Pilotis – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com Wed, 14 Aug 2024 13:19:33 +0000 pt-BR hourly 1 //i0.wp.com/28ers.com/wp-content/uploads/2023/09/cropped-logo_.png?fit=32%2C32&ssl=1 Pilotis – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com 32 32 5128755 Pilotis – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2024/05/06/estudio-madalena/ //28ers.com/2024/05/06/estudio-madalena/#respond Tue, 07 May 2024 02:21:23 +0000 //28ers.com/?p=15488 Continue lendo ]]> Por Apiacás Arquitetos
13 minutos

Estúdio Madalena (texto fornecido pelos autores)

A intenção principal do projeto foi criar uma praça no térreo, conformada pela extensão do passeio público e preservando a vista para a paisagem existente: em um primeiro plano, composta por casas de até dois andares, e, ao fundo, prédios altos marcando a ocupação característica do bairro de Pinheiros. Tirando proveito da topografia original do terreno, essa praça-belvedere reafirma a vocação do bairro da Vila Madalena como “possuidora/provedora?de diversas situações de promenade, capazes de surpreender os pedestres que por ali circulam.

Fotografia: Leonardo Finotti

O programa que nos foi exigido pelo cliente contemplava dois programas completamente distintos: um espaço destinado à moradia e outro ao trabalho. Como não havia uma predefinição desses espaços, tivemos a oportunidade de nos apropriar do terreno em sua capacidade máxima permitida pela legislação. Portanto, o edifício se desenvolve em dois volumes independentes para baixo e para cima da praça, cada qual com funções totalmente distintas, e mantendo a cota da rua desimpedida, livre de quaisquer obstáculos.

Implantação metropolitana, Implantação local e Plantas por nível de projeto.

O terreno originalmente apresentava uma declividade acentuada e, a fim de permitir a integração de seu térreo com o passeio público, foi proposto um embasamento construído que reconfigura a topografia. Por estar abaixo do nível da rua, pode se ocupar o máximo da largura (perímetro) do lote, respeitando os recuos necessários. Esse embasamento se organiza em dois espaços em um mesmo nível, interligados por pátios que acompanham o desnível do terreno.

A circulação vertical está estrategicamente instalada em uma das laterais da edificação: um elemento capaz de transitar entre duas situações opostas sem obstruir o vazio externo ou os espaços construídos internamente. Suspenso por pilotis, o segundo volume é composto por dois pavimentos com plantas livres ?característica comum a todo o projeto ?provendo flexibilidade na apropriação pelos espaços aos usuários.

Fotografias: Leonardo Finotti e Cortes longitudinais e transversais

A construção teve o orçamento disponível como premissa principal. Para tanto, seguiu-se o método construtivo de uma obra anterior do escritório no mesmo bairro: o Bar Mundial foi construído em estrutura metálica e painéis de concreto pré-fabricados, o que acelerou o tempo de execução da obra. Esse sistema de pré-fabricação com elementos de concreto foi desenvolvido pelo escritório com o intuito de subverter o uso de um material largamente empregado no Brasil. Frequentemente utilizados para a concretagem de lajes maciças, os painéis são aqui utilizados na vedação do edifício, em duplas que dão forma a paredes ocas executadas em tiras de 25 cm de largura com altura variável.

Fotografias: Lauro Rocha

O embasamento foi feito em estrutura convencional de concreto, tornando-se um muro pré-condicionado a desempenhar a função de consolidação do terreno. Foram intercalados painéis de concreto maciço e painéis ocos, prevalecendo a primeira opção em situações de contato com o solo e nas lajes que conformam a praça de acesso.

O volume suspenso é estruturado em vigas e pilares metálicos, que conferem leveza em sua execução. O sistema de painéis ocos é utilizado não somente nas vedações, mas também desempenha a função de laje em virtude de sua enorme capacidade de resistência mecânica – a laje foi pensada como uma sequência de vigas treliças com banzos (superior e inferior) em concreto e em ferro na sua armação interna. A construção desse volume suspenso foi feita, portanto, com maior rapidez, já que não havia a necessidade de concretar o miolo da laje. Esse aspecto reduz a carga na estrutura metálica e o custo final da obra.

A princípio um limitante para este projeto, a condição orçamentária acabou nos motivando a investigações de novas alternativas construtivas. Seu êxito consiste na execução de um espaço que não exigiu grande investimento e sem desperdício de materiais.

Fotografias: Leonardo Finotti


Estúdio Madalena (Texto publicado no Catálogo de Prêmio de Arquitetura 2015 Instituto Tomie Ohtake Akzonobel), por Abílio Guerra

Opressiva, São Paulo é uma cidade sem profundidade ao rés-do-chão. O adensamento das construções sequestra a percepção sensorial da geografia da cidade, encastelada sobre morros. A movimentação intensa do território se apresenta de quando em quando ao olhar que se volta para o ponto de fuga do arruamento. Contudo, a visão frontal desobstruída é mais rara, caso do MASP na Avenida Paulista.

