Projeto e obra – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com Wed, 14 Aug 2024 13:21:46 +0000 pt-BR hourly 1 //i0.wp.com/28ers.com/wp-content/uploads/2023/09/cropped-logo_.png?fit=32%2C32&ssl=1 Projeto e obra – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com 32 32 5128755 Projeto e obra – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2024/03/27/academia-escola-unileao/ //28ers.com/2024/03/27/academia-escola-unileao/#respond Wed, 27 Mar 2024 18:15:15 +0000 //28ers.com/?p=16115 Continue lendo ]]> por Lins Arquitetos Associados
9 minutos

Academia Escola Unileão (texto fornecido pelos autores)

A academia-escola da Unileão está situada na cidade de Juazeiro do Norte/CE, região do Cariri, no meio do sertão nordestino. Ela serve de apoio ao curso de Educação Física do Centro Universitário, atendendo aos alunos e funcionários da instituição.

Fotografia: Joana França

O edifício foi acomodado em um platô pré-existente que direcionou sua implantação no sentido Leste-Oeste, ou seja, com grandes fachadas expostas a uma maior incidência solar todos os dias do ano. Essa situação não é a ideal para o clima semiárido brasileiro, por isso foram aplicadas estratégias de conforto ambiental para diminuir a temperatura no interior da edificação.

Fotografia: Joana França

O conjunto é formado por cinco círculos de raio 7.80m, sendo 6.00m de área útil e 1.80m de jardins. Cada círculo funciona como uma célula de setorização das atividades na qual temos duas destinadas às práticas de musculação, uma para a recepção e cantina, uma para a prática de atividades aeróbicas e a última para áreas de serviço e administração, como banheiros, depósitos, coordenação e sala de avaliação. Cada célula se conecta diretamente com a outra formando um conjunto alongado de aproximadamente 64 metros de comprimento. Três varandas ajudam na conexão dessas células e servem ora para marcar o acesso principal da academia, ora para o apoio ao treinamento funcional.

Composição formal e plantas: térreo e cobertura

Como forma de minimizar a incidência de luz solar diretamente no interior da edificação todas as fachadas foram pensadas em três camadas. A primeira delas, mais externa, tem como função filtrar a luz solar e é composta por uma paginação de tijolos cerâmicos maciços espaçados uns dos outros. Essa paginação traz tridimensionalidade à fachada além de criar um efeito de luz e sombra bem interessante. A segunda camada é composta por um jardim interno, com espécies vegetais adaptadas ao clima da região e que contribuem para gerar um microclima agradável. Por fim, a terceira camada, um pano de esquadrias pivotantes de vidro incolor que permite refrigerar a academia caso seja necessário.

Fotografias: Joana França

A coberta é composta por telhas termo-acústicas protegendo o interior do edifício do calor excessivo. O concreto aparente e o tijolo cerâmico maciço na sua cor natural são os materiais que se destacam. O piso utilizado é o industrial e todas as instalações são aparentes trazendo um caráter fabril ao interior do ambiente.

Fotografias: Joana França

Em síntese, o edifício se propõe a racionalizar a distribuição espacial, promovendo uma leitura fácil da setorização, ao mesmo passo que explora os estímulos tátil e visual através dos materiais, dos efeitos de luz e sombra e da vegetação, contribuindo com o conforto e permanência dos usuários.

Além disso, o edifício foi todo construído com mão-de-obra e materiais locais, contribuindo para uma menor pegada de carbono e valorização da economia do lugar. Isso foi de fundamental importância para reduzir custos e, ao mesmo tempo, valorizar nossas técnicas construtivas e os nossos materiais, integrando o usuário ao edifício, e o edifício à paisagem.

Fotografias: Joana França + Cortes


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por George Lins (G.L.)

MDC – Como você contextualiza essa obra no conjunto de toda a sua produção?

G.L. – É sem sombra de dúvidas a obra mais conhecida do nosso escritório, a que teve o maior alcance e o maior número de publicações. Foi vencedora do prêmio IABSP/2019 e Tomie Ohtake Akzonobel/2020, além de ser indicada ao prêmio Oscar Niemeyer/2020. Por tudo isso, ela tem uma importância enorme para a gente. O fato é que ela faz parte e dialoga com uma série de outras obras que fizemos dentro do Campus da Unileão, em Juazeiro do Norte/CE. Ela, juntamente com o edifício do NPJ e do Juizado Especial, compartilha muitas similaridades, apesar de terem programas de necessidades bem diferentes.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

G.L. – O mecanismo foi a contratação direta. A Unileão é um centro universitário privado situado na região do Cariri cearense e fomos contratados por eles para elaborar esse projeto específico, além de outros para os diversos campi que eles possuem espalhados pela região.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Você destacaria algum momento significativo do processo?

G.L. – O projeto nasceu com um programa maior e em um outro terreno. Após a apresentação do estudo ao cliente, este decidiu “enxugar” um pouco o programa de necessidades e mudar o terreno, deixando-a mais próxima de outros dois edifícios já existentes no Campus (NPJ e Juizado Especial). Após este fato, abandonamos totalmente o primeiro estudo e nos concentramos em setorizar ao máximo o programa de necessidades, gerando “células?de atividades. Essas células nasceram inicialmente em uma forma hexagonal onde as suas faces se conectavam umas às outras, como uma colmeia. Cada célula de atividade era um hexágono ao invés de um círculo. O edifício foi desenvolvido todo dessa maneira, porém, ao final do processo, vimos que a mudança do hexágono para o círculo não iria trazer prejuízos para o funcionamento das atividades propostas, além de trazer uma composição formal muito mais interessante, mais orgânica. Por fim, optamos por refazer as células, agora no formato circular, e reapresentar a nova proposta ao cliente, que aprovou de imediato e pudemos seguir em frente.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, pode comentar as mais importantes?

G.L. – Sempre dialogamos com os profissionais que elaboram os projetos complementares, desde a etapa do estudo preliminar. Propusemos soluções, discutimos com eles, sempre com o intuito de simplificar ao máximo as soluções construtivas em geral. Arquitetura, estrutura e instalações andam juntas. A partir disso, podemos antecipar problemas e incompatibilidades que surgem naturalmente, o que nos dá mais tempo para pensarmos juntos e propor a melhor solução. Nesse projeto, especificamente, não houve nenhuma modificação na solução original apresentada por nós a esses autores, apenas alguns ajustes de dimensionamento. O conceito, entretanto, permaneceu. O caminho foi bem linear.

