Preserva莽茫o – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com Mon, 29 Apr 2024 14:16:42 +0000 pt-BR hourly 1 //i0.wp.com/28ers.com/wp-content/uploads/2023/09/cropped-logo_.png?fit=32%2C32&ssl=1 Preserva莽茫o – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com 32 32 5128755 Preserva莽茫o – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2023/06/29/casarao-da-inovacao-cassina/ //28ers.com/2023/06/29/casarao-da-inovacao-cassina/#respond Thu, 29 Jun 2023 12:44:46 +0000 //28ers.com/?p=11435 Continue lendo ]]> Por Laurent Troost
17 minutos

Casarão da Inovação – Cassina (texto fornecido pelo autor)

Este centro de tecnologia digital e empreendedorismo é o marco inaugural do Distrito Digital de Manaus. Com 1.586 m² distribuídos em 4 pisos, o Cassina abriga espaços de coworking e encontros para atores da economia digital: espaços multifuncionais, salões, salas de reuniões, laboratórios, salas de formação e restaurante no último piso com vistas privilegiadas sobre o Centro Histórico e o Rio Negro.

Fotografia: Joana França

Construídas em 1896 e em ruínas desde 1960, as fachadas degradadas e ocupadas pela vegetação geraram uma imagem poderosa que precisava de cuidados específicos. A beleza da imperfeição da ruína suscita interesse, questiona e convida à reflexão sobre o passado e a ação do tempo e do homem na cidade e nos edifícios patrimoniais em geral. Não surpreende que o imaginário da ruína, com suas potencialidades poéticas e plásticas, tenha sido explorado por inúmeros artistas e arquitetos: Piranesi, Gordon Matta-Clark, Robert Smithson, Lúcio Costa (Museu das Missões), Paulo Mendes da Rocha ( Pinacoteca de São Paulo e Capela Brennand) e Ernani Freire (Parque das Ruínas), para citar alguns.

Neste caso, a preservação do estado de ruína também tornou a intervenção um manifesto por ser também a última fachada com argamassa pigmentada com pó de arenito vermelho. Para deixar visível esta especificidade e para paralisar a sua degradação, foram realizados trabalhos de restauro meticulosos (limpeza, estabilização, consolidação, proteção, etc.).

Fotografia: [1] Indicador Ilustrado do Estado do Amazonas 1910 (editado); [2] desconhecido; [3] Laurent Troost; [4] Alex Pazuelo.

Também relacionado com o imaginário das ruínas, o Cassina abriga um exuberante jardim atrás da fachada principal criando um microclima muito próprio. Quem acessa o prédio pela passarela que atravessa o vazio sobre o jardim lembra a razão intrínseca de Manaus: a floresta amazônica. Este exuberante jardim tropical, associado a vidros, transparências e reflexos, mistura a História da ruína de Cassina com o Futuro do Casarão da Inovação em um espaço associado à tecnologia, virtualidade e contemporaneidade.

Cortes e fachadas + conceito de sustentabilidade

Fotografia: Joana França

Em termos de sustentabilidade passiva, além da ventilação cruzada em todos os andares devido à largura reduzida do edifício com a inserção do jardim, o Cassina apresenta um vazio ventilado entre a laje e o teto do restaurante, além de amplos beirais em todas as direções, garantindo um ambiente termicamente confortável. A fachada leste, atingida pelo sol nascente, recebeu esquadrias contemporâneas com aletas de vidro temperado para criar uma fachada dupla ventilada, mantendo o calor do lado de fora.

Pensada como uma torre de quatro colunas construída em um envelope vazio, a simplicidade do conceito estrutural de aço pré-fabricado ajudou a construir o Casarão da Inovação Cassina em apenas 7 meses durante a pandemia. Não só durante as obras, o sistema de pré-fabricação permitiu poucos trabalhadores no local permitindo o distanciamento social da Covid-19 na duramente atingida Manaus, mas também o Casarão da Inovação Cassina agora propõe ambientes grandes, generosos, bem ventilados, além de plantas abertas não convencionais e desdensificadas adaptadas ao distanciamento físico exigido em uma sociedade (pós-) pandêmica.

Plantas: pavimentos -1, 0, 1, 2 e cobertura

Resumindo, o Casarão da Inovação Cassina, por meio da inserção de uma floresta tropical e de uma estrutura de aço industrial nas ruínas consolidadas de um casarão da época da borracha, pode ser considerada a síntese dos ciclos econômicos de Manaus: a era da borracha e seu declínio, a era do Distrito Industrial e a nova era da economia digital.

Fotografia: Joana França

Ambientalmente responsável

Por ser um projeto de reutilização de edifício, o respeito pelo uso dos recursos naturais pode parecer óbvio, mas deve ser lembrado como uma decisão estratégica de reutilizar um edifício patrimonial abandonado em vez de construir do zero em outro lugar da cidade. Também foi pensado como um marco com o objetivo de desencadear o re-desenvolvimento urbano desta área abandonada do centro da cidade e, portanto, pode ser entendido como um ponto de partida do desenvolvimento urbano de reutilização sustentável.

Além disso, todos os novos materiais foram produzidos a menos de 8km de distância do canteiro de obras, uma vez que todo aço e vidro foram produzidos no Distrito Industrial de Manaus, que desenvolveu uma indústria siderúrgica específica desde 1969.

