Pavilh茫o – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com Mon, 28 Oct 2024 20:26:02 +0000 pt-BR hourly 1 //i0.wp.com/28ers.com/wp-content/uploads/2023/09/cropped-logo_.png?fit=32%2C32&ssl=1 Pavilh茫o – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com 32 32 5128755 Pavilh茫o – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2024/10/28/casa-vila-matilde/ //28ers.com/2024/10/28/casa-vila-matilde/#respond Mon, 28 Oct 2024 20:26:02 +0000 //28ers.com/?p=18668 Continue lendo ]]> Por Terra + Tuma
9 minutos

Casa Vila Matilde (texto de Francesco Perrotta-Bosch | 2015)

É preciso avisar de antemão: este não é um projeto feito por caridade. Nem se encaixa a definição de habitação social. De fato, a história da casa na Vila Matilde restitui algo de elementar à arquitetura.

Fotografia: Terra e Tuma

Um então distante conhecido de Danilo Terra consultou o arquiteto sobre a possibilidade de reformar a casa onde sua mãe residia há 25 anos. Morava em um trecho do bairro de Vila Matilde, na zona Leste de São Paulo, oriundo de um antigo loteamento – uma vizinhança repleta de casas modestas, mas atendidas pelos serviços básicos de infraestrutura. Naquele ano de 2011, mãe e filho tinham dois cenários em mente: um projeto de reforma da casa ou sua venda para a compra de algum apartamento.

Situação

Danilo e Pedro Tuma, seu sócio no escritório, foram visitar a residência existente e constataram uma complicada situação: incontáveis rachaduras e infiltrações nas paredes; ampliações feitas ao longo dos anos sem qualquer ordenamento; faltavam janelas e aberturas que permitissem a entrada de ventilação e iluminação naturais nos ambientes internos. Era inviável o reaproveitamento da estrutura que lá havia. Embora insalubre, a senhora de 74 anos não fazia esforço para sair da velha casa. Por mais que o primogênito reconhecesse as condições ruins de moradia da matriarca, também percebia o quão negativo seria tirá-la da vizinhança onde há décadas estava estabelecida sua rotina.

Fotografias: Terra e Tuma

Assim, decidiram demolir a casa existente para edificar uma nova no mesmo terreno. As economias guardadas por esta senhora nas décadas de prestação de serviços domésticos eram na ordem de 100 mil reais. “Seria possível com este valor construir uma casa térrea para a mãe?”, questionava o filho aos arquitetos. “Tem que ser possível”, pensou a dupla do escritório Terra e Tuma. Ao apresentar seus projetos anteriores de residências, suas referências e sua ideia de arquitetura, eles esclareceram aos clientes que o limite para o orçamento era baixo, mas era viável.

Fotografia: Terra e Tuma

Nesse momento, é necessário se colocar na posição desta mãe e filho. Afinal, eles estavam prestes a pôr todo o dinheiro poupado em uma vida inteira à disposição de um projeto arquitetônico. Não é um ato muito comum para pessoas de uma classe social mais humilde no Brasil, país cujo senso comum põe o bom projeto de arquitetura como um benefício para quem tem dinheiro sobrando. Pondo-se no lugar dos arquitetos, gerenciar os escassos recursos de uma pessoa para materializá-los em sua nova moradia era uma responsabilidade grande.

Cabe também acrescentar que este não é um caso de fé à profissão. Provavelmente, dona Dalva não conhece Le Corbusier. Dona Dalva não sabe dos benefícios da planta livre, nem dos outros quatros pontos para a arquitetura moderna. Dona Dalva não deve estar ciente da importância
gregária do salão caramelo da FAUUSP. Pelo processo de construção, Dona Dalva não deu indícios de se importar com as condições operárias no canteiro de obras. Dona Dalva não se encanta com os hightechs, desconstrutivistas, metabolistas ou sustentáveis. Dona Dalva não aprendeu com Las Vegas. Ou seja, dona Dalva passa ao largo da intelligentsia arquitetônica, mas mesmo assim, por algum motivo, eles apostaram todas as fichas na arquitetura.