MDC – Os autores dos projetos tiveram participação no processo de construção/implementação da obra? Se sim, quais os momentos decisivos dessa participação?

G.L. – Sim. Estivemos presentes e participamos do processo de construção da obra desde o início, apesar de não sermos os responsáveis diretos pela obra (essa responsabilidade ficou a cargo da Ampla Engenharia). Entretanto, assumimos o papel de fiscalização e pudemos acompanhar todo o processo, desde o início até a entrega final. Isso é de suma importância, uma vez que mudanças e adaptações são necessárias no decorrer da obra e o fato de estar acompanhando o processo nos permite participar ativamente das decisões, contribuindo para que a obra seja executada sem grandes modificações. Destaco a paginação da pele em tijolos cerâmicos como um ponto fundamental de decisão na obra. Ela foi testada e adaptada após conversas com os engenheiros e pedreiros locais para que a sua execução fosse a mais assertiva possível.

MDC – Você destacaria algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

G.L. – Logo após a inauguração do edifício, as varandas voltadas ao leste, que antes haviam sido fechadas com vidro, tiveram que ser abertas para acomodar um programa maior, voltado ao treinamento funcional, e que demandava uma maior integração interior x exterior. Após sermos chamados, rapidamente propusemos a exclusão da cortina de vidro e integração com o jardim externo, permitindo assim o desenvolvimento das atividades propostas. Outro fato interessante foi a constatação do edifício poder regular a sua temperatura interna apenas através das aberturas das esquadrias e promoção da ventilação cruzada. Isso faz com que o edifício não necessite de ar-condicionado durante boa parte do dia, mesmo estando em um clima semiárido.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, faria algo diferente?

G.L. – Provavelmente sim. A nossa produção depende diretamente das nossas vivências e experiências ao longo dos anos, além é claro do que estamos consumindo de referências no momento em que projetamos. Apesar desse fato, nosso escritório possui diretrizes bem consolidadas, o que faz com que a gente siga uma linha projetual bem definida ao longo desses anos, desde a nossa fundação. O respeito ao local onde a obra está inserida, adaptando-a ao clima, ao bioma, à cultura local e absorvendo mão-de-obra e materiais locais é algo que faz parte da nossa essência e aplicamos em todos os nossos projetos. O partido, entretanto, é natural que sofra adaptações ao longo do tempo.

MDC – Como você contextualiza essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

G.L. – Penso que essa obra contribui muito para o debate acerca da arquitetura contemporânea brasileira, uma vez que foi produzida em uma realidade periférica. O Brasil é um país continental, com uma rica diversidade cultural e condições climáticas bem distintas. O que produzimos fora da capital, no interior do Ceará, na região Nordeste, é bem diferente do que é produzido no eixo Rio-São Paulo ou na região Sul, por exemplo. Enfrentamos um clima mais hostil, com uma certa escassez de recursos e um orçamento limitado, o que não nos impede de produzir uma arquitetura contemporânea, mais adaptada à nossa realidade, a nossa gente. Penso que essa arquitetura produzida no Nordeste brasileiro, não só esse exemplo da Academia Escola Unileão, mas várias outras que estão sendo produzidas, seja no interior ou no litoral, tem muito a contribuir (e acrescentar) para a arquitetura contemporânea brasileira como um todo.


projeto executivo


PLANTAS, CORTES E FACHADA

7 pranchas (pdf).
5,59mb


INTERIORES

10 pranchas (pdf).
3,16mb


DETALHES

4 pranchas (pdf).
15mb


ficha técnica do projeto


Local: Juazeiro do Norte, CE, Brasil
Ano de projeto: 2017
Ano de execução e conclusão da obra: 2018
Área: 965 m²
Autor: Cintia Lins e George Lins
Colaboração: Gabriela Brasileiro, Camila Tavares, Hanna dos Santos, Samuel Melo, Alice Teles e Paula Thiers

Arquitetura: Lins Arquitetos Associados
Construção: Ampla Engenharia

Fotos: Joana França
Contato: contato@linsarquitetos.com.br

galeria


colaboração editorial

Isabela Gomide

deseja citar esse post?

LINS, Cintia. LINS, George. “Academia Escola Unileão”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., mar-2024. Disponível em //www.28ers.com/2024/04/27/academia-escola-unileao/. Acesso em: [incluir data do acesso].


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Projeto e obra – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2024/01/21/casa-montes-claros/ //28ers.com/2024/01/21/casa-montes-claros/#comments Sun, 21 Jan 2024 15:06:08 +0000 //28ers.com/?p=14982 Continue lendo ]]> por Venta Arquitetos
8 minutos

Casa Montes Claros (texto fornecido pelos autores)

Montes Claros é uma cidade na região norte do estado de Minas Gerais, com intensa atividade econômica e oferta de serviços, constituindo-se como uma centralidade regional. A cidade é assentada sobre área mais ou menos plana, a 700m acima do nível do mar, e semi-circundada, de sudeste a noroeste, por uma serra que eleva um planalto a 1.000m de altitude.

Fotografias: Federico Cairoli

Esta condição geográfica, de certa planície contida por serras ao redor, estabelece um horizonte distante e limitado, e o limite são estes montes circundantes de suaves contornos.

O lote onde este projeto é construído possui um leve declive na direção de um córrego recentemente urbanizado. Este desnível permite que desde o fundo do lote se tenha uma vista das redondezas. Na fração norte do lote se cultivou, ao longo dos anos, um bosque com muitas árvores frutíferas. Este bosque dá continuidade a uma pequena floresta contígua, da dimensão de um quarteirão, constituindo uma rara área verde.