E, como mencionado anteriormente, o edifício foi cuidadosamente projetado para minimizar o uso de energia usando estratégias de energia passiva. Em termos de sustentabilidade passiva, para além da ventilação cruzada em todos os pisos devido à largura reduzida do edifício com a inserção de jardim (o que também cria um microclima com baixa temperatura), o Cassina apresenta um vão ventilado entre a laje e o restaurante teto, além de grandes beirais em todas as direções, garantindo um ambiente termicamente confortável. A fachada leste, atingida pelo sol nascente, recebeu esquadrias contemporâneas com aletas de vidro temperado para criar uma fachada dupla ventilada, mantendo o calor do lado de fora.

Devido aos regulamentos à prova de fogo, a altura do edifício exigia uma escada externa como a solução mais segura. A questão de como construir uma escada externa dentro de um envelope construído existente foi, portanto, um dos pontos de partida que apontou para a solução do jardim tropical interno. E, para tornar este desafio um diferencial para o projeto, a escada externa se transformou em um jardim tropical, concebido como um recurso de ambiente natural capaz de filtrar a poluição, produzir oxigênio, reduzir o ruído e a temperatura, mas também atrair a fauna natural urbana , o que já está acontecendo: sapos e pássaros já se aninharam na vegetação de dentro do prédio.

Fotografia: Joana França


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Laurent Troost (L.T.)

MDC – Como você contextualiza essa obra no conjunto de toda a sua produção?

L.T. – O [Casarão] Cassina é evidentemente uma obra extremamente importante, a partir do momento em que foi uma obra pública que demorou em torno de sete anos e meio para ser planejada; e que conseguiu uma alta repercussão, tanto local, nacionalmente e internacionalmente, então sem dúvida ela é imensamente importante. Em relação ao contexto, ela me permitiu sintetizar o meu “background”, já que na Europa se trabalha muito com patrimônio e restauro de uma certa forma, e no Brasil nem tanto, a linha de restauro, intervenção em patrimônio histórico aqui é muito mais monotemática eu diria, com uma única forma de interpretar as cartas, tendo raras exceções. Então acho que foi um momento de poder trazer esse meu aprendizado europeu para tratar de um assunto que afinal de contas é extremamente brasileiro, que são esses centros de arquitetura eclética colonial, infelizmente abandonados, que em parte possuem uma carga simbólica muito alta. Então é um privilégio dentro desse quadro, nesse contexto, poder fazer parte disto.

MDC Como foi o mecanismo de contratação do projeto? (Concurso, licitação, contratação direta, outro)?

L.T. – Na verdade, eu fui funcionário da prefeitura no cargo de diretor de planejamento urbano da cidade de Manaus e, nesta função, estava, entre outras coisas, encarregado de uma equipe de projeto que desenvolveu comigo o Cassina. Então foi um projeto desenvolvido dentro do órgão público, ligado à prefeitura. E apesar de ter minha autoria, ele acabou sendo muito publicado no nome do escritório, pois eu já tinha muitos registros nesses sites de publicação. Mas ele na realidade não é no nome do meu escritório, mas sim no nome de minha pessoa, que é um pouco diferente.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Você destacaria algum momento significativo do processo?

L.T. – Sim, tivemos no total cinco projetos que foram todos aprovados, licenciados e preparados para serem executados. Nesses, eu destacaria três linhas de projeto um pouco distintas, pois as outras duas foram apenas uma mudança de uso dentro do mesmo conceito de projeto. O que eu acho que foi similar, que contornou e se preservou ao longo de todos, foram dois partidos extremamente importantes: o primeiro, conservar os aspectos de ruína do edifício, junto da natureza; já que a gente entendia que isso era bem importante e simbólico, em uma cidade onde qualquer pessoa com menos de 60 anos nunca tinha visto essa ruína de outra forma que tomada pela vegetação. Então esse princípio de manter a ruína e tentar manter essa noção de vegetação, foi uma das noções conceituais que se tornaram constantes nos cinco projetos. E creio que a questão da natureza ganhou mais força nessa última versão que acabou sendo a construída; já o segundo aspecto que estava muito claro nas cinco propostas é que a intervenção tinha que afirmar totalmente sua contemporaneidade, mas sempre respeitando o patrimônio, seja em relação volumétrica, distanciando, marcando, mas sempre criando relações com o patrimônio.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa de autor(xs)? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, pode comentar as mais importantes?