Fotografias: Terra e Tuma

Fez-se o contrato da mãe e filho com o escritório de arquitetura (também dirigido pela arquiteta Fernanda Sakano), de acordo com honorários compatíveis com o valor total possível e esclarecido desde a primeira conversa. Para viabilizar a edificação dentro desse recurso, os arquitetos auxiliaram na escolha e na elaboração de contratos com o empreiteiro, os complementares, os fornecedores.

A primeira proposta de projeto, feita ainda em 2011, era em estrutura metálica, revestimento externo em telha translúcida, divisórias internas em drywall. A referência explícita no powerpoint de apresentação é a Casa Latapie do escritório francês Lacaton & Vassal. A estratégia era de uma
construção seca com montadores específicos, apostando na rapidez e na minimização de erros de obra.

Chegou a ser feito o projeto executivo dessa versão. Esperou-se mais de um ano para a aprovação do desenho na prefeitura. Permaneceu em stand by por mais alguns meses até o dia de 2014 em que o filho constata que o forro do teto caíra em cima da cama da mãe. Com o risco iminente de ruir, o filho tira a mãe da casa antiga, que passa a morar de aluguel, e liga para os arquitetos informando que a obra tinha que começar.

No momento de executar, o escritório muda o projeto, optando pela segurança da pesquisa construtiva que se iniciara na Casa Maracanã e que se seguiu pela Casa com Estúdio e em mais duas edificações. “Pela responsabilidade da situação, tínhamos que acertar. Não teria quem
pagasse pelo erro”, afirmavam os arquitetos. Seguiram por um método construtivo que tinham domínio, lançando mão do bloco de concreto, sem revestimentos e com o mínimo uso de elementos facilmente encontrados em lojas de construção. Utilizam o essencial para a construção não por uma questão estética ou por qualquer demonstração de verdade do material, mas para dar pragmatismo de obra e reduzir custos.

Referência Casa Maracanã
Fotografia: Pedro Kok

Refizeram os desenhos gerais do projeto (em duas semanas) e iniciaram a demolição da velha casa, durante a qual surgiram os grandes desafios da execução. De um lado, o vizinho, que estava construindo seu segundo andar, escorava sua residência na precária edificação que estava sendo demolida. O muro da casa do outro lado assentava-se direto na terra, sem baldrame. Logo, as fundações eram executadas não somente para estruturar a casa da mãe e do filho, como também para manter em pé os sobrados ao redor. Soma-se a isso o fato do próprio lote não ser nivelado, de modo que foi necessário construir uma laje para estabelecer o piso térreo, vencendo as
irregularidades e cavidades no solo.

Outra condicionante atípica e só verificável no canteiro: o vizinho que se apoiava na antiga casa também invadia o lote em cerca de 50 cm, quebrando a linearidade da lateral. Quando se descobriu isso, o projeto foi todo espelhado, deixando o muro irregular adjacente ao pátio central. Parte considerável dos nove meses de execução foi destinada a esse cuidadoso processo de demolição e de fundações.

Fotografias: Terra e Tuma

A obra foi tocada por um empreiteiro de confiança, do qual partiu a iniciativa de acordar o acompanhamento da construção pelos arquitetos uma ou duas vezes por semana. Em virtude desse modelo, foi possível uma simplificação dos desenhos. Muitas decisões projetuais eram feitas no canteiro, por meio do diálogo com os construtores ou fornecedores. De acordo com a demanda, os arquitetos fizeram as plantas dos dois pavimentos, cortes, fachadas, as ampliações do portão e da escada, definiram as características gerais dos caixilhos. Tudo em pouquíssimas pranchas, de modo a evitar desenhos com detalhamentos raramente lidos pela mão de obra nacional.
Além de otimizar o tempo, este pragmático modo de trabalho minimizava custos e esforços tanto para os arquitetos e empreiteiro quanto para os clientes.