Fotografias: Federico Cairoli

A implantação da casa atende a uma série de intenções, dentre elas: abrir-se ao nascente e ao poente; buscar no horizonte os limites do território em que se assenta a cidade; e ainda, abrir-se para o bosque ao norte. Estas relações visuais direcionais se estabelecem especialmente no pavimento elevado. Já no pavimento térreo buscou-se uma relação livre e horizontal com o exterior, de tal modo que, caminhando pelo térreo, todo o perímetro do lote pode ser apreendido, com mínimas obstruções. Portanto, se no pavimento elevado o olhar é dirigido para a paisagem ao redor, no térreo ele é disperso, imersivo.

Plantas: implantação, térreo e segundo pavimento

A materialidade da construção também se define em torno da questão da implantação. Sobre este aspecto, o anel elevado em tijolos maciços cerâmicos que envolve todo o pavimento superior que abriga o programa íntimo procura continuar com o chão em terra batida de lotes vizinhos, os muros e seus tijolos à vista, o concreto e o asfalto impregnado pelo barro, e o mar de telhados cerâmicos que recobre o território.

A elevação do anel cerâmico que envolve o pavimento íntimo é resultado de uma operação anterior, a de elevar duas lajes maciças, uma à frente e outra ao fundo, com 6 x 10 m e 3 x 10 m, respectivamente. Enquanto a primeira se apoia sobre um conjunto de elementos em colaboração ?um plano obliquo, uma coluna em concreto, dois troncos de Pau Preto (Cenostigma tocantinum) e um plano em tijolos maciços ?a segunda se apoia sobre uma linha central de colunas em concreto. Entre estas lajes forma-se um pátio.

Fotografias: Federico Cairoli + Cortes e Elevações


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Gregório Rosenbusch (G.R.)

MDC – Como você contextualiza essa obra no conjunto de toda a sua produção?

G.R. – Este projeto, iniciado em fevereiro de 2017 e situado em Montes Claros (MG), é o primeiro que realizamos fora de Petrópolis (RJ) e tem uma particularidade que gostaríamos de ressaltar em relação aos projetos anteriores, e diz respeito ao fato do terreno possuir topografia relativamente pouco acidentada, em declive. Esta característica nos permitiu pensar um térreo, do ponto de vista conceitual, simultaneamente livre e programado. Em outras palavras, procuramos definir um pavimento térreo habitável no qual os elementos estruturais de elevação do pavimento superior e as áreas livres mantivessem certo protagonismo no conjunto, neste pavimento. Há, portanto, uma distinção aqui em relação à casa Elevada, que possui um térreo com a topografia natural, em aclive, e sem espaços habitáveis. Por outro lado, a introdução do uso no térreo procura ainda manter a ideia de um térreo livre e um volume elevado, de uma distinção entre o que está acima e o que está abaixo. Algo muito singelo e banal na arquitetura, mas que para nós consistiu numa passagem que se deu nesta obra.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

G.R. – Este projeto é para um primo-irmão e sua família. Eles haviam iniciado um projeto, mas não estavam satisfeitos e então nos procuraram.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Você destacaria algum momento significativo do processo?

G.R. – Este projeto talvez tenha sido o primeiro em que o processo de concepção e desenvolvimento se deu de modo mais linear. Em projetos anteriores, os estudos preliminares variavam em diversas opções e tínhamos muita dificuldade de assentar uma proposta para dar seguimento. Em muitos casos, já na etapa de anteprojeto realizávamos giros radicais nas propostas, o que nos gerava muito retrabalho. Aqui a proposta surgiu a partir de uma pequena maquete conceitual em madeira que de certo modo já esboçava a configuração definitiva do projeto, ainda que de modo conceitual e impreciso.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, pode comentar as mais importantes?

G.R. – Neste e em todos os nossos projetos até aqui, colaborou de modo muito significativo o engenheiro Ricardo Barelli. Neste caso, chegamos com uma proposta de estrutura bastante elaborada, com a disposição dos elementos estruturais e um pensamento claro em relação ao caminho das cargas. Foi então crucial, no que diz respeito à estrutura metálica, encontrarmos juntos um desenho de treliça metálica que nos desse o menor peso em aço e que tivesse a melhor interface com alguns aspectos do projeto, especialmente no que diz respeito à relação visual com o exterior. Por outro lado, o trabalho junto ao Barelli e sua equipe foi muito importante na definição de um conceito estrutural presente no pavimento térreo, que trata da diferenciação entre apoios hiperestáticos, em concreto armado e apoios isostáticos, com troncos de árvores e planos de alvenaria portante em tijolos maciços.

MDC – Os autores dos projetos tiveram participação no processo de construção/implementação da obra? Se sim, quais os momentos decisivos dessa participação?

G.R. – Não tivemos participação na implementação da construção, mas tão somente em conversas preliminares de apresentação do projeto à empresa construtora e acompanhamento e monitoramento a partir de visitas técnicas, realizadas em geral a cada dois meses, em virtude a distância desde nossa base (900km).

MDC – Você destacaria algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

G.R. – Um aspecto que me chama a atenção é o extremo cuidado dos habitantes no cultivo e no cuidado do jardim. Não sei dizer se este apreço por jardim já existia antes desta casa, de qualquer modo agora se apresenta de modo bastante claro. Um aspecto da casa que talvez contribua para isso é a integração dos espaços de convívio com as áreas livres e o jardim. De alguma maneira, o cuidado com a casa e com o jardim são uma coisa só, já que, neste caso, ambos são simultaneamente habitados pois não há como se voltar para um e renegar o outro.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, faria algo diferente?

G.R. – Para nós a utilização do tijolo maciço nas fachadas do volume elevado era conceitualmente muito importante. De um lado, buscou-se com esse material estabelecer uma relação com o entorno, com a terra e a prolífica produção de artefatos cerâmicos na região. De outro lado, buscávamos suspender, elevar este material telúrico, como quem procura contrariar a sua afeição pelo chão. Ocorre que o trabalho com tijolos maciços é altamente artesanal e nos parece que nas atuais condições materiais de produção da arquitetura no Brasil, este grau de artesanalidade produz certo impacto negativo em relação aos custos de obra. O que de certo modo é positivo, pois significa que o trabalho manual hoje é relativamente mais valorizado que em décadas passadas, apesar do canteiro de obras no Brasil ainda representar, como sabemos, um ambiente de grande exploração do trabalho.

