriel Rosa, Martin Kaufer Goic
Colaboradores: Moacir Zancopé Jr., Fernando Moleta, Alexandre Kenji, Rafael Fischer


Construtora: Construtora JL
Estrutura:
Vanguarda
Climatização:
Sistema Engenharia
Instalações Elétricas e Hidrossanitárias:
Eduardo Ribeiro
Cozinha Industrial: Nucleora
Paisagismo: Meta Arquitetura
Consultores de Acústica: Animacustica


Fotos:  Eron Costin e Leonardo Finotti
Contato: estudio@estudio41.com.br


galeria


colaboração editorial

Renan Maia

deseja citar esse post?

DURCE, Dario Corrêa. VIDIGAL, Emerson. COSTIN, Eron. FARIA, Fabio Henrique. ROSA, João Gabriel. GOIC, Martin Kaufer. “Sede da Fecomércio, Sesc e Senac RS”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., out-2023. Disponível em //www.28ers.com/2023/11/26/sede-da-fecomercio-sesc-e-senac-rs. Acesso em: [incluir data do acesso].


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//28ers.com/2023/11/26/sede-da-fecomercio-sesc-e-senac-rs/feed/ 0 13906
Leonardo Finotti – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2023/08/01/ampliacao-da-casa-boacava/ //28ers.com/2023/08/01/ampliacao-da-casa-boacava/#respond Tue, 01 Aug 2023 14:32:06 +0000 //28ers.com/?p=12077 Continue lendo ]]> Por UNA arquitetos / UNA MUNIZVIEGAS
24 minutos

Ampliação da Casa Boaçava (texto fornecido pelos autores)

O problema aqui era construir a ampliação de uma casa feita há 10 anos. A Casa Boaçava foi projetada em 2009 e inaugurada em 2012.


Fotografias (fase 1): Leonardo Finotti

Com os anos, alguns usos se intensificaram, outros se modificaram. As crianças cresceram. Surgiu a necessidade de um espaço para atividades relacionadas a oficinas de artes corporais, assim como parte da rotina de escritório dos moradores passou a ser realizada em casa.

Isométricas Casa Boaçava – fase 1 e 2

Em resposta a essas demandas, surgiu a oportunidade de compra do terreno vizinho. O projeto é a construção de uma praça que passa a ser o centro do conjunto, que articula novos usos aos existentes.

O volume que ocupava praticamente todo o lote, respeitando os recuos obrigatórios, ganhou um contraponto com o vazio exterior. São três frentes para essa praça, definidas pelas construções: a casa original com o bloco de concreto pigmentado e as duas alas do anexo. Novamente estabelece continuidade com a rua.

Plantas [1] térreo; [2] subsolo; [3] primeiro pavimento; [4] cobertura

Cortes longitudinais e transversais

O piso de madeira existente se estendeu para todos os espaços exteriores interligando também o jardim ao fundo, de onde se descortina a vista do vale do Pinheiros. A praça se completa com o horizonte. Habita-se a geografia se esquecendo do lote.


Fotografias: Leonardo Finotti

Em continuidade, no tempo, o novo volume é todo construído em planos de concreto aparente. Conexões e proteções são metálicas. A ideia é condensar os dois tempos da obra sem diferenciá-los, como se estivessem à espera de um novo complemento. Ao final, não saberemos o que foi feito antes, a casa, ou seu anexo. Poderiam ainda surgir mais intervenções, solução aberta.


Fotografias: Leonardo Finotti

A forma é de cidadela, um vilarejo, com torres, pontes, jardins suspensos, pátios rebaixados e praças cobertas.