Plantas Térreo, Primeiro Pavimento e Cobertura

Entreveros de obra à parte, o levantamento das paredes de blocos de concreto foi uma etapa rápida. Recuada em relação ao alinhamento frontal do lote, está a sala. A partir dela se segue para um corredor onde se alinham as áreas com instalações hidráulicas – lavabo, cozinha e área de serviço. Em paralelo, está o vazio central com jardim. A separação entre interior e exterior nesse trecho nuclear é feita por uma longa esquadria que permite ampla iluminação e ventilação natural – a antítese da ambiência da velha casa. Ao fundo estão as duas suítes: no térreo para a mãe e no pavimento superior para o filho. A laje de cobertura da sala permite uma ampliação
futura da casa.

Cortes Longitudinais e Transversais

Fotografias: Terra e Tuma

Não somente a residência tem a robustez suficiente para agregar mais cômodos, mas também admite outros tipos de reformas. O chão, que é hoje o concreto alisado da laje, pode receber outro piso. As paredes, que são de bloco aparente, podem vir a ser pintadas, rebocadas ou revestidas. A casa vai se transformar, de acordo com um natural processo de apropriação por dona Dalva, que vai imprimir gradativamente sua identidade a essa casa. Porém, é interessante notar que, posterior à entrega da chave, mãe e filho consultam com frequência os arquitetos para pedir orientação na
disposição do mobiliário, na cor das cortinas, na colocação de suas plantas. O canal de diálogo permanece, pois há um reconhecimento por parte dos moradores da melhora da qualidade de vida pela arquitetura.

Esta não é a casa dos sonhos de dona Dalva. Aqui o Terra e Tuma não trata o projeto arquitetônico como uma tentativa de dar forma aos desejos que ocupam o imaginário da proprietária. No desenho, não há incrementos subjetivos, pois se tem consciência de que a noção estética de cada pessoa é muito singular. Não diferente de qualquer outro caso, o valor afetivo que a matriarca tem com cada material diverge da qualificação concedida às matérias pelos arquitetos.

Portanto, nesta circunstância de grande limitação orçamentária, para que a construção fosse possível, demandava-se a simplificação dos desenhos, a otimização da execução, a materialização exclusiva do que é essencial para dona Dalva morar. Das economias de uma vida inteira, ergueu-se uma casa com um tamanho decente, ventilação, iluminação, sem riscos de o forro cair sobre a cama. Na singeleza da casa na Vila Matilde referendada pela admirável história, restitui-se a noção de arquitetura como produção de espaço que ambiciona eminentemente a dignidade do habitar.


projeto executivo


EXECUTIVO COMPLETO

7 formatos (pdf).
2,87mb


ficha técnica

Local: Vila Matilde – São Paulo, SP
Ano de projeto: 2011 – 2015
Ano de construção: 2015
Área: 95 m²
Arquitetura: Terra e Tuma Arquitetos Associados | Danilo Terra, Pedro Tuma, Fernanda Sakano, Bruna Hashimoto, Giulia Galante, Jéssica Zanini, Lucas Miilher, Zeno Muica.


Construção:
Valdionor Andrade de Carvalho e equipe
Estrutura: Megalos Engenharia
Paisagismo: Gabriella Ornaghi Arquitetura da Paisagem


Fotos: Pedro Kok, Terra e Tuma (fotos antigas / fotos de obra)


galeria


colaboração editorial

Renan Maia

deseja citar esse post?

TERRA, Danilo. TUMA, Pedro. SAKANO, Fernanda. PERROTTA-BOSCH, Francesco. “Casa Vila Matilde”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., out-2024. Disponível em //www.28ers.com/2024/10/28/casa-vila-matilde. Acesso em: [incluir data do acesso].


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//28ers.com/2024/10/28/casa-vila-matilde/feed/ 0 18668
Pavilh茫o – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2023/10/26/casa-dos-terracos-circulares/ //28ers.com/2023/10/26/casa-dos-terracos-circulares/#respond Thu, 26 Oct 2023 12:07:51 +0000 //28ers.com/?p=14242 Continue lendo ]]> Por Denis Joelsons
8 minutos

Casa dos Terraços Circulares (texto fornecido pelos autores)

A casa dos terraços circulares é parte de um jardim projetado para o desfrute do bosque de mata atlântica.