O Estúdio Madalena ?projeto de Anderson Freitas, Acácia Furuya e Pedro Barros, do Apiacás Arquitetos, e localizado em rua e bairro homônimos ao seu nome de batismo ?assemelha-se ao projeto de Lina Bo Bardi em sua estratégia de implantação. O que seria o térreo da edificação é uma extensão da calçada pública, que se transforma em recinto aberto e desobstruído, quase uma praça que se volta para a paisagem. O chão deste espaço é a parte superior da prótese incrustada no talude do terreno em queda, e que abriga o uso residencial na parte baixa do terreno. O volume suspenso, destinado a espaços de trabalho, se desenvolve em dois andares, que se equilibram sobre quatro pilares esguios de metal. Tal como no MASP ?mas neste caso, devido à escala modesta do projeto, apenas com escadas sobrepostas ? a circulação vertical se dá lateralmente, com pouca interferência no térreo.

Devido às restrições econômicas do empreendimento, os arquitetos baratearam o custo e aumentaram os benefícios com o uso de materiais industrializados disponíveis no mercado, a edificação da maior área construída possível (500 m2 em um terreno de 250 m2) e a rápida execução da obra. Painéis pré-fabricados de concreto ?corriqueiramente usados como formas de concretagem, adaptados aqui à condição de paredes e lajes ?se articulam a uma estrutura metálica ortogonal, solução simples e barata para a parte suspensa do projeto. Os mesmos painéis e estrutura metálica são usados no embasamento, mas agora apoiados em estrutura convencional de concreto, que faz o contato direto com o solo.

A escala reduzida e o aporte restrito de recursos não inibem sua qualidade exemplar. Além de contemplar de forma adequada o programa de uso e o baixo orçamento, o projeto tem como principal atributo sua gentileza urbana. Não apenas moradores ou usuários dos seus espaços, mas todos aqueles que passam diante do Estúdio Madalena são agraciados com a maravilhosa vista que se descortina de forma surpreendente. Diante desta fresta urbana, o homem da cidade pode mirar a cidade ?este grande artifício humano ?como se fosse a paisagem natural.


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Anderson Freitas (A.F.)

MDC – Como você contextualiza essa obra no conjunto de toda a sua produção?

A.F. – Penso que esta obra resulta de experimentações construtivas que vínhamos buscando a partir de uma certa inquietude em relação aos métodos tradicionais de construção. Não estamos com isso afirmando que esta obra é resultado de uma pesquisa tecnológica avançada, mas, simplesmente, de pensar a construção se valendo de elementos existentes no mercado, de certa forma subvertendo sua utilização convencional com intenção primeira da materialidade que nos interessava e consequentemente resultasse numa obra ágil e econômica. Olhando para o conjunto, a nossa maneira de ver, sob o aspecto da espacialidade, acreditamos que ele mantém a postura que sempre tivemos em relação a todos os projetos que desenvolvemos em nosso escritório, ou seja, nunca submetemos a qualidade espacial que desejamos em detrimento de um sistema construtivo escolhido.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

A.F. – Este projeto foi resultado de um outro projeto já em fase de obra, de escala semelhante, no mesmo bairro da zona oeste de São Paulo, o bar Mundial. O cliente, que ainda não era, viu a obra e gostou muito do projeto, do sistema construtivo (similar ao do Estúdio Madalena). Enfim, ele acabou nos contratando para fazer o dele também. Quando estávamos iniciando o projeto descobrimos que ele já tinha um outro projeto já aprovado na prefeitura, mas desistiu de executar quando viu nossa obra.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Você destacaria algum momento significativo do processo?

A.F. – Como partimos de uma solicitação do cliente em relação ao programa, que desejava um lugar onde ele pudesse trabalhar e viver, essa questão nos provocou a pensar o projeto de forma pouco convencional em relação às conexões entre ambientes, digo em relação à necessidade de fazê-los conectados por espaços fechados, ou protegidos. Creio que essa condição foi fundamental para pensarmos o projeto com certa liberdade para sua volumetria: poder tirar partido desse jogo, de maneira a criar espaços de permanência abertos, como pequenas praças e, nesse sentido, poder estabelecer uma relação mais forte com o entorno. Daí a ideia do programa bi-partido com parte da volumetria fechada redesenhando o chão e outra elevada para liberar a visão da paisagem para quem caminha pela rua.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa do autor? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, pode comentar as mais importantes?

A.F. – Houve uma certa luta com o engenheiro de estruturas que insistia em fazer os pilares metálicos muito pesados, aumentados em relação à real necessidade de carga que ele receberia, já que desenvolvemos especificamente para esta obra, não somente as paredes mas também as lajes ocas, fazendo o piso, ao invés de ser em concreto maciço, funcionar como um conjunto de vigotas com os banzos em concreto unidos pela ferragem de armação. Uma vez que o convencemos a partir do cálculo de cada laje comparada a uma laje maciça, ele aceitou. Porém, voltou com outro problema, dizendo que os esforços de vento fariam essa estrutura, que trabalha como uma mesa, com quatro pernas, deformar etc. Aí contra argumentei que a caixa de escada metálica, anexada ao volume suspenso, atuaria como um arco botante e naturalmente iria funcionar como um travamento suficiente para este problema, já que estaria toda contraventada. Enfim, depois de muitas idas e vindas o engenheiro acabou por aceitar os argumentos. Penso que se tivéssemos cedido aos questionamentos esse projeto não teria a mesma expressividade.

MDC – O autor do projeto teve participação no processo de construção/implementação da obra? Se sim, quais os momentos decisivos dessa participação?