L.T. – Além de desenvolver o Anteprojeto e o Projeto Básico dentro da prefeitura, a gente teve a sorte de ter a possibilidade também de desenvolver o Projeto Executivo ali dentro da prefeitura. Então isso foi muito bom, a gente contou com um tempo extremamente curto, pois a obra já tinha sido iniciada. Só este ponto é um grande problema, que se eu for explicar esmiuçadamente, vai virar quase uma tese; mas, em resumo, a obra tinha sido licitada com outro projeto e este último foi modificado logo depois do lançamento da obra, então nosso prazo foi curtíssimo. Nós fizemos o projeto como um todo, do anteprojeto até o executivo, em três meses. Foi um prazo extremamente recorde. Houve a participação de toda a equipe de arquitetos que eu liderava na prefeitura, e em relação aos outros autores, eles eram terceirizados de uma construtora de Goiânia, e o fato deles não serem de Manaus dificultou um pouco as trocas e a velocidade das coisas. Ocorreram também algumas modificações como por exemplo na parte mais estrutural: o projeto original previa que todas as paredes externas existentes recebessem as vigas a partir do sistema de torre de quatro pilares que nós projetamos no centro do Cassina, porém no final das contas o calculista optou por prever outro sistema de colunas frente as quatro paredes externas. Era algo que nós não queríamos, pois criaria certa redundância estrutural e um custo adicional de aço, mas foi a solução que ele achou mais prudente para não abalar a estrutura histórica. Além disso, outra coisa na estrutura que acabou sendo alterada foi a escada, que ficou mais robusta devido ao sistema construtivo que eles queriam fazer por etapa, de montar a escada posteriormente à estrutura principal, então ela acabou ficando com uma certa duplicação de viga, sobreposição de dois sistemas, o que acabou deixando a escada um pouco mais pesada do que a forma que tínhamos imaginado inicialmente. Mas fora isso eu diria que todas as grandes decisões foram acompanhadas pela equipe de projeto de arquitetura e foram mantidas e construídas conforme o projeto.

MDC – X(s) autor(xs) dos projetos tiveram participação no processo de construção/implementação da obra? Se sim, quais os momentos decisivos dessa participação?

L.T. – Sim, tivemos a participação desde o início, até o final, participação intensiva, acompanhamos de perto o projeto e sempre estávamos na obra. Então não foram só momentos decisivos, foi uma obra que foi a ”queridinha” do prefeito, da equipe e da construtora, todos estavam extremamente empolgados e acompanhando a todo o tempo. E a parceria entre o poder público (do qual fazíamos parte) e a empresa privada foi muito boa, eles foram muito receptivos a testar, sempre escutar, ajustar, apesar do curto prazo. Foi uma obra de aproximadamente 1500m² construída em sete meses; para uma obra de patrimônio histórico foi um feito importante que precisa ser mencionado, já que conseguimos finalizar tudo em um prazo tão reduzido.

MDC Você destacaria algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

L.T. – O grande destaque é que, desde sua inauguração, o espaço vem recebendo muitas visitas.
Mas um fato que não deixa de me incomodar é que o projeto foi pensado para ter um acesso livre em um prédio público e havíamos pensado, para o último pavimento, um restaurante/bar, cuja licitação de operação tinha sido homologada, mas que acabou sendo cancelada pelo prefeito que assumiu, logo após a nossa gestão. Então hoje esse último pavimento não está sendo utilizado de forma pública, já que ele se transformou no gabinete do próprio prefeito. Isso é uma lástima e isso não para de me incomodar; além disso o acesso ao edifício é público sim, mas não pode acontecer sem agendamento prévio para o uso das salas, ou seja, não há uma possibilidade de visita não programada, o que me incomoda um pouco, confesso, pois devido à repercussão que o projeto teve, não só na cidade, mas a nível nacional e internacional, muitas pessoas querem conhecer, e se frustram por não terem agendado. Então isso é um fato relevante em relação ao pós-uso, que infelizmente, como autor de projeto, não conseguimos administrar e que, nesse caso, só conseguimos lamentar.

MDC Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, faria algo diferente?

L.T. – Com certeza. Ao mesmo tempo que os dois fatores que comentei anteriormente – a questão da ruína/vegetação e da intervenção extremamente contemporânea porém respeitosa – seriam respeitados. Só pra citar aqui, no terceiro e no quarto projetos nós estávamos prevendo três pavimentos acima da casca do edifício existente, ou seja, algo bem diferente do que acabou sendo construído; a primeira e a segunda versões eram uma volumetria um pouco mais parecida com o que temos hoje, o telhado e o jardim eram um pouco diferente e o uso era diferente. Na primeira tivemos como uso um hotel, depois museu, depois hotel novamente, um pouco maior, depois centro de inovação, no mesmo formato. Mas ele acabou não sendo aprovado com a volumetria superior e por isso voltamos para uma volumetria mais baixa, para esse casarão da inovação que acabou sendo construído e que temos hoje.

MDC – Como você contextualiza essa obra no panorama da produção da arquitetura contemporânea do seu país?

L.T. – É uma responsabilidade muito grande responder a essa pergunta. Ao mesmo tempo em que eu acho que é um projeto que gerou muito orgulho ao nível local, ele também criou muita curiosidade e paixão ao nível nacional e gerou reconhecimento ao nível internacional, o que foi muito interessante. Eu gostaria de citar o seguinte fato: no Brasil temos pouquíssimas obras de intervenção ao patrimônio público que têm o destaque que essa obra conseguiu alcançar. Apesar de ter obras de extrema qualidade, mas que ao meu ver, não possuem o destaque que merecem, na mídia, nas premiações, nas salas de aula de arquitetura. Acredito que o Cassina teve essa sorte de ter uma repercussão muito boa e de levantar interesse nesse assunto do patrimônio, especialmente da forma em que foi feito. Lembrando que aqui no Brasil nós somos mais confrontados a um restauro ou intervenção em patrimônio histórico que eu diria que é mais em uma linha de reconstrução do que em uma linha de preservar um certo momento, tendo exceções, como a Capela Brennand do Paulo Mendes da Rocha, como o Parque das ruínas no Rio, etc. Tem alguns outros exemplos, mas são poucos, e eu acho que isso levantou muita curiosidade. Além disso ela traz uma reflexão sobre o tempo na cidade, sobre os ciclos econômicos, já que esses abandonos são reflexos de ciclos que acabam em certos bairros, cidades e regiões. E ao mesmo tempo, o fato de ter tido um reconhecimento como o prêmio Oscar Niemeyer, que é atribuído somente a cada dois anos para obras que não podem se candidatar, mas que são indicadas, e ser o primeiro projeto brasileiro que ganha esse prêmio, eu acho que é de uma relevância tremenda, o que me deixa obviamente orgulhoso, mas me deixa também muito feliz pela cidade de Manaus, pela prefeitura: um projeto público, feito com orçamento público, enxuto, em Manaus, que acabou se tornando algo muito bom para o Brasil inteiro e para o patrimônio histórico em geral.

