Sustentabilidade – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com Wed, 14 Aug 2024 13:18:47 +0000 pt-BR hourly 1 //i0.wp.com/28ers.com/wp-content/uploads/2023/09/cropped-logo_.png?fit=32%2C32&ssl=1 Sustentabilidade – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com 32 32 5128755 Sustentabilidade – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2024/06/17/edificio-casa-pico/ //28ers.com/2024/06/17/edificio-casa-pico/#respond Mon, 17 Jun 2024 13:16:48 +0000 //28ers.com/?p=16953 Continue lendo ]]> Por SPBR Arquitetos
6 minutos

Edifício Casa Pico (texto fornecido pelos autores | traduzido por mdc)

Introdução / Agradecimentos

O estudo preciso realizado anteriormente por Nicola Baserga e Christian Mozzetti, além de fornecer informações básicas sobre as regulamentações de uso do solo em Lugano, nos deu uma direção confiável para o nosso conceito de projeto. Eles nos proporcionaram uma boa base para a nossa proposta e, devido ao trabalho deles, o projeto já estava avançado antes mesmo de começar.

Fotografia: Nelson Kon

Geometria

O polígono irregular que define o terreno tem sete lados e abrange cerca de 1.000m². Os recuos definem um polígono interno (com uma curva em um dos cantos) que corresponde a uma área de 330m², na qual foi possível construir 3m acima do nível do solo.

Planta – Pavimento Térreo


No entanto, dentro dessa figura interna, só podíamos ter 230m² por andar, considerando a altura máxima permitida (seis andares) e o programa do edifício. A geometria das lajes possui dois centros, funcionando como dois núcleos de atividades. Nos três primeiros andares, corresponde a um pequeno apartamento em cada um, e nos três andares superiores, corresponde a dois programas diferentes em um grande apartamento.

Maquetes do edifício

Estrutura

O design da estrutura segue esses dois núcleos.
Cada núcleo é sustentado por uma parede de concreto em formato de “T” que suporta cargas verticais e horizontais. A parede em “T” está associada a duas colunas para cargas verticais. Ambos os núcleos estão estruturalmente combinados com seus “T”s dispostos perpendicularmente para suportar esforços horizontais em ambas as direções. Uma solitária coluna extra fina, colocada no extremo norte, libera a geometria da laje para configurar áreas onde isso não seria possível.

Plantas-tipo: A e B, respectivamente

Essa disposição dos elementos verticais dispensa a necessidade de vigas nas lajes. Portanto, o plano da laje não tem uma direção claramente legível, como geralmente ocorre com uma estrutura com vigas. Como resultado, uma vez dentro do edifício, a geometria rigorosa das paredes e colunas não pode ser facilmente compreendida. Como se, uma vez construído, o edifício renunciasse à sua essência para ser fragmentado, retornando à geometria circundante e à paisagem.

Fotografias: Nelson Kon

Fachadas

Cada fachada é composta por um plano opaco, feito com painéis de madeira, ou um plano transparente, feito com painéis de vidro. O plano opaco sempre encontra um plano transparente. Como resultado, do interior, a vista sempre tem uma abertura para o exterior. Por outro lado, do exterior, o volume do edifício parece não ter sólidos, apenas planos.

Fotografias: Nelson Kon

Nível Térreo

O nível do solo é uma passagem aberta. Especificamente para aqueles que têm o edifício como destino, o nível do solo compartilha dois programas diferentes: habitação e escritório.

Fotografias: Nelson Kon

O espaço do escritório está ligeiramente afundado no meio do jardim. Como resultado, sua altura é menor do que aquela que normalmente associamos a uma construção habitada, e não se pode perceber imediatamente sua função. Além disso, ele foi cuidadosamente colocado ao lado do caminho e protegido pelas duas paredes estruturais de concreto armado. Dessa forma, ele combina duas características contrastantes: por um lado, é bastante discreto; por outro, traz vitalidade a um canto periférico do terreno.

Planta – Pavimento Térreo

Neste nível, o programa de habitação é apenas anunciado por um pequeno prisma abstrato, o hall do elevador, cujo tamanho e característica foram cuidadosamente calibrados para não predominar nesse espaço.

Hall de entrada.
Fotografia: Nelson Kon

Nem casa nem escritório, a predominância no nível do solo é um espaço aberto. Embora cercado por jardins, o solo aqui é completamente construído.

Subsolo

Existem dois andares subterrâneos: a garagem e o depósito.

Cortes A, B e C, respectivamente

A garagem ocupa toda a área disponível, cerca de 650m², e é rasa o suficiente para nos permitir manter uma parede de contenção histórica, e sua função, na rua Pico. Este andar é totalmente iluminado e ventilado naturalmente, e o acesso é proporcionado por uma rampa suave, até para padrões de caminhada. Como resultado, a ambiência deste espaço é percebida como se estivesse na superfície e não em um típico subsolo.

Fotografias: Nelson Kon

O depósito, de 250m², tem um perímetro interno inscrito no andar anterior. O recuo das bordas evita o uso de ambas paredes de contenção de altura dupla e escavação nas fronteiras.

Baixo consumo de energia

Todos os painéis de fachada foram projetados seguindo parâmetros definidos por nosso consultor para alcançar o melhor desempenho energético. O painel de madeira externo é ventilado e montado em uma estrutura que contém camadas sucessivas de isolamento térmico, barreira de vapor e um painel interno de drywall. O vidro possui painéis triplos em molduras de alumínio. As fachadas envidraçadas voltadas para sul e oeste são sombreadas por uma persiana de alumínio retrátil.

Fotografia: Nelson Kon

Ventilação controlada:
As perdas térmicas são drasticamente reduzidas devido a um sistema mecânico de ventilação controlada, independente em cada apartamento.

Sistema geotérmico:
Mais uma estratégia adotada para reduzir drasticamente o consumo de energia para aquecimento e resfriamento é o sistema geotérmico. Quatro sondas geotérmicas descem 225m em loops verticais.

Todos esses aspectos visam a construção de baixo consumo de energia e permitem alcançar o padrão suíço de consumo de energia, o Minergie.

Fotografias: Nelson Kon


projeto executivo


EXECUTIVO COMPLETO
99 formatos (pdf).
14,40mb


ficha técnica

Local: Lugano, Suíça
Ano de início de projeto: 2008
Ano de conclusão da obra: 2013
Área do terreno: 992 m²
Área do projeto: 2661 m²
Arquitetura: SPBR Arquitetos (Angelo Bucci, autor principal; Tatiana Ozzetti, Ciro Miguel, Eric Ennser, Giovanni Meirelles de Faria, João Paulo Meirelles de Faria, Juliana Braga, Nilton Suenaga, Fernanda Cavallaro, Joaquin Corvalan e Victor Próspero) Baserga Mozzetti Architetti (Nicola Baserga, Christian Mozzetti, Marilena Quadranti e Thea Delorenzi)


Estrutura:
Ingegneri Pedrazzini Guidotti (Andrea Pedrazzini, Eugenio Pedrazzini, Roberto Guidotti, Karin Lehmann e Ladislao Ricci)
Fachadas:
Feroplan Engineering (Marc Bischoff)
Física da construção: Physarch (Mirko Galli)
Instalações prediais: Studio Tecnico Ferreti (Idalgo Ferreti); Crivelli; Aircond; ACR
Energiebohr
Elétrica: Elettronorma (Daniele Ruess, Daniele Baruffaldi), Etavis (Mauro Marzini)
Proteção contra incêndios: Studio Tecnico Geo Viviani
Impermeabilização: Visetti Isolazioni
Iluminação: Reka (Ricardo Heder); Tulux
Construção: Pedrazzini Construzioni (Luigi Pedrazzini e Alan Del Giorgio)

Fornecedores

Fachadas / Vidro e metálica: Generalmast (Giuseppe Turati)
Fachadas / Madeira: Bissig Gebr Holzbau GmbH (Martin Bissig)
Marcenaria: Veragouth (Oliver Moggi); Cavaleri Mobili (Peter Schrämmli)
Serralheria: Officine Cameroni (Paolo Tosi); Symecom (Gianni Summo)
Piso / Granilite: Tonella Loris
Vidros: Glasvetia (Samuele Perone)


Fotos: Nelson Kon
Contato: spbr@spbr.28ers.com


galeria


colaboração editorial

Renan Maia

deseja citar esse post?

BUCCI, Angelo et al. “Edifício Casa Pico”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., jun-2024. Disponível em //www.28ers.com/2024/06/17/edificio-casa-pico. Acesso em: [incluir data do acesso].


]]>
//28ers.com/2024/06/17/edificio-casa-pico/feed/ 0 16953
Sustentabilidade – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2024/04/10/sede-da-confederacao-nacional-de-municipios-cnm/ //28ers.com/2024/04/10/sede-da-confederacao-nacional-de-municipios-cnm/#respond Wed, 10 Apr 2024 19:25:27 +0000 //28ers.com/?p=16298 Continue lendo ]]> Por Mira Arquitetos
7 minutos

Sede da Confederação Nacional de Municípios ?CNM (texto fornecido pelos autores)

O partido adotado determina a criação de um espaço metropolitano em consonância com o contexto urbanístico da cidade como condição principal para projeto do novo equipamento. O plano de ação para a implantação da nova sede da CNM partiu de alguns pressupostos fundamentais:

– formulação de um modelo de ocupação do solo com ênfase na integração dos usuários com a paisagem construída;
– estruturação/hierarquização do térreo deve reforçar sua vocação como principal local de convergência;
– escolha de um sistema construtivo claro e racional, garantindo rapidez e economia na execução;
– adoção de estratégias que permitam o bom desempenho ambiental do edifício.