A.F. – Tivemos total participação no processo de construção, já que fomos os responsáveis pela obra. Temos convicção que essa condição nos devolve a possibilidade de experimentarmos métodos e sistemas construtivos não convencionais que em outra situação não poderíamos.

Outra questão interessante que se desdobrou em nossa atuação profissional por conta de assumirmos a administração e gerenciamento dessas obras é que acabamos por nos ver “forçados?a consolidar uma empresa voltada para essa operação, que inicialmente se misturava ao Apiacás Arquitetos. Agora se trata de outra empresa, dos mesmos sócios, chamada Aimberê Construções. O interessante é que a equipe de arquitetos que trabalha conosco acaba por vivenciar experiências no campo do projeto e também no canteiro de obra. E isso faz diferença pois a autonomia das decisões acaba sendo nossa, que é um pouco limitante quando essa responsabilidade não está em suas decisões, problema recorrente no Brasil quando se pensa a questão do arquiteto no canteiro de obras.

MDC – Você destacaria algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

A.F. – Este projeto era de fato para ser utilizado pelo cliente que contratou a obra, mas ele acabou recebendo uma oferta tentadora de aluguel do estúdio assim que ficou pronto. Como ele tinha outros imóveis no mesmo bairro, ele acabou alugando e não ocupou a nova edificação. Ficamos receosos se daria certo para o novo inquilino, uma empresa de publicidade, se eles manteriam o vazio etc, mas no fim preservaram (o que achamos importante), mas, infelizmente, acabaram por fazer um fechamento em relação à rua, abrindo somente quando fazem eventos. De certa maneira achamos que tudo bem, faz parte da vida rsrs.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, faria algo diferente?

A.F. – Olha, penso que o tempo pode mudar sua maneira de pensar em relação às coisas, então não posso afirmar que faria igual, exatamente igual. Acho que talvez não seja essa a questão. Talvez a questão seja se você se arrepende de um determinado projeto, se entende que errou em tomar aquela decisão. Nesse sentido, posso afirmar que não, pois quanto mais o tempo passa, mais gosto deste projeto, mesmo não podendo afirmar se faria a mesma solução hoje.

MDC – Como você contextualiza essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

A.F. – Penso que ela se encaixa no contexto onde há busca por facilitação do processo construtivo, para evitar desperdícios, que representa leveza para soluções estruturais e consequentemente econômicas. O fato de termos colaborado com o Lelé (João Filgueiras Lima) em alguns projetos inevitavelmente plantou essa semente. Isso do ponto de vista da construção. Do ponto de vista da espacialidade, ela se enquadra nessa constante luta por desenhar a cidade de maneira mais gentil, onde cada oportunidade, não importando se vem de uma demanda pública ou privada, é um motivo para desenhar essa cidade que desejamos. Lembro sempre daquilo que o arquiteto e professor Abrahão Sanovicz sentenciava aos seus alunos dizendo – “façam obras com gentileza urbana!

MDC – Há algo relativo ao projeto e ao processo que gostaria de acrescentar e que não foi contemplado pelas perguntas anteriores? Agradecemos imensamente a sua contribuição.

A.F. – Sim, penso que pelo fato de estarmos muito envolvidos com obras, acabamos inevitavelmente sendo contaminados constantemente pela questão do orçamento previsto, para evitar que o custo saia do controle. Creio que essa demanda surja pra gente antes do estudo. Mas não penso nisso como um problema, mas sim como uma contribuição para aumentar nosso senso de responsabilidade para o projeto, que neste sentido extrapola a questão espacial, mas não a torna menos importante, apenas uma luta constante para manter o equilíbrio.

Eu que agradeço. Ficamos muito honrados com o convite.


estudo preliminar


ESTUDO PRELIMINAR


9 pranchas (pdf).
3,91mb


projeto executivo


PARTE 1:
DIAGRAMA DE ÁREAS + PLANTAS E CORTES

13 formatos (pdf).
2,27mb


PARTE 2:
MURO DE ARRIMO + ESCADA DE CONCRETO

7 pranchas (pdf).
517kb


PARTE 3:
CAIXILHOS + GUARDA-CORPOS + GRADIS

17 pranchas (pdf).
1,01mb


PARTE 4:
ESCADAS METÁLICAS

26 pranchas (pdf).
3,23mb


PARTE 5:
HIDRÁULICA E ELÉTRICA

14 pranchas (pdf).
1,19mb


ficha técnica

Local: Vila Madalena, São Paulo- SP, Brasil
Ano de projeto: 2014
Ano de conclusão: 2014
Área do terreno: 500 m²
Área construída: 250 m²
Autores: Anderson Freitas, Acácia Furuya e Pedro Barros
Colaboradores: Bárbara Francelin, Marcelo Otsuka, Daniela Andrade, Maria Wolf, Ana Julia Chiozza, Leonor Vaz Pinto, Felipe Zorlini, Adriana Domingues, Matheus D’Almeida, Gabriela de Moura Campos, Lorran Siqueira, Vitor Costa, Francisco Veloso, Renato Kannebley e Accácio Mello


Projeto estrutural:
CCT Engenharia
Projeto de fundação:
VWF Fundações



Fotos: Lauro Rocha e Leonardo Finotti


galeria


colaboração editorial

Isabela Gomide

deseja citar esse post?