Fotografia: Pedro Kok

Seu terreno, situado em um fundo de vale, não oferece um horizonte marcante. Nele, a paisagem é o grande espaço delineado pela copa das árvores. Confrontando a pendente natural do lote com as clareiras existentes, estabelecemos patamares em meio-nível.

Croqui do autor e Planta de cobertura

A casa se organiza nestes platôs, através de seu corte longitudinal, com usos coletivos mais próximos à rua e usos privativos mais próximos da divisa.

Cortes Longitudinais

Fotografias: Pedro Kok

O movimento estabelecido pelo desenho do chão garante o caráter espacial dos diferentes ambientes da casa, com seus pés-direitos variando em relação à cobertura horizontal.

Fotografias: Rodrigo Fonseca (com drone, no centro) e Pedro Kok

Uma varanda suspensa cobre a garagem e espelha a cota dos dormitórios – disposição onde a arquitetura ecoa a geografia do vale.

Fotografias: Pedro Kok

A geometria da casa é ortogonal, compatível com sua estrutura pré-fabricada em madeira. A geometria do jardim é estabelecida por curvas, buscando a melhor forma estrutural para os muros de arrimo e o encaixe adequado entre as árvores. Todos os ambientes possuem pelo menos dois acessos, reafirmando a ideia de percurso circular.

Plantas Térreo e Pavimento Superior

A contenção formal da casa contrasta com o perfil movimentado dos terraços circulares, sugerindo uma inversão da relação tradicional de subserviência entre embasamento e edificação. Neste caso, a regularidade da cobertura é o que suporta a variedade do desenho do chão.

Cortes Longitudinais

Cortes Transversais


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Denis Joelsons (D..J.)

MDC – Como você contextualiza essa obra no conjunto de toda a sua produção?

D.J. – A casa dos terraços circulares é a materialização mais importante de minha trajetória até então. Ela incorpora reflexões de outros projetos e tem uma dimensão que me permitiu explorar espacialmente o percurso através da variação sucessiva nas proporções de diferentes ambientes. Este trabalho também marca um momento em minha produção em que tive segurança para propor elementos que não se justificam pelo critério estreito de sua funcionalidade ou de sua necessidade prática. É o caso da fachada translúcida que delimita a varanda e também dos muros de pedra que compõem os terraços circulares. Assumi critérios plásticos e argumentos mais subjetivos.

Penso que esta casa compõe uma trilogia com a casa da meia encosta (2013) e com a casa diorama (não construída, 2022). São casas onde o partido arquitetônico está diretamente atrelado a uma concepção paisagística. Uma abordagem muito semelhante em contextos completamente distintos pode ser vista nos três projetos.

A casa da meia encosta lida com a paisagem monumental da Mantiqueira, tem uma condição de mirante. A implantação tira proveito de um terrapleno preexistente e o desenho da cobertura inclinada enquadra um segmento específico da paisagem e está referenciado nessa geografia. O corte transversal é a síntese desse projeto.

A casa dos terraços circulares está na baixada de um vale, em um condomínio de casas. A paisagem foi construída através de platôs. A variação dos níveis engendra na escala da casa a confluência espacial característica do vale. A ordenação dos ambientes está estruturada no corte longitudinal.

A casa diorama se assenta em uma planície um tanto descampada. É uma casa pátio, onde a porção contida da paisagem oferece um contraponto de escala para um trio de grandes árvores que balizou o desenho do muro e de suas aberturas. Aqui a noção de percurso e a graça na sucessão dos espaços depende sobretudo do desenho da planta.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

D.J. – Foi por contratação direta, inicialmente o cliente planejou uma concorrência entre três estudos preliminares. Preparei a primeira apresentação de forma bem persuasiva. Até onde sei, fui o primeiro a apresentar e com o início da pandemia anunciado, decidiram seguir comigo antes da contratação dos estudos concorrentes.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Você destacaria algum momento significativo do processo?