Fotografia: Leonardo Finotti

O eixo de evolução do projeto se materializa em sua extensão máxima na forma de um prisma metálico branco que flutua delicadamente sobre o embasamento de concreto. O posicionamento da lâmina busca transferir para dentro do corpo construído os visuais da paisagem, incorporando a presença do entorno ao seu uso cotidiano. A disposição dos elementos construídos é uma resposta direta à distribuição do programa no lote:

– a base abriga todas as funções coletivas, espaços destinados a acolher o público externo (salão nobre, foyer, salas de apoio), assim como espaços de estar (café);
– na lâmina metálica encontram-se as áreas de trabalho administrativo, salas de reunião e corpo diretivo;
– na cobertura, salas de reunião;
– por fim, no subsolo, garagens (2º e 3º subsolos) e um anexo destinado ao restaurante e áreas técnicas (1º subsolo).

Maquete física do CNM

O desenho do chão foi o fio condutor da proposta. Criou-se uma praça, levemente rebaixada em relação a cota média do terreno, que se desdobra em dois níveis, resultando em uma nova topografia para o lote. Na cota 1042.70 o espelho d’água orienta o percurso do pedestre rumo à recepção, configurando o acesso às áreas administrativas. Na cota inferior, inscrita na volumetria da base, encontra-se a praça cívica por onde é possível acessar o complexo do auditório. Uma escadaria conecta os dois planos, permitindo a realização de eventos de forma autônoma, sem prejudicar a rotina de trabalho administrativo.

Fotografias: Leonardo Finotti

O sistema construtivo adotado buscou conciliar necessidades de redução de custos, rapidez de execução e flexibilidade máxima para os planos de trabalho. Para tanto, toda a estrutura, forros e elementos de vedação foram rigorosamente modulados a partir de múltiplos de 1,25m. O embasamento de concreto obedece a criteriosa disposição de pilares, potencializando a disposição de vagas de estacionamento e dos demais espaços internos. A estrutura periférica da caixa metálica elimina completamente a interferência de pilares dos planos de trabalho, permitindo futuras atualizações de layout e prolongando assim a vida útil da edificação. As redes de infraestrutura e lógica distribuem-se por forros, pisos e shafts. Uma prumada central de elevadores e escadas faz a integração vertical do edifício dividindo os planos de trabalho em dois grandes planos livres.

Plantas, Cortes e Elevações

A instituição exige um edifício exemplar no que diz respeito à gestão dos recursos naturais. Nesse sentido, a estratégia de gestão ambiental foi pensada de forma a oferecer respostas abrangendo as principais esferas da sustentabilidade.

Na esfera ambiental:
– aumento do desempenho térmico da edificação, reduzindo o ganho de calor através do uso de lâminas de água nas coberturas e de cores com alto coeficiente de reflexão;
– uso de brise protegendo os planos de trabalho de incidência direta dos raios solares;
– camada de ar ventilada nas fachadas;
– ventilação cruzada em todos os ambientes, permitindo a redução do uso de ar condicionado;
– águas pluviais captadas pelos espelhos d’água, direcionadas para cisternas de armazenamento e reutilizadas posteriormente na irrigação e em vasos sanitários;
– amplo uso de iluminação natural indireta;
– no paisagismo, a escolha das espécies arbóreas nativas do cerrado, bioma onde está inserido o projeto.

Diagrama de Estratégia Ambiental

Na esfera social:
– acessibilidade universal;
– atendimento às necessidades básicas de ergonomia.
– espaços integradores viabilizando interrelações entre usuários e visitantes.

Na esfera econômica:
– modulação e uso de componentes industrializados, racionalizando a obra e reduzindo
o desperdício de materiais;
– escolha de materiais de acordo com seu ciclo de vida e facilidade de manutenção.

Fotografias: Leonardo Finotti


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Maria Cristina Motta e Luís Eduardo Loiola (Mira)

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no conjunto de toda a sua produção?

Mira – Éramos, Cris e eu, arquitetos com poucos anos de formados. O projeto da CNM reuniu um conjunto de ideias que alimentávamos desde a faculdade e é síntese desse início de percurso. Consideramos nossa obra inaugural.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

Mira – O projeto foi selecionado via concurso público de anteprojetos, organizado pelo IAB DF.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Vocês destacariam algum momento significativo do processo?

Mira – O desenho do térreo, buscando trazer para dentro do lote a dimensão pública do chão de Brasília, foi um momento importante. Pensamos em uma nova topografia, organizando as funções previstas em níveis distintos. O espaço resultante é um percurso que aos poucos revela escalas ocultas, invisíveis para quem vê o prédio da rua. Um trajeto onde as alturas se alternam e os vazios se sucedem até o interior do edifício.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros autores que modificaram as soluções originais? Se sim, pode comentar as mais importantes?

Mira – Fomos responsáveis por todo o desenvolvimento, coordenação e compatibilização do projeto de arquitetura e engenharias complementares. As modificações mais importantes surgiram logo no início do processo de desenvolvimento onde incorporamos observações da Comissão Julgadora, desejos da Instituição e ajustes para atender à legislação. As dimensões do edifício foram aumentadas para melhor acomodar as áreas de trabalho. O corte do embasamento em concreto armado foi reorganizado, tornando-o mais simples e flexível.

Como o partido estrutural e de infraestrutura fizeram parte da concepção arquitetônica desde o princípio, as engenharias complementares pouco impactaram o desenvolvimento.

MDC – Os autores dos projetos tiveram participação no processo de construção/implementação da obra? Se sim, quais os momentos decisivos dessa participação?

Mira – Fomos contratados para o acompanhamento de obra e tivemos participação ativa na implementação do edifício. Consideramos nossa participação decisiva quanto ao cuidado com o controle das especificações e em particular com a execução e tratamento para acabamento e proteção do concreto aparente.

MDC – Vocês destacariam algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

Mira – A simplicidade da solução arquitetônica resultou em um edifício sóbrio. Apesar das diversas alterações posteriores, é surpreendente como os princípios essenciais dessa arquitetura perduram no tempo.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, fariam algo diferente?

Mira – Consideramos que a resposta foi adequada ao problema e programa colocado.

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

Mira – O edifício da CNM é um dos poucos construídos no país, nos últimos 20 anos, cuja escolha do projeto se deu por meio de um concurso público de arquitetura. Consideramos todo o processo um exemplo positivo no panorama nacional, reforçando a importância dos concursos como modalidade mais democrática de licitação para a escolha de projetos públicos.


projeto executivo


EXECUTIVO SÉRIE A:
PLANTAS E CORTES

21 pranchas (pdf).
40,56mb


EXECUTIVO SÉRIE F:
AMPLIAÇÃO – BRISES

2 pranchas (pdf).
1,35mb


ficha técnica

Local: Brasília, DF
Data do projeto: dezembro de 2010
Conclusão da obra: junho de 2016
Área do terreno: 5.040 m²
Área construída: 10.488 m²
Arquitetura: Mira Arquitetos (Luís Eduardo Loiola e Maria Cristina Motta)
Colaboradores: Ana Carolina Sumares, Luís Felipe da Conceição, Marcelo Ribas, Luisa Leme Simoni, Gabriela Lira Dalsecco



Estrutura:
Kurkdjian e Fruchtengarten Engenheiros Associados
Fundações:
Mag Solos Engenheiros Associados
Instalações prediais: MHA Engenharia Ltda
Luminotécnica: Lux projetos
Caixilhos: Dinafex
Paisagismo: Gabriela Ornaghi
Construtora: Soltec Engenharia



Fotos: Leonardo Finotti
Contato: mira@miraarquitetos.com.br



Concurso Nacional de Projetos: 1º Lugar


galeria


colaboração editorial

Isabela Gomide

deseja citar esse post?

LOIOLA, Luís Eduardo. MOTTA, Maria Cristina. “Sede da Confederação Nacional de Municípios – CNM”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., abr-2024. Disponível em //www.28ers.com/2024/04/10/sede-da-confederacao-nacional-de-municipios-cnm. Acesso em: [incluir data do acesso].


]]>
//28ers.com/2024/04/10/sede-da-confederacao-nacional-de-municipios-cnm/feed/ 0 16298
Sustentabilidade – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2024/01/21/casa-henrique-cunha-e-casa-elevada-parte-2/ //28ers.com/2024/01/21/casa-henrique-cunha-e-casa-elevada-parte-2/#respond Sun, 21 Jan 2024 15:05:49 +0000 //28ers.com/?p=14765 Continue lendo ]]> por Venta Arquitetos
7 minutos

Casa Elevada (texto fornecido pelos autores)

Implantação da Casa Elevada em relação à Casa Henrique Cunha

Concebido como um refúgio do arquiteto, procurou-se com este projeto, desde esta condição, realizar algumas experiências construtivas, com o objetivo de conciliar diferentes desejos: de reduzir o custo de obra; de preservar a topografia existente; de elevar a construção do solo; e por fim, estabelecer uma relação espacial singular entre o interior e o entorno imediato.