A cidadela1 (por Carlos Alberto Maciel)

Diz-se que uma das principais contribuições de Vilanova Artigas à arquitetura brasileira teria sido a introdução da ideia de cidade no desenho da casa paulistana moderna. Daniele Pisani, em seu livro “A cidade é uma casa. A casa é uma cidade. Vilanova Artigas na história de um topos?sup>2, desvenda as possíveis origens dessa ideia que antecede Artigas, nos oferecendo um passeio de dois mil anos que passa por Leon Battista Alberti e Andrea Palladio, recua à Espanha dos Séculos VI e VII através do teólogo e arcebispo Isidoro de Sevilha, passa por autores do Século XIX como Ildefons Cerdà, retorna à modernidade europeia à época do Team X com Aldo van Eyck e outros e, em algum momento, identifica a presença do tema no Memorial para o concurso de Professor Titular na FAU-USP elaborado por Paulo Mendes da Rocha em 1998. Chegamos aqui a uma circunstância da história desse topos que nos interessa: a sua entrada no Século XXI. Contida na genealogia daquela máxima está outra, de menor extensão temporal, que conecta Artigas a Mendes da Rocha, e ambos a uma geração prolífica da arquitetura contemporânea que faz continuar aquilo que se conhece como Escola Paulista. Fazem parte dessa geração os arquitetos Cristiane Muniz e Fernando Viégas, formados na FAUUSP na década de 90 do Século passado. A Casa Boaçava em São Paulo foi projetada desde 2009 pelo Una Arquitetos sob sua coordenação3.

Para compreendermos melhor essa obra é preciso antes reconhecer os tempos de sua realização. A primeira Casa Boaçava foi projetada em 2009; sua ampliação, em 20184. O intervalo entre ambos informa a mudança: nas necessidades dos seus moradores; nos princípios que fundamentam as decisões dos arquitetos.

A casa de 2009 pode ser lida como herdeira direta do repertório teórico e projetual da Escola Paulista: eleva-se sobre poucos apoios promovendo uma integração radical entre interior e exterior e uma continuidade entre rua, jardim frontal, áreas de convivência e jardim com espaços de lazer; promove uma clara diferenciação entre espaços servidos e servidores, que orienta a própria imagem e ambiência dos espaços principais através do plano-volume que a um só tempo organiza linearmente os serviços, conforma parte da estrutura portante e conduz o olhar que atravessa o vazio dos espaços de convivência; oferece uma sombra qualificada, apenas delicadamente protegida pelas vidraças, que interpreta alguns dos melhores momentos da arquitetura paulista dos anos 60 e 70; por último, estabelece uma oposição entre o volume elevado, que se apresenta como uma construção geométrica e construtivamente precisa, e o desenho do chão, que reforça um sentido de urbanidade, editando sutilmente a topografia original para criar planos de uso que qualificam os diversos recintos de modo contínuo, o que retoma um tema central da obra de Vilanova Artigas5. Um belo desenho que evidencia essa estratégia é a terceira planta da casa que, embora tendo apenas dois pavimentos, os arquitetos fazem representar para revelar a variada geometria das contenções em meia altura que viabilizam o trecho rebaixado da área social que se estende para o jardim.

Como toda boa interpretação sempre acrescenta mais uma camada àquela matriz que lhe inspira, a casa Boaçava desloca a exploração da oposição dialética entre o desenho do chão e o da construção da espacialidade à matéria: o concreto aparente dos elementos que organizam os espaços ao nível do chão é pigmentado com óxido de ferro enquanto o concreto do volume elevado ?a construção ?tem pigmentação natural. Metaforicamente o solo se eleva e é reconfigurado, não apenas na sua topografia, mas como matéria que media usos e promove os fechamentos necessários às áreas de serviço. É verdade que o próprio Artigas usou artifício semelhante, como nas bases em pedra da Garagem de Barcos Santa Paula. Entretanto, nas explorações anteriores há uma mudança radical da materialidade entre embasamento e construção, algo presente na arquitetura há séculos. Aqui a exploração é mais sutil e incide sobre uma mesma técnica e uma mesma matéria, que resulta diversa devido à intervenção no processo construtivo. A alteração cromática modifica a ambiência e confere àquele material já amplamente usado na arquitetura uma nova camada de significado que o desloca da industrialização em direção a uma certa artesania, a rememorar técnicas vernáculas6. Nesse aspecto, a Casa Boaçava poderia ser entendida para além da modernidade que informa as suas principais estratégias projetuais.