D.J. – Depois de visitar o terreno, com o levantamento topográfico e arbóreo em mãos, especulei um pouco sobre a implantação da casa. A implantação é sempre a decisão mais importante. Logo cheguei à conclusão de que a posição da casa não deveria ser condicionada pelas clareiras existentes. A casa precisava ocupar o limite legal do fundo do lote, a porção mais alta do terreno, para incorporar o espaço delimitado pelas copas das árvores e aproveitar entrada de luz da maior clareira. Essa decisão orientou todas as outras.

O projeto passou por dois ajustes que não implicaram em nenhuma mudança de partido. O cliente pediu uma sala um pouco maior, que foi atendida com o acréscimo de 120cm no comprimento da casa. O ajuste mais trabalhoso foi fruto de um erro grande no levantamento topográfico. O jardim teve de ser inteiramente redesenhado e duas árvores acabaram ficando dentro da área dos terraços. O ajuste de cota das raízes foi feito através de um banco em um caso e de um fosso com grade em outro.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa do autor? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, pode comentar as mais importantes?

D.J. – Houve a colaboração do Hélio Olga e do Vinicius Barreto, da Ita construtora. Um ajuste na emenda da viga longitudinal permitiu a remoção de um pilar que eu havia previsto entre os ambientes de estar e jantar. A Ita também exigiu que a varanda externa fosse coberta, para garantir a durabilidade da madeira. No estudo preliminar eu havia pensado apenas em um pergolado.

MDC – O autor do projeto teve participação no processo de construção/implementação da obra?

D.J. – Durante a obra realizei visitas semanais, ocasionalmente duas vezes na mesma semana. Ajustes pontuais atenderam às contingências da obra. Adequando os desenhos através do diálogo com a mão de obra.

MDC – Você destacaria algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

D.J. – Inicialmente a casa foi pensada como uma casa de veraneio, logo após a sua conclusão os clientes decidiram mudar-se definitivamente para lá e alugaram o apartamento em que moravam em São Paulo. Um dos clientes é fotografo e a casa e o jardim também têm sido muito utilizados em locações publicitárias. Curiosamente o catering é montado no espaço da garagem. Algumas das filmagens que vi utilizam o espaço do jardim, da varanda e da cozinha.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, faria algo diferente?

D.J. – Enfrentando a mesma demanda e as mesmas condicionantes não, mas quando me deparei com a casa diorama, que tem uma dimensão parecida, pensei em outras soluções para as esquadrias e adotei o módulo de 125cm ao invés do de 60cm. Sem as restrições impostas pela legislação, um pequeno acréscimo na largura dos quartos seria possível e bem-vindo.

MDC – Como você contextualiza essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

D.J. – Em primeiro lugar, atualmente a arquitetura brasileira já é uma produção de exceção e muito pequena no cenário da construção civil. Neste recorte ainda estamos tratando de uma residência privada. No contexto da nossa arquitetura contemporânea eu penso que a casa dialoga com outras práticas atentas aos processos construtivos no canteiro de obras e anteriores a ele. Obras mais leves e grosso modo menos artesanais, preocupadas em dirimir de algum modo o impacto ambiental da construção civil.

Neste cenário é comum que o desenho da estrutura assuma protagonismo e por vezes incorpore peripécias técnicas de caráter demonstrativo. Muitas obras em estrutura pré-fabricada em madeira ou aço são concebidas como objetos autorreferentes, resolvidos internamente. Acredito que o mérito da casa dos terraços circulares está mais ligado à interpretação propositiva das características do local e de suas qualidades espaciais do que a questões de sua materialidade ou construção. Gosto de pensar que é impossível apresentar a casa dissociada de seu contexto, como objeto ela não se sustenta. Também penso que a reaproximação entre arquitetura e paisagem (inclusive urbana), sem que haja subserviência de uma disciplina à outra, é algo desejável para a nossa prática hoje.

MDC – Há algo relativo ao projeto e ao processo que gostaria de acrescentar e que não foi contemplado pelas perguntas anteriores?