A área disponível para a construção compreende uma topografia que define uma espécie de recinto semifechado, contido por taludes preexistentes que formam uma concavidade aberta a leste. Sobre o eixo leste-oeste, no centro deste “recinto”, implanta-se a construção a 2,40 metros acima do nível de acesso ao terreno. Para isso, lança-se mão de uma estrutura mista: um par de fundações, colunas e vigas em concreto, constituindo uma base sobre a qual nasce um esqueleto leve em estrutura metálica, com perfis laminados e tubulares.

Fotografia: Federico Cairoli + Plantas: pilotis e pavimento elevado

Para a construção dos pisos utilizou-se chapas de painel compensado de madeira e pré-moldados de concreto. Internamente, os painéis compensados constituem caixas enrijecidas e bi-apoiadas, com vão livre de 1,60 metro.

Em relação à cobertura, um viga metálica em perfil “I” deitado constitui ao calha central e, ao mesmo tempo, tem por objetivo tensionar uma série de barras chatas em aço sobre as quais se apoiam as telhas termo-acústicas.

Fotografia: Federico Cairoli

As fachadas laterais, voltadas para o norte e para o sul, são integralmente em vidro mediadas por varandas e uma delicada tela em aço, de modo que o interior se abre para os taludes próximos recobertos por vegetação espontânea. O vidro aqui permite que a interioridade do refúgio se expanda até os taludes e a vegetação próxima, como a tomar posse deste espaço. Deste modo, há um envolvimento entre interior e exterior que de diversas maneiras é sentido na experiência cotidiana da casa.

Fotografias: Federico Cairoli + Cortes e Elevações


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Gregório Rosenbusch (G.R.)

MDC – Como você contextualiza essa obra no conjunto de toda a sua produção?

G.R. – Este projeto iniciou-se em novembro de 2015, naquela altura, e após a experiência de projeto e acompanhamento de obra de duas casas geminadas (2012) e da casa Henrique Cunha (2014), ansiava por uma construção que realizasse a menor intervenção possível no terreno, com um mínimo trabalho de solo, é dizer, cortes, aterros e contenções, tanto pelo aspecto econômico, mas também pelo impacto na configuração local conforme encontrada e pelo sentido dramático com que muitas vezes estas operações de manejo de terra se dão.

Uma vez que o sítio de construção possui topografia de perfil inclinado e acidentado, a saída seria aderir a um partido de construção elevada, de modo a encontrar um espaço aéreo no qual o volume pudesse se desenvolver. Neste sentido, esta obra configura uma espécie de passagem entre uma construção afeita ao solo (casas geminadas), para uma semi-projetada ao espaço aéreo (casa Henrique Cunha), e uma liberação total, por assim dizer, do solo, na casa Elevada. Esta liberação não significa que a construção aérea não seja determinada, em certa medida, pelas contingências do solo sobre o qual paira, mas que deseja a maior autonomia possível em relação ao mesmo.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

G.R. – Esta pequena casa foi feita para o próprio arquiteto.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Você destacaria algum momento significativo do processo?

G.R. – O processo de projeto e de obra se deu de modo heterodoxo, já que com pouco desenvolvimento de projeto logo iniciamos a execução das fundações e dos fustes de colunas. Havia naquele momento uma ideia quiçá ingênua e romântica de que o projeto se faria com a obra ou na obra, em outras palavras, dentro do processo produtivo da arquitetura, com a experiência em canteiro contribuindo constantemente para a definição e atualização das decisões. Hoje compreendo que havia também uma grande ansiedade mesclada com um desejo de experimentação.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, pode comentar as mais importantes?

G.R. – O processo de projeto contou com a interlocução com alguns profissionais. Como exemplo, no piso das varandas utilizamos painéis pré-moldados de concreto, usualmente fabricados para a execução de lajes recobertas com concreto. O que imaginamos foi inverter a posição do painel, de tal modo a ter a ferragem exposta da treliça voltada para baixo, a fim de objetivar um melhor aproveitamento do aço nos esforços de tração e assim dar conta de um vão de 1,60m. Na empresa local (Plainco) fabricante de painéis pré-moldados de concreto, foi possível realizar uma prova de carga, com a sobreposição de sacos de cimento empilhados um a um sobre um painel levemente suspenso do chão, apoiado em calços. A observação empírica surpreendeu, do ponto de vista da resistência do painel, o próprio engenheiro fabricante, que havia calculado as ferragens do painel para um propósito distinto daquele testado.

Em relação à montagem da gaiola metálica, foi necessário acompanhar o processo para entender a necessidade de reforços que surgiram de deformações não previstas, num processo de análise e interlocução muito próxima com a equipe de serralheria.

O piso interno, por sua vez, constituído por caixas enrijecidas de compensado, teve a sua resistência testada a partir de um primeiro protótipo na oficina de marcenaria. Suficientemente rígido, foi então reproduzido.

Em suma, houve uma rica interlocução especialmente com prestadores de serviços e alguns fornecedores.

MDC – Os autores dos projetos tiveram participação no processo de construção/implementação da obra? Se sim, quais os momentos decisivos dessa participação?

G.R. – Nesta obra realizamos toda a gestão e coordenação da obra, alguns momentos decisivos foram pontuados acima.

MDC – Você destacaria algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

G.R. – Um fato relevante ocorreu logo após a conclusão da montagem da estrutura metálica, do piso e dos fechamentos, quando então constatamos um significativo movimento e balanço da estrutura, principalmente sob efeito de carga acidental, com o deslocamento dos corpos no espaço. Essa característica logo se tornou bem-vinda, animada pela ideia do habitat sujeito a uma condição de estabilidade delicada e da explicitação da elasticidade dos materiais.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, faria algo diferente?

G.R. - A experiência com essa estrutura elástica logo se converteu na compreensão, a partir da observação empírica, da necessidade de travamentos diagonais para o contraventamento de estruturas metálicas, algo bastante óbvio e corrente no ensino da arquitetura. Hoje, em nossos projetos atuais, estamos muito interessados em conformar planos e volumes em aço o mais triangulados possíveis, no sentido de obter o menor peso em aço e maior resistência e estabilidade. 

MDC – Como você contextualiza essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

G.R. – A meu ver, esta obra reflete, especialmente nos pilotis, uma admiração e interesse pelo trabalho de Angelo Bucci, no que diz respeito a estruturas centrais (clínica de psicologia e casa em Carapicuíba). De outro lado, há também na articulação dos pilotis com a estrutura em aço o resultado de uma observação das estrutura de viadutos de vias expressas e estradas de rodagem. Mas fundamentalmente penso que esta obra se situa no conjunto de trabalhos de uma geração baseada no Rio de Janeiro e que, de algum modo, passou pelos ateliês ou pelos escritórios de Diego Portas e Carla Juaçaba.


projeto executivo


EXECUTIVO

3 pranchas (pdf).
591kb


MOBILIÁRIO

3 pranchas (pdf).
118kb


ficha técnica do projeto

Local: Petrópolis, RJ
Ano de projeto: 2016
Ano de execução e conclusão da obra: 2017
Área: 60 m²
Autor: Gregório Rosenbuch
Responsável pela obra: Gregório Rosenbuch

Arquitetura: Venta Arquitetos
Estrutura: Ricardo Barelli (Teto Engenharia)
Estrutura metálica: Joafer Serralheria (José Antônio)
Compensado: Antônio Schneider

Fotos: Federico Cairoli
Ilustrações: Nicolás Castagnola
Contato: contato@venta.28ers.com


galeria


colaboração editorial

Isabela Gomide

deseja citar esse post?

ROSENBUSCH, Gregório. “Casa Elevada”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., jan2024. Disponível em //www.28ers.com/2024/01/21/casa-henrique-cunha-e-casa-elevada-parte-2/. Acesso em: [incluir data do acesso].


]]>
//28ers.com/2024/01/21/casa-henrique-cunha-e-casa-elevada-parte-2/feed/ 0 14765
Sustentabilidade – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2023/12/13/sede-para-uma-fabrica-de-blocos/ //28ers.com/2023/12/13/sede-para-uma-fabrica-de-blocos/#respond Wed, 13 Dec 2023 22:03:20 +0000 //28ers.com/?p=14633 Continue lendo ]]> Por VÃO
11 minutos

Sede para uma Fábrica de Blocos (texto fornecido pelos autores)

12.000 blocos. 75m² de área útil. 75m² de paredes.

Fotografias: VÃO (fotos da obra) + Rafaela Netto

A urgência de abertura do espaço, o baixo orçamento disponível e o terreno alugado eram fatores que impediam uma construção convencional para a sede desta fábrica de blocos de concreto em Avaré, interior de São Paulo. Diante deste contexto, os sócios passaram a cogitar a compra de um container, contudo, não nos parecia coerente que o futuro espaço de escritório e showroom da fábrica não empregasse o material por ela produzido.

Fotografias: Rafaela Netto + VÃO (fotos da obra)

Foi durante uma das visitas ao galpão, observando o sistema de armazenamento e transporte dos blocos em pilhas apoiadas sobre pallets, que ocorreu a ideia de construir sem a utilização de argamassa. Desta forma a obra seria transformada em uma rápida montagem e o material poderia ser totalmente reutilizado no caso de uma mudança de endereço.

Fotografias: Rafaela Netto

Como a quantidade de blocos não era um problema, a estabilidade seria garantida pelo aumento significativo da espessura das paredes, transformando-as em verdadeiras muralhas de blocos aparelhados1.