MDC – Como você contextualiza essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

G.R. – Não estou seguro, mas acredito que esta seja uma obra que aponta para uma certa vontade de aproximação ao contexto latino-americano, especialmente à produção de países do cone sul e, mais especificamente, à do Paraguai. Um indício para isso seria o uso de um sistema estrutural heterodoxo, com elementos variados (concreto armado, aço, paredes portantes, troncos de árvore) e um certo grau de experimentação e invenção com estes elementos, o que me parece orientar-se à produção contemporânea no Paraguai. Por outro lado, a suspensão do volume elevado sobre poucos apoios e a centralidade da estrutura em alguns trechos procuram relação, a partir de nossa interpretação subjetiva, com a produção moderna em São Paulo, a clássica (Paulo Mendes da Rocha) e a contemporânea (Angelo Bucci).


projeto executivo


EXECUTIVO

7 pranchas (pdf).
5,24mb


ficha técnica do projeto

Local: Montes Claros, MG, Brasil
Ano de projeto: 2017
Ano de execução e conclusão da obra: 2021
Área: 240 m²
Autor: Gregório Rosenbuch
Colaboração: Mariana Meneguetti

Arquitetura: Venta Arquitetos
Estrutura: Ricardo Barelli (Teto Engenharia)
Construção: Construtora Aragão

Fotos: Federico Cairoli
Contato: contato@venta.28ers.com


galeria


colaboração editorial

Isabela Gomide

deseja citar esse post?

ROSENBUSCH, Gregório. “Casa Montes Claros”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., jan-2024. Disponível em //www.28ers.com/2024/01/21/casa-montes-claros/. Acesso em: [incluir data do acesso].


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Projeto e obra – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2024/01/21/casa-henrique-cunha-e-casa-elevada-parte-2/ //28ers.com/2024/01/21/casa-henrique-cunha-e-casa-elevada-parte-2/#respond Sun, 21 Jan 2024 15:05:49 +0000 //28ers.com/?p=14765 Continue lendo ]]> por Venta Arquitetos
7 minutos

Casa Elevada (texto fornecido pelos autores)

Implantação da Casa Elevada em relação à Casa Henrique Cunha

Concebido como um refúgio do arquiteto, procurou-se com este projeto, desde esta condição, realizar algumas experiências construtivas, com o objetivo de conciliar diferentes desejos: de reduzir o custo de obra; de preservar a topografia existente; de elevar a construção do solo; e por fim, estabelecer uma relação espacial singular entre o interior e o entorno imediato.

A área disponível para a construção compreende uma topografia que define uma espécie de recinto semifechado, contido por taludes preexistentes que formam uma concavidade aberta a leste. Sobre o eixo leste-oeste, no centro deste “recinto”, implanta-se a construção a 2,40 metros acima do nível de acesso ao terreno. Para isso, lança-se mão de uma estrutura mista: um par de fundações, colunas e vigas em concreto, constituindo uma base sobre a qual nasce um esqueleto leve em estrutura metálica, com perfis laminados e tubulares.

Fotografia: Federico Cairoli + Plantas: pilotis e pavimento elevado

Para a construção dos pisos utilizou-se chapas de painel compensado de madeira e pré-moldados de concreto. Internamente, os painéis compensados constituem caixas enrijecidas e bi-apoiadas, com vão livre de 1,60 metro.

Em relação à cobertura, um viga metálica em perfil “I” deitado constitui ao calha central e, ao mesmo tempo, tem por objetivo tensionar uma série de barras chatas em aço sobre as quais se apoiam as telhas termo-acústicas.

Fotografia: Federico Cairoli

As fachadas laterais, voltadas para o norte e para o sul, são integralmente em vidro mediadas por varandas e uma delicada tela em aço, de modo que o interior se abre para os taludes próximos recobertos por vegetação espontânea. O vidro aqui permite que a interioridade do refúgio se expanda até os taludes e a vegetação próxima, como a tomar posse deste espaço. Deste modo, há um envolvimento entre interior e exterior que de diversas maneiras é sentido na experiência cotidiana da casa.

Fotografias: Federico Cairoli + Cortes e Elevações


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Gregório Rosenbusch (G.R.)

MDC – Como você contextualiza essa obra no conjunto de toda a sua produção?

G.R. – Este projeto iniciou-se em novembro de 2015, naquela altura, e após a experiência de projeto e acompanhamento de obra de duas casas geminadas (2012) e da casa Henrique Cunha (2014), ansiava por uma construção que realizasse a menor intervenção possível no terreno, com um mínimo trabalho de solo, é dizer, cortes, aterros e contenções, tanto pelo aspecto econômico, mas também pelo impacto na configuração local conforme encontrada e pelo sentido dramático com que muitas vezes estas operações de manejo de terra se dão.

Uma vez que o sítio de construção possui topografia de perfil inclinado e acidentado, a saída seria aderir a um partido de construção elevada, de modo a encontrar um espaço aéreo no qual o volume pudesse se desenvolver. Neste sentido, esta obra configura uma espécie de passagem entre uma construção afeita ao solo (casas geminadas), para uma semi-projetada ao espaço aéreo (casa Henrique Cunha), e uma liberação total, por assim dizer, do solo, na casa Elevada. Esta liberação não significa que a construção aérea não seja determinada, em certa medida, pelas contingências do solo sobre o qual paira, mas que deseja a maior autonomia possível em relação ao mesmo.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

G.R. – Esta pequena casa foi feita para o próprio arquiteto.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Você destacaria algum momento significativo do processo?

G.R. – O processo de projeto e de obra se deu de modo heterodoxo, já que com pouco desenvolvimento de projeto logo iniciamos a execução das fundações e dos fustes de colunas. Havia naquele momento uma ideia quiçá ingênua e romântica de que o projeto se faria com a obra ou na obra, em outras palavras, dentro do processo produtivo da arquitetura, com a experiência em canteiro contribuindo constantemente para a definição e atualização das decisões. Hoje compreendo que havia também uma grande ansiedade mesclada com um desejo de experimentação.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, pode comentar as mais importantes?