D.J. – Acredito que cobrimos bem o processo de concepção da casa.


projeto executivo


PARTE 1:
PLANTAS E CORTES + DECK TERRAÇO E COBERTURA

10 pranchas (pdf).
8,50mb


PARTE 2:
MARCENARIA + ESQUADRIAS + PORTAS + BANHEIROS

21 pranchas (pdf).
13,40mb


PARTE 3:
DETALHAMENTO ZENITAIS + LAREIRA + ESCADAS

5 pranchas (pdf).
3,02mb


PARTE 4:
ELÉTRICA

4 pranchas (pdf).
4,04mb


ficha técnica

Local: Cotia, SP
Ano de projeto: 2020
Ano de conclusão: 2022
Área do terreno: 1.334 m²
Área construída: 253 m²
Arquitetura: Denis Joelsons
Colaboradores: João Marujo e Gabriela da Silva Pinto


Construção (obra civil):
Caio Martinez
Projeto de instalações:
Renan de Sousa
Estrutura de Madeira: Ita Construtora
Execução dos muros de pedra: Bizarri Pedras
Piso cerâmico: Gail
Execução das esquadrias de madeira e deck: Zé Madeiras
Venezianas de vidro: Persolly
Luminárias: Reka


Fotos: Pedro Kok e Rodrigo Fonseca (Drone)


galeria


colaboração editorial

Renan Maia

deseja citar esse post?

JOELSONS, Denis. “Casa dos Terraços Circulares”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., out-2023. Disponível em //www.28ers.com/2023/10/26/casa-dos-terracos-circulares. Acesso em: [incluir data do acesso].


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//28ers.com/2023/10/26/casa-dos-terracos-circulares/feed/ 0 14242
Pavilh茫o – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2023/09/06/abrigo-alto-abrigo-baixo-e-pavilhao/ //28ers.com/2023/09/06/abrigo-alto-abrigo-baixo-e-pavilhao/#respond Wed, 06 Sep 2023 14:55:37 +0000 //28ers.com/?p=12776 Continue lendo ]]> Por Gru.a
8 minutos

Abrigos do Vale (texto fornecido pelos autores)

Os Abrigos do Vale fazem parte de um conjunto de 3 edificações projetadas para um sítio no Vale das Videiras, região serrana do Rio de Janeiro: “Pavilhão?(primeiro a ser construído, em 2016), “Abrigo Alto?e “Abrigo Baixo?projetados em 2019 e finalizados em 2022. Cada um, com 30m2 de área interna, tem espaço reservado para dormir – fechado por uma leve cortina -, uma sala ligada a um deck frontal, uma pequena copa e um banheiro completo.

Pavilhão, Abrigo Alto e Abrigo Baixo, respectivamente.
Fotografias: Rafael Salim e Federico Cairoli (Pavilhão) / Rafael Salim (Abrigos)

Os Abrigos do Vale seguem o mesmo sistema construtivo e módulos espaciais: vãos de 3m e 5m com apoios que variam de pilares em madeira a muros de alvenaria cerâmica. O vigamento de madeira maciça sustenta a cobertura em painéis de telha trapezoidal termoacústica, que se debruçam formando beirais de até 1,75m.

Fotografia: Rafael Salim

 Nos ambientes mais controlados (quarto e banheiros) uma fina laje em concreto armado funciona como forro, criando uma dupla camada de isolamento em relação ao exterior.

Abrigo Alto: Planta de piso inferior, térreo e cobertura + cortes

Abrigo Baixo: Planta de piso inferior, térreo e cobertura + cortes

No trecho que se debruça sobre a vista do vale, o “Abrigo Baixo?tem como fechamento um pano de painéis em compensado sarrafeado que se abre em duas alturas diferentes, remetendo ao sistema tradicional de portas de fazenda. Enquanto o “Abrigo Alto?tem como fechamento um pano de vidro em toda sua extensão, que, somado ao fechamento superior, conforma uma caixa translúcida e reflexiva.