Falamos do chão. Passemos à construção. Os volumes elevados da arquitetura paulista eram em sua maioria caixas com aberturas predominantemente unidirecionais e empenas cegas7. Definiam uma diferenciação entre um domínio público, que se estendia sob a sombra da casa, e um espaço de intimidade e introspecção, acolhido pelo artefato construído. Na casa Boaçava, a oposição se dá na organização programática da própria casa: espaços coletivos no chão; espaços individuais acima. O coletivo retorna no terraço superior, aberto ao sol. Entretanto, o que mais interessa aqui é o modo como os espaços individuais se dispõem. Ao contrário de uma certa abstração da usual abertura frente-fundos e da repetição modular que caracterizam grande parte da organização dos espaços íntimos das casas modernas, a disposição dos dormitórios da Casa Boaçava os pulveriza em uma estrutura ambiental que autonomiza as unidades ao separá-las por intervalos abertos não funcionalizados. É como se cada célula pudesse exercer sua singularidade e identidade, com privacidade e introspecção, e também usufruir de diferentes visadas do exterior e da experiência de espaços abertos ao se articularem aos intervalos que as separam. Essa ordem, aqui limitada a um conjunto de quatro dormitórios e um escritório, poderia perfeitamente ser ampliada para uma organização de um tecido urbano variado e diverso, em que espaços fechados se alternam a passagens e aberturas. Tais intervalos assumem o comando da lógica formal operando subtrações no volume principal em que a massa prevalece sobre a abertura, ao contrário da matriz formal moderna que privilegiava o vazio, a abertura e a transparência. Uma vez mais, a matéria adquire um protagonismo e inverte a expectativa daquela matriz dominante da Escola Paulista. A oposição entre a massa esculpida e a transparência do térreo acentua a radical distinção entre abertura e reclusão, coletivo e individual. Por outro lado, aquela estrutura ambiental parece informar o que estaria por vir.

Avancemos então quase uma década. Chegamos à ampliação da Casa Boaçava. Como nos ensina Paulo Mendes da Rocha, a beleza de um anexo está no modo como se coloca em relação àquele elemento principal que motivou sua realização. Nesse caso entretanto não se trata de um anexo no sentido usual, em que duas edificações de tempos distintos se organizam com certa diferenciação hierárquica8. Trata-se aqui de um desenvolvimento, uma transformação que introduz novas espacialidades, novas formas e novas relações entre as partes, redefinindo o todo e configurando uma nova unidade: uma cidadela9. Cidadela não como forte ou lugar de proteção, mas como um conjunto de edificações que a um só tempo preservam certa autonomia e constituem um todo. Este todo apresenta-se como uma micro estrutura urbana ao sobrepor à estrutura urbana de fato uma segunda camada que passa a organizar a vida doméstica para além dos seus espaços interiores, mas em uma rede variada de construções e espaços livres que, ao contrário das fortalezas fechadas que usualmente caracterizam as cidadelas medievais, amplia as possibilidades de integração com a paisagem e com a cidade10. A opção pela fragmentação programática e pela variedade volumétrica evita a mera repetição das soluções existentes na primeira casa, que passa a ser uma das partes do todo. À oposição entre a concentração da casa original e a dispersão das novas construções se soma outra oposição: aquela entre a ênfase no desenho do volume e o cuidado na qualificação dos vazios. O apuro na elaboração dos vazios “entre?e “através?dos novos elementos amplifica o sentido da casa não como um objeto contra o fundo do terreno, mas como um redesenho da totalidade do lote, reforçando o uso e a importância dos espaços livres, cuja forma e ambiência os fazem tão relevantes quanto os espaços abrigados11. Se na casa original os vazios são os elementos atípicos e de pequena escala que esculpiam o volume, aqui eles adquirem uma escala em que passam a conformar alguns espaços de sociabilidade e encontro entre os recintos interiores, como no grande deck que se desenvolve desde a rua, tem um momento de sombra sob a nova construção, continua na mesma cota para usufruir da sombra da futura árvore, e desce uma ampla escadaria para conectar a cota inferior do jardim da casa matriz e abrigar uma hidromassagem. Por sua centralidade e escala, transforma-se no protagonista do conjunto: o lugar gregário12. Outro espaço articulador ocorre sobre laje, no segundo pavimento: neste caso, um terraço jardim amplo oferece uma conexão ao ar livre entre o escritório ?a “torre?principal da cidadela ?e o estar no pavimento superior do novo pavilhão lateral. Aqui se dá uma inversão que modifica a experiência predominante dos espaços: a vista a distância a sudeste, que orienta a maioria das aberturas e a própria implantação que abre a praça naquela direção, deixa de ser referência para a orientação da sala de estar elevada, que se volta, ao contrário, para noroeste, estabelecendo uma abertura visual de menor extensão e portanto com maior intimidade, além de se transbordar para o mencionado terraço jardim. Esse, por sua vez, adquire também maior intimidade e fechamento em relação à paisagem dominante devido à presença do volume edificado do estar superior e ao paisagismo mais denso, oferecendo uma outra experiência ao ar livre, diferente daquela do grande deck-praça.