FREITAS, Anderson. FURUYA, Acácia. BARROS, Pedro. “Estúdio Madalena”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., mai-2024. Disponível em //www.28ers.com/2024/05/08/estudio-madalena. Acesso em: [incluir data do acesso].


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8 minutos

Casa Montes Claros (texto fornecido pelos autores)

Montes Claros é uma cidade na região norte do estado de Minas Gerais, com intensa atividade econômica e oferta de serviços, constituindo-se como uma centralidade regional. A cidade é assentada sobre área mais ou menos plana, a 700m acima do nível do mar, e semi-circundada, de sudeste a noroeste, por uma serra que eleva um planalto a 1.000m de altitude.

Fotografias: Federico Cairoli

Esta condição geográfica, de certa planície contida por serras ao redor, estabelece um horizonte distante e limitado, e o limite são estes montes circundantes de suaves contornos.

O lote onde este projeto é construído possui um leve declive na direção de um córrego recentemente urbanizado. Este desnível permite que desde o fundo do lote se tenha uma vista das redondezas. Na fração norte do lote se cultivou, ao longo dos anos, um bosque com muitas árvores frutíferas. Este bosque dá continuidade a uma pequena floresta contígua, da dimensão de um quarteirão, constituindo uma rara área verde.

Fotografias: Federico Cairoli

A implantação da casa atende a uma série de intenções, dentre elas: abrir-se ao nascente e ao poente; buscar no horizonte os limites do território em que se assenta a cidade; e ainda, abrir-se para o bosque ao norte. Estas relações visuais direcionais se estabelecem especialmente no pavimento elevado. Já no pavimento térreo buscou-se uma relação livre e horizontal com o exterior, de tal modo que, caminhando pelo térreo, todo o perímetro do lote pode ser apreendido, com mínimas obstruções. Portanto, se no pavimento elevado o olhar é dirigido para a paisagem ao redor, no térreo ele é disperso, imersivo.

Plantas: implantação, térreo e segundo pavimento

A materialidade da construção também se define em torno da questão da implantação. Sobre este aspecto, o anel elevado em tijolos maciços cerâmicos que envolve todo o pavimento superior que abriga o programa íntimo procura continuar com o chão em terra batida de lotes vizinhos, os muros e seus tijolos à vista, o concreto e o asfalto impregnado pelo barro, e o mar de telhados cerâmicos que recobre o território.

A elevação do anel cerâmico que envolve o pavimento íntimo é resultado de uma operação anterior, a de elevar duas lajes maciças, uma à frente e outra ao fundo, com 6 x 10 m e 3 x 10 m, respectivamente. Enquanto a primeira se apoia sobre um conjunto de elementos em colaboração ?um plano obliquo, uma coluna em concreto, dois troncos de Pau Preto (Cenostigma tocantinum) e um plano em tijolos maciços ?a segunda se apoia sobre uma linha central de colunas em concreto. Entre estas lajes forma-se um pátio.

Fotografias: Federico Cairoli + Cortes e Elevações


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Gregório Rosenbusch (G.R.)

MDC – Como você contextualiza essa obra no conjunto de toda a sua produção?

G.R. – Este projeto, iniciado em fevereiro de 2017 e situado em Montes Claros (MG), é o primeiro que realizamos fora de Petrópolis (RJ) e tem uma particularidade que gostaríamos de ressaltar em relação aos projetos anteriores, e diz respeito ao fato do terreno possuir topografia relativamente pouco acidentada, em declive. Esta característica nos permitiu pensar um térreo, do ponto de vista conceitual, simultaneamente livre e programado. Em outras palavras, procuramos definir um pavimento térreo habitável no qual os elementos estruturais de elevação do pavimento superior e as áreas livres mantivessem certo protagonismo no conjunto, neste pavimento. Há, portanto, uma distinção aqui em relação à casa Elevada, que possui um térreo com a topografia natural, em aclive, e sem espaços habitáveis. Por outro lado, a introdução do uso no térreo procura ainda manter a ideia de um térreo livre e um volume elevado, de uma distinção entre o que está acima e o que está abaixo. Algo muito singelo e banal na arquitetura, mas que para nós consistiu numa passagem que se deu nesta obra.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

G.R. – Este projeto é para um primo-irmão e sua família. Eles haviam iniciado um projeto, mas não estavam satisfeitos e então nos procuraram.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Você destacaria algum momento significativo do processo?

G.R. – Este projeto talvez tenha sido o primeiro em que o processo de concepção e desenvolvimento se deu de modo mais linear. Em projetos anteriores, os estudos preliminares variavam em diversas opções e tínhamos muita dificuldade de assentar uma proposta para dar seguimento. Em muitos casos, já na etapa de anteprojeto realizávamos giros radicais nas propostas, o que nos gerava muito retrabalho. Aqui a proposta surgiu a partir de uma pequena maquete conceitual em madeira que de certo modo já esboçava a configuração definitiva do projeto, ainda que de modo conceitual e impreciso.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, pode comentar as mais importantes?