Fechamentos Abrigo Baixo e Alto, respectivamente
Fotografias: Rafael Salim

Pavilhão das Videiras

O projeto para o pavilhão anexo a uma residência no Vale das Videiras, Rio de Janeiro, parte da premissa de disponibilizar um espaço aberto e, ao mesmo tempo, protegido do forte sol e chuva que incidem sobre a região. Localizada num platô pré-existente, a edificação foi pensada em função de sua relação com a casa situada no terreno, ativando o espaço intermediário entre as duas edificações.

Implantação

O grande plano de cobertura se inclina suavemente em direção ao vale, trazendo para o espaço interior a presença da encosta que se ergue paralelamente à nova construção.

Fotografia: Rafael Salim e Federico Cairoli

Abaixo da grande cobertura foram projetados uma cozinha, associada a um espaço para refeições, uma sauna e um espaço de 30m² de área coberta em que o solo vegetal se manteve intacto.

Pavilhão: Planta + corte

A associação de diferentes sistemas estruturais se dá de maneira a explorar as características de cada um deles: fundações em concreto moldado in-loco, pilares e vigas em madeira maciça, muros em alvenaria estrutural e lajotas em concreto pré-fabricado e ligações em aço.

Fotografia: Rafael Salim e Federico Cairoli


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Pedro Varella (P.V.) e Caio Calafate (C.C.)

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no conjunto de toda a sua produção?

P.V. / C.C. – As obras que estamos apresentando nesta publicação têm um lugar importante no conjunto da nossa obra, pois atravessam seis anos da produção do escritório. O Pavilhão e os Abrigos do Vale da Videiras foram construídos dentro de um mesmo sítio, entre 2016 e 2022, um arco de tempo bastante amplo. Antes deles, algumas questões já vinham sendo exploradas em obras que acabaram não sendo construídas, e, por sua vez, a sua realização vem mobilizando temas que tocam as obras que as sucederam, inclusive dentro do próprio sítio, como a Academia, já construída, e a Lavanderia, em obras.

O Pavilhão, primeira obra realizada dentre as três, foi uma espécie de exercício inaugural tectônico/construtivo de todo o conjunto, e, porque não, da produção de pequenas arquiteturas desenhadas no escritório. Nesta obra, a primeira que arrancamos do chão ao teto, pudemos operar algumas ideias que já vínhamos debatendo no escritório desde sua fundação, em 2013, como a relação da arquitetura com o solo, as questões relacionadas aos encaixes dos diferentes materiais, a serialidade/modularidade, a poética das coberturas e sua relação com o céu e, no limite, com o cosmos. Nos abrigos, que vieram cerca de dois/três anos depois, demos continuidade a essas pesquisas, adicionando outras temáticas que se impuseram pelas contingências geográficas/topográficas do trecho do sítio onde vieram a se implantar, e também pelo programa (abrigo), que exigiu a criação do hermetismo demandado pelo uso, condição distinta daquela exigida pelo Pavilhão. Assim sendo, o problema das vedações se impôs como uma novidade. No caso do Abrigo Alto, assim chamado por situar-se no trecho alto do terreno, desenhamos (como mediação com a paisagem) uma caixa de vidro que permite ampliar as visuais em direção ao horizonte. No caso do Abrigo Baixo, situado no trecho baixo do terreno, mais próximo à estrada de acesso, projetamos as fenestrações frontais com lâminas de compensado, guardando privacidade ao mesmo.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

P.V. / C.C. – Estas obras tiveram contratação direta por cliente particular.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Vocês destacariam algum momento significativo do processo?

P.V. / C.C. – Um dado particular deste projeto foi o trabalho de investigação das tecnologias construtivas tradicionais e passíveis de construção com equipe locais, de onde a utilização das fundações e lajes em concreto armado e o trabalho de alvenaria estrutural se apresentaram como boas opções. Junto a isso, trouxemos repertórios não tão convencionais na área, embora razoavelmente simples do ponto de vista executivo, como o telhado em telha termoacústica e junções metálicas. A concepção das três obras obedeceu a premissas que propusemos ao cliente, que desde o início, aprovou as escolhas. Em todas as três obras dedicamos muito tempo preliminar em visitas de observação e exploração das questões geográficas do terreno, algo que vemos como fundamental não apenas nestas, mas em todas as demais obras da nossa produção.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, podem comentar as mais importantes?