G.R. – O processo de projeto contou com a interlocução com alguns profissionais. Como exemplo, no piso das varandas utilizamos painéis pré-moldados de concreto, usualmente fabricados para a execução de lajes recobertas com concreto. O que imaginamos foi inverter a posição do painel, de tal modo a ter a ferragem exposta da treliça voltada para baixo, a fim de objetivar um melhor aproveitamento do aço nos esforços de tração e assim dar conta de um vão de 1,60m. Na empresa local (Plainco) fabricante de painéis pré-moldados de concreto, foi possível realizar uma prova de carga, com a sobreposição de sacos de cimento empilhados um a um sobre um painel levemente suspenso do chão, apoiado em calços. A observação empírica surpreendeu, do ponto de vista da resistência do painel, o próprio engenheiro fabricante, que havia calculado as ferragens do painel para um propósito distinto daquele testado.

Em relação à montagem da gaiola metálica, foi necessário acompanhar o processo para entender a necessidade de reforços que surgiram de deformações não previstas, num processo de análise e interlocução muito próxima com a equipe de serralheria.

O piso interno, por sua vez, constituído por caixas enrijecidas de compensado, teve a sua resistência testada a partir de um primeiro protótipo na oficina de marcenaria. Suficientemente rígido, foi então reproduzido.

Em suma, houve uma rica interlocução especialmente com prestadores de serviços e alguns fornecedores.

MDC – Os autores dos projetos tiveram participação no processo de construção/implementação da obra? Se sim, quais os momentos decisivos dessa participação?

G.R. – Nesta obra realizamos toda a gestão e coordenação da obra, alguns momentos decisivos foram pontuados acima.

MDC – Você destacaria algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

G.R. – Um fato relevante ocorreu logo após a conclusão da montagem da estrutura metálica, do piso e dos fechamentos, quando então constatamos um significativo movimento e balanço da estrutura, principalmente sob efeito de carga acidental, com o deslocamento dos corpos no espaço. Essa característica logo se tornou bem-vinda, animada pela ideia do habitat sujeito a uma condição de estabilidade delicada e da explicitação da elasticidade dos materiais.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, faria algo diferente?

G.R. - A experiência com essa estrutura elástica logo se converteu na compreensão, a partir da observação empírica, da necessidade de travamentos diagonais para o contraventamento de estruturas metálicas, algo bastante óbvio e corrente no ensino da arquitetura. Hoje, em nossos projetos atuais, estamos muito interessados em conformar planos e volumes em aço o mais triangulados possíveis, no sentido de obter o menor peso em aço e maior resistência e estabilidade. 

MDC – Como você contextualiza essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

G.R. – A meu ver, esta obra reflete, especialmente nos pilotis, uma admiração e interesse pelo trabalho de Angelo Bucci, no que diz respeito a estruturas centrais (clínica de psicologia e casa em Carapicuíba). De outro lado, há também na articulação dos pilotis com a estrutura em aço o resultado de uma observação das estrutura de viadutos de vias expressas e estradas de rodagem. Mas fundamentalmente penso que esta obra se situa no conjunto de trabalhos de uma geração baseada no Rio de Janeiro e que, de algum modo, passou pelos ateliês ou pelos escritórios de Diego Portas e Carla Juaçaba.


projeto executivo


EXECUTIVO

3 pranchas (pdf).
591kb


MOBILIÁRIO

3 pranchas (pdf).
118kb


ficha técnica do projeto

Local: Petrópolis, RJ
Ano de projeto: 2016
Ano de execução e conclusão da obra: 2017
Área: 60 m²
Autor: Gregório Rosenbuch
Responsável pela obra: Gregório Rosenbuch

Arquitetura: Venta Arquitetos
Estrutura: Ricardo Barelli (Teto Engenharia)
Estrutura metálica: Joafer Serralheria (José Antônio)
Compensado: Antônio Schneider

Fotos: Federico Cairoli
Ilustrações: Nicolás Castagnola
Contato: contato@venta.28ers.com


galeria


colaboração editorial

Isabela Gomide

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ROSENBUSCH, Gregório. “Casa Elevada”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., jan2024. Disponível em //www.28ers.com/2024/01/21/casa-henrique-cunha-e-casa-elevada-parte-2/. Acesso em: [incluir data do acesso].


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Projeto e obra – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2024/01/21/casa-henrique-cunha-e-casa-elevada-parte-1/ //28ers.com/2024/01/21/casa-henrique-cunha-e-casa-elevada-parte-1/#respond Sun, 21 Jan 2024 15:05:15 +0000 //28ers.com/?p=14888 Continue lendo ]]> por Venta Arquitetos
7 minutos

Casa Henrique Cunha (texto fornecido pelos autores)

Implantação da Casa Henrique Cunha em relação à Casa Elevada

Esta residência está situada em um lote localizado na rua Dr. Henrique Cunha, em um bairro residencial a 5km do centro de Petrópolis. Este trecho da rua é em aclive na direção norte-sul e é ladeado por um amplo terreno arborizado a leste. Do outro lado, a oeste, está o lote em questão, que faz parte de um loteamento com frações estreitas e profundas (16X400m), se estendendo até a vertente do morro, em acentuado aclive.

Fotografia:  Federico Cairoli

A implantação tem como princípio organizar a maior parte do programa, aquilo que atende integralmente às necessidades cotidianas de um casal, em cota elevada em relação à rua, para receber a incidência direta de luz natural, especialmente na parte da manhã. Para isso, é necessário estar o mais elevado possível em relação às copas das árvores a leste.

O acesso à cota de implantação do pavimento principal é feito por meio de uma rua interna e desde a garagem é possível entrar na casa, uma construção alongada implantada a 14 metros acima do nível de entrada ao terreno.

Fotografia: Federico Cairoli + Planta

Uma vez que esta construção avança em direção à rua, ela se projeta sobre a topografia, que desce conforme o perfil natural. Neste trecho elevado, o pavimento principal foi construído em estrutura metálica e apoia-se sobre quatro colunas em concreto armado que, diante da necessidade de travamentos horizontais, definem uma grade espacial que acolhe dois pavimentos inferiores. O primeiro abriga um programa complementar para hóspedes, e o segundo configura-se como uma espécie de “terreno aéreo”, que consiste numa laje à espera de futura expansão.