Fotografias: VÃO

Diagrama de organização dos blocos + possibilidades de montagem/desmontagem

A partir de então as relações entre altura, peso e superfície de contato dos empilhamentos passaram a ser exploradas tanto no projeto como em protótipos no canteiro de obra, resultando em duas configurações de aparelhos: paredes longitudinais com 0,6m de largura e paredes transversais com 1,20m de largura.

Planta + Sequência construtiva

De certo modo, o sistema construtivo desenvolvido faz uma alusão às antigas construções megalíticas, antecessoras à invenção de substâncias aglutinadoras, que tinham a força da gravidade como principal elemento estabilizador. Para nivelar e travar verticalmente essas muralhas a lógica do sistema observado na visita foi reproduzida na obra, substituindo os pallets por lajes a cada seis fiadas.

Lajes a cada seis fiadas
Fotografias: Rafaela Netto

Tanto nas lajes intermediárias quanto na cobertura, os trilhos pré-moldados foram justapostos sem a colocação das usuais lajotas cerâmicas, ou seja, o espaço de ar que seria gerado por elas foi preenchido pelo concreto, aumentando significativamente o peso das lajes a fim de auxiliar no travamento das largas muralhas de blocos.

Fotografias: Rafaela Netto + Elevações frontal e lateral + Cortes longitudinal e transversal

1- Aparelhos são formas de encaixes dos blocos intercalados em sentidos diferentes para obter uma boa amarração das paredes.


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Anna Juni, Enk te Winkel, Gustavo Delonero (VÃO)

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no conjunto de toda a sua produção?

VÃO – Quando projetamos raramente pensamos no fim, ou na não existência da construção que desejamos realizar. A Sede para uma Fábrica de Blocos se difere por ser a única obra não-efêmera de nossa produção que projeta um ciclo, ou seja, que o pensamento considera tanto a construção quanto a sua iminente desmontagem, assim como a reutilização do material quando o terreno não for mais alugado pelos clientes.

Outra consideração sobre essa obra é que talvez ela seja o exemplo mais claro e direto a ser dado quando nos questionam sobre como o contato com as artes plásticas reverbera em nosso trabalho de arquitetura.

As aproximações com artistas, através do trabalho de assistência, trouxeram para nós uma entrega conceitual ao modo de pensar o projeto; uma abertura interpretativa, que suscita questões análogas em outros processos de uma natureza que não a da nossa formação. Não fosse essa influência, talvez não tivéssemos nos afastado de algumas automatizações do pensamento acerca do uso dos materiais, e talvez não nos tivéssemos proposto ao exercício de unir blocos de concreto sem qualquer substância aglutinadora.

Um segundo olhar para os blocos, sob uma outra perspectiva construtiva, resultou em uma experimentação que expande a convencionalidade do uso do material no campo da arquitetura.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

VÃO – A fábrica de blocos era recém-inaugurada em Avaré, interior de São Paulo, quando uma pequena incorporadora local nos encomendou o desenvolvimento de um projeto de uma casa para investimento.

Optamos por realizar esse projeto, chamado de Casa sem dono nº 02, em blocos de concreto aparente ?o que era, e ainda é, bastante inusual para a cidade. Os sócios da fábrica acabaram por visitar a obra e ficaram felizes de ver o projeto que evidenciava o material em sua forma natural, sem reboco. Logo após a visita eles nos contactaram com a proposta de realizar a sede de um escritório e showroom para a sua fábrica.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Vocês destacariam algum momento significativo do processo?

VÃO – Como já mencionado no memorial apresentamos dois projetos nesse processo, sendo o primeiro deles uma construção tradicional em blocos de concreto aparente. Essa versão foi vetada pela necessidade de rápida execução, pelo baixo orçamento disponível e o problema de investir uma grande quantia em um terreno alugado.

Apesar de desapontados com a reunião, e com a resolução dos clientes de comprar um container para realizar a sede, não desistimos do projeto. Assim surgiu a ideia de construir sem argamassa, utilizando apenas o peso do material e a força da gravidade como elementos estruturantes. Diante a garantia de uma rápida montagem, e da reutilização de praticamente todo o material no caso de uma mudança futura, não houve uma segunda negativa.

Essa grande e forçada inflexão conceitual foi o que nos levou ao projeto tal qual ele é hoje. Todavia, não fossem as adversidades de tempo e orçamento muito provavelmente teríamos construído um bom, porém convencional, projeto de blocos de concreto aparentes, sem a inventividade estrutural que nos levou à solução final.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, podem comentar as mais importantes?

VÃO – A estrutura da Sede para uma Fábrica de Blocos foi desenvolvida de maneira muito empírica por nós, pois não havia orçamento disponível para a contratação de um projeto de engenharia.

Fizemos apenas uma reunião informal de consultoria com um parceiro engenheiro a partir da ideia do empilhamento e aparelhamento dos blocos. Na conversa nos asseguramos que esse seria um caminho possível e, a partir de então, começamos a realizar alguns ensaios no local da obra. Foi através desses ensaios em escala 1:1, com o próprio material, que chegamos nas configurações finais das paredes com 0,6 e 1,2m de espessura.

Podemos dizer que na Sede para uma Fábrica de Blocos a criação de um novo sistema estrutural, ou de uma maneira não-convencional de empregar o material, antecedeu e norteou o desenvolvimento da arquitetura.

Todavia, vale destacar que buscamos sempre uma confluência entre o pensamento estrutural e espacial ao longo dos nossos processos. Isto é, há uma atenção em eleger tecnologias de construção que estejam conectadas intrinsicamente à arquitetura, construindo conjuntamente as suas espacialidades. E a cada trabalho nos mantemos atentos não apenas às viabilizações técnicas de estruturar os projetos, mas também à economia de meios e recursos, fazendo essas escolhas com discernimento e coerência em relação aos seus contextos.

MDC – Os autores dos projetos tiveram participação no processo de construção/implementação da obra? Se sim, quais os momentos decisivos dessa participação?

VÃO – Como levantado na pergunta anterior, as investigações acerca de altura, espessura, peso e estabilidade dos empilhamentos foram elaboradas não somente na fase de projeto como também no canteiro de obra.

Para além disso acreditamos que o processo de participação e acompanhamento da equipe de arquitetura na obra é imprescindível para o bom andamento da construção. Esse é o momento no qual verificamos as materializações das ideias, tiramos dúvidas, e principalmente, um dos momentos de maior aprendizagem com as equipes. Não raro alteramos os projetos a partir de questões e sugestões colocadas pelos construtores e fornecedores no decorrer dos processos.

Na Sede para uma Fábrica de Blocos não foi diferente, nos fizemos presentes em todas as fases da obra. O que a difere das demais, no entanto, é que essa foi uma obra muito rápida e consequentemente com muito menos revisões em momentos decisivos.

MDC – Vocês destacariam algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

VÃO – Ao voltar ao local, após alguns anos da finalização de sua construção, tivemos uma grata surpresa: em um movimento entrópico, as heras dos canteiros externos invadiram o espaço interno, tomando todo o teto e parte das muralhas. Isso não havia sido planejado. Imaginávamos, é claro, que elas fossem crescer nas fachadas externas, mas nunca que fossem encontrar nos pequenos vãos entre os blocos, onde a argamassa encontra-se ausente, um caminho para essa ocupação inesperada do lugar. Felizmente essa surpresa foi celebrada pelos clientes e as heras foram mantidas no convívio espacial.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, fariam algo diferente?

VÃO – Não acreditamos em soluções ideais e encerradas ou em caminhos exclusivamente certos ou errados ?nossa produção difere-se muito entre si, de maneira geral.

As ideias que constroem cada projeto encontram-se atreladas a um recorte temporal de nossas vidas e consequentemente, de nossos interesses e pesquisas naquele momento específico. E quando construímos estamos materializando as ideias e pesquisas que alimentaram esse tempo.

Dito isso, talvez poderíamos pensar que quanto maior a distância temporal maior seria a distância entre o que fizemos e o que faríamos. Contudo, o frescor da finalização de uma obra também pode acentuar as vontades de mudança na concretização de ideias que não funcionaram como o esperado.

Olhando para a Sede para uma Fábrica de Blocos hoje consideramos apropriada a maneira como conceitualmente respondemos às questões de tempo e custo que culminaram em um novo sistema construtivo. Nesse sentido é provável que seguiríamos a mesma solução conceitual-estrutural, mas talvez mudássemos algumas das soluções técnicas, certamente influenciados pelo contexto atual de nossa pesquisa e pelos aprendizados que tivemos desde então.

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

VÃO – Entendemos todo projeto como uma pequena e eventual oportunidade de contribuir para o debate e o fazer coletivo da arquitetura. Acreditamos que a maior contribuição da Sede para uma Fábrica de Blocos para esse debate seja o sistema construtivo desenvolvido que, por não empregar argamassa, possibilita o reuso dos blocos de concreto.

Apesar desse sistema ter sido desenvolvido especificamente para essa obra, ele se insere em um debate urgente, contemporâneo e global que é projetar pensando nos ciclos das obras e os consequentes destinos dos seus materiais.

Para além disso essa obra versa sobre como o que a princípio é um empecilho para o desenvolvimento do projeto pode vir a se transformar em uma oportunidade de lançar um segundo olhar para aquilo que já é conhecido, e a partir dele abrir outros caminhos possíveis.