Se o térreo da nova construção constitui um segundo espaço de convivência, exterior, análogo e complementar à sequência espacial interna e abrigada do térreo da casa original, é na elaboração volumétrica do segundo pavimento que se dá a maior diferenciação em relação à construção pré-existente: os dois volumes quadrados, idênticos, com 6 por 6 metros, constituem duas identidades que se colocam em complemento ao volume original, evitando tanto a unidade da forma simples como a mera repetição do volume original, e produzindo assim um skyline variado. Num contexto diferente, quando chamado a projetar a residência de sua irmã em lote vizinho à sua, Paulo Mendes da Rocha replicou o desenho de sua casa com mínimas variações. Tratava-se ali de um discurso sobre o caráter prototípico da habitação, muito coerente com o ideário moderno da industrialização pautado pela estandardização. Aqui, o caminho é outro, que se afasta do genérico e da repetição, do industrial e do padronizado, para reconhecer o específico e o complementar, o artesanal e o singular.

Aqui o destacamento parcial entre os espaços íntimos autonomizados do segundo pavimento da casa matriz se radicaliza para conceber volumes e espaços independentes, formal e programaticamente. Essa autonomia poderia resultar em um conjunto de elementos desconectados. Entretanto, os arquitetos sabidamente os articulam em uma variedade de conexões que transforma a organização original da casa ?linear em baixo, radial em cima, mas com um único elemento articulador definido pela escada central ?em uma rede que cria atalhos e pontes, alterna dentro e fora, térreo e pavimento superior, e multiplica as alternativas de acesso entre os pavimentos pela introdução de duas novas escadas. Em outras palavras, a topologia da casa original, linear e funcional, se transforma em uma rede, dispersa e análoga à urbana, não funcionalizada. Essa transformação resulta em uma experiência mais rica e variada do espaço, que é reforçada pelo cuidado na qualificação dos novos recintos em termos de luz, sombra, penumbra, transparência, opacidade e translucidez, intimidade e extroversão. Surgem mais tonalidades entre o aberto e o fechado, o transparente e o opaco, revelando a maturidade de um olhar projetual que não se seduz com a abertura fácil para a paisagem, mas preza a introspecção, a intimidade e o mistério. Tudo isso se revela especialmente no ambiente do escritório ?a “torre?– cuja localização no conjunto o transforma em um articulador potente, com múltiplos acessos – desde o segundo pavimento da casa original através da ponte-atalho que se conecta a um dos intervalos abertos; desde a rua e a sombra da praça pela nova escada aberta; desde o terraço e o novo estar. Este destino, protagonista no conjunto, tem o pé-direito elevado a 3,80 metros, o que o singulariza em relação à altura do pavimento convencional em torno de 2,50 metros, predominante nos demais recintos da casa. Associada a essa escala vertical ampliada, a vidraça voltada para a praça e para a paisagem é predominantemente translúcida, gerando uma atmosfera de introspecção que, entretanto, permite a visão da paisagem por um recorte estrategicamente disposto à altura do olhar, redefinindo a relação da vista como um quadro. Essa mesma estratégia de enquadramento de vistas, para a paisagem da cidade e para diferentes paisagens da própria cidadela, comparece ao longo de outros percursos e recintos em pequenas janelas que resguardam o interior ao mesmo tempo em que ampliam o domínio visual que constitui a base do sentido de privacidade e segurança, oferecendo miradas imprevistas em ângulos menos usuais, como na chegada da escada ao estar do segundo pavimento ou o pequeno rasgo no escritório, voltado para a rua.