Fotografias: Federico Cairoli + Corte e Elevações


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Laura Rosenbusch (L.R.) e Gregório Rosenbusch (G.R.)

MDC – Como você contextualiza essa obra no conjunto de toda a sua produção?

L.R / G.R. – Este projeto, iniciado em 2013, foi o segundo projeto realizado por nós (o primeiro foi um conjunto de duas casas geminadas), desse modo, foi muito importante para o inicio de nossa carreira enquanto oportunidade de ter contato com as diferentes etapas do projeto e principalmente com o processo de sua construção.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

L.R / G.R. – Esta casa foi projetada para nossos pais (já que somos irmãos e sócios).

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Você destacaria algum momento significativo do processo?

L.R / G.R. – O processo de projeto se deu de forma a integrar certas convicções nossas como recém-formados, principalmente de obter uma estética resultante das demandas de projeto, com os desejos dos clientes, por exemplo a vontade de seguir uma estética mais comumente encontrada nas casas da região (a casa se situa em Petrópolis, região serrana do estado do Rio de Janeiro) e da ideia tradicional de casa. Este foi um debate constante durante o processo. Porém, os clientes, sempre muito envolvidos tanto no processo de projeto quanto de obra, foram compreendendo o motivo de cada decisão, estas que não se restringiam apenas a questões meramente estéticas mas que buscavam abarcar uma série de contingências tanto econômicas, como funcionais e ambientais (a relação com o terreno, com o entorno, com o clima). Ao final buscou-se chegar a pontos de convergência.

Assim, foram definidos alguns princípios que conduziram as decisões formais: a elevação do volume principal da casa para que o sol pudesse chegar ao interior da casa (que está implantado em uma cota a 14 metros de altura em relação a rua); a integração do programa principal em um único pavimento, de modo a evitar escadas no uso cotidiano da casa; além de uma vontade, nesse caso mais estética, de construir uma casa com cobertura em laje plana.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, pode comentar as mais importantes?

L.R / G.R. – Este foi nosso primeiro projeto em colaboração com o engenheiro Ricardo Barelli e equipe e pontuaria ao menos dois aspectos que consideramos relevantes. O primeiro deles diz respeito a um vão de 9,00m que a laje de piso do pavimento principal vence, na passagem do trecho apoiado sobre o terreno para o trecho elevado. Desejávamos resolver este vão com 35cm de altura de viga invertida em concreto, incluindo a espessura de laje (12cm). Para isso, trabalhamos o conceito de colaboração entre viga invertida e laje, distribuindo os esforços de tração nas ferragens da laje. O segundo aspecto trata do contraventamento da sequência de pórticos em aço que sustentam a cobertura. Esta demanda por contraventamento nos indicou a possibilidade de alternar vãos em alvenaria e vãos com abertura, de tal modo que todas as colunas se encontram associadas aos painéis de alvenaria e assim contraventadas pelos mesmos, resultando numa solução que associa demandas estruturais com uma determinada relação entre interior e exterior, neste caso de enquadramento da paisagem, e de ritmo de fachada.

MDC – Os autores dos projetos tiveram participação no processo de construção/implementação da obra? Se sim, quais os momentos decisivos dessa participação?

L.R / G.R. – Esta obra foi dirigida por nós, que ficamos responsáveis por todas as contratações e acompanhamento técnico do dia-a-dia dos trabalhos. Um momento decisivo se deu logo ao princípio, quando terminada a terraplenagem e nos encontramos com um maciço rochoso imprevisto, uma rocha muito bonita, mas que nos exigiu uma total redefinição do espaço de garagem. Por outro lado, surgiu a oportunidade de explorar a visibilidade desta pedra, sendo então alterada a fachada onde se encontra a copa, finalmente com uma grande abertura orientada para a pedra. Nesta situação foi possível compreender esta instância de atualização do projeto em obra como forma de melhor relacionar o mesmo a seu contexto de implantação, que de certo modo se revela com a própria construção.

MDC – Você destacaria algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

L.R. / G.R. – O volume principal da casa apoia-se sobre quatro colunas em concreto armado situadas no trecho do terreno em declive, com aproximadamente 14m de comprimento e seção de 25 x 25 cm. Diante da necessidade de travamentos horizontais para obter esta seção, definiu-se uma grade espacial que acolhe dois pavimentos inferiores. O primeiro abriga um programa complementar para hóspedes, o segundo configura-se como uma espécie de reserva de terreno, ou como nos habituamos a chamar, um “terreno aéreo”, que consiste numa laje à espera de futura expansão.

Esta laje ficou por quase 10 anos vazia, sem uso definido, acabamos de realizar o projeto de fechamento deste espaço que abrigará um pequeno apartamento (um espaço único com copa, sala e quarto, além de um banheiro), com entrada independente que será usado para hóspedes.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, faria algo diferente?

L.R. / G.R. – Acredito que hoje elaboraríamos de modo distinto, entre outras razões porque este projeto se realizou num momento muito inicial de nossas carreiras. Nos faltou naquela instância, e em outras também, um processo mais linear de desenvolvimento de projeto, que neste caso passou por muitos giros, de tal modo que somente a obra colocava fim nas nossas investigações projetuais, o que de certo modo atropelava o processo.

MDC – Como você contextualiza essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

L.R. / G.R. – Naquele momento nos interessávamos muito por algumas casas do Brasil Arquitetura, casas com muros rebocados, esquadrias de madeira, beirais esbeltos em concreto armado, enfim, com um arranjo que concilia certa cotidianidade nos elementos construtivos e, ao mesmo tempo, uma espacialidade e uma linguagem modernas. De algum modo procuramos nesta ocasião nos aproximar deste tipo de arquitetura, já que nos parecia palpável (mas não era, já que estas casas mencionadas são muito sofisticadas, produtos de uma arquitetura extremamente madura).


projeto executivo


EXECUTIVO

2 pranchas (pdf).
482kb


ficha técnica – casa henrique cunha

Local: Petrópolis, RJ
Ano de projeto: 2013
Ano de execução e conclusão da obra: 2014
Área: 210 m²
Autor: Gregório Rosenbuch e Laura Rosenbusch
Responsável pela obra: Gregório Rosenbuch

Arquitetura: Venta Arquitetos
Estrutura: Ricardo Barelli (Teto Engenharia)
Sondagem: Sondestaq
Esquadrias de madeira: Advaldo Móveis Planejados

Fotos: Federico Cairoli
Contato: contato@venta.28ers.com


galeria casa henrique cunha


colaboração editorial

Isabela Gomide

deseja citar esse post?