MDC Há algo relativo ao projeto e ao processo que gostaria de acrescentar e que não foi contemplado pelas perguntas anteriores?

L.T. – Sim, gostaria de acrescentar que esse tipo de intervenção deveria ser muito mais fácil no Brasil, como mencionado anteriormente. Tivemos sete anos e meio de processos de projeto e obra, sendo sete meses de obra, mas a gente teve também cinco processos na justiça, alguns contra a prefeitura e alguns contra minha pessoa física. Foi algo extremamente estressante que creio que não deveria ter acontecido, ganhamos todos os processos, era todo o tipo de acusação, desde acusações políticas deturpadas, até fake news, acusações antiéticas, tivemos de tudo, mas basicamente foram grupo de pessoas que se articularam para tentar fazer com que o projeto não acontecesse, que o que estávamos propondo era um projeto muito fora do comum, do esperado ou regular. Então acho que isso é algo que devemos refletir, sobre essa questão da autoria de um projeto que as pessoas podem não gostar, mas o autor do projeto, além de ter o dever de atender às leis, também precisa ter sua liberdade artística, e me parece que esta noção não está sendo muito conversada no CAU, nos meios arquitetônicos, etc.
Por fim, apesar de ser um processo extremamente difícil e custoso, é um processo que, quando nós vemos a quantidade de prêmios, por um lado, e pelo outro a quantidade de usuários felizes e orgulhosos de usufruir esse edifício, é de se emocionar somente ao passar em frente a ele (risos). Eu acho que é o melhor reconhecimento, e acaba que isso me faz esquecer de todos os problemas, cabelos brancos e processos. Gostaria de finalizar com uma nota de esperança e positivismo, apesar dos pesares.
Obrigado.


projeto executivo



PARTE 1:
ÍNDICE, EXISTENTE, DEMOLIDO x CONSTRUÍDO

28 pranchas (pdf).
7,57mb



PARTE 2:
PLANTA DE LAYOUT, CORTES, FACHADAS, PAISAGISMO, JARDINEIRAS/ JARDINS VERTICAIS, IRRIGAÇÃO, FACHADA INTERNA EM VIDRO

28 pranchas (pdf).
69,97mb



PARTE 3:
PLANTA DE ILUMINAÇÃO, FORRO, CLIMATIZAÇÃO, ELÉTRICA,
LETREIRO FRONTAL, MANUAL DE SINALIZAÇÃO

45 pranchas (pdf).
11,45mb


PARTE 4:
DETALHAMENTO DE ÁREAS MOLHADAS, ESQUADRIAS,
GUARDA-CORPO E BALCÕES

31 pranchas (pdf).
12,99mb


PARTE 5:
RESTAURO DE FACHADAS, PROSPECÇÃO

21 pranchas (pdf).
15,64mb


localização e ficha técnica do projeto

Local: Manaus (AM)
Ano de projeto: 2013 – 2020
Ano de conclusão: 2020
Área Construída: 1.586 m²
Contratante: Manaus Municipality

Arquiteto responsável: Laurent Troost
Time de Arquitetura: Rejane Gaston, Juliana Leal, Nayara Mello, Erick Saraiva, Eloisa Serrão, Victor Marques, Marcelo Costa, Ingrid Maranhão, Eduardo Corrêa, Amanda Perreira, Fernanda Martins, Kauã Mendes
Restauração: Landa Bernardo
Consultoria em História: Centro Cultural Reunidos, Fábio Augusto de Carvalho Pedrosa
Arqueologia: Margaret Cerqueira, Vanessa Benedito
Interiores: Rejane Gaston, Juliana Leal
Luminotécnico: Juliana Leal
Comunicação Visual: Elter Brito
Paisagismo: Nayara Mello, Hana Eto Gall
Construtora: Biapó Constutora and MCA Engenharia
Fotografia: Joana França

Complementares
Estrutura metálica: Marco Antônio de Oliveira
Estrutura de concreto: MPa Engenharia Estrutural
Ar condicionado: LR Engenharia
SPDA: Raimundo Onety
Dados, TV e elétrica: Alah Emir Veronez
Hidráulica: Gerson Arantes Consultoria e Engenharia
Proteção contra incêndios: Andrey Costa Barbosa


galeria


colaboração editorial

Renan Maia

deseja citar esse post?