G.R. – Neste e em todos os nossos projetos até aqui, colaborou de modo muito significativo o engenheiro Ricardo Barelli. Neste caso, chegamos com uma proposta de estrutura bastante elaborada, com a disposição dos elementos estruturais e um pensamento claro em relação ao caminho das cargas. Foi então crucial, no que diz respeito à estrutura metálica, encontrarmos juntos um desenho de treliça metálica que nos desse o menor peso em aço e que tivesse a melhor interface com alguns aspectos do projeto, especialmente no que diz respeito à relação visual com o exterior. Por outro lado, o trabalho junto ao Barelli e sua equipe foi muito importante na definição de um conceito estrutural presente no pavimento térreo, que trata da diferenciação entre apoios hiperestáticos, em concreto armado e apoios isostáticos, com troncos de árvores e planos de alvenaria portante em tijolos maciços.

MDC – Os autores dos projetos tiveram participação no processo de construção/implementação da obra? Se sim, quais os momentos decisivos dessa participação?

G.R. – Não tivemos participação na implementação da construção, mas tão somente em conversas preliminares de apresentação do projeto à empresa construtora e acompanhamento e monitoramento a partir de visitas técnicas, realizadas em geral a cada dois meses, em virtude a distância desde nossa base (900km).

MDC – Você destacaria algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

G.R. – Um aspecto que me chama a atenção é o extremo cuidado dos habitantes no cultivo e no cuidado do jardim. Não sei dizer se este apreço por jardim já existia antes desta casa, de qualquer modo agora se apresenta de modo bastante claro. Um aspecto da casa que talvez contribua para isso é a integração dos espaços de convívio com as áreas livres e o jardim. De alguma maneira, o cuidado com a casa e com o jardim são uma coisa só, já que, neste caso, ambos são simultaneamente habitados pois não há como se voltar para um e renegar o outro.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, faria algo diferente?

G.R. – Para nós a utilização do tijolo maciço nas fachadas do volume elevado era conceitualmente muito importante. De um lado, buscou-se com esse material estabelecer uma relação com o entorno, com a terra e a prolífica produção de artefatos cerâmicos na região. De outro lado, buscávamos suspender, elevar este material telúrico, como quem procura contrariar a sua afeição pelo chão. Ocorre que o trabalho com tijolos maciços é altamente artesanal e nos parece que nas atuais condições materiais de produção da arquitetura no Brasil, este grau de artesanalidade produz certo impacto negativo em relação aos custos de obra. O que de certo modo é positivo, pois significa que o trabalho manual hoje é relativamente mais valorizado que em décadas passadas, apesar do canteiro de obras no Brasil ainda representar, como sabemos, um ambiente de grande exploração do trabalho.

MDC – Como você contextualiza essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

G.R. – Não estou seguro, mas acredito que esta seja uma obra que aponta para uma certa vontade de aproximação ao contexto latino-americano, especialmente à produção de países do cone sul e, mais especificamente, à do Paraguai. Um indício para isso seria o uso de um sistema estrutural heterodoxo, com elementos variados (concreto armado, aço, paredes portantes, troncos de árvore) e um certo grau de experimentação e invenção com estes elementos, o que me parece orientar-se à produção contemporânea no Paraguai. Por outro lado, a suspensão do volume elevado sobre poucos apoios e a centralidade da estrutura em alguns trechos procuram relação, a partir de nossa interpretação subjetiva, com a produção moderna em São Paulo, a clássica (Paulo Mendes da Rocha) e a contemporânea (Angelo Bucci).


projeto executivo


EXECUTIVO

7 pranchas (pdf).
5,24mb


ficha técnica do projeto

Local: Montes Claros, MG, Brasil
Ano de projeto: 2017
Ano de execução e conclusão da obra: 2021
Área: 240 m²
Autor: Gregório Rosenbuch
Colaboração: Mariana Meneguetti

Arquitetura: Venta Arquitetos
Estrutura: Ricardo Barelli (Teto Engenharia)
Construção: Construtora Aragão

Fotos: Federico Cairoli
Contato: contato@venta.28ers.com


galeria


colaboração editorial

Isabela Gomide

deseja citar esse post?

ROSENBUSCH, Gregório. “Casa Montes Claros”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., jan-2024. Disponível em //www.28ers.com/2024/01/21/casa-montes-claros/. Acesso em: [incluir data do acesso].


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7 minutos

Casa Elevada (texto fornecido pelos autores)

Implantação da Casa Elevada em relação à Casa Henrique Cunha

Concebido como um refúgio do arquiteto, procurou-se com este projeto, desde esta condição, realizar algumas experiências construtivas, com o objetivo de conciliar diferentes desejos: de reduzir o custo de obra; de preservar a topografia existente; de elevar a construção do solo; e por fim, estabelecer uma relação espacial singular entre o interior e o entorno imediato.

A área disponível para a construção compreende uma topografia que define uma espécie de recinto semifechado, contido por taludes preexistentes que formam uma concavidade aberta a leste. Sobre o eixo leste-oeste, no centro deste “recinto”, implanta-se a construção a 2,40 metros acima do nível de acesso ao terreno. Para isso, lança-se mão de uma estrutura mista: um par de fundações, colunas e vigas em concreto, constituindo uma base sobre a qual nasce um esqueleto leve em estrutura metálica, com perfis laminados e tubulares.