P.V. / C.C. – Tivemos sempre um diálogo profícuo tanto com os projetistas de engenharia quanto com a equipe de obra. As três obras são relativamente simples do ponto de vista construtivo e programático, o que indica um processo com participação de poucos projetistas. Além dos arquitetos da nossa equipe, tivemos apenas a participação de um engenheiro calculista, o que foi essencial para que chegássemos a um bom dimensionamento das peças estruturais. No caso dos abrigos, o diálogo com os construtores locais – prévio ao desenvolvimento dos projetos – foi fundamental para que fossem elaboradas soluções condizentes com sua cultura construtiva.

MDC – Os autores dos projetos tiveram participação no processo de construção/implementação da obra?

P.V. / C.C. – Como a obra foi construída em local distante, fora da cidade em que atuamos, o trabalho exigiu comunicação intensa e atenta com o construtor, tanto nas fases preliminares quanto nos acabamentos finais. Foram realizadas visitas pontuais ao canteiro de obras. Esses momentos foram essenciais para a adequação de detalhes construtivos às possibilidades dos fornecedores. Isso se deu de forma mais intensa com os elementos fabricados em serralheria e marcenaria. 

MDC – Vocês destacariam algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

P.V. / C.C. – Sim. Tem algo bonito que já se apresenta no Pavilhão. Uma vegetação toma hoje os pilares de madeira, ensejando algum entrosamento entre a construção e os elementos naturais.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, fariam algo diferente?

P.V. / C.C. – Certamente. A despeito de gostarmos muito das obras, em todos os casos teríamos considerações a fazer, seja pelo simples desejo de fazer diferente, pela necessidade de antecipar problemas não previstos, mas, sobretudo, para dedicar mais tempo ao desenvolvimento de detalhes que gostaríamos de aperfeiçoar.

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

P.V. / C.C. – Vemos como uma pequena contribuição a pesquisa e produção de arquitetas e arquitetos cuja obra admiramos e esperamos poder dialogar.


projeto executivo

PARTE 1:
ABRIGO ALTO

11 pranchas (pdf).
1,51mb

PARTE 2:
ABRIGO BAIXO

13 pranchas (pdf).
1,79mb

PARTE 3:
PAVILHÃO

9 pranchas (pdf).
1,07mb


ficha técnica – Abrigo Baixo e Abrigo Alto

Local: Vale das Videiras, Rio de Janeiro ?RJ
Ano de projeto: 2019
Ano de conclusão: 2022
Autores: Pedro Varella, Caio Calafate, André Cavendish, Ingrid Colares, Antonio Machado
Área construída: 70m²


Cálculo estrutural:
Rodrigo Affonso
Projeto de Iluminação:
Maneco Quinderé
Construção: Alexandre M.

Fotos: Rafael Salim

ficha técnica – Pavilhão Videiras

Local: Vale das Videiras, Rio de Janeiro ?RJ
Ano de projeto e conclusão: 2016
Autores: Pedro Varella, Caio Calafate, Sergio Garcia-Gasco, André Cavendish
Área construída: 150m²


Cálculo estrutural:
Rodrigo Affonso
Projeto de Iluminação:
Maneco Quinderé
Construção: Aleandro Souza da Silva

Fotos: Federico Cairoli e Rafael Salim
Fotos de obra: Gru.a
Contato: info@gruaarquitetos.com


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colaboração editorial

Renan Maia

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VARELLA, Pedro. CALAFATE, Caio. CAVENDISH, André. COLARES, Ingrid. MACHADO, Antonio. GARCIA-GASCO, Sergio. “Abrigo Alto, Abrigo Baixo e Pavilhão”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., set-2023. Disponível em //www.28ers.com/2023/09/06/abrigo-alto-abrigo-baixo-e-pavilhao. Acesso em: [incluir data do acesso].


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