MDC – Há algo relativo ao projeto e ao processo que gostariam de acrescentar e que não foi contemplado pelas perguntas anteriores?

VÃO – Apesar de toda simplicidade formal, do programa comercial e de pequena escala, a Sede para uma Fábrica de Blocos tem sido um dos projetos mais importantes de nossa trajetória. Dentre as participações em exposições e prêmios que ele nos proporcionou podemos destacar o Prêmio Début da Trienal de Arquitetura de Lisboa de 2022 intitulada Terra.

O eixo temático no qual nosso projeto foi inserido chamava-se Ciclos e discutia como a arquitetura pode repensar e atuar efetivamente nos fluxos cíclicos e nos processos de transformação e redistribuição da matéria.

Vivenciar essa Trienal foi um momento muito transformador para nós. Seis anos após a conclusão do projeto tivemos a oportunidade de revisitá-lo conceitualmente através de um debate coletivo, estabelecido pela curadoria e pelos trabalhos de nossos colegas.

Ao citar esse evento não temos o intuito de evidenciar o prêmio, mas sim de perceber como as ideias podem seguir reverberando e proporcionando novas aprendizagens dentro de um contexto coletivo.


projeto executivo



EXECUTIVO COMPLETO

3 pranchas (pdf).
1,72mb


ficha técnica do projeto

Local: Avaré – SP
Ano de projeto: 2015
Ano de conclusão: 2016
Área construída: 150m²
Autores: Anna Juni, Enk te Winkel e Gustavo Delonero
Colaboração: André Nunes


Consultoria Estrutural: Reyolando Brasil (consultoria estrutural)
Construção: Equipe Blocos Tróia


Fotos: Vão (processo); Rafaela Netto (finais)
Contato: contato@vao.28ers.com


Premiações:
Integrante do Prêmio de Arquitetura Akzonobel Instituto Tomie Ohtake (2018);
1º Prêmio ?Premiação IAB-SP 75 anos ?Categoria Industrial (2018);
Prêmio Début ?Trienal de Arquitetura de Lisboa (2022).


galeria


colaboração editorial

Renan Maia

deseja citar esse post?

JUNI, Ana. WINKEL, Enk te. DELONERO, Gustavo. “Sede para uma Fábrica de Blocos”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., dez-2023. Disponível em //www.28ers.com/2023/12/13/sede-para-uma-fabrica-de-blocos. Acesso em: [incluir data do acesso].


]]>
//28ers.com/2023/12/13/sede-para-uma-fabrica-de-blocos/feed/ 0 14633
Sustentabilidade – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2023/11/26/sede-da-fecomercio-sesc-e-senac-rs/ //28ers.com/2023/11/26/sede-da-fecomercio-sesc-e-senac-rs/#respond Sun, 26 Nov 2023 20:11:32 +0000 //28ers.com/?p=13906 Continue lendo ]]> Por Estudio 41
7 minutos

Sede da Fecomércio, Sesc e Senac RS (texto fornecido pelos autores)

O projeto foi vencedor do Concurso Público Nacional para a Nova Sede da Fecomércio,
Sesc e Senac do Rio Grande do Sul, organizado pelo IAB-RS em 2011.

Memorial

O homem transforma o meio ambiente, interfere na natureza de modo a produzir espaços que abriguem suas atividades cotidianas. Nesse processo, provoca mudanças, constrói objetos, pensa em artifícios inseridos no ambiente natural. A presente intervenção sugere uma reflexão sobre a relação entre natureza e artifício. Propõe assim, edifícios que sejam ao mesmo tempo: artefato e paisagem, cobertura e relevo, abrigo e área aberta.

Fotografias: Eron Costin

Natureza e artifício

O projeto da nova sede administrativa da Fecomércio, Sesc e Senac do Rio Grande do Sul se insere em um terreno de 15ha ao norte de Porto Alegre. Trata-se de uma região limítrofe da malha urbana, onde o município de Porto Alegre encontra com sua região metropolitana.

Fotografias: Eron Costin / Isométrica geral

Partindo dessa realidade, o presente projeto coloca-se como um modo de interpretar essa relação entre o meio ambiente e a cidade, entre natureza e artifício. De fato, uma intervenção do porte do Sistema Fecomércio tem o poder de renovar, induzir e qualificar seu entorno imediato. Entendendo a força dessa ideia, propõe-se que boa parte dos espaços projetados possa ser utilizada, além dos usuários e colaboradores, pela comunidade local.

Fotografias: Eron Costin

Tornou-se necessário então agir em duas frentes:

– Interpretando o programa de necessidades como a possibilidade de invenção de um lugar ?a Fecomércio ?com forte identidade para a cidade e a comunidade local, fortalecendo assim a ideia da instituição como espaço de congregação, convívio e socialização de seus usuários e colaboradores, independentemente de quantos edifícios ou nomes de instituições estão a ele conectados;

Fotografias: Leonardo Finotti

– Propondo que os espaços de permanência de usuários, colaboradores e comunidade local estejam protegidos em uma cota mais elevada, preservando a ideia de segurança institucional mesmo habitando um terreno com fragilidades ambientais.

Fotografias: Eron Costin

Cortes A, B e C

Sugeriu-se então a criação de um edifício garagem horizontalizado, na cota +3,00m, conformado como um “podium? sobre o qual se apoiam os edifícios principais. Esse embasamento, além de abrigar os veículos, comporta também as áreas técnicas e de serviços do complexo, permitindo que os usos de longa permanência desfrutem de visuais generosas da paisagem da região e dos espaços abertos propostos.

Fotografia: Leonardo Finotti

Planta nível +3,00

A cobertura dessa construção recebe tratamento paisagístico, prolongando-se até o parque proposto na porção Leste do terreno. Trata-se da invenção de uma nova topografia ?um relevo artificial.

Fotografias: Eron Costin

O Centro de Convivência proposto, na cota +8,00m, age como elemento conector do conjunto edificado. Possuindo a característica de espaço público aberto, esse grande eixo funciona como antessala dos saguões de cada edifício: do Edifício Administrativo já edificado; e do Centro Educacional e do Centro de Eventos que serão futuramente construídos. Na porção Norte, o balanço de sua estrutura marca o acesso principal.

Planta nível +8,00

A torre administrativa é onde as atividades de trabalho se desenvolvem em pavimentos de planta aberta. Possui uma grande escada, junto à fachada sul, que proporciona visuais interessantes a cada pavimento que acessa, além de priorizar a circulação peatonal vertical através do edifício.

Plantas níveis +12,55 e +39,85, respectivamente

Fotografias: Leonardo Finotti


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Eron Costin (E.C.)

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no conjunto de toda a sua produção?

E.C. – Trata-se de um projeto de extrema importância para nosso escritório. Foi através da vitória neste concurso público de arquitetura que o Estúdio 41 se consolidou e é um projeto que trouxe muita visibilidade para nossa produção.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

E.C. – Foi através de um concurso público nacional de arquitetura, com a participação de 33 projetos.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Vocês destacariam algum momento significativo do processo?

E.C. – Após sermos contratados os relatórios de impacto ambiental indicaram que parte do terreno não poderia ser usada, e seria justamente a parte onde se encontrava a primeira fase do projeto. Desta forma precisamos rever todo o plano diretor e espelhar o projeto. Contudo o conceito macro do partido permaneceu mesmo após esta mudança drástica.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, podem comentar as mais importantes?

E.C. – Sim, participamos de todo o processo de projeto e compatibilização com os complementares. A principal alteração projetual foi no sistema estrutural, que era inteiramente em estrutura metálica e por conta dos custos houve alteração para estrutura pré-moldada em concreto. Contudo não houve alterações substanciais no aspecto geral do projeto.

MDC – Os autores dos projetos tiveram participação no processo de construção/implementação da obra?Se sim, quais os momentos decisivos dessa participação?

E.C. – Sim, participamos também no processo de acompanhamento da obra que durou três anos. Tivemos a sorte de sermos consultados constantemente e pudemos colaborar para solucionar os inúmeros problemas de obra inerentes a um projeto desta magnitude, uma vez que trata-se de 36 mil metros quadrados de projeto.

MDC – Vocês destacariam algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

E.C. – Pelo seu porte e localização é um projeto que acabou ficando muito conhecido e constantemente pessoas comentam que passaram em frente ou foram visitar, frequentemente impactados pela escala com comentários de que não imaginavam que era um edifício tão grande.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, fariam algo diferente?

E.C.– Passados doze anos da concepção do projeto com certeza faríamos coisas diferentes, pois evoluímos enquanto pessoas e arquitetos, embora a solução macro ainda nos pareça acertada e os relatos da pós ocupação, pelos funcionários e visitantes, têm sido muito positivos.

MDC – Como vocês contextualizam essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

E.C. – Os materiais são utilizados de forma muito honesta e o sistema estrutural é exposto de forma a enaltecer sua função. Assim, trata-se de um edifício de arquitetura contemporânea, que reflete as técnicas construtivas de sua época e não está atrelada a nenhuma pré-determinação estilística.

MDC – Há algo relativo ao projeto e ao processo que gostariam de acrescentar e que não foi contemplado pelas perguntas anteriores?