Fotografia: Federico Cairoli + Plantas: pilotis e pavimento elevado

Para a construção dos pisos utilizou-se chapas de painel compensado de madeira e pré-moldados de concreto. Internamente, os painéis compensados constituem caixas enrijecidas e bi-apoiadas, com vão livre de 1,60 metro.

Em relação à cobertura, um viga metálica em perfil “I” deitado constitui ao calha central e, ao mesmo tempo, tem por objetivo tensionar uma série de barras chatas em aço sobre as quais se apoiam as telhas termo-acústicas.

Fotografia: Federico Cairoli

As fachadas laterais, voltadas para o norte e para o sul, são integralmente em vidro mediadas por varandas e uma delicada tela em aço, de modo que o interior se abre para os taludes próximos recobertos por vegetação espontânea. O vidro aqui permite que a interioridade do refúgio se expanda até os taludes e a vegetação próxima, como a tomar posse deste espaço. Deste modo, há um envolvimento entre interior e exterior que de diversas maneiras é sentido na experiência cotidiana da casa.

Fotografias: Federico Cairoli + Cortes e Elevações


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Gregório Rosenbusch (G.R.)

MDC – Como você contextualiza essa obra no conjunto de toda a sua produção?

G.R. – Este projeto iniciou-se em novembro de 2015, naquela altura, e após a experiência de projeto e acompanhamento de obra de duas casas geminadas (2012) e da casa Henrique Cunha (2014), ansiava por uma construção que realizasse a menor intervenção possível no terreno, com um mínimo trabalho de solo, é dizer, cortes, aterros e contenções, tanto pelo aspecto econômico, mas também pelo impacto na configuração local conforme encontrada e pelo sentido dramático com que muitas vezes estas operações de manejo de terra se dão.

Uma vez que o sítio de construção possui topografia de perfil inclinado e acidentado, a saída seria aderir a um partido de construção elevada, de modo a encontrar um espaço aéreo no qual o volume pudesse se desenvolver. Neste sentido, esta obra configura uma espécie de passagem entre uma construção afeita ao solo (casas geminadas), para uma semi-projetada ao espaço aéreo (casa Henrique Cunha), e uma liberação total, por assim dizer, do solo, na casa Elevada. Esta liberação não significa que a construção aérea não seja determinada, em certa medida, pelas contingências do solo sobre o qual paira, mas que deseja a maior autonomia possível em relação ao mesmo.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

G.R. – Esta pequena casa foi feita para o próprio arquiteto.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Você destacaria algum momento significativo do processo?

G.R. – O processo de projeto e de obra se deu de modo heterodoxo, já que com pouco desenvolvimento de projeto logo iniciamos a execução das fundações e dos fustes de colunas. Havia naquele momento uma ideia quiçá ingênua e romântica de que o projeto se faria com a obra ou na obra, em outras palavras, dentro do processo produtivo da arquitetura, com a experiência em canteiro contribuindo constantemente para a definição e atualização das decisões. Hoje compreendo que havia também uma grande ansiedade mesclada com um desejo de experimentação.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, pode comentar as mais importantes?

G.R. – O processo de projeto contou com a interlocução com alguns profissionais. Como exemplo, no piso das varandas utilizamos painéis pré-moldados de concreto, usualmente fabricados para a execução de lajes recobertas com concreto. O que imaginamos foi inverter a posição do painel, de tal modo a ter a ferragem exposta da treliça voltada para baixo, a fim de objetivar um melhor aproveitamento do aço nos esforços de tração e assim dar conta de um vão de 1,60m. Na empresa local (Plainco) fabricante de painéis pré-moldados de concreto, foi possível realizar uma prova de carga, com a sobreposição de sacos de cimento empilhados um a um sobre um painel levemente suspenso do chão, apoiado em calços. A observação empírica surpreendeu, do ponto de vista da resistência do painel, o próprio engenheiro fabricante, que havia calculado as ferragens do painel para um propósito distinto daquele testado.

Em relação à montagem da gaiola metálica, foi necessário acompanhar o processo para entender a necessidade de reforços que surgiram de deformações não previstas, num processo de análise e interlocução muito próxima com a equipe de serralheria.

O piso interno, por sua vez, constituído por caixas enrijecidas de compensado, teve a sua resistência testada a partir de um primeiro protótipo na oficina de marcenaria. Suficientemente rígido, foi então reproduzido.

Em suma, houve uma rica interlocução especialmente com prestadores de serviços e alguns fornecedores.

MDC – Os autores dos projetos tiveram participação no processo de construção/implementação da obra? Se sim, quais os momentos decisivos dessa participação?

G.R. – Nesta obra realizamos toda a gestão e coordenação da obra, alguns momentos decisivos foram pontuados acima.

MDC – Você destacaria algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

G.R. – Um fato relevante ocorreu logo após a conclusão da montagem da estrutura metálica, do piso e dos fechamentos, quando então constatamos um significativo movimento e balanço da estrutura, principalmente sob efeito de carga acidental, com o deslocamento dos corpos no espaço. Essa característica logo se tornou bem-vinda, animada pela ideia do habitat sujeito a uma condição de estabilidade delicada e da explicitação da elasticidade dos materiais.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, faria algo diferente?