TROOST, Laurent. “Casarão da Inovação – Cassina”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., jun-2023. Disponível em //www.28ers.com/2023/06/29/casarao-da-inovacao-cassina/. Acesso em: [incluir data da consulta].


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12ª Bienal Internacional de Arquitetura de Veneza
29.08.2010 a 21.11.2010

por
Bruno Santa Cecília e Carlos Alberto Maciel

Um dos eventos mais importantes do calendário arquitetônico mundial, a 12ª Bienal Internacional de Arquitetura de Veneza acontece de 29 de agosto a 21 de novembro de 2010. A direção do evento coube à arquiteta japonesa Kazuyo Sejima que propôs o tema People meet in architecture. Até o final de novembro, a cidade respirará arquitetura, já que as exposições acontecem tanto nos espaços tradicionais da Bienal – o Arsenale e o Giardini -, como também estão espalhadas por toda a cidade, seja em representações oficiais ou eventos paralelos.

Arquitetura, arte e cotidiano

A programação oficial da Bienal se distribui entre as representações nacionais, exposições dos arquitetos convidados, ciclos de palestras e debates, além de espaços e instalações de artistas contemporâneos que buscam estabelecer diálogos com a arquitetura.

Deste conjunto, destacam-se algumas ações importantes, a começar pela condução curatorial de Kazuyo Sejima. Além de ser a primeira mulher a dirigir a Bienal de Arquitetura, é também a primeira representante da prática arquitetônica depois de uma série de edições encabeçadas por críticos e historiadores da arquitetura. O tema proposto por Sejima propõe uma maior aproximação do evento com as pessoas, relembrando que a função mais relevante da Bienal não é desfilar utopias vagas, mas ajudar os arquitetos a construir visões de mundo que podem operar no presente.

A primeira proposta de Sejima foi antecipar em algumas semanas o evento que normalmente acontece no final de setembro. Esta simples alteração no calendário do evento permitirá que ele se sobreponha ao final das férias de verão europeias, fazendo com que as milhares de pessoas que visitam Veneza nessa época do ano participem efetivamente do debate arquitetônico.

Sejima acredita que, em um mundo interconectado pela tecnologia, a arquitetura ainda ocupa um lugar importante porque seria o reflexo de uma consciência coletiva. Por outro lado, a arquiteta estimulou a multiplicidade de pontos de vista estimulando a livre interpretação do tema por cada participante. Essa multiplicidade está representada na visão de arquitetos, engenheiros e artistas. Tal abertura do campo de diálogo pode parecer um desvirtuamento da exposição, mas reflete a crença da diretora que os espaços não são produzidos apenas por arquitetos e que sua realização depende de uma série de outros profissionais, cada qual com sua visão do mundo e da arquitetura. Uma visão muito bem vinda em tempos de especialização.

Infelizmente, essa orientação não foi compreendida plenamente por alguns arquitetos e artistas, insistentes em promover representações auto-referenciais e vazias de sentido. A propósito, essa Bienal registra como nenhuma outra que a linha que define o que é arte e o que é arquitetura tem sido forçada a se diluir, com prejuízo para ambas as disciplinas. Quando os arquitetos agem como artistas e vice-versa, quase sempre o resultado é desastroso. Mas se por um lado sobram exemplos mal sucedidos, por outro, há algumas obras que constroem diálogos sensíveis entre arte e arquitetura.

Fig. 1: duas casas em Santa Isabel, por Ricardo Bak Gordon. Foto: Fernando Guerra | FG + SG, 2010

Talvez o melhor exemplo dessa sensibilidade seja o filme de Wim Wenders intitulado If buildings could talk…. O cineasta alemão especula que, se os edifícios pudessem falar, alguns falariam como Sheakspeare, outros fariam discursos monótonos, uns gritariam e outros apenas sussurrariam. Nesse belo trabalho, Wenders constrói uma narrativa poética do Rolex Learning Center (Suiça), projetado pelo escritório SANAA de Sejima e Ryue Nishisawa, deixando que o edifício se apresente em primeira pessoa. Uma ideia arriscada que em mão menos habilidosas poderia se tornar caricata, nas mãos de Wenders eleva-se verdadeiramente à condição de obra de arte.

Já a mostra portuguesa No place like – 4 houses 4 films propõe quatro visões cinematográficas de quatro casas dos arquitetos Alvaro Siza Vieira, Carrilho da Graça, Aires Mateus e Ricardo Bak Gordon. Na maior parte desses filmes, a relação com arquitetura e o objeto representado é bastante tênue, deslocando o interesse e o foco do filme para uma certa autonomia da imagem cinematográfica. Exceção para o trabalho de Filipa César, de caráter mais documental e histórico, que apresenta o edifício da Bouça, projetado por Siza, através de um singelo percurso que aproxima o expectador do cotidiano dos moradores. Quatro casas de tipologias e soluções arquitetônicas variadas representam o país cuja produção apresenta qualidade bastante acima da média.

Fig. 2: instalação Cloudscapes. Foto: Bruno Santa Cecília, 2010.