E.C. – Acho interessante ressaltar que o edifício possui certificação ambiental Aqua, que contemplou desde a etapa de projeto até o monitoramento pós ocupação. Uma usina solar foi implantada e é capaz de suprir em torno de 30% da demanda por energia elétrica do complexo. A pré-fabricação e industrialização possibilitaram uma obra muito limpa e rápida, e tudo isso depende de um projeto muito mais detalhado e planejado do que os processos tradicionais de construção de nosso país. Ao final de tudo, ficamos muito contentes com o resultado final deste projeto e obra.


projeto executivo e documentos escritos


PARTE 1:
PROJETO ARQUITETÔNICO, PISO, FORRO E COBERTURA

97 pranchas (pdf).
76,29mb


PARTE 2:
DETALHES FACHADAS, DIVISÓRIAS, ESQUADRIAS E G.C.

44 pranchas (pdf).
37,53mb


PARTE 3:
DETALHES COPA, COZINHA, DML E I.S.

36 pranchas (pdf).
6,74mb


PARTE 4:
DETALHE AUDITÓRIO, CIRCULAÇÃO VERTICAL,
GUARITA MEDIÇÃO E HELIPONTO

37 pranchas (pdf).
41,36mb


PARTE 5:
MOBILIÁRIO FIXO E SINALIZAÇÃO

97 pranchas (pdf).
59,37mb


PARTE 6:
DETALHES CONSTRUTIVOS, EXECUTIVOS
ESPECÍFICOS E GENÉRICOS

15 pranchas (pdf).
12,95mb


PARTE 7:
PLANO DIRETOR E ARRAZOADO

61 formatos (pdf).
6,07mb


PARTE 8:
MEMORIAL DESCRITIVO

163 formatos (pdf).
0,47mb


PARTE 9:
ORÇAMENTOS DE CUSTOS

61 formatos (pdf).
1,96mb


localização e ficha técnica do projeto

Local: Porto Alegre, RS
Ano de projeto: 2013
Período de obra: 2017 a 2020
Arquitetura: Dario Corrêa Durce, Emerson Vidigal, Eron Costin, Fabio Henrique Faria, João Gabriel Rosa, Martin Kaufer Goic
Colaboradores: Moacir Zancopé Jr., Fernando Moleta, Alexandre Kenji, Rafael Fischer


Construtora: Construtora JL
Estrutura:
Vanguarda
Climatização:
Sistema Engenharia
Instalações Elétricas e Hidrossanitárias:
Eduardo Ribeiro
Cozinha Industrial: Nucleora
Paisagismo: Meta Arquitetura
Consultores de Acústica: Animacustica


Fotos:  Eron Costin e Leonardo Finotti
Contato: estudio@estudio41.com.br


galeria


colaboração editorial

Renan Maia

deseja citar esse post?

DURCE, Dario Corrêa. VIDIGAL, Emerson. COSTIN, Eron. FARIA, Fabio Henrique. ROSA, João Gabriel. GOIC, Martin Kaufer. “Sede da Fecomércio, Sesc e Senac RS”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., out-2023. Disponível em //www.28ers.com/2023/11/26/sede-da-fecomercio-sesc-e-senac-rs. Acesso em: [incluir data do acesso].


]]>
//28ers.com/2023/11/26/sede-da-fecomercio-sesc-e-senac-rs/feed/ 0 13906
Sustentabilidade – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2023/08/11/centro-de-referencia-quebradeiras-de-babacu/ //28ers.com/2023/08/11/centro-de-referencia-quebradeiras-de-babacu/#comments Fri, 11 Aug 2023 14:25:27 +0000 //28ers.com/?p=12216 Continue lendo ]]> por Estudio Flume
10 minutos

Centro de Referência Quebradeiras de Babaçu (texto fornecido pelos autores)


O coco babaçu é a maior atividade extrativista vegetal não madeireira do país e também uma fonte de renda para muitas famílias, apesar de seu declínio constante ao longo dos anos, influenciado principalmente por conflitos territoriais.

Fotografia: Maíra Acayaba

Os Estados do Maranhão, Piauí e Tocantins concentram as maiores extensões de matas onde predominam os babaçus. O principal derivado, o óleo, é extraído das amêndoas, que possui valor comercial para a indústria, entre outros. A extração das amêndoas (de 3 a 5 por coco), é realizada manualmente, de forma caseira e tradicional. Segundo dados da CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) de 2021, o Brasil produziu em 2020, 47.707 toneladas de amêndoas de coco babaçu, sendo o estado do Maranhão responsável por 92,9% da produção. É parte do sustento de grande parcela da população interiorana, extraída, quase exclusivamente, pelas mulheres: as quebradeiras de coco. Estima-se mais de 300 mil quebradeiras espalhadas pelas regiões da Mata dos Cocais. O ofício é passado de geração a geração, desde a coleta dentro da mata à quebra do coco para retirada das amêndoas. As quebradeiras de coco são oficialmente reconhecidas como um dos 28 povos e comunidades tradicionais brasileiras.

Implantação Metropolitana

Porém, o reconhecimento e a garantia, por lei, pelo menos em alguns municípios, ao acesso às terras para a colheita dos cocos são constantemente reprimidos pelos donos dos latifúndios, seja dificultando o acesso, como derrubando as palmeiras para formação de pastos. E a busca pela sobrevivência das quebradeiras se dá por estratégias como o agrupamento das mulheres, através de associações, fortalecendo a representatividade junto às instituições, bem como a dignificação do trabalho, com a tentativa de se agregar valor ao produto através de aplicações alternativas. Além das amêndoas e o seu valor comercial, utiliza-se a farinha do mesocarpo para pães, biscoitos, bolos, e outros alimentos; a casca do coco, como carvão; a própria fumaça, como repelente de insetos; a folha da palmeira, como trançado para cestas, coberturas e esteiras; o palmito, comestível; exemplos que despertam o interesse como objeto de estudos e pesquisa científica na área farmacêutica e na indústria alimentícia.

A região apresenta ainda muitas residências unifamiliares em taipa. O povoado se localiza a 35 km de distância do centro urbano mais próximo, a cidade de Vitória do Mearim. Dependendo da estação do ano, o deslocamento é necessariamente mediante transporte fluvial, uma vez que o povoado de Sumaúma, inserido na bacia hidrográfica do Mearim1, se inunda com as águas do rio Grajaú e o do Igarapé Ipixuna que desaguam no rio Mearim, inviabilizando o transporte por terra durante um período de aproximadamente 3 meses.

Localização e águas

Com vista às condições geográficas, o difícil acesso com materiais construtivos e a leitura das técnicas e recursos próprios da região, optou-se pela utilização do bloco de terra comprimida, composto por solo argiloso, água e uma pequena proporção de cimento, compactado manualmente com prensa mecânica, significando assim em uma releitura da casa de adobe, com manutenção reduzida para o longo prazo da estrutura construída. Esta estrutura autoportante define os espaços de trabalho e permanência.

Fotografia: Maíra Acayaba + Planta de Layout

Uma segunda estrutura independente, de sustentação do telhado, está definida por pilares, vigas e tesouras de madeira local, de recurso florestal autorizado pelo IBAMA. Esta cobertura dupla, oferece melhores condições de conforto térmico, garantindo áreas e construções permanentemente sombreadas.

Fotografia: Maíra Acayaba + Cortes e Elevações

Durante a obra, primeiramente se realizaram as fundações, em segunda instância se realizou a construção do telhado, proporcionando assim uma área protegida no canteiro de obra para fabricação dos tijolos no próprio terreno durante o período de chuvas, para finalmente construir as áreas de trabalho com o material produzido no próprio local. O telhado também incorpora calhas para captação de água de chuva, e a construção como um todo trabalha com sistemas de tratamento de esgoto e águas cinzas mediante a incorporação de fossa séptica biodigestora e círculo de bananeiras. Todas estas técnicas foram discutidas e difundidas na comunidade, incentivando sua replicabilidade a fim de conseguir um impacto ambiental maior que o atingido pelo projeto em si.

Isométrica Explodida

Neste sentido, o projeto do Centro de referência das Quebradeiras de Babaçu significa uma inovação no cotidiano do trabalho do grupo, uma vez que, para o desenvolvimento do projeto, se trabalhou conjuntamente com o grupo numa série de oficinas de desenho coletivo, onde a equipe de Estúdio Flume aprendeu sobre o processo produtivo do grupo, para assim juntos desenhar espaços que buscam a otimização dos usos, onde os diversos programas e momentos das atividades produtivas se organizam mediante uma circulação dinâmica e fluída.

Fotografia: Noelia Monteiro

Nessas oficinas de desenho coletivo, a escuta e a partilha são o primeiro passo para definição de diagramas e fluxogramas dos processos de produção, uma tradução espacial e temporal das técnicas ancestrais de trabalho. As maquetes de processo são uma ferramenta chave para o diálogo e revisão de projeto, assim como para o processo de construção, onde o dispositivo guia algumas das orientações gerais. A equipe de obra incorpora saberes e modos de fazer, que também significam revisões de projeto durante o processo construtivo. Ao assumir diversas formas de nos aproximar às soluções, seja mediante imagens, diálogos e especulações para a produção dos espaços, organizando os usos e as hierarquias deles no conjunto construído, a arquitetura finalmente funciona como um meio para proporcionar igualdade e proporcionar liberdade no futuro do projeto e na sua flexibilidade para se adaptar a novas demandas.