A “torre?é também um sinal da transformação do repertório que originalmente informou a realização da primeira casa: em lugar da horizontalidade e da transparência características da arquitetura moderna paulista13, predomina o acento vertical e a demarcação mais sutil dos limites entre interior e exterior. Essa verticalidade ultrapassa em altura o volume original, bem como redesenha o chão com mais vigor, não apenas reconhecendo a variação topográfica original, mas criando um pavimento escavado de serviços análogo aos que fazem Artigas na casa Taques Bittencourt ou Paulo Mendes da Rocha na casa Fernando Millan. Nessa operação os arquitetos retomam a mesma distinção entre espaços servidos e servidores, agora em termos espaciais, da disposição espacial visível em corte. As escadas sobrepostas que conectam tanto escritório como serviços à praça reforçam a experiência do deslocamento vertical, e abrem espaço para uma analogia às imagens poéticas do sótão e do porão presentes na Poética do Espaço de Gaston Bachelard.

O deslocamento do objeto funcional em direção à rede articulada de espaços não funcionalizados aponta outra transformação no olhar dos arquitetos: um amolecimento no trato das questões funcionais ao desenhar os novos espaços com uma certa qualidade específica que se realiza na sua materialidade e na conectividade com os espaços adjacentes, ou seja, a partir da ênfase no desenho dos elementos permanentes, e menos condicionados por qualquer aspecto programático, mais circunstancial e impermanente. Isso permitiria imaginar a troca dos usos entre os diversos espaços ou mesmo que possam vir a acomodar no futuro outros usos para além do que se planejou. Sua intencional indeterminação permite pensar o conjunto como uma casa, com os usos propostos nas legendas do projeto, mas como um conjunto de múltiplas habitações, que convivem ao redor dos variados espaços abertos, realizando de fato a ideia da cidadela.

A Cidadela da casa Boaçava parece introduzir uma nova interpretação para aquele topos milenar que conecta casa e cidade em uma relação dialética. Como a cidade, pode ser lida como uma construção que se faz no tempo, sempre inconclusa14. Se ampliarmos essa compreensão, poderíamos dizer que pode vir a ser intergeracional e não autoral, ou resultado de múltiplas contribuições. Isso permite imaginar o seu devir: pensá-la como uma infraestrutura, que será permanentemente completada e ressignificada por seus diferentes usuários, transformada pelas mãos de outros, em outras circunstâncias. Aí talvez resida sua maior beleza.


Carlos Alberto Maciel é arquiteto e doutor em teoria e prática de projeto pela Escola de Arquitetura da UFMG, onde é professor. É sócio do escritório Arquitetos Associados e autor dos livros Arquitetura como Infraestrutura ?3 volumes e Territórios da Universidade. Permanências e Transformação. É editor de MDC.