Uma realização curiosa é a instalação ambiental Cloudscapes, de Matthias Schuler e Tetsuo Kondo. A dupla materializa uma nuvem dentro de uma sala dos pavilhões do Arsenale através de um sofisticado sistema de condicionamento ambiental que cria duas camadas de ar: uma inferior, fria e seca, e uma superior, quente e úmida. No encontro dessas duas camada, o vapor de água se condensa e cria o efeito de um lençol de névoa a meio altura da sala. Complementa a instalação, uma rampa em espiral que conduz o expectador até o ponto mais alto do espaço, em cujo percurso é possível perceber todas as gradações atmosféricas. Para além do experimento científico e tecnológico, o trabalho de Schuler e Kondo é uma investigação sobre a própria ideia de limite e sua importância na caracterização e diferenciação dos espaços.

Outra obra que chama atenção é a estrutura proposta pelos chineses do Amateur Architecture Studio. A cúpula construída no interior de uma das salas, com uso apenas de cabos e peças de madeira, faz uma releitura de um modo construtivo vernáculo. O caráter tectônico dessa obra acaba soando dissonante dentro do panorama das demais exibições, revelando que o discurso arquitetônico dominante tem se mantido afastado das questões construtivas. É promissora a ideia de que se trata de um sistema construtivo, mais do que uma forma, cuja simplicidade permite pensar em modos de autoconstrução com resultados que transcendem o imediatismo das soluções mais convencionais.

Fig 3: estrutura em madeira e tirantes do Amateur Architecture Studio. Foto: Bruno Santa Cecília, 2010.

Entre os eventos paralelos e as representações nacionais, alguns eventos merecem destaques. O evento de abertura da mostra intitulada Quotidian Architectures, organizada pelo Instituto de Arquitetos de Hong Kong (HKIA) e Hong Kong Arts Development Council (HKADC), contou com um debate entre os arquitetos envolvidos no desenvolvimento de três propostas de masterplan para o West Kowloon Cultural District, uma intervenção de grande porte a ser implantada em Hong Kong nas próximas décadas. O ponto alto do debate se centrou na discussão sobre a validade da própria ideia de Masterplan. Rem Koolhaas, com suas assertivas curtas e certeiras, provocou seus colegas com a afirmação de que a própria ideia de plano diretor estaria morta. Rocco Yim, um dos arquitetos também envolvidos no projeto, defendeu elegantemente que há lugar para o desenho das infraestruturas e dos suportes que viabilizem a flexibilidade do uso futuro do território. Concluiu o debate o arquiteto Norman Foster, tomando Veneza como exemplo para argumentar que em última instância o que caracterizaria a qualidade da intervenção no território é o desenho das infraestruturas – os canais, as pontes, as passagens, os campos, piazzas, pórticos e piers, no caso veneziano – o que liberaria a possibilidade de transformação do espaço e do edifício privado.

Fig. 4: Debate no evento Quotidian Architectures, com a participação dos arquitetos que desenvolveram propostas para o Masterplan para o West Kowloon Cultural District: Rocco Yim (1o a esquerda), Norman Foster (2o a esquerda) e Rem Koolhaas (ao microfone). Foto: Carlos Alberto Maciel, 2010.

Esse mesmo tema reaparece na mostra do Japão. Organizada por Koh Kitayama, toma o aniversário de 50 anos do metabolismo japonês para repropor a questão da relação entre superestruturas determinadas e livre apropriação do espaço privado. Apresenta a ideia de Metabolismo Vazio, centrado na transformação orgânica do tecido urbano de Tokyo devido à progressiva subdivisão dos lotes urbanos pelos proprietários de modo a ampliar a renda e abrigar novos núcleos familiares. As edificações evoluem conforme o ciclo de vida de seus proprietários – o ciclo de vida médio das casas japonesas é de 26 anos -, suas necessidades e de suas famílias. Destaca 3 gerações tipológicas que denotam a transformação da ocupação territorial – os sobrados residenciais, as casas associadas ao comércio e o pequeno edifício metálico de 3 pavimentos, com maior aproveitamento do terreno e menor relação com espaço urbano. Apresenta uma quarta geração de moradia, representada na mostra pelas casas Moriyama, de Ryue Nishizawa, pela casa e atelier Bow-Wow, de Yoshiharu Tsukamoto e Momoyo Kajima, em que os limites entre interior e exterior, público e privado, são diluídos de modo a estimular a conformação de domínios territoriais ambíguos que restituam a qualificação do espaço urbano. Surpreendente, a mostra parece indicar alternativas de abordagem da questão da preservação ao compreender a cidade de Tokyo como um processo permanente de reconstrução, “uma nova paisagem urbana nascida da presença ubíqua de um poder compartilhado (democracia total).?/p>

Fig. 5: Pavilhão de Israel: a estratégia gráfica é ao mesmo tempo catálogo, mostra e mobiliário, criando objetos dispostos ao longo do pavilhão ?as pilhas de cartões com imagens e textos destacáveis, que permitem que cada visitante construa sua própria leitura da mostra e a leve consigo. A mesma estratégia aparece na mostra do OMA, na parede. Foto: Carlos Alberto Maciel, 2010.

A questão da preservação, para além do objeto arquitetônico, está presente na mostra de Israel, em uma bela apresentação da arquitetura dos kibbutz, cuja especificidade social e econômica, bastante afetada pelo capitalismo e pela vida suburbana nas últimas décadas, vem sendo retomada como modelo possível de uma “wellfare community?– ou comunidade do bem estar social. Estruturado como um espaço único, de caráter coletivo, com diversas edificações que acomodam as atividades cotidianas, os Kibbutz viabilizam uma organização social típica e sem precedentes, que se coloca como alternativa viável em um momento em que a sustentabilidade ambiental e a auto-organização estão na pauta dos arquitetos do planeta.