1 – Universidade Estadual do Maranhão e Núcleo geoambiental, «Regiões Hidrográficas do Maranhão», 2009. //www.nugeo.uema.br/?page_id=233.


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Noelia Monteiro (N.M.)

MDC – Como você contextualiza essa obra no conjunto de toda a sua produção?

N.M. – O Centro de Referência das Quebradeiras de Babaçu consolidou um método de aproximação ao projeto em desenvolvimento junto à comunidade. Desde a decisão do programa e as atividades que poderia abrigar até o fluxo de circulação interno e como cada parte faz sentido no todo. Elementos fixos próprios do mobiliário foram desenhados nas oficinas de projeto junto às mulheres pensando na própria ergonomia e a forma tradicional de trabalhar.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

N.M. – Já tínhamos realizado diversos projetos e assessorias com grupos de quebradeiras no interior do Maranhão, portanto a ideia de dedicar um espaço para o encontro, a troca e a produção foi se consolidando com os anos, sendo assim uma contratação direta.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Você destacaria algum momento significativo do processo?

N.M. – Inicialmente o projeto tinha sido pensado para outro terreno, de proporções quadradas, e em outra comunidade. Quando o grupo conseguiu adquirir o terreno do atual projeto, as proporções de um terreno estreito e profundo nos levaram para um novo partido, trabalhando com uma grande cobertura retilínea e modular, e um único corredor que distribuísse em forma de pente para os diferentes espaços do programa.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, pode comentar as mais importantes?

N.M. – Na etapa do executivo, o projeto de estruturas trouxe variações ao projeto definido no anteprojeto, de modo a simplificá-lo uma vez que o material predominante da obra, que seria o tijolo de solo compactado, gerava muitas dúvidas para os engenheiros envolvidos de como se comportaria no decorrer do tempo.

MDC – Os autores dos projetos tiveram participação no processo de construção/implementação da obra? Se sim, quais os momentos decisivos dessa participação?

N.M. – O escritório realizou o gerenciamento e administração da obra. Houve um momento chave na organização do cronograma de obra, que foi o de identificar que devido ao período de intensas chuvas que a construção atravessaria, seria necessário pensar a ordem do sistema construtivo de um modo diferente. Assim, após realizar as fundações, foi instalada a estrutura de madeira que daria sustentação à cobertura principal. Com a cobertura pronta, iniciou-se a fabricação dos tijolos in-loco para finalmente construir o projeto. Desta forma, foi possível dar continuidade a obra, mesmo no período de chuvas.

MDC – Você destacaria algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

N.M. – Mesmo com caráter de projeto dedicado a produção de alimentos e geração de renda, a possibilidade de construir num povoado sem presença de equipamentos culturais nem espaços públicos, como praças com brinquedos, adicionou outras camadas ao projeto, como a possibilidade de se tornar também o espaço de encontro, não só das quebradeiras, como também de filhos e netos.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, faria algo diferente?

N.M. – Pensando nos programas não previstos, como o uso por parte de crianças e adolescentes como lugar de encontro, receber a demanda do projeto no atual contexto poderia ser trabalhada em conjunto com o grupo, destinando setores e espaços específicos do terreno para o lugar de brincar. Não para propor um controle sobre o encontro da comunidade, mas sim para promover uma convivência com atividades que se relacionam com um processo controlado da produção de alimentos. Esta convivência poderia ser construída desde a concepção do projeto para que pudesse ser amadurecida na apropriação e uso da obra construída.

MDC – Como você contextualiza essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

N.M. – O Centro de Referência das Quebradeiras de Babaçu representa a realização de um projeto concebido desde as ideias preliminares junto com a comunidade. Ao mesmo tempo faz uma releitura dos materiais utilizados nas construções locais e se propõe a fortalecer a presença de um grupo tradicional que atravessa conflitos de território. Neste contexto, entendemos que assim como no Brasil, a nível regional na América Latina é possível criar uma rede de projetos com foco no fortalecimento de comunidades tradicionais.

MDC – Há algo relativo ao projeto e ao processo que gostaria de acrescentar e que não foi contemplado pelas perguntas anteriores?

N.M. – A possibilidade de acompanhar a obra de perto permitiu incorporar saberes locais do empreiteiro, do carpinteiro, do serralheiro, que foram aprimorando as ideias defendidas no papel. O excedente de material produzido como tijolos, ou mesmo madeira utilizada durante a obra, deram lugar à produção de bancos para o descanso e o encontro em diferentes pontos do projeto. A concretização destes detalhes só foi possível pela frequência e presença no canteiro de obra.


projeto executivo


EXECUTIVO COMPLETO

12 pranchas (pdf).
5,30mb


COMPLEMENTARES COMPLETO

10 pranchas (pdf).
3,64mb


localização e ficha técnica do projeto

Local: Sumaúma, Vitória do Mearim, MA
Ano de projeto: 2021
Ano de execução e conclusão da obra: 2022
Área do terreno: 483 m²
Área construída (cobertura): 275 m²
Autores: Noelia Monteiro e Christian Teshirogi
Colaboração: Marina Lickel

Arquitetura: Estudio Flume
Luminotécnico: Ana Lúcia Hizo
Construtor: Miguel Noleto Machado

Fotos: Maíra Acayaba e Noelia Monteiro
Contato: info@estudioflume.com


galeria


colaboração editorial

Renan Maia

deseja citar esse post?

MONTEIRO, Noelia. TESHIROGI, Christian. “Centro de Referência Quebradeiras de Babaçu”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., ago-2023. Disponível em //www.28ers.com/2023/08/11/centro-de-referencia-quebradeiras-de-babacu/ . Acesso em: [incluir data do acesso].


]]>
//28ers.com/2023/08/11/centro-de-referencia-quebradeiras-de-babacu/feed/ 1 12216
Sustentabilidade – mdc . revista de arquitetura e urbanismo //28ers.com/2023/08/11/casa-do-mel/ //28ers.com/2023/08/11/casa-do-mel/#comments Fri, 11 Aug 2023 14:12:36 +0000 //28ers.com/?p=11899 Continue lendo ]]> por Estudio Flume
10 minutos

Casa do Mel (texto fornecido pelos autores)

O projeto Casa do Mel propõe atender dois objetivos do território onde se insere. O ambiental, de preservar as áreas ainda não ocupadas e de restaurar as áreas já degradadas. E o socioeconômico, de alimentar e gerar renda para a população local.

Fotografia: Christian Teshirogi

A construção realizada para a Associação dos Apicultores de Canaã dos Carajás (AACC), chamada pelas associadas e associados “Casa do Mel? foi concluída em 2018, teve como objetivo sediar o processo de beneficiamento do mel, coletado pelos seus cinquenta e três associados – pequenos produtores rurais locais. Localiza-se no município de Canaã dos Carajás, no sudeste do estado do Pará, na Amazônia legal brasileira, cidade que, como tantas outras do Norte brasileiro, emergiu a partir de assentamentos agrícolas. Este, em particular, originou-se do Projeto de Assentamento Carajás, implementado em 1982 pelo Grupo Executivo das Terras do Araguaia e Tocantins (GETAT), do Governo Federal e, cujo nome adotado advêm da sua proximidade com a Serra dos Carajás, território originalmente povoado pelos grupos indígenas Karajá e Kayapó.

Fotografia: Christian Teshirogi

Desde a década de 1960, a Serra dos Carajás, assim como seu entorno, tem atravessado uma profunda modificação paisagística devido aos grandes projetos de mineração instalados em seu território, atualmente densamente povoado. Grandes centros urbanos se instalaram nas proximidades do acidente geográfico, como resultado da exploração da jazida de minério de ferro, identificada por uma equipe de geólogos em 1964, processo descrito pelo engenheiro Newton Pereira de Rezende no livro “Carajás: memórias da descoberta? publicado em 2009, onde faz menção ao ?em>distrito ferrífero da Serra de Carajás?1

Sobre a riqueza da flora e fauna da região, o plano de manejo florestal emitido por Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade descreve: “Inserindo-se no Centro de Endemismos Xingu-Tocantins, a Floresta Nacional de Carajás se caracteriza como uma área de elevada biodiversidade e existência de diversas espécies endêmicas da flora e da fauna, especialmente de aves, répteis, anfíbios e plantas associadas aos ecossistemas abertos sobre canga.?sup>2

O território onde se insere este projeto é marcado por duas urgências, de um lado a urgência de preservar as áreas ainda não degradadas e/ou ocupadas e de restaurar as áreas já degradadas, como os pastos de criação extensiva de gado mal manejados. De outro, a urgência de alimentar e gerar renda para a população local. O objetivo do projeto foi responder a essas duas urgências de forma autossustentável através do apoio à produção de mel, integrando a dimensão ambiental e social.

Fotografia: Christian Teshirogi

Produzir mel pode acelerar a restauração de áreas degradadas e conservar a biodiversidade local – visto que as e os apicultores são diretamente interessados na disponibilidade de alimento para suas abelhas e, portanto, na presença de áreas protegidas. Além disso, a Casa do Mel permite agregar valor ao mel produzido pela comunidade e gera oportunidade de aumentar a produção individual e a quantidade de membros da associação diretamente envolvidos na produção.