1 – Este ensaio foi escrito a partir de um encontro fortuito: Fernando mostrou fotos da casa em fase final de construção. Ao vê-las, mencionei que lembrava uma cidadela. Essa impressão convergiu para o que motivou a realização da obra. Algum tempo depois, veio o convite para escrevê-lo, acompanhado de um belo ensaio fotográfico por Leonardo Finotti e pelos impecáveis desenhos do projeto executivo da ampliação da casa. Seu título remete àquele momento. Ele foi originalmente publicado, em espanhol, na revista PLOT – MACIEL, Carlos A. B.. La Ciudadela. PLOT, v. DIC 2021, p. 119-123, 2021 – e em português na revista Projeto em 12 de abril de 2021 – //revistaprojeto.com.br/acervo/a-cidadela-por-carlos-alberto-maciel/.

2 – PISANI, Daniele. “A cidade é uma casa. A casa é uma cidade? Vilanova Artigas na história de um topos. Tradução de Maurício Santana Dias. São Paulo: Ecidade, 2019.

3 – Projetada por UNA Arquitetos: Cristiane Muniz, Fábio Valentim, Fernanda Barbara, Fernando Viégas. Colaboradores: Ana Paula de Castro, Bruno Gondo, Eduardo Martorelli, Enk Te Winkel, Igor Cortinove, Marta Onofre, Miguel Muralha, Roberto Galvão Jr., Sílio Almeida.

4 – Projetada por UNA Arquitetos: Cristiane Muniz, Fábio Valentim, Fernanda Barbara, Fernando Viégas. Colaboradores: Joaquin Gak, Júlia Jabur, Laís Labate, Larissa Urbano, Manuela Raitelli, Marie Lartigue, Matheus Pardal.

5 – Shundi Iwamizu faz extensa leitura dessa estratégia na obra de Artigas, partindo da análise da Rodoviária de Jaú e percorrendo inúmeros outras obras em que a exploração da oposição dialética entre desenho do chão e da construção está na base da poética do arquiteto. Cf. IWAMIZU, Cesar Shundi. A estação rodoviária de Jaú e a dimensão urbana da arquitetura. São Paulo: FAUUSP, 2008. Dissertação de Mestrado.

6 – Como sugerido pelos próprios arquitetos no memorial do projeto de 2009: “O muro de concreto apóia a construção e divide o sítio longitudinalmente, dando independência às áreas de serviço. Essa base foi pigmentada com óxido de ferro. A presença deste material, que lembra a taipa, faz a transição das áreas externas às internas.?(grifo meu). Cabe aqui uma observação de caráter metodológico: este ensaio foi elaborado a partir da análise das fotografias e dos desenhos do projeto executivo da ampliação da casa, antes da leitura dos memoriais descritivos elaborados pelos arquitetos. Depois de escrito, foi confrontado com os memoriais. As notas relativas a esse “encontro?entre intenções e leituras se apresentam ao longo do texto. As diversas coincidências entre leitura e memorial revelam a consistência entre as intenções projetuais e a obra construída.

7 – Esta definição rápida é obviamente plena de exceções. Entretanto é possível relacionar, sem a pretensão de esgotar o tema, algumas residências que reeditaram este princípio e lhe deram essa mesma formalização, com variações: de Artigas são mais conhecidas a Casa Olga Baeta (1957) com aberturas laterais e empenas na frente e no fundo; a Casa José Mario Taques Bittencourt (1959), que introduz o pátio central e a articulação em meios níveis com rampa que também redesenha o chão, e apresenta empenas laterais que descem para encontrar o solo, antecipando a estratégia da diluição da parede presente na FAUUSP; a Casa Mendes André (1968) com pavilhão longilíneo aberto para a rua e para o fundo do terreno; de Joaquim Guedes, a Residência Cunha Lima (1958) que, além da predominante abertura frente-fundo, introduz por questões geomorfológicas, os famosos quatro pontos de apoio que vieram posteriormente a caracterizar parte da arquitetura paulista; de Carlos Millan, as casas Roberto Millan (1960) e Antônio D’Elboux (1962), ambas de forte inspiração na arquitetura de Le Corbusier; de Paulo Mendes da Rocha, a sua própria casa (a partir de 1964), a Casa Mário Masetti (1967-70), a Casa James King (1972) e a Casa Fernando Milan (a partir de 1970) são as mais conhecidas de uma família de casas brutalistas elevadas sobre poucos apoios gerando uma sombra habitada sob a qual se desenvolvem os jardins ou se prolonga a esfera urbana. Dentre essas, a última, parcialmente cravada na topografia, diferencia os planos social e íntimo entre térreo e pavimento superior e, de modo radical, leva o asfalto da rua para o piso da sala de estar como forma de enfatizar a continuidade entre casa e cidade. Para aprofundar o tema, ver: ACAYABA, Marlene Milan. Residências em São Paulo. 1947-1975. São Paulo: Projeto, 1986. COTRIM, Marcio. Vilanova Artigas. Casas Paulistas. 1967-1981. São Paulo: Romano Guerra Editora, 2017. MAHFUZ, Edson. Transparência e sombra: O plano horizontal na arquitetura paulista. Arquitextos, São Paulo, ano 07, n. 079.01, Vitruvius, dez. 2006 <//vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.079/284&gt;. PISANI, Daniele. Paulo Mendes da Rocha. Obra Completa. São Paulo: Gustavo Gilli, 2013.