No pavilhão dos países nórdicos ?Finlândia, Noruega e Suécia ? um dos mais belos do Giardini, projetado por Sverre Fehn, apresenta-se uma bela mostra voltada para o tema central da Bienal. De um lado, em uma linha fluida que desenha um percurso entre as duas entradas do pavilhão ?reforçando a sua qualidade ambiental, aberto e integrado à paisagem circundante ?são apresentadas obras de edifícios e espaços urbanos que favorecem o encontro entre as pessoas e a arquitetura; do outro lado, junto a uma das entradas do pavilhão, um grande espaço é destinado a escritórios de jovens arquitetos que habitarão o lugar temporariamente ao longo do período de atividade da Bienal, um de cada vez, aos modos de um escritório residente. A presença dos arquitetos ali cria o evento e o encontro, completando a apresentação.

Fig. 6: Pavilhão dos Países Nórdicos: a belíssima ambientação com luz natural e integração com a paisagem são potencializadas pela apropriação fluida e convidativa da mostra. Foto: Carlos Alberto Maciel, 2010.

No Arsenale, destaca-se a representação do Chile. Uma mostra prospectiva que toma como motivo uma tragédia: a recente destruição gerada pelo terremoto ocorrido no país no início de 2010. A exposição dá relevo a iniciativas de reconstrução e de implantação de edificações emergenciais, cuja urgência coloca a prova a capacidade dos arquitetos chilenos de reconstruir seu país buscando soluções não apenas imediatas, mas consistentes e duradouras. Sua relevância se assenta especialmente no engajamento social que tal ação representa ou em outras palavras, na “oportunidade da emergência? como afirma em seu texto de apresentação o Ministro Luciano Cruz-Coke Carvallo. A mostra se estrutura em três categorias que exigem respostas diferenciadas na situação de catástrofe: Patrimônio, enfocando a recuperação material de edifícios, em especial de construções vernáculas nas zonas rurais; Pré-fabricação, tratando da urgência de resposta às perdas imputadas pela tragédia com qualidade arquitetônica; e Organizações, apresentando as ações realizadas para viabilizar a avaliação de danos e a implementação de propostas em comunidades afetadas.

Outro destaque do Arsenale é o conjunto de entrevistas realizadas por Hans Ulrich Obrist, a pedido de Kazuo Sejima, com cada um dos participantes desta Bienal. Para além da bela sala montada na mostra, que permite assistir aleatoriamente às entrevistas, esse conjunto constituirá um precioso acervo sobre o que se pensa e o que se faz na arquitetura atual e nas manifestações que a tangenciam.

Fig. 7: Habitat Rural Pós-emergência: proposta de casa a ser implantada nas zonas rurais para uma quantidade considerável de famílias que perderam suas casas. Projeto realizado a partir de convênio entre a Universidade de Santiago de Chile e a Prefeitura de Paine. Autores: R. Aguilar, I. Ruz, R. Valenzuela, R. Velásquez (USACH), 2010.

O Brasil em Veneza

Nesta Bienal o Brasil comparece com a sua representação nacional, que ocupa tradicionamente o pavilhão brasileiro no Giardini, e com uma sala especial sobre a obra da arquiteta Lina Bo Bardi na mostra oficial. Organizada por Renato Anelli, a exposição sobre a obra de Lina apresenta uma grande maquete do Sesc Pompéia em conjunto com uma sensível seleção de documentos originais ?desenhos, croquis e imagens das obras da arquiteta. Destacam-se o desenho de paisagismo para o Sesc Pompéia, feito a mão sobre cópia heliográfica ?e os estudos para as fachadas do MASP, que antecipavam a ideia ?hoje recorrente ?de um jardim vertical ?posteriormente proposto novamente por Lina para a fachada do edifício da Prefeitura de São Paulo.

Fig. 8: vista geral do pavilhão do Brasil. Foto: Carlos Alberto Maciel, 2010.

No Pavilhão Brasileiro, com curadoria de Ricardo Ohtake, a organização bipartida do espaço expositivo abrigou uma mostra igualmente partida ao meio. Sob o argumento do aniversário de 50 anos de Brasília, a mostra propõe apresentar um recorte da produção arquitetônica nacional nestes 50 anos com foco nas produções entendidas como desdobramentos da arquitetura moderna brasileira. E cumpre bem o propósito ao revelar, quase subliminarmente, um tema dominante dos últimos 50 anos que caracteriza a produção brasileira: a ubiquidade e a permanência da arquitetura de Oscar Niemeyer como produção oficial do país e, à sua sombra, a sobrevivência silenciosa de diversas gerações de arquitetos, menos oficiais e mais inventivos, com muitos projetos e poucas ?e boas – obras construídas.