Isométrica explodida + Planta layout

Neste contexto, no desenvolvimento de projetos arquitetônicos vinculados às soluções socioambientais em áreas rurais, buscando o fortalecimento de oportunidades na economia local e a geração de renda, com foco na segurança alimentar, visualizamos três escalas de aproximação para abordar a proposta do projeto e construção da Casa do Mel.

1- Tecnologia / detalhe: o estudo de soluções técnicas para construir com o material fabricado e comercializado no entorno imediato, no centro urbano mais próximo. Em áreas rurais, afastadas dos centros urbanos, optamos por criar estruturas resilientes no meio no qual se inserem que não demandem alto grau de manutenção.

2- Arquitetura / espaço: o entendimento espacial do ambiente de trabalho no caráter de cooperativas, como alternativa às condições adversas e de vulnerabilidade social.

3- Território / sistema: o fortalecimento dos sistemas urbanos constituídos por povoados de pequeno e médio porte que conformam uma rede que se fortalece regionalmente.

Em visita ao sítio, realizada em 2017, observamos que, no terreno em declive com aproximadamente sete metros de desnível entre frente e fundo, se destacava o afloramento rochoso logo no acesso à área, originalmente parte integrante de uma fazenda, cercada por pastos, característicos da pecuária extensiva praticada nos latifúndios.

Implantação Metropolitana

Portanto, optamos pela suspensão da construção por pilotis, elevando a laje de piso e preservando o perfil natural do terreno e as rochas, garantindo a mínima movimentação de solo. A solução adotada, além de ser mais favorável do ponto de vista econômico, se apresenta principalmente mais favorável do ponto de vista ambiental por não alterar a topografia natural do terreno e respeitar o caminho das águas de chuva enquanto não impermeabiliza o solo, mantendo a área de absorção. Esta solução favoreceu, também, a circulação de ar entre a edificação e o solo, contribuindo para o conforto térmico, numa área onde predominam altas temperaturas, típicas da região norte do país.

Cortes B e D
Fotografia: Christian Teshirogi

1 – Rezende, N. Carajás: memórias da descoberta, Editora Gráfica Stamppa, 2009, p. 7.
2 – CMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). Plano de Manejo Flona Carajás. Volume II. 2016, p. 16.


Sobre o projeto: Entrevista exclusiva para MDC.

por Noelia Monteiro (N.M.)

MDC – Como você contextualiza essa obra no conjunto de toda a sua produção?

N.M. – A Casa do Mel foi uma obra importante no conjunto da produção do escritório porque foi a primeira na qual conseguimos trabalhar em todas as fases do projeto com o suporte de projetos complementares para estrutura, hidráulica, energia, etc. Isso proporcionou um tempo adequado de amadurecimento das fases do projeto e aprimoramento do material produzido. Consequentemente reuniões com a equipe envolvida para o entendimento do que seria construído.

MDC – Como foi o mecanismo de contratação do projeto?

N.M. – O escritório foi solicitado a realizar uma visita para assessoria e trabalho sobre uma planta de lay-out que a associação de apicultores tinha adquirido como doação de autoridades locais. Após apresentarmos ideias de como proporcionar um ambiente com conforto térmico, fomos contratados para desenvolver o projeto. No momento da contratação da obra, houve um processo de licitação por convite, no qual as experiências prévias de construção em áreas rurais e com comunidades, deram suporte na escolha do escritório para a fase da construção.

MDC – Como foi a fase de concepção do projeto? Houve grandes inflexões conceituais? Você destacaria algum momento significativo do processo?

N.M. – A associação de apicultores inicialmente tinha colocado como condição do projeto uma sala de reuniões e assembleias periódicas. Na escassez de recurso para construção do espaço, quando consultamos ao grupo sobre a periodicidade de uso do espaço, nos informaram que seria utilizado uma vez por mês. A partir desta resposta, surgiu a ideia de deslocar o volume de áreas de serviço em relação ao volume de área produtiva, e cobrir todo o conjunto com um telhado suspenso em relação a laje, gerando esta área de reunião no espaço entre ambos volumes.

MDC – Nas etapas de desenvolvimento executivo e elaboração de projetos de engenharia houve participação ativa dos autores? Houve variações de projeto decorrentes da interlocução com esses outros atores que modificaram as soluções originais? Se sim, pode comentar as mais importantes?

N.M. – Inicialmente o projeto previa as quatro fachadas com elemento vazado, ou cobogó pré-fabricado que conseguimos adquirir nas proximidades do terreno de implantação do projeto. Quando o projeto passou pela fase de aprovação da vigilância sanitária, a condição para aprovação foi de trabalhar apenas com janelas acima de 1,80 m de altura. A ideia de um ambiente ventilado permanentemente só foi possível de viabilizar na copa e refeitório.

MDC – Os autores dos projetos tiveram participação no processo de construção/implementação da obra? Se sim, quais os momentos decisivos dessa participação?

N.M. – Realizamos o gerenciamento e administração da obra para conseguir viabilizar o projeto da forma que tinha sido concebido. Após várias tentativas de contratação de empreiteiras da região, concluímos na necessidade de nos envolver no processo de construção, uma vez que os projetos costumam ser muito pequenos e em locais de difícil acesso para as empreiteiras se interessarem pelo serviço. Ao mesmo tempo, a necessidade de seguir as especificações de um projeto executivo, inviabilizam que o serviço possa ser realizado por um construtor local sem treinamento na leitura do material.

MDC – Você destacaria algum fato relevante da vida do edifício/espaço livre após a sua construção?

N.M. – Um fato curioso que aconteceu após a obra estar pronta, foi que quando os apicultores começaram a utilizar o espaço, relataram que o local era completamente fresco e arejado. Essa constatação foi muito gratificante, já que ao iniciarmos o diálogo para desenvolvimento do projeto, o grupo tinha a expectativa de instalação de ar condicionado. Após reuniões com maquetes para discutir conceitos como cobertura dupla e ventilação cruzada, o grupo chegou à conclusão que com essas soluções arquitetônicas, o recurso necessário para um sistema de ar condicionado, poderia ser direcionado para outras finalidades do projeto. E uma consequente redução das despesas mensais da obra construída.

MDC – Se esse mesmo problema de projeto chegasse hoje a suas mãos, faria algo diferente?

N.M. – É difícil contextualizá-lo do momento no qual começou a ser concebido, entre 2016 e 2017. Ele é resultado do amadurecimento de várias experiências prévias entre os estados de Pará e Maranhão. Pensando nesses anos transcorridos, tal vez algo que poderia ter sido elaborado em conjunto com os apicultores, seria um projeto paisagístico para contenção dos fortes ventos, pelo projeto está implantado em uma área completamente descampada. Mesmo que sem recurso e contratação específica deste escopo, nos projetos subsequentes paisagem e arquitetura começaram a ser trabalhados como indissolúveis.

MDC – Como você contextualiza essa obra no panorama da arquitetura contemporânea do seu país?

N.M. – A Casa do Mel foi a primeira obra construída publicada de Estúdio Flume, inclusive fora do Brasil. Entendemos que isto tem a ver menos com elementos de desenho arquitetônico e mais com características próprias do alcance da arquitetura como disciplina capaz de transformar de alguma maneira a realidade e o cotidiano de um grupo de trabalhadores. Historicamente o lugar da arquitetura de caráter social tem se concentrado na produção de moradia, estender as possibilidades para o local de trabalho de quem normalmente não teria acesso a um espaço desenhado cuidadosamente desde a disciplina da arquitetura, tem aberto um leque de possibilidades e interesse, principalmente para os estudantes e novas gerações de arquitetos.

MDC – Há algo relativo ao projeto e ao processo que gostaria de acrescentar e que não foi contemplado pelas perguntas anteriores?

N.M. – Entender o projeto não só como um projeto acabado nele mesmo, e sim como parte de um sistema com alcance maior que o da própria obra de arquitetura e um fio condutor no processo de desenho. Nesses termos, o projeto da Casa do Mel tem uma função não mencionada previamente, na preservação da floresta nativa mediante o fortalecimento da cooperativa de apicultores numa região que já tem atravessado processos de desmatamento. A arquitetura só nela mesma tem um alcance finito, mas associada a um trabalho interdisciplinar com outras áreas de conhecimento potencializa seu alcance em termos de se posicionar como uma profissão que proporciona soluções ou minimamente não se alinhar à lógica de esgotamento de recursos naturais.


projeto executivo


EXECUTIVO COMPLETO

14 pranchas (pdf).
11,81mb


localização e ficha técnica do projeto

Local: Canaã dos Carajás – PA
Ano de projeto: 2017
Ano de execução e conclusão da obra: 2018
Área Construída: 240 m²
Autores: Noelia Monteiro e Christian Teshirogi
Colaboração: Júlia Marini e Nathalia Appel

Arquitetura: Estudio Flume
Estrutura: Megalos engenharia
Instalações Hidráulicas e Elétricas:
Ideale engenharia
Construtor: Miguel Noleto Machado

Fotos: Christian Teshirogi
Contato: info@estudioflume.com


galeria


colaboração editorial

Renan Maia

deseja citar esse post?

MONTEIRO, Noelia. TESHIROGI, Christian. “Casa do Mel”. MDC: Mínimo Denominador Comum, Belo Horizonte, s.n., ago-2023. Disponível em //www.28ers.com/2023/08/11/casa-do-mel/ . Acesso em: [incluir data do acesso].


]]>
//28ers.com/2023/08/11/casa-do-mel/feed/ 1 11899