8 – Confirma essa leitura a memória descritiva dos autores: “Em continuidade, no tempo, o novo volume é todo construído em planos de concreto aparente. Conexões e proteções são metálicas. A ideia é condensar os dois tempos da obra sem diferenciá-los, como se estivessem à espera de um novo complemento. Ao final, não saberemos o que foi feito antes, a casa, ou seu anexo.?br>
9 – Da memória descritiva dos autores: “A forma é de cidadela, um vilarejo, com torres, pontes, jardins suspensos, pátios rebaixados e praças cobertas.?br>
10 – Da memória descritiva dos autores: “O piso de madeira existente se estendeu para todos os espaços exteriores interligando também o jardim ao fundo, de onde se descortina a vista do vale do Pinheiros. A praça se completa com o horizonte. Habita-se a geografia se esquecendo do lote.?br>
11 – Da memória descritiva dos autores: “O volume que ocupava praticamente todo o lote, respeitando os recuos obrigatórios, ganhou um contraponto com o vazio exterior. São três frentes para essa praça, definidas pelas construções: a casa original com o bloco de concreto pigmentado e as duas alas do anexo. Novamente estabelece continuidade com a rua.?br>
12 – Da memória descritiva dos autores: “O projeto é a construção de uma praça que passa a ser o centro do conjunto, que articula novos usos aos existentes.?br>
13 – Ver MAHFUZ, Edson. Transparência e sombra: O plano horizontal na arquitetura paulista. Arquitextos, São Paulo, ano 07, n. 079.01, Vitruvius, dez. 2006 <//vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.079/284&gt;.

14 – Da memória dos autores: “Poderiam ainda surgir mais intervenções, solução aberta.?/p>


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Cristiane Muniz (C.M.) e Fernando Viégas (F.V.)

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no conjunto de toda a sua produção?

C.M. / F.V. – Ao mesmo tempo em que é continuidade de uma obra nossa, acreditamos que seja um trabalho que abriu novas perspectivas de investigação. Partimos de discussões evidentemente conceituais para tomar as decisões formais e construtivas. Alguns projetos posteriores a esse estabelecem desdobramentos de certas questões experimentadas aqui. As casas são modelos para escalas maiores urbanas, como é o caso do Quarteirão da Educação em Diadema.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

C.M. / F.V. – A contratação foi direta. Havíamos construído a primeira casa em 2009 e os moradores nos convidaram para ampliarmos a casa em 2019, após a aquisição do terreno vizinho.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Vocês destacariam algum momento significativo do processo?

C.M. / F.V. – A principal decisão de projeto foi estabelecer uma continuidade em relação à construção original. Optamos por utilizar os mesmos materiais e os mesmos construtores. Nossa intenção foi diluir os limites do novo e velho, a ponto de não ser possível identificar quem veio antes, ou depois. O que era volume construído, em contraponto, virou uma praça, quase em negativo.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, podem comentar as mais importantes?