G.R. - A experiência com essa estrutura elástica logo se converteu na compreensão, a partir da observação empírica, da necessidade de travamentos diagonais para o contraventamento de estruturas metálicas, algo bastante óbvio e corrente no ensino da arquitetura. Hoje, em nossos projetos atuais, estamos muito interessados em conformar planos e volumes em aço o mais triangulados possíveis, no sentido de obter o menor peso em aço e maior resistência e estabilidade. 

MDC – Como você contextualiza essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

G.R. – A meu ver, esta obra reflete, especialmente nos pilotis, uma admiração e interesse pelo trabalho de Angelo Bucci, no que diz respeito a estruturas centrais (clínica de psicologia e casa em Carapicuíba). De outro lado, há também na articulação dos pilotis com a estrutura em aço o resultado de uma observação das estrutura de viadutos de vias expressas e estradas de rodagem. Mas fundamentalmente penso que esta obra se situa no conjunto de trabalhos de uma geração baseada no Rio de Janeiro e que, de algum modo, passou pelos ateliês ou pelos escritórios de Diego Portas e Carla Juaçaba.


projeto executivo


EXECUTIVO

3 pranchas (pdf).
591kb


MOBILIÁRIO

3 pranchas (pdf).
118kb


ficha técnica do projeto

Local: Petrópolis, RJ
Ano de projeto: 2016
Ano de execução e conclusão da obra: 2017
Área: 60 m²
Autor: Gregório Rosenbuch
Responsável pela obra: Gregório Rosenbuch

Arquitetura: Venta Arquitetos
Estrutura: Ricardo Barelli (Teto Engenharia)
Estrutura metálica: Joafer Serralheria (José Antônio)
Compensado: Antônio Schneider

Fotos: Federico Cairoli
Ilustrações: Nicolás Castagnola
Contato: contato@venta.28ers.com


galeria


colaboração editorial

Isabela Gomide

deseja citar esse post?

ROSENBUSCH, Gregório. “Casa Elevada”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., jan2024. Disponível em //www.28ers.com/2024/01/21/casa-henrique-cunha-e-casa-elevada-parte-2/. Acesso em: [incluir data do acesso].


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Casa Henrique Cunha (texto fornecido pelos autores)

Implantação da Casa Henrique Cunha em relação à Casa Elevada

Esta residência está situada em um lote localizado na rua Dr. Henrique Cunha, em um bairro residencial a 5km do centro de Petrópolis. Este trecho da rua é em aclive na direção norte-sul e é ladeado por um amplo terreno arborizado a leste. Do outro lado, a oeste, está o lote em questão, que faz parte de um loteamento com frações estreitas e profundas (16X400m), se estendendo até a vertente do morro, em acentuado aclive.

Fotografia:  Federico Cairoli

A implantação tem como princípio organizar a maior parte do programa, aquilo que atende integralmente às necessidades cotidianas de um casal, em cota elevada em relação à rua, para receber a incidência direta de luz natural, especialmente na parte da manhã. Para isso, é necessário estar o mais elevado possível em relação às copas das árvores a leste.

O acesso à cota de implantação do pavimento principal é feito por meio de uma rua interna e desde a garagem é possível entrar na casa, uma construção alongada implantada a 14 metros acima do nível de entrada ao terreno.

Fotografia: Federico Cairoli + Planta

Uma vez que esta construção avança em direção à rua, ela se projeta sobre a topografia, que desce conforme o perfil natural. Neste trecho elevado, o pavimento principal foi construído em estrutura metálica e apoia-se sobre quatro colunas em concreto armado que, diante da necessidade de travamentos horizontais, definem uma grade espacial que acolhe dois pavimentos inferiores. O primeiro abriga um programa complementar para hóspedes, e o segundo configura-se como uma espécie de “terreno aéreo”, que consiste numa laje à espera de futura expansão.

Fotografias: Federico Cairoli + Corte e Elevações


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Laura Rosenbusch (L.R.) e Gregório Rosenbusch (G.R.)

MDC – Como você contextualiza essa obra no conjunto de toda a sua produção?

L.R / G.R. – Este projeto, iniciado em 2013, foi o segundo projeto realizado por nós (o primeiro foi um conjunto de duas casas geminadas), desse modo, foi muito importante para o inicio de nossa carreira enquanto oportunidade de ter contato com as diferentes etapas do projeto e principalmente com o processo de sua construção.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

L.R / G.R. – Esta casa foi projetada para nossos pais (já que somos irmãos e sócios).

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Você destacaria algum momento significativo do processo?

L.R / G.R. – O processo de projeto se deu de forma a integrar certas convicções nossas como recém-formados, principalmente de obter uma estética resultante das demandas de projeto, com os desejos dos clientes, por exemplo a vontade de seguir uma estética mais comumente encontrada nas casas da região (a casa se situa em Petrópolis, região serrana do estado do Rio de Janeiro) e da ideia tradicional de casa. Este foi um debate constante durante o processo. Porém, os clientes, sempre muito envolvidos tanto no processo de projeto quanto de obra, foram compreendendo o motivo de cada decisão, estas que não se restringiam apenas a questões meramente estéticas mas que buscavam abarcar uma série de contingências tanto econômicas, como funcionais e ambientais (a relação com o terreno, com o entorno, com o clima). Ao final buscou-se chegar a pontos de convergência.