ROSENBUSCH, Gregório. ROSENBUSCH, Laura. “Casa Henrique Cunha e Casa Elevada”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., jan-2024. Disponível em //www.28ers.com/2024/01/21/casa-henrique-cunha-e-casa-elevada-parte-1/. Acesso em: [incluir data do acesso].


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10 minutos

Centro de Referência Quebradeiras de Babaçu (texto fornecido pelos autores)


O coco babaçu é a maior atividade extrativista vegetal não madeireira do país e também uma fonte de renda para muitas famílias, apesar de seu declínio constante ao longo dos anos, influenciado principalmente por conflitos territoriais.

Fotografia: Maíra Acayaba

Os Estados do Maranhão, Piauí e Tocantins concentram as maiores extensões de matas onde predominam os babaçus. O principal derivado, o óleo, é extraído das amêndoas, que possui valor comercial para a indústria, entre outros. A extração das amêndoas (de 3 a 5 por coco), é realizada manualmente, de forma caseira e tradicional. Segundo dados da CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) de 2021, o Brasil produziu em 2020, 47.707 toneladas de amêndoas de coco babaçu, sendo o estado do Maranhão responsável por 92,9% da produção. É parte do sustento de grande parcela da população interiorana, extraída, quase exclusivamente, pelas mulheres: as quebradeiras de coco. Estima-se mais de 300 mil quebradeiras espalhadas pelas regiões da Mata dos Cocais. O ofício é passado de geração a geração, desde a coleta dentro da mata à quebra do coco para retirada das amêndoas. As quebradeiras de coco são oficialmente reconhecidas como um dos 28 povos e comunidades tradicionais brasileiras.

Implantação Metropolitana

Porém, o reconhecimento e a garantia, por lei, pelo menos em alguns municípios, ao acesso às terras para a colheita dos cocos são constantemente reprimidos pelos donos dos latifúndios, seja dificultando o acesso, como derrubando as palmeiras para formação de pastos. E a busca pela sobrevivência das quebradeiras se dá por estratégias como o agrupamento das mulheres, através de associações, fortalecendo a representatividade junto às instituições, bem como a dignificação do trabalho, com a tentativa de se agregar valor ao produto através de aplicações alternativas. Além das amêndoas e o seu valor comercial, utiliza-se a farinha do mesocarpo para pães, biscoitos, bolos, e outros alimentos; a casca do coco, como carvão; a própria fumaça, como repelente de insetos; a folha da palmeira, como trançado para cestas, coberturas e esteiras; o palmito, comestível; exemplos que despertam o interesse como objeto de estudos e pesquisa científica na área farmacêutica e na indústria alimentícia.

A região apresenta ainda muitas residências unifamiliares em taipa. O povoado se localiza a 35 km de distância do centro urbano mais próximo, a cidade de Vitória do Mearim. Dependendo da estação do ano, o deslocamento é necessariamente mediante transporte fluvial, uma vez que o povoado de Sumaúma, inserido na bacia hidrográfica do Mearim1, se inunda com as águas do rio Grajaú e o do Igarapé Ipixuna que desaguam no rio Mearim, inviabilizando o transporte por terra durante um período de aproximadamente 3 meses.

Localização e águas

Com vista às condições geográficas, o difícil acesso com materiais construtivos e a leitura das técnicas e recursos próprios da região, optou-se pela utilização do bloco de terra comprimida, composto por solo argiloso, água e uma pequena proporção de cimento, compactado manualmente com prensa mecânica, significando assim em uma releitura da casa de adobe, com manutenção reduzida para o longo prazo da estrutura construída. Esta estrutura autoportante define os espaços de trabalho e permanência.

Fotografia: Maíra Acayaba + Planta de Layout

Uma segunda estrutura independente, de sustentação do telhado, está definida por pilares, vigas e tesouras de madeira local, de recurso florestal autorizado pelo IBAMA. Esta cobertura dupla, oferece melhores condições de conforto térmico, garantindo áreas e construções permanentemente sombreadas.

Fotografia: Maíra Acayaba + Cortes e Elevações

Durante a obra, primeiramente se realizaram as fundações, em segunda instância se realizou a construção do telhado, proporcionando assim uma área protegida no canteiro de obra para fabricação dos tijolos no próprio terreno durante o período de chuvas, para finalmente construir as áreas de trabalho com o material produzido no próprio local. O telhado também incorpora calhas para captação de água de chuva, e a construção como um todo trabalha com sistemas de tratamento de esgoto e águas cinzas mediante a incorporação de fossa séptica biodigestora e círculo de bananeiras. Todas estas técnicas foram discutidas e difundidas na comunidade, incentivando sua replicabilidade a fim de conseguir um impacto ambiental maior que o atingido pelo projeto em si.

Isométrica Explodida

Neste sentido, o projeto do Centro de referência das Quebradeiras de Babaçu significa uma inovação no cotidiano do trabalho do grupo, uma vez que, para o desenvolvimento do projeto, se trabalhou conjuntamente com o grupo numa série de oficinas de desenho coletivo, onde a equipe de Estúdio Flume aprendeu sobre o processo produtivo do grupo, para assim juntos desenhar espaços que buscam a otimização dos usos, onde os diversos programas e momentos das atividades produtivas se organizam mediante uma circulação dinâmica e fluída.

Fotografia: Noelia Monteiro

Nessas oficinas de desenho coletivo, a escuta e a partilha são o primeiro passo para definição de diagramas e fluxogramas dos processos de produção, uma tradução espacial e temporal das técnicas ancestrais de trabalho. As maquetes de processo são uma ferramenta chave para o diálogo e revisão de projeto, assim como para o processo de construção, onde o dispositivo guia algumas das orientações gerais. A equipe de obra incorpora saberes e modos de fazer, que também significam revisões de projeto durante o processo construtivo. Ao assumir diversas formas de nos aproximar às soluções, seja mediante imagens, diálogos e especulações para a produção dos espaços, organizando os usos e as hierarquias deles no conjunto construído, a arquitetura finalmente funciona como um meio para proporcionar igualdade e proporcionar liberdade no futuro do projeto e na sua flexibilidade para se adaptar a novas demandas.