C.M. / F.V. – A casa original teve um trabalho técnico de calculo estrutural e sistema construtivo muito sofisticado. Paredes de concreto com 17 cm se dobram para formar o volume superior apoiado em dois pilares e uma parede, realizando grandes balanços. A ampliação segue a lógica de planos de concreto verticais e horizontais, sem vigas internas. O maior esforço foi acomodar um grande jardim na cobertura, incluindo algumas pitangueiras. Tecnicamente, o mais complexo foi executar o sistema de condicionamento de ar como um pleno, evitando os dutos.

MDC – Os autores dos projetos tiveram participação no processo de construção/implementação da obra?

C.M. / F.V. – Sim, os arquitetos autores acompanharam toda a execução das obras. A parceria antiga com a construtora facilitou muito o desenvolvimento dos detalhes. Incorporamos, sempre, muitas sugestões dos construtores. Algumas decisões de serralheria, como o portão de vão total, foram feitas diretamente a partir de ensaios de carga na própria obra.

MDC – Vocês destacariam algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

C.M. / F.V. – O desenho da praça central absorvia um desnível com relação ao fundo do lote. Foi proposta uma arquibancada de contemplação da paisagem da várzea do Rio Pinheiros. Ao longo do projeto conversamos muito com os moradores sobre possíveis usos dessa praça, que formava, de certo modo, o desenho de um anfiteatro aberto. Após a construção, um dos usos imaginados se tornou frequente: espaço para música. Regularmente músicos são convidados para tocar para convidados que se acomodam na arquibancada e configuram um auditório ao ar livre. Emocionante.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, fariam algo diferente?

C.M. / F.V. – Faríamos tudo exatamente igual. Quase todos os projetos que realizamos, após certo tempo, imaginamos alguns reparos, mas nesse caso não mudaríamos nada, nenhum detalhe.

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

C.M. / F.V. – Como tudo o que fazemos, acreditamos que seja parte de uma construção cultural coletiva. Tentamos fazer pequenas contribuições ao conhecimento com nossas pesquisas projetuais.

MDC – Há algo relativo ao projeto e ao processo que gostariam de acrescentar e que não foi contemplado pelas perguntas anteriores?

C.M. / F.V. – Um projeto como esse necessita que o processo com os clientes seja de total confiança e de que a relação com os trabalhadores da construção seja de parceria.


projeto executivo

PARTE 1:
PLANTAS, CORTES E ELEVAÇÕES

13 pranchas (pdf).
15,96mb

PARTE 2:
AMPLIAÇÕES

13 pranchas (pdf).
20,97mb

PARTE 3:
DETALHES E MOBILIÁRIO

6 pranchas (pdf).
4,57mb


ficha técnica do projeto

Local: São Paulo – SP
Ano de projeto: 2018
Ano de conclusão: 2020
Área: 640 m²
Autores: UNA arquitetos: Cristiane Muniz, Fabio Valentim, Fernanda Barbara, Fernando Viégas
Colaboração: Joaquin Gak, Júlia Jabur, Laís Labate, Larissa Urbano, Manuela Raitelli, Marie Lartigue, Matheus Pardal


Construção: F2 Engenharia
Estrutura:
Companhia de Projeto
Estrutura de concreto:
Breno Rodrigues
Instalações:
Zomaro
Iluminação:
Foco
Sistemas:
Oguri
Paisagismo:
Soma
Irrigação: Regatec
Ar Condicionado: Drawing
Impermeabilização: Proassp

Fotos: Leonardo Finotti
Contato: contato@unamunizviegas.com.br


galeria


colaboração editorial

Renan Maia

deseja citar esse post?

MUNIZ, Cristiane. VALENTIM, Fabio. BARBARA, Fernanda. VIÉGAS, Fernando. “Ampliação da Casa Boaçava”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., ago-2023. Disponível em //www.28ers.com/2023/08/01/ampliacao-da-casa-boacava. Acesso em: [incluir data do acesso].


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