Assim, foram definidos alguns princípios que conduziram as decisões formais: a elevação do volume principal da casa para que o sol pudesse chegar ao interior da casa (que está implantado em uma cota a 14 metros de altura em relação a rua); a integração do programa principal em um único pavimento, de modo a evitar escadas no uso cotidiano da casa; além de uma vontade, nesse caso mais estética, de construir uma casa com cobertura em laje plana.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, pode comentar as mais importantes?

L.R / G.R. – Este foi nosso primeiro projeto em colaboração com o engenheiro Ricardo Barelli e equipe e pontuaria ao menos dois aspectos que consideramos relevantes. O primeiro deles diz respeito a um vão de 9,00m que a laje de piso do pavimento principal vence, na passagem do trecho apoiado sobre o terreno para o trecho elevado. Desejávamos resolver este vão com 35cm de altura de viga invertida em concreto, incluindo a espessura de laje (12cm). Para isso, trabalhamos o conceito de colaboração entre viga invertida e laje, distribuindo os esforços de tração nas ferragens da laje. O segundo aspecto trata do contraventamento da sequência de pórticos em aço que sustentam a cobertura. Esta demanda por contraventamento nos indicou a possibilidade de alternar vãos em alvenaria e vãos com abertura, de tal modo que todas as colunas se encontram associadas aos painéis de alvenaria e assim contraventadas pelos mesmos, resultando numa solução que associa demandas estruturais com uma determinada relação entre interior e exterior, neste caso de enquadramento da paisagem, e de ritmo de fachada.

MDC – Os autores dos projetos tiveram participação no processo de construção/implementação da obra? Se sim, quais os momentos decisivos dessa participação?

L.R / G.R. – Esta obra foi dirigida por nós, que ficamos responsáveis por todas as contratações e acompanhamento técnico do dia-a-dia dos trabalhos. Um momento decisivo se deu logo ao princípio, quando terminada a terraplenagem e nos encontramos com um maciço rochoso imprevisto, uma rocha muito bonita, mas que nos exigiu uma total redefinição do espaço de garagem. Por outro lado, surgiu a oportunidade de explorar a visibilidade desta pedra, sendo então alterada a fachada onde se encontra a copa, finalmente com uma grande abertura orientada para a pedra. Nesta situação foi possível compreender esta instância de atualização do projeto em obra como forma de melhor relacionar o mesmo a seu contexto de implantação, que de certo modo se revela com a própria construção.

MDC – Você destacaria algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

L.R. / G.R. – O volume principal da casa apoia-se sobre quatro colunas em concreto armado situadas no trecho do terreno em declive, com aproximadamente 14m de comprimento e seção de 25 x 25 cm. Diante da necessidade de travamentos horizontais para obter esta seção, definiu-se uma grade espacial que acolhe dois pavimentos inferiores. O primeiro abriga um programa complementar para hóspedes, o segundo configura-se como uma espécie de reserva de terreno, ou como nos habituamos a chamar, um “terreno aéreo”, que consiste numa laje à espera de futura expansão.

Esta laje ficou por quase 10 anos vazia, sem uso definido, acabamos de realizar o projeto de fechamento deste espaço que abrigará um pequeno apartamento (um espaço único com copa, sala e quarto, além de um banheiro), com entrada independente que será usado para hóspedes.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, faria algo diferente?

L.R. / G.R. – Acredito que hoje elaboraríamos de modo distinto, entre outras razões porque este projeto se realizou num momento muito inicial de nossas carreiras. Nos faltou naquela instância, e em outras também, um processo mais linear de desenvolvimento de projeto, que neste caso passou por muitos giros, de tal modo que somente a obra colocava fim nas nossas investigações projetuais, o que de certo modo atropelava o processo.

MDC – Como você contextualiza essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

L.R. / G.R. – Naquele momento nos interessávamos muito por algumas casas do Brasil Arquitetura, casas com muros rebocados, esquadrias de madeira, beirais esbeltos em concreto armado, enfim, com um arranjo que concilia certa cotidianidade nos elementos construtivos e, ao mesmo tempo, uma espacialidade e uma linguagem modernas. De algum modo procuramos nesta ocasião nos aproximar deste tipo de arquitetura, já que nos parecia palpável (mas não era, já que estas casas mencionadas são muito sofisticadas, produtos de uma arquitetura extremamente madura).


projeto executivo


EXECUTIVO

2 pranchas (pdf).
482kb


ficha técnica – casa henrique cunha

Local: Petrópolis, RJ
Ano de projeto: 2013
Ano de execução e conclusão da obra: 2014
Área: 210 m²
Autor: Gregório Rosenbuch e Laura Rosenbusch
Responsável pela obra: Gregório Rosenbuch

Arquitetura: Venta Arquitetos
Estrutura: Ricardo Barelli (Teto Engenharia)
Sondagem: Sondestaq
Esquadrias de madeira: Advaldo Móveis Planejados

Fotos: Federico Cairoli
Contato: contato@venta.28ers.com


galeria casa henrique cunha


colaboração editorial

Isabela Gomide

deseja citar esse post?

ROSENBUSCH, Gregório. ROSENBUSCH, Laura. “Casa Henrique Cunha e Casa Elevada”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., jan-2024. Disponível em //www.28ers.com/2024/01/21/casa-henrique-cunha-e-casa-elevada-parte-1/. Acesso em: [incluir data do acesso].


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