1 – Universidade Estadual do Maranhão e Núcleo geoambiental, «Regiões Hidrográficas do Maranhão», 2009. //www.nugeo.uema.br/?page_id=233.


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Noelia Monteiro (N.M.)

MDC – Como você contextualiza essa obra no conjunto de toda a sua produção?

N.M. – O Centro de Referência das Quebradeiras de Babaçu consolidou um método de aproximação ao projeto em desenvolvimento junto à comunidade. Desde a decisão do programa e as atividades que poderia abrigar até o fluxo de circulação interno e como cada parte faz sentido no todo. Elementos fixos próprios do mobiliário foram desenhados nas oficinas de projeto junto às mulheres pensando na própria ergonomia e a forma tradicional de trabalhar.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

N.M. – Já tínhamos realizado diversos projetos e assessorias com grupos de quebradeiras no interior do Maranhão, portanto a ideia de dedicar um espaço para o encontro, a troca e a produção foi se consolidando com os anos, sendo assim uma contratação direta.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Você destacaria algum momento significativo do processo?

N.M. – Inicialmente o projeto tinha sido pensado para outro terreno, de proporções quadradas, e em outra comunidade. Quando o grupo conseguiu adquirir o terreno do atual projeto, as proporções de um terreno estreito e profundo nos levaram para um novo partido, trabalhando com uma grande cobertura retilínea e modular, e um único corredor que distribuísse em forma de pente para os diferentes espaços do programa.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, pode comentar as mais importantes?

N.M. – Na etapa do executivo, o projeto de estruturas trouxe variações ao projeto definido no anteprojeto, de modo a simplificá-lo uma vez que o material predominante da obra, que seria o tijolo de solo compactado, gerava muitas dúvidas para os engenheiros envolvidos de como se comportaria no decorrer do tempo.

MDC – Os autores dos projetos tiveram participação no processo de construção/implementação da obra? Se sim, quais os momentos decisivos dessa participação?

N.M. – O escritório realizou o gerenciamento e administração da obra. Houve um momento chave na organização do cronograma de obra, que foi o de identificar que devido ao período de intensas chuvas que a construção atravessaria, seria necessário pensar a ordem do sistema construtivo de um modo diferente. Assim, após realizar as fundações, foi instalada a estrutura de madeira que daria sustentação à cobertura principal. Com a cobertura pronta, iniciou-se a fabricação dos tijolos in-loco para finalmente construir o projeto. Desta forma, foi possível dar continuidade a obra, mesmo no período de chuvas.

MDC – Você destacaria algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

N.M. – Mesmo com caráter de projeto dedicado a produção de alimentos e geração de renda, a possibilidade de construir num povoado sem presença de equipamentos culturais nem espaços públicos, como praças com brinquedos, adicionou outras camadas ao projeto, como a possibilidade de se tornar também o espaço de encontro, não só das quebradeiras, como também de filhos e netos.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, faria algo diferente?

N.M. – Pensando nos programas não previstos, como o uso por parte de crianças e adolescentes como lugar de encontro, receber a demanda do projeto no atual contexto poderia ser trabalhada em conjunto com o grupo, destinando setores e espaços específicos do terreno para o lugar de brincar. Não para propor um controle sobre o encontro da comunidade, mas sim para promover uma convivência com atividades que se relacionam com um processo controlado da produção de alimentos. Esta convivência poderia ser construída desde a concepção do projeto para que pudesse ser amadurecida na apropriação e uso da obra construída.

MDC – Como você contextualiza essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

N.M. – O Centro de Referência das Quebradeiras de Babaçu representa a realização de um projeto concebido desde as ideias preliminares junto com a comunidade. Ao mesmo tempo faz uma releitura dos materiais utilizados nas construções locais e se propõe a fortalecer a presença de um grupo tradicional que atravessa conflitos de território. Neste contexto, entendemos que assim como no Brasil, a nível regional na América Latina é possível criar uma rede de projetos com foco no fortalecimento de comunidades tradicionais.

MDC – Há algo relativo ao projeto e ao processo que gostaria de acrescentar e que não foi contemplado pelas perguntas anteriores?

N.M. – A possibilidade de acompanhar a obra de perto permitiu incorporar saberes locais do empreiteiro, do carpinteiro, do serralheiro, que foram aprimorando as ideias defendidas no papel. O excedente de material produzido como tijolos, ou mesmo madeira utilizada durante a obra, deram lugar à produção de bancos para o descanso e o encontro em diferentes pontos do projeto. A concretização destes detalhes só foi possível pela frequência e presença no canteiro de obra.


projeto executivo


EXECUTIVO COMPLETO

12 pranchas (pdf).
5,30mb


COMPLEMENTARES COMPLETO

10 pranchas (pdf).
3,64mb


localização e ficha técnica do projeto

Local: Sumaúma, Vitória do Mearim, MA
Ano de projeto: 2021
Ano de execução e conclusão da obra: 2022
Área do terreno: 483 m²
Área construída (cobertura): 275 m²
Autores: Noelia Monteiro e Christian Teshirogi
Colaboração: Marina Lickel

Arquitetura: Estudio Flume
Luminotécnico: Ana Lúcia Hizo
Construtor: Miguel Noleto Machado

Fotos: Maíra Acayaba e Noelia Monteiro
Contato: info@estudioflume.com


galeria


colaboração editorial

Renan Maia

deseja citar esse post?

MONTEIRO, Noelia. TESHIROGI, Christian. “Centro de Referência Quebradeiras de Babaçu”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., ago-2023. Disponível em //www.28ers.com/2023/08/11/centro-de-referencia-quebradeiras-de-babacu/ . Acesso em: [incluir data do acesso].


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//28ers.com/2023/08/11/centro-de-referencia-quebradeiras-de-babacu/feed/ 1 12216