Do lado oficial, ótimas fotografias de projetos nem tanto, com pouca informação técnica ?como de costume nas mostras e publicações sobre Niemeyer ?revelam um conjunto uníssono que não apresenta o frescor, a inventividade e o refinamento das obras que o consagraram. Do outro lado, com farta informação técnica e variedade programática ?de grandes projetos para edifícios públicos a residências unifamiliares e intervenções construídas em vilas e favelas ?apresenta-se um recorte interessante da arquitetura paulista dos últimos 10 anos. Neste conjunto, comparece como dupla exceção o Memorial da Imigração Japonesa, de Gustavo Penna e Mariza Machado Coelho: vem de Minas Gerais e é apresentado sucintamente com duas fotografias. Além dos mineiros, estão presentes Angelo Bucci, Daniel Corsi / Dani Hirano, Marcos Boldarini e Mario Biselli / Arthur Katchborian.

Leão de Ouro: OMA | Rem Koolhaas

Pelo conjunto da obra Rem Koolhaas foi laureado com o Leão de Ouro em Veneza. Enquanto arquitetos costumam, em situações semelhantes, exibir a sua obra ?afinal não seria ela o motivo da premiação? – Koolhaas mostra que existe, está vivo e continua pensando. Sua mostra dedica uma parede apenas à história do OMA ?Office for Metropolitan Architecture ?através de 27 obras apresentadas em brochuras destacáveis, com 4 páginas por projeto ?que permite a cada visitante construir seu próprio catálogo. O restante do espaço é ocupado com uma extensa leitura crítica da ideia de preservação de um lado, e de outro da irrelevância do papel do arquiteto no mundo contemporâneo. A mostra é, por isso, precisa e justa com seu autor, ao evitar o congelamento de sua produção e lhe permitir que siga fazendo ?e pensando ?arquitetura.

Fig. 9: brochuras destacáveis com a história do OMA: cada visitante constrói seu próprio catálogo; o catálogo já é a exposição. Foto: Bruno Santa Cecília, 2010.

A estratégia é a mesma utilizada por Koolhaas desde S,M,L,XL: uma poderosa articulação entre imagens fortes e textos rápidos, com uma boa dose de ironia para transformar uma montanha de dados em argumentos relevantes. Por um lado, nada novo, na essência, para alguém que colocou em pauta questões como a cidade genérica, a arquitetura junkie e a há muito vem questionando as diferenciações entre centro e periferia. Discutir os limites da preservação e as contradições de seus instrumentos parece ser apenas um desdobramento natural ?mas não óbvio e automático ?de tais questões.

Com a fina ironia que lhe é própria, explicita a oposição conceitual, entendida como entrave insolúvel para a preservação arquitetônica, entre Ruskin e Viollet-le-Duc. Destaca duas situações de apropriação de edifícios históricos em Damasco, em que o edifício em uso, ainda não submetido a ações de preservação, tem muito mais vida e autenticidade do que o edifício “preservado??e convertido numa loja de grife. Ataca a substituição acentuada dos “recheios?de edifícios, preservando apenas sua aparência externa. Informa que 12% do território do planeta está submetido a mecanismos de preservação. Aponta a aceleração da aplicação dos mecanismos de preservação de tal modo que já se pode esperar, antes de sua construção, que um edifício seja tombado ?e para isso, menciona que a Casa Lemoine, em Bordeaux, foi considerada monumento histórico da França apenas 3 anos após a sua conclusão. E conclui com um manifesto contra a arquitetura vulgar, realizada por oposição aos cânones das cartas de Patrimônio. Pelo direito à destruição, pelo direito de assegurar às gerações futuras a possibilidade de ter alguma liberdade de ação.

Por último, o histórico de capas da revista Time retratando arquitetos ?o último arquiteto retratado na capa da Times foi Philip Johnson no final dos anos 70 – sugere que a relevância da profissão é inversamente proporcional à fama, numa espécie de contrato fatal que esvazia a importância do trabalho do arquiteto ao retirar-lhe toda a relevância social desde a emergência dos mercados de capital nos últimos 30 anos. Paradoxalmente, o mesmo período de glória para os arquitetos do Jet-set internacional.

Fig. 10: Rem Koolhaas apresentando a exposição do OMA. Foto: Bruno Santa Cecília, 2010.

Em meio a uma infinidade de propostas, instalações e mostras de projetos e obras de grande elaboração formal, desconectadas de problemas contemporâneos da cidade e da arquitetura, autorreferentes ou voltados para o passado, a presença de Koolhaas ?e sua premiação ?sinaliza uma saída possível, nem otimista nem catastrófica, mas crítica e conectada com as contradições do mundo contemporâneo. Um alívio para mostrar que o pensamento arquitetônico não está morto.

P.S.1. Momento singular da Bienal de Veneza, flagrado pela MDC: Paolo Portoghesi, ao visitar a exposição do OMA no Palazzo delle Esposizioni, corrige, com uma caneta vermelha, o texto de apresentação que citava seu texto “Presence of the Past? de 1980 [incorretamente citado como de 1981], como a última referência sobre o passado em Bienais.

P.S.2. Enquanto isso, no Pavilhão da Inglaterra, a questão da preservação e do tempo aparece de forma misteriosamente irônica numa curiosa sequência de bichos empalhados…

Fig. 11: Paolo Portoghesi corrige Koolhaas: momento singular flagrado pela MDC. Foto: Bruno Santa Cecília, 2010.

Fig. 12: Enquanto isso, no reino da Inglaterra...Foto: Carlos Alberto Maciel, 